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sábado, 11 de julho de 2020

Bem vindo à selva

Soldado canadense armado com o FAMAS F1 equipado de um adaptador de festim no centro de guerra na selva francês, o CEFE, na Guiana Francesa.

Por Ian Coutts, Canadian Army Today, 11 de novembro de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 11 de julho de 2020.

Como um oficial de intercâmbio brasileiro está ajudando o Exército Canadense a desenvolver sua doutrina de guerra na selva e a treinar futuros especialistas.

Às vezes é realmente uma selva lá fora. E quando é, o Exército Canadense pode ter que responder.

Isso não é fácil. O ambiente da selva é hostil de maneiras particulares. O movimento por terra é difícil. É um mundo perigoso e insalubre, lar de grandes predadores, cobras e insetos venenosos e doenças de arrepiar os cabelos, como a leishmaniose, que pode deixar suas vítimas com lesões faciais desfigurantes. É um ambiente em que um corte aparentemente inconseqüente pode rapidamente se tornar purulento*. E isso tudo antes que as pessoas comecem a atirar em você.

*Nota do Tradutor: Infeccionado, contendo pus ou cheio de pus.

Soldado canadense do Royal 22e Régiment "Vandoos" (R22eR) em treinamento do CEFE, na Guiana Francesa.

Em outubro, um pelotão de soldados da Companhia B do 3º Batalhão, Royal 22e Regiment (3 R22eR), juntamente com alguns soldados de outras unidades da Base de Forças Canadenses (CFB) Valcartier, seguiram para o sul, para a Guiana Francesa. O destino deles era o Centre d´entraînement à la forêt équatoriale (CEFE), a escola de guerra na selva do Exército Francês lá dirigida sob a direção da Legião Estrangeira, onde participaram de um exercício chamado Ex Spartiate Equatoriale.

Acompanhando-os para o passeio de duas semanas, estavam o Sargento Jonathan Bujold, anteriormente membro do batalhão agora ligado ao pelotão de precursores localizado na CFB Trenton, e um oficial brasileiro, o Capitão Ronaldo de Souza Campos. Souza Campos, um instrutor do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), a escola de guerra na selva do Exército Brasileiro, localizada na cidade de Manaus, no extremo sul da Amazônia, está atualmente em uma postagem no Exército Canadense, trabalhando do Centro de Guerra Avançada do Exército Canadense (Canadian Army Advanced Warfare CentreCAAWC) em Trenton.

O objetivo imediato do programa era proporcionar aos soldados no curso experiência em primeira-mão operando em um ambiente de selva - o que não é algo disponível em Valcartier ou mesmo em qualquer lugar no Canadá.


O objetivo maior - e por que Bujold e Souza Campos foram junto - era desenvolver habilidades e conhecimentos para fornecer capacidade futura. Por meio de cursos como esse e com base na experiência de especialistas como Souza Campos e outros, o Exército Canadense quer criar um conjunto de especialistas e uma doutrina escrita para guiá-los, de modo que, se algum dia for comprometido a servir na selva, os soldados estarão prontos.

Treinamento Especializado

Por mais improvável que possa parecer a necessidade do Exército Canadense de habilidades na guerra na selva, ela tem suas origens na experiência em primeira-mão. Em 1999, um contingente de 250 soldados do 3 R22eR foi enviado ao Timor Leste por seis meses como parte de uma força internacional de manutenção da paz. O subtenente Philippe Paquin-Bénard, um membro atual do batalhão e um de seus especialistas residentes em guerra na selva, descreveu sua experiência: "Quase 45% encontraram grandes problemas relacionados ao conhecimento limitado e equipamentos inadequados para esse tipo de ambiente severo e complexo".

Soldado canadense do Royal Montreal Regiment no CEFE, Guiana Francesa.

O Exército Canadense já enviara instrutores para a escola francesa em 1994, mas, disse Paquin-Bénard, "a expertise praticamente desapareceu". No passado, o Exército Canadense também criou seus próprios manuais para a guerra na selva, mas eles não foram revisados desde pelo menos o início dos anos 80.

Consequentemente, o 3 R22eR foi utilizado para desenvolver conhecimentos em guerra na selva, um processo que vem avançando com passos de bebê há mais de uma década. Uma troca de 2008 do pelotão de reconhecimento do batalhão com os Royal Gurkha Rifles, em Brunei, demonstrou que, apesar de seu alto nível geral de condicionamento físico e conhecimento militar, era necessário trabalhar em habilidades específicas necessárias à guerra na selva antes que os voluntários a candidatos aparecessem.


Isso significou o envio de indivíduos para cursos especializados, como o curso internacional Jaguar de 10 semanas no CEFE (que Paquin-Bénard participou com um colega em 2014), o Curso de Instrutor de Guerra na Selva do Exército Britânico em Bornéu (do qual Bujold é um graduado), ou cursos similares na escola brasileira de Manaus. Os soldados do 3 R22eR também visitaram a Escola de Guerra na Selva do Exército Francês na Martinica em 2014 e 2016. A idéia era criar um grupo nuclear de instrutores que pudessem preparar o resto para o que enfrentariam na selva.

Em 2013, os exércitos brasileiro e canadense concluíram um acordo em que um oficial de intercâmbio brasileiro foi enviado ao norte para o CAAWC em um destacamento de dois anos para ajudar a desenvolver a doutrina de guerra na selva. Souza Campos, o atual oficial de intercâmbio, é um veterano de 16 anos do Exército Brasileiro que atuou anteriormente como instrutor no CIGS. (Bujold é seu segundo-em-comando especialista no assunto.)


Além de treinar militares e policiais brasileiros, o CIGS atrai regularmente estudantes de todo o mundo que fazem um curso especial de sete semanas, ministrado em inglês. Desde 2016, um grupo do tamanho de uma seção do 3 R22eR viaja para Manaus todos os anos para participar de uma competição de guerra na selva no centro. (Os exércitos canadense e brasileiro renovaram recentemente esse contrato por mais quatro anos.)

Definindo Novos Padrões

Homens do 3º Batalhão do Royal 22e Régiment "Vandoos" (3 R22eR) na Guiana Francesa.

Muita coisa mudou desde que o 3º batalhão iniciou seu intercâmbio com os gurcas em 2008. Antes de partir para a Guiana Francesa, todos os soldados que participavam do curso passavam por um processo de seleção de dois dias para garantir que possuíam as habilidades físicas necessárias, principalmente natação, para garantir que eles pudessem fazer o curso, disse Paquin-Bérnard. Seguiram-se algumas semanas de treinamento para prepará-los para o ambiente de selva, incluindo instruções sobre a flora e a fauna que provavelmente encontrariam.

Além disso, "uma ênfase significativa foi colocada em... higiene e atendimento médico individual", disse ele. O batalhão agora possui esse tipo de conhecimento internamente.

Para Souza Campos e Bujold, a viagem foi uma oportunidade para ver se os padrões que eles e os antecessores de Souza Campos estão desenvolvendo para a doutrina de guerra na selva do Exército Canadense estão sendo cumpridos no treinamento e se esses padrões podem, de fato, precisar serem modificados em face das condições de campanha.

Alunos do CEFE na pista de obstáculos.

A curto prazo, o objetivo será criar um manual conciso ou livreto que possa ser entregue aos soldados que estejam em um curso de guerra na selva. A longo prazo, o objetivo é criar um conjunto de padrões, conhecido como Quality Standard Training Plan (Plano de Treinamento de Padrão de Qualidade), ou QSTP, que descreverá quais padrões qualquer soldado deve atender para ter uma qualificação completa na selva.

Além disso, disse Bujold, existe um sonho ainda mais ambicioso: atualmente, o Exército Francês não permite que canadenses qualificados instruam em sua escola. "O que estamos tentando fazer a longo prazo é encontrar outro lugar no mundo, talvez com o Reino Unido ou o Brasil, onde nossos instrutores serão capazes de ensinar".

Nossa própria localização, nossa própria doutrina e nossos próprios instrutores treinados. Nas palavras do Guns 'n' Roses, "Bem-vindo à selva".

Bibliografia recomendada:



Leitura recomendada:





quinta-feira, 9 de julho de 2020

Chineses buscam assistência brasileira com treinamento na selva


Por Tim Mahon, Defense News, 9 de agosto de 2015.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 9 de agosto de 2020.

Em julho, o Coronel Alcimar Marques de Araújo Martins, comandante do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), indicou que a China havia recentemente providenciado o envio de um grupo de oficiais e graduados para treinamento no CIGS, mas cancelaram sua participação em favor de uma abordagem alternativa.

"Eles agora nos pediram para fornecer um número de treinadores e nossa experiência em treinamento de guerra na selva para ajudá-los a desenvolver seu próprio programa na China", disse ele. Não havia indicação quanto ao imediatismo de tal cooperação ou ao número de treinadores que provavelmente seriam enviados.

Aluno chinês (direita) no Estágio Internacional de Operações na Selva (EIOS) do CIGS, 12 de setembro-14 de outubro de 2016.

Embora não esteja claro por que os chineses estão expandindo suas operações de treinamento na selva, o país tem longas fronteiras cobertas de selva com vários vizinhos.

O CIGS, comemorando seu 50º aniversário em 2015, treinou quase 6.000 oficiais e graduados ao longo dos anos, dos quais quase 500 foram de países estrangeiros. Embora a grande maioria desses estudantes estrangeiros venha dos vizinhos latino-americanos do Brasil, houve cerca de 27 participantes dos EUA e mais de 100 da Europa, principalmente da França. Até agora, apenas um participante veio da Ásia.

O modus operandi do CIGS é "treinar os treinadores", em cursos limitados em 100 a 120 alunos até três vezes por ano. O curso de 10 semanas (oito semanas para o curso dos oficiais superiores) ensina uma ampla variedade de técnicas de guerra na selva, que vão desde sobrevivência e forrageamento até navegação, disciplinas de fogo e movimento, técnicas de ataque fluvial e procedimentos de higiene na selva.

Depois de se formarem no curso, oficiais e graduados retornam às suas unidades para realizar treinamento para suas próprias tropas.

Estágio Internacional de Operações na Selva (EIOS) do CIGS, 12 de setembro-14 de outubro de 2016.
Participaram deste EIOS o Canadá, Estados Unidos da América, China, Japão, Bolívia, Polônia, Espanha, Alemanha, Reino Unido, Índia, Sri Lanka, Nigéria, Guiana, Vietnã e Portugal.

No Exército Brasileiro, os soldados do Comando Militar da Amazônia (CMA) fornecem pelotões de fronteira especiais, que são destacados em locais de fronteira para turnês de até um ano, onde oferecem não apenas segurança, mas também assistência social e educacional para comunidades remotas.

Portanto, o CIGS dá grande importância ao treinamento médico e ao diagnóstico e tratamento de uma ampla variedade de doenças e enfermidades exclusivas do ambiente de selva.

Esses pelotões são fundamentais para a estratégia de presença e dissuasão na área de mais de 5 milhões de quilômetros quadrados da bacia amazônica que constitui a área de responsabilidade do CMA.

"Atualmente, temos 24 desses pelotões, mas nosso programa de transformação exige que esse número aumente para 52 e também adicionaremos uma quinta Brigada de Infantaria de Selva à nossa organização", disse o Major Antoine de Souza Cruz, da equipe do CMA em Manaus.


Em outras partes da estrutura de treinamento do Exército, há também uma estreita cooperação com nações estrangeiras. Dentro da Brigada de Infantaria Paraquedista, sediada em Vila Militar, nos subúrbios do Rio de Janeiro, a Companhia de Precursores Paraquedistas já possui programas de treinamento com nações vizinhas e ainda mais longe, de acordo com o segundo em comando da companhia, o Capitão Gedeel Machado Brito Valin.

"O curso Precursor aqui se tornou uma referência para a América do Sul. Hoje temos um capitão preparando e conduzindo o primeiro curso Precursor para a Força Aérea do Paraguai e no próximo ano continuaremos com este programa e também iniciaremos uma cooperação de natureza semelhante na Argentina e Peru", disse ele.

Não é apenas na América do Sul que a experiência brasileira nessa área é entendida e apreciada, disse Gedeel.

"Após uma visita ao Curso de Precursores brasileiro, o Exército Canadense nos convidou a enviar um instrutor ao Centro de Guerra das Forças Canadenses para participar como instrutor estrangeiro no Curso Canadense de Precursores. Também tivemos um instrutor canadense conosco no ano passado e este ano marcará o segundo de nossa cooperação conjunta", afirmou.

Soldado canadense do Royal 22e Régiment "Vandoos" (R22eR) em treinamento do Centre d'entraînement en forêt équatoriale (CEFE), na Guiana Francesa.

Como parte de sua melhoria contínua das instalações de treinamento e da implementação de soluções de treinamento mais integradas, o Exército Brasileiro instituiu recentemente um sistema de simulação construtivo que visa proporcionar um ambiente de treinamento sofisticado para comandantes e estados-maiores de nível divisional.

Conhecido como COMBATER, o sistema de simulação é baseado no SWORD, a principal solução de jogos de guerra baseada em inteligência artificial desenvolvida pelo MASA Group, Paris. O SWORD foi adaptado para o cliente levar em consideração aspectos exclusivos da doutrina tática do Exército Brasileiro, além de abordar mais diretamente os requisitos de treinamento em desenvolvimento.

Em julho, no Comando Militar do Sul, comandantes e estado-maior da 3ª Divisão - uma das maiores do Exército - participaram do Operação Liberdade Azul, um exercício de quatro brigadas em nível divisional que esticou com sucesso o COMBATER até seus limites.

Militares brasileiros usando o sistema MASA SWORD/COMBATER.

O exercício usou todas as 128 licenças que a MASA forneceu em seu contrato inicial e coordenou a equipe do estado-maior da divisão e suas unidades componentes com elementos dessas unidades que treinaram "ao vivo" no campo.

As forças opostas fornecidas de dentro da divisão também foram atendidas na simulação.

"Exercícios como esse, apoiados pelas instalações que o COMBATER nos disponibiliza, são uma oportunidade ideal para crescermos. Adoramos cometer novos erros e aprender com eles", disse o General José Carlos Cardoso, comandante da 3ª Divisão. "E é importante fazê-lo. Como nosso chefe de gabinete do Exército disse sobre o processo de transformação em que estamos envolvidos no momento, o objetivo da transformação é mudar idéias".

Bibliografia recomendada:


Leitura recomendada:





FOTO: Canadenses na Amazônia16 de fevereiro de 2020.




domingo, 16 de fevereiro de 2020

FOTO: Canadenses na Amazônia


Soldado do Royal Montreal Regiment em instrução de selva com o 3e REI da Legião Estrangeira Francesa no Centre d'entraînement en forêt équatoriale (CEFE).