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sábado, 26 de junho de 2021

GALERIA: Panzergrenadiers modernos

Dupla sniper com traje ghillie.
O sniper de frente tem um fuzil ferrolhado Accuracy International AWM britânico; designação alemã G22A2.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de junho de 2021.

Membros do 371º Batalhão de Infantaria Blindada do Bundeswehr alemão (Panzergrenadierbataillon 371) exibindo seu equipamento durante um evento de mídia na base do batalhão em Marienberg, na Alemanha, em 10 de março de 2015.

Sniper com o HK G3.
A dupla sniper misturar fuzil de repetição (ferrolhado) e fuzil semi-automático é uma tendência moderna, dando mais flexibilidade à equipe.

Míssil anti-carro franco-alemão MILAN ("pipa" em francês).

Fuzil HK G36 alemão.




Material distribuído "em cerimonial".
A metralhadora geral MG3, modernização da venerável MG42, pode ser vista no lado esquerdo da foto.

Bibliografia recomendada:

A Responsabilidade de Defender:
Repensando a cultura estratégia da Alemanha.

Leitura recomendada:


terça-feira, 22 de junho de 2021

LIVRO: Repensando a cultura estratégica da Alemanha

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 22 de junho de 2021.

No dia 9 deste mês foi publicado o livro The Responsibility to Defend: Rethinking Germany's Strategic Culture (A Responsabilidade de Defender: Repensando a Cultura Estratégica da Alemanha) de Bastian Giegerich e Maximilian Terhalle, que trata da análise atual da cultura estratégica alemã. O livro vem numa hora absolutamente oportuna, quando o Ocidente vem sendo desafiado por pressões multipolares, especialmente da parte da China e do mundo islâmico. Os especialistas alemães analisam o problema estratégico alemão e a visão não é nada bonita.

De forma resumida, os alemães vivem em uma falsa sensação de segurança, de onde podem desprezar suas obrigações militares enquanto as terceirizam para os Estados Unidos e seus aliados, enquanto revertem os investimentos em desenvolvimento social. Esta é a teoria, e colocou Berlim em uma posição de total desamparo estratégico em várias ocasiões.

"[A Alemanha] revela um desejo de desfrutar dos benefícios duma ordem mundial Ocidental sustentada pelo poder militar americano sem contribuir de forma significativa para a defesa dessa ordem."

"[E]m um nível social uma proporção notável do discurso atual da Alemanha sobre política de segurança, especialmente no domínio público, permanece caracterizado por uma falta de seriedade fundamental."

Primeiro na Guerra Fria, com a Alemanha Ocidental com um exército sem capacidades estratégicas fora de suas fronteiras, e renunciando à missões militares de aconselhamento no estrangeiro, enquanto seu congênere socialista - o National Volksarmee (NVA) - operava agressivamente na Ásia e na África. Com a unificação alemã em 1989 e a dissolução da União Soviética em 1991, houve o de facto desmonte da Força de Defesa alemã, a Bundeswehr. Com nenhuma capacidade militar real sem aliados, tropas acima do peso e sendo, de fato e de direito, funcionários públicos com limitações de "dias de trabalho" que os impedem de participar de muitos dias de manobra consecutivos com a OTAN, Berlim teve um despertar violento quando percebeu que não podia ser opor aos movimentos unilaterais da Federação Russa de Putin.

A ascensão ou ressurgimento de poderes revisionistas, repressivos e autoritários ameaça a ordem internacional ocidental liderada pelos Estados Unidos da América, sobre a qual a segurança e a prosperidade da Alemanha no pós-guerra foram fundadas. Com Washington cada vez mais focado na ascensão da China na Ásia, a Europa deve ser capaz de se defender contra a Rússia e dependerá das capacidades militares alemãs para isso. Anos de negligência e subfinanciamento estrutural, no entanto, esvaziaram as forças armadas alemãs. Grande parte da liderança política em Berlim ainda não se ajustou às novas realidades ou percebeu a urgência com que precisa fazê-lo.


Bastian Giegerich e Maximilian Terhalle argumentam que a cultura estratégica atual da Alemanha é inadequada. Ela informa uma política de segurança que não consegue atender aos desafios estratégicos contemporâneos, colocando assim em perigo os aliados europeus de Berlim, a ordem ocidental e a própria Alemanha. Eles afirmam que:
  • A Alemanha deve abraçar sua responsabilidade histórica de defender os valores liberais ocidentais e a ordem ocidental que os sustenta.
  • Em vez de rejeitar o uso da força militar, a Alemanha deveria casar seu compromisso com os valores liberais a uma compreensão do papel do poder - incluindo o poder militar - nos assuntos internacionais.
Os autores mostram por que a Alemanha deveria buscar fomentar uma cultura estratégica que fosse compatível com as de outras nações ocidentais importantes e permitir que os alemães percebam o mundo através de lentes estratégicas. Ao fazer isso, eles também descrevem os possíveis elementos de uma nova política de segurança.

"[P]oucos observadores concordariam que os alemães 'fazem melhor'. Enquanto muitos alemães podem considerar a abordagem do seu país para a política de segurança - marcada por uma aversão reflexiva à belicosidade percebida - mais avançada do que aquela dos seus aliados, uma descrição mais precisa seria de 'imatura'."

"Em suas manifestações menos edificantes, talvez marcadas menos pela ingenuidade do que o cinismo, ela [a Alemanha] revela um desejo de desfrutar dos benefícios duma ordem mundial Ocidental sustentada pelo poder militar americano sem contribuir de forma significativa para a defesa dessa ordem."

“A Alemanha já possui uma ‘cultura estratégica’ (…) infelizmente, essa cultura é insuficientemente estratégica por natureza”.

O livro é dividido da seguinte forma:
  1. Introdução
  2. As fontes da conduta alemã
  3. Política de segurança problemática da Alemanha
  4. Aquisições, tecnologia e indústria de defesa
  5. Uma nova mentalidade estratégica
  6. Elementos de uma nova política de segurança
A Responsabilidade de Defender: Repensando a cultura estratégia da Alemanha.

Sobre os autores:


Dr. Bastian Giegerich é Diretor de Defesa e Análise Militar do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (International Institute for Strategic StudiesIISS). Anteriormente, ele trabalhou para o Ministério da Defesa da Alemanha Federal em funções de pesquisa e política, e é o autor e editor de vários livros sobre questões de segurança e defesa europeias.

Professor Maximilian Terhalle é afiliado ao King’s College London. Entre 2019 e 2020, ele atuou como conselheiro sênior do Ministério da Defesa do Reino Unido. Anteriormente, ele lecionou em programas de segurança das universidades de Columbia e Yale e realizou trabalho de campo na China e no Egito. Seu trabalho se concentra em segurança, estratégia e ordem mundial; ele escreveu ou editou sete livros e publicou amplamente em jornais e revistas internacionais. Ele é tenente-coronel (res.) na Bundeswehr.

Bibliografia recomendada:

Desinformação: Ex-chefe de espionagem revela estratégias secretas para solapar a liberdade, atacar a religião e promover o terrorismo,
General Ion Mihai Pacepa.

Leitura recomendada:


sexta-feira, 18 de junho de 2021

Sucessor de Merkel pede 2% do PIB para gastos de defesa

Por Jakub Wozniak, Overt Defense, 18 de junho de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 18 de junho de 2021.


Em uma entrevista com o Welt am Sonntag, Armin Laschet, o CDU/CSU (aliança política democrática-cristã de centro-direita da Alemanha) o escolhido sucessor de Angela Merkel, pediu que a Alemanha cumprisse a diretriz de 2% do PIB estabelecida pela OTAN. As despesas militares da Alemanha como proporção do PIB aumentaram recentemente, mas estão muito aquém de 2%. De acordo com os relatórios oficiais da OTAN, em 2021 estão em 1,53% do PIB, ante apenas 1,36% em 2019. “Se concordamos em algo internacional, devemos cumpri-lo”, disse Laschet à imprensa. Ele continuou:

“O novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, abriu uma janela de oportunidade para a revitalização das relações transatlânticas - precisamos usá-la para fortalecer as democracias em todo o mundo.”

O político também pediu um exército alemão mais ativo no exterior. Laschet afirmou que a Alemanha deve procurar expandir seu papel militar na África e no Mediterrâneo. Apontando para as forças alemãs operando no Mali ao lado da França, Laschet argumentou que a Alemanha deve suportar sua parte no fardo compartilhado entre os aliados.

Soldados alemães no Mali. (BMVg)

Os telefonemas de Laschet ocorrem durante uma época de novas revelações do despreparo militar alemão. O think tank alemão GIDS concluiu recentemente que a Alemanha não teria sido capaz de vencer o Azerbaijão se fosse colocada na posição da Armênia durante o recente conflito na região do Nagorno-Karabakh devido à falta de equipamento capaz de derrubar drones. Não é particularmente surpreendente, dada a avaliação americana do programa de aquisições da Alemanha como "falho", bem como a controvérsia parlamentar alemã sobre drones militarizados. O GIDS, no entanto, provavelmente coloca muita ênfase na capacidade dos drones, incluindo o TB-2, usado pelo Azerbaijão.

Soldado alemão demonstra um drone leve, por volta de 2015. (Bundeswehr)

Enquanto a Alemanha continua a dar mais prioridade à defesa, incluindo esforços para recrutar rabinos e “voluntários de segurança interna”, o Partido Verde alemão continua a se opor inflexivelmente a essa aparente militarização. O principal candidato a chanceler dos Verdes, principal partido da oposição nas pesquisas, descreveu a diretriz de gastos de 2% do PIB como absurda. No entanto, os Verdes recentemente perderam espaço nas pesquisas contra a CDU/CSU; a última pesquisa do INSA coloca o apoio à CSU/CDU em 27,5% contra 19,5% para os Verdes. Há apenas um mês, o INSA achou a corrida muito mais próxima: 25% contra 24%.

Bibliografia recomendada:

The Wehrmacht's Last Stand: The German Campaigns of 1944-1945,
Robert M. Citino.

Leitura recomendada:



segunda-feira, 31 de maio de 2021

ALEMANHA: Soldados do Infortúnio

O título parafraseia o famoso termo "Soldado da Fortuna".
Ilustração de Brett Affrunti para POLITICO.

Por Matthew KarnitschnigPOLITICO, 15 de fevereiro de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 31 de maio de 2021.

BERLIM - Caças e helicópteros que não voam. Navios e submarinos que não podem navegar. Grave escassez de tudo, desde munições até roupas íntimas.

Se parece um exagero comparar a Bundeswehr da Alemanha com "A Gangue que Não Conseguia Atirar Direito" (The Gang That Couldn't Shoot Straight, 1971), basta olhar para o fuzil de assalto padrão do exército, o G36 da Heckler & Koch. O governo decidiu descartar a arma depois de descobrir que ela erra o alvo se estiver muito quente.


Fuzil HK G36.

“Não há pessoal nem material suficientes, e muitas vezes se confronta a escassez acima da escassez”, concluiu Hans-Peter Bartels, um membro do parlamento social-democrata encarregado de monitorar a Bundeswehr para o parlamento, em um relatório publicado no final de janeiro. “As tropas estão longe de estarem totalmente equipadas.”

Outrora uma das forças de combate mais ferozes (e mais brutais) do planeta, o exército alemão de hoje se parece cada vez mais com um corpo de bombeiros voluntário - no mês passado, tropas de montanha foram enviadas para retirar a neve dos telhados da Baviera - do que uma máquina militar moderna.

Tropas de montanha limpando telhados na Baviera, fronteira com a Áustria, 2019.

Em uma recente viagem à Lituânia, onde cerca de 450 soldados alemães estão estacionados como parte de uma missão da OTAN para deter a agressão russa, as autoridades americanas ficaram consternadas ao descobrir o pessoal da Bundeswehr se comunicando em telefones móveis inseguros devido à falta de equipamento de rádio seguro.

“Não importa para onde você olhe, há disfunção”
- Oficial alemão de alto escalão no quartel-general da Bundeswehr.

Menos de 20% dos 68 helicópteros de combate Tigre da Alemanha e menos de 30% de seus 136 jatos Eurofighter poderiam voar no final de 2018. Os pilotos, frustrados por não poderem voar, estão indo embora.

“Não importa para onde você olhe, há disfunção”, disse um oficial alemão de alto escalão na sede do Bundeswehr em Berlim.

Embora o aparelho militar alemão esteja em estado de abandono há algum tempo, o relatório Bartels e uma série de revelações recentes sobre a má gestão no topo do Ministério da Defesa sugerem que a condição da força é pior do que até mesmo os pessimistas acreditavam.

Com o governo do [então] presidente dos Estados Unidos Donald Trump pressionando intensamente Berlim para gastar mais em defesa e cumprir suas obrigações com a OTAN, o lamentável estado das forças militares alemãs deve estar em alta neste fim de semana, quando os líderes políticos e militares dos Estados Unidos e da Europa se reunirem para seu congresso de segurança anual em Munique.

A ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen, faz uma excursão ao Gorch Fock por seu comandante, Nils Brandt, em janeiro. O custo da revisão do navio icônico aumentou de € 10 milhões para € 135 milhões, de acordo com a última estimativa. (Mohssen Assanimoghaddam / DPA)

Se o governo de Angela Merkel está preparado, ou mesmo capaz, de enfrentar os problemas é outra questão. O bloco de centro-direita de Merkel supervisionou o ministério da defesa por quase 15 anos, e os críticos colocam a responsabilidade pelos problemas da Bundeswehr diretamente aos pés do partido no poder.

“Esta é uma batalha em várias frentes”, disse a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, no mês passado, enquanto tentava se defender das críticas. “Eu também gostaria que as coisas acontecessem mais rapidamente, mas 25 anos de retração e cortes não podem ser revertidos em apenas alguns anos.”

Nas últimas semanas, von der Leyen foi pego em um furor por consultores externos, incluindo McKinsey e Accenture, que receberam centenas de milhões de euros para limpar a bagunça do exército. Até agora, os consultores têm pouco a mostrar por seus esforços.

Preocupações com o papel dos estranhos levaram o parlamento a formar um comitê investigativo especial no mês passado para investigar irregularidades envolvendo aquisições e acusações de que os consultores foram oferecidos negócios superfaturados e muita influência.

A pressão está crescendo de todos os lados sobre von der Leyen, que é ministra da Defesa desde 2013. Marie-Agnes Strack-Zimmermann, vice-líder dos democratas livres de oposição, alertou que se a ministra não pode limpar o ar rapidamente, seria hora de perguntar “se o ministério está sendo liderado pelas pessoas certas”.

Longe de estar em ordem

Retorno do Gorch Fock ao porto de origem de Kiel após um cruzeiro de treinamento, 2009.

Os olhos da maioria dos alemães ficam vidrados e sem interesse com a menção dos problemas perpétuos da Bundeswehr, mas um caso envolvendo o Gorch Fock, o navio de treinamento naval de três mastros da marinha, chamou sua atenção.

Lançado em 1958 para ensinar uma nova geração de recrutas navais da Alemanha Ocidental, o imponente navio de 81 metros, que leva o nome do pseudônimo de um popular autor marítimo alemão, é mais do que apenas um navio de treinamento; para muitos, o Gorch Fock - cuja semelhança foi gravada em algumas notas do marco alemão - é um símbolo do renascimento da Alemanha no pós-guerra.

Verso da nota de 10 marcos alemã, 3ª série.

O status icônico do navio é um dos motivos pelos quais poucos se opuseram quando a Bundeswehr anunciou em 2015 que ele precisava de uma grande reforma. Até, é claro, o preço explodir de uma projeção inicial de € 10 milhões para € 135 milhões, de acordo com a estimativa mais recente.

Autoridades da Bundeswehr alegaram que a profundidade dos problemas do navio só ficou clara quando ele estava em doca seca, mas poucos estão acreditando em tais explicações. “Quando os reparos custam mais do que um navio novo, algo está obviamente errado”, disse Bartels, o superintendente parlamentar da Bundeswehr, em uma entrevista.

"Dado o tamanho e o poder econômico da Alemanha, a atenção de Berlim à segurança é surpreendentemente superficial."

O Gorch Fock "é um sintoma dos problemas mais amplos da Bundeswehr", disse Bartels. “Tudo demora muito e custa muito dinheiro. É como se tempo e dinheiro fossem recursos infinitos e, no final, ninguém assume a responsabilidade.”

Quase da noite para o dia, o navio passou de orgulho e alegria para a piada da vez. Na semana passada, o semanário alemão Der Spiegel retratou o Gorch Fock em sua capa com o título “Navio dos tolos” (Das Narrenschiff).

"O Navio dos Tolos" é uma sátira alegórica germânica publicada em 1494 na Suíça.

É uma metáfora apropriada para o corpo político da Alemanha também. Dado o tamanho e o poder econômico da Alemanha, a atenção de Berlim à segurança é surpreendentemente superficial; cidadãos e políticos freqüentemente parecem alheios aos desafios que o país enfrenta. Embora a Alemanha enfrente ameaças crescentes à segurança tanto da Rússia quanto da China, ninguém saberia disso rondando a capital alemã.

Grande parte da mídia agora retrata os EUA como uma ameaça à segurança no mesmo nível da Rússia. As atitudes públicas mudaram em uma direção semelhante. As discussões sobre segurança são conduzidas por um punhado de analistas de think tank com opiniões parecidas que parecem passar a maior parte do tempo no Twitter, preocupados com a possibilidade de Trump puxar o plugue da OTAN.

Mais alemães acreditam que a China é um parceiro melhor para seu país do que os EUA, de acordo com uma pesquisa publicada na semana passada pelo Atlantik Brücke, um grupo de lobby transatlântico com sede em Berlim. Cerca de 80 por cento dos entrevistados consideram as relações EUA-Alemanha como "negativas" ou "muito negativas".

Em tal ambiente, é fácil esquecer que os EUA têm 33.000 soldados estacionados na Alemanha e que Washington garantiu a segurança alemã desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Soldados poloneses e americanos durante um exercício da OTAN na Alemanha.

No entanto, essa história pode ser o problema central quando se trata das atitudes alemãs em relação à defesa. Muitos alemães parecem felizmente inconscientes de que sua segurança, e por extensão sua prosperidade, depende em grande parte da presença do escudo nuclear americano.

Em breve, eles terão um rude despertar. Os envelhecidos caças Tornado da Alemanha, os únicos aviões que o país possui capazes de transportar ogivas nucleares, serão desativados nos próximos anos. Berlim precisa encontrar um substituto para cumprir suas obrigações de acordo com sua estratégia de defesa nuclear de décadas com os Estados Unidos.

Fazer isso pode não ser tão fácil, pelo menos politicamente. Na esteira do colapso de um tratado de armas nucleares da era da Guerra Fria entre os EUA e a Rússia [em fevereiro de 2019], alguns funcionários do Partido Social Democrata, o parceiro menor da coalizão de Merkel, começaram a questionar se Berlim deveria manter seus compromissos nucleares com relação aos EUA.

O SPD, que tem lutado para reverter um colapso nas pesquisas, provavelmente está apenas testando as águas. Os democratas-cristãos de Merkel permanecem solidamente a favor da aliança nuclear com os EUA, e qualquer movimento para acabar com isso provavelmente aceleraria o colapso do governo.

No entanto, a retórica do SPD reflete um ceticismo mais amplo de todas as coisas militares na Alemanha, que sugere que rejuvenescer a Bundeswehr é tanto mudar a mentalidade do público quanto gastar mais dinheiro.

A rejeição automática do engajamento armado pelos alemães pode estar enraizada em sua história do século XX, mas também é evidente que décadas sob a proteção americana embalaram o país em uma falsa sensação de segurança.

O serviço militar traz consigo pouco orgulho na Alemanha. (Sean Gallup / Getty Images)

Diante disso, há pouca vantagem para os políticos abraçarem abertamente o exército como uma instituição democrática essencial. O fato da Bundeswehr ser ativa em missões estrangeiras perigosas, como no Mali ou no Afeganistão, recebe pouca atenção, por exemplo.

Relatos de tropas mal equipadas em perigo são mais prováveis de desencadear humor negro do que indignação. Em um país onde o serviço militar traz pouco orgulho, o destino dos soldados é pouco preocupante.

Em Berlim e em outras cidades alemãs, alguns militares da Bundeswehr dizem que preferem não usar uniforme ao viajar para o trabalho, a fim de evitar olhares agressivos e comentários rudes. E em Potsdam, uma capital regional perto de Berlim, os políticos locais têm debatido se é apropriado que os bondes da cidade exibam anúncios de recrutamento para a Bundeswehr.

Até Merkel tem dado pouco amor à Bundeswehr ultimamente. A chanceler não visita tropas na Alemanha desde 2016. “A chanceler se preocupa com a Bundeswehr?” O diário de circulação em massa Bild perguntou em uma manchete na semana passada.

Se ela o faz ou não, pode ser irrelevante neste estágio. Com Merkel em seu caminho de saída, consertar a Bundeswehr provavelmente dependerá de seu sucessor. Até então, os planos de um “Exército Europeu” que inclua a Alemanha têm quase tantas chances de decolar quanto a Força Aérea Alemã.

Brigada Franco-Alemã com fuzis FAMAS franceses.

Vídeo recomendado:


Bibliografia recomendada:

Death of the Wehrmacht: The German Campaigns of 1942,
Robert M. Citino.

Leitura recomendada:




Secretário-Geral da OTAN duvida da autonomia europeia


Por Nicolas Barotte, Le Figaro, 19 de fevereiro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 31 de maio de 2021.

“A UE não pode proteger a Europa ou substituir a OTAN”, declarou na sexta-feira Jens Stoltenberg, para se opor a esta “autonomia estratégica” europeia defendida em particular pela França.

Há palavras que não surgem espontaneamente da boca do Secretário-Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, quando fala sobre o futuro da Aliança e o reforço dos laços transatlânticos: os da "autonomia estratégica europeia".

"Existem diferentes interpretações" do conceito, respondeu ele durante uma reunião com a imprensa, antes de sua intervenção na conferência de segurança de Munique, que aconteceu virtualmente na sexta-feira. Ele não escondeu um certo ceticismo em relação a este objetivo defendido pelo Presidente da República Emmanuel Macron e retransmitido por outros países da União.

Jens Stoltenberg durante uma conferência de imprensa na sede da OTAN em Bruxelas em 17 de fevereiro. (Pool / Reuters)

Ao saudar "todos os esforços" empreendidos pelos europeus para investir nas suas capacidades de defesa ou para remediar a "fragmentação" da indústria de defesa europeia, o Secretário-Geral da OTAN adverte: "A UE não pode proteger a Europa ou substituir a OTAN". Ele insiste nas dimensões geográficas e políticas da defesa ocidental. A Aliança se estende ao norte até a Islândia ou Canadá. No flanco sul, a Turquia é um aliado essencial, segundo ele, para a proteção dos interesses aliados. Ele não menciona tensões com Ancara, que quer adquirir defesas russas S400.

Os argumentos de Paris

Diplomata, Jens Stoltenberg raramente se desvia do ponto de equilíbrio interno da OTAN. Também defende sua posição institucional. Enquanto faz campanha por laços transatlânticos mais estreitos com o novo presidente dos EUA, Joe Biden, ele se preocupa com qualquer coisa que possa "enfraquecer a solidariedade" entre os aliados. A ambição de defesa europeia não deve "ser entendida como uma alternativa ou um enfraquecimento da OTAN", afirmou. O governo francês continua repetindo que a "autonomia estratégica" não pretende substituir a Aliança, mas fortalecê-la. Obviamente, os argumentos não se suportam. Em Paris, esperamos convencer e principalmente o governo Biden.

O Secretário-Geral da OTAN também está realizando um trabalho perigoso de modernização da organização. Tratando-se de traçar um novo "conceito estratégico", o último datado de 2010, Jens Stoltenberg lançou várias propostas de evolução que ainda não encontraram apoio unânime. Seu método, considerado “iconoclasta” internamente, não foi apreciado.

Em particular, ele deseja reformar o método de financiamento de certas operações, permitindo que a OTAN cubra parte dos custos. Os países sem capacidade militar poderiam, assim, compartilhar melhor o fardo. Dentro da Aliança, os céticos, incluindo a França, alertam contra um sistema de “desincentivo” que levaria os estados a pararem de investir em suas próprias capacidades. O sistema também poderia prejudicar os principais contribuintes financeiros da Aliança, como a França, que pagaria por outros enquanto continua a financiar suas próprias intervenções fora do quadro da aliança, como, em particular, a Operação Barkhane.

Bibliografia recomendada:


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A Alemanha pacífica30 de maio de 2021.

"Dia da Marmota" para o exército alemão conforme melhorias não saem do lugar, 31 de maio de 2021.






Operação Molotov: Por que a OTAN simplesmente entrou em colapso no verão de 202421 de maio de 2020.

A Rússia está involuntariamente fortalecendo a OTAN?24 de fevereiro de 2020.

"Dia da Marmota" para o exército alemão conforme melhorias não saem do lugar

O recrutamento para a Bundeswehr continua sendo um problema chave, com 20.000 postos do exército ainda não preenchidos. (Sean Gallup / Getty)

Por Guy Chazan, Financial Times, 28 de janeiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 30 de maio de 2021.

O relatório destaca a escassez de camas, postos vazios e aquartelamentos mofados.

O exército alemão ainda tem "muito pouco material, muito pouco pessoal e muita burocracia", apesar de um grande aumento no orçamento, de acordo com um relatório sobre o estado da Bundeswehr.


O relatório anual de Hans-Peter Bartels, comissário das Forças Armadas do Bundestag alemão, será uma leitura estranha para Annegret Kramp-Karrenbauer, a ministra da Defesa que tem ambições de suceder Angela Merkel como chanceler alemã.

Kramp-Karrenbauer, que já assumiu como líder da União Democrata Cristã conservadora de Merkel, foi nomeada ministra da Defesa em julho do ano passado e prometeu aumentar os gastos e melhorar o moral. Ela ganhou popularidade com reformas atraentes, como permitir que militares uniformizados viajem gratuitamente em trens alemães.

Mas o relatório de Bartels deixa claro que o Bundeswehr continua a ser atormentado por problemas profundos. Ele reconheceu que o governo estava falando sério sobre tentar modernizar as forças armadas e aumentar os gastos com defesa após anos de austeridade, mas concluiu que as mudanças “ainda não eram sentidas pelas tropas”.


Ele comparou a falta de melhorias ao Dia da Marmota (Groundhog Day), a comédia cinematográfica de 1993 em que Bill Murray revive o mesmo dia indefinidamente.

Bartels disse que o ministério da defesa não conseguiu melhorar significativamente a prontidão de combate dos principais sistemas de armas da Alemanha, como aeronaves, helicópteros e navios - um problema que tem perseguido a Bundeswehr por anos.

O recrutamento continua sendo um problema fundamental. Bartels disse que 20.000 postos do Exército permaneceram vagos e, no ano passado, o número de soldados recém-recrutados ficou em pouco mais de 20.000, 3.000 a menos do que em 2017.

A Alemanha tem sofrido enorme pressão nos últimos anos, especialmente do governo do [então] presidente dos Estados Unidos Donald Trump, para aumentar seus gastos militares. Embora tenha se comprometido a gastar 2 por cento do produto interno bruto em defesa em uma cúpula da Otan em 2014, continua longe dessa meta: Berlim diz que gastará 1,5 por cento do PIB com as forças armadas até 2025, e não alcançará a meta dos 2 por cento antes do início dos anos 2030.


Bartels disse que as despesas já estavam disparando, de € 32,4 bilhões em 2014 para € 43,2 bilhões no ano passado. Mas isso ainda não se traduziu em melhorias tangíveis no campo. Ele disse que € 1,1 bilhão destinados a equipamentos de defesa não foram gastos devido a atrasos em projetos de armamentos.

Seu relatório pinta um quadro sombrio da vida para o soldado alemão médio: mochilas com defeito, mofo nas paredes de algumas instalações do exército e camas e armários insuficientes.

Bartels reservou uma crítica especial ao complexo sistema de compras da Alemanha e disse que a obtenção de peças simples de equipamento deveria ser radicalmente simplificada "de acordo com o princípio da Ikea: escolha, pague, leve com você". Ele disse que a “solução projetada” mais complexa deve ser reservada para produtos sofisticados, como carros de combate e sistemas de defesa antimísseis.

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:

A Alemanha pacífica
30 de maio de 2021.


Exército Alemão sugere que seus soldados dirijam carros e finjam que estão dirigindo tanques durante exercícios7 de fevereiro de 2020.


FOTO: Brigada Franco-Alemã, 22 de janeiro de 2020.

FOTO: Fernspäher do exército alemão4 de fevereiro de 2020.

FOTO: Centurions holandeses na Alemanha Ocidental1º de março de 2020.