Apoiadores do Hamas em Gaza seguram pôsteres do presidente turco Recep Tayyip Erdogan durante um comício. |
quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
A Turquia está testando os limites no Oriente Médio
As Forças de Defesa de Israel fazem uma abordagem ampla ao lidar com a ameaça iraniana
Por Yaakov Lappin, Israel Hayom, 13 de novembro de 2020.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 16 de dezembro de 2020.
A recém-formada Diretoria de Estratégia e Terceiro Círculo (Strategy and Third Circle Directorate) tem uma visão holística da ameaça iraniana, que se estende de seu território até as fronteiras de Israel, e descreve como a nova abordagem otimiza a prontidão de Israel para perigos futuros.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) recentemente formadas pela Diretoria de Estratégia e Terceiro Círculo (uma referência aos países da periferia do terceiro círculo de Israel com o Irã sendo o ponto focal) representa uma nova abordagem para avaliar e preparar as ameaças emergentes de segurança mais significativas de Israel.
Em declarações ao JNS [Jewish News Syndicate], uma fonte militar israelense esclareceu as razões que levaram à fundação da nova diretoria. O principal raciocínio, disse ele, foi a necessidade de criar uma visão abrangente e holística dos desafios em desenvolvimento para Israel e de ver as ameaças que começam em solo iraniano e alcançam as fronteiras de Israel por meio de lentes unificadas, em vez de ver os desenvolvimentos de forma restrita um do outro.
"Contra isso, temos que desenvolver uma gama de capacidades - para estarmos prontos a qualquer minuto para qualquer desenvolvimento e também para o outro lado ser suficientemente dissuadido - e saber que Israel tem a capacidade de responder inequivocamente a qualquer ação ou desejo pelo inimigo", disse a fonte.
Em vez de identificar incidentes ou desafios em um único setor, a nova diretoria analisa ameaças (e oportunidades) de maneira ampla e fornece recomendações rápidas sobre as etapas operacionais.
A formação da diretoria é baseada na nova estratégia das FDI formulada pelo Chefe do Estado-Maior Geral, Tenente-General Aviv Kochavi. A estratégia prevê melhorias para a Diretoria de Operações das FDI (responsável por planejar o uso da força militar), a Diretoria de Inteligência e a Diretoria de Planejamento (responsável por construir as forças das FDI).
"Uma visão holística do mapa geoestratégico"
Fundada na década de 1970, a Diretoria de Planejamento tradicionalmente lidava com o aumento da força, mas também com estratégia e cooperação com militares estrangeiros. Sob o novo programa Momentum das FDI, o Estado-Maior das FDI decidiu dividir a Diretoria de Planejamento em duas organizações: uma que se concentraria no aumento da força de maneira dedicada e uma diretoria separada que se concentraria nos desafios estratégicos cada vez mais complexos que se desenvolvem em o Oriente Médio.
O resultado foi a criação da Diretoria de Estratégia e Terceiro Círculo, que “tem uma visão holística dos principais desenvolvimentos da região e do mapa geoestratégico”, afirmou a fonte.
“Em relação ao Irã, lidamos com a ameaça que começa no próprio país - seu programa nuclear, seus mísseis superfície-superfície. A ameaça regional iraniana e o desejo do Irã de aprofundar sua influência no Oriente Médio”, afirmou.
Além disso, disse ele, "o mundo das ameaças estratégicas não se trata apenas de lidar com bombas. Existem forças estratégicas brandas em ação também, e as agências de segurança têm que lidar com isso".
"Compreendemos que tínhamos que fortalecer nosso tratamento da ameaça iraniana, bem como fortalecer o processo de formação de força das FDI. Começamos a conduzir o trabalho da sede no Estado-Maior. Acreditamos que essa foi a decisão certa a ser tomada", acrescentou a fonte militar.
O pessoal da nova diretoria "acorda todas as manhãs para se concentrar em duas coisas principais: estabelecer uma estratégia abrangente para as FDI e ser um órgão que pode olhar para o Irã de forma ampla, em vez de lidar com o Irã de maneira compartimentada", disse ele.
A nova diretoria foi criada em junho. Inclui uma Sede do Irã, uma Divisão de Estratégia e a Divisão de Cooperação Internacional.
A diretoria está sob o comando do Major General Tal Kelman, o ex-Chefe do Estado-Maior da Força Aérea de Israel.
Dentro da Diretoria de Estratégia e Terceiro Círculo, a Sede do Irã agora forma uma única agência centralizada que integra todas as atividades relacionadas ao Irã - uma grande mudança em relação ao passado, quando vários órgãos das FDI faziam isso.
“O principal papel do 'oleoduto unificado' [a sede do Irã] é como lidar com a ameaça iraniana. Chamamos isso de 'fase de projeto'”, explicou a fonte.
Em operação desde junho, a Sede do Irã está em contato próximo com a Divisão de Estratégia, que naturalmente também está profundamente preocupada com o Irã.
"Juntos, eles lidam com a modelagem da ativação da força e do aumento da força", disse a fonte. "O quartel-general vê o quadro completo... isso nutre os planos de aumento de força. Isso influencia o que as FDI decidem fazer [em termos de desenvolvimento de força]."
O pessoal na sede do Irã inclui oficiais da força aérea, inteligência e estrategistas, a fim de criar um quadro o mais amplo possível. A sede do Irã deve ter uma boa conexão com outras partes das FDI e ser capaz de falar uma língua comum, enfatizou a fonte.
A Divisão de Estratégia, por sua vez, analisa a política, traça diretrizes e define as realizações desejadas das FDI. Também ajuda a definir a inteligência necessária para ativar a força militar e molda o processo de formação de força das FDI. O resultado final, disse a fonte, é uma entidade que fornece respostas não apenas às ameaças que se desenvolvem na fronteira com a Síria ou em Gaza, mas que pode conectar os pontos e colocar os desenvolvimentos no contexto do conceito estratégico e ideologia do Irã.
A fonte descreveu o objetivo abrangente do Irã como a criação de "um crescente profundo que cria uma ameaça ao Estado de Israel". Ao lidar com uma ameaça tão grande quanto o Irã, ele disse, "nunca vá até a fruta. Vá até o tronco da árvore". A fonte reconheceu que isso representa uma grande mudança conceitual nas FDI.
"Você pode apagar um incêndio aqui e outro ali, mas quando uma organização trabalhando contra você tem um conceito profundo, você não pode fazer uma abordagem pontual. Por isso, montamos a sede para evitar apenas olhar para o Band-Aid e para ver o todo", disse ele.
A nova diretoria também inclui a Divisão de Cooperação Internacional, que é responsável pela comunicação, coordenação e cooperação com outras forças armadas.
“A Divisão de Cooperação Internacional não lida com mísseis e bombas, mas sim como se conectar com outras forças armadas para promover nossas conquistas à luz da estratégia e implementação das FDI”, disse a fonte.
Ele depende de adidos de defesa para transmitir mensagens, explicando as decisões estratégicas israelenses. "Os Estados precisam saber por que fazemos o que fazemos. Também trabalhamos com os adidos para melhorar nossa formação de força e cooperação", disse ele.
A diretoria também desempenha um papel em quaisquer negociações políticas que tenham ramificações de defesa, como as negociações de Israel com o Líbano sobre as fronteiras marítimas no Mar Mediterrâneo. Um representante da Divisão Estratégica acompanha essas conversas.
“A Divisão de Cooperação Internacional tem uma conexão muito clara com a estratégia”, disse a fonte. Em última análise, disse ele, "temos que construir uma força que forneça respostas a um amplo espectro de possibilidades."
Bibliografia recomendada:
Introdução à Estratégia. André Beaufre. |
Israel provavelmente enfrentará guerra em 2020, alerta think tank, 1º de março de 2020.
Unidade multidimensional "Ghost" das IDF completa o primeiro exercício, 19 de agosto de 2020.
Com a série de espiões "Teerã", os israelenses alcançam um inimigo, 1º de outubro de 2020.
Comandos da Força Aérea Israelense ganham o primeiro comandante druso, 19 de setembro de 2020.
GALERIA: A Uzi iraniana, 3 de março de 2020.
FOTO: Macacos de Lotar em arranha-céu, 15 de dezembro de 2020.
Israel dá um passo "revolucionário" com drones táticos, 3 de setembro de 2020.
O desafio estratégico do Irã e da Venezuela com as sanções, 13 de setembro de 2020.
A influência iraniana na América Latina, 15 de setembro de 2020.
O papel da América Latina em armar o Irã, 16 de setembro de 2020.
sábado, 12 de dezembro de 2020
VÍDEO: O Brasil poderia tomar a Guiana Francesa?
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 12 de dezembro de 2020.
O canal de análises militares Binkov's Battlegrounds, apresentado pela marionete Camarada Binkov, publicou ontem (11/12/2020) um vídeo de análise sobre uma hipotética invasão brasileira à Guiana Francesa, com a reação da França e com o possível desenrolar da guerra com os meios militares de cada um.
A análise segue o procedimento de jogos de guerra, com a distinção dos "players" (jogadores, os combatentes), os objetivos e os meios; estes são o número de tropas no local, número disponível de tropas a serem movidas para o teatro, meios de transporte e equipamentos. Os equipamentos variam em qualidade mas são adotados como em condições de operação. Armas nucleares francesas e aliados para ambos foram excluídos.
Resumidamente, ambos os lados teriam dificuldades em mover tropas para o teatro de operações (TO) e os combates seriam de pequenas unidades na selva, com intervenções de artilharia e aviação. O Brasil iniciou a invasão com um assalto paraquedista de forças especiais e paraquedistas tomando o aeroporto de Caiena, se beneficiando de superioridade local. Essa força inicial seria reforçada por fuzileiros navais e tropas do exército aerotransportadas para a região. A marinha francesa moveria uma força-tarefa anfíbia para o Caribe, onde possui ilhas, e tomaria as águas ao redor, sendo incomodada por sortidas de submarinos brasileiros.
Legionários da 2ª companhia do 3e REI com o míssil AAe Mistral durante o lançamento do foguete Ariane 5 em Kourou, na Guiana Francesa, em 17 de novembro de 2016. |
Os franceses lançariam paraquedistas na Guiana e estes seriam reforçados por desembarques anfíbios de fuzileiros apenas marginalmente mais equipados que os paraquedistas. Uma discussão interessante foi o uso de carros de combate na selva pelos dois lados, assim como artilharia auto-propulsada (o que Binkov nota, o Brasil estaria em vantagem). Uma coisa que Binkov não notou foi o uso de carros de combate sobre rodas, o que é comum nos dois exércitos.
A aviação francesa teria superioridade aérea no mar e sobre o TO, mas não conseguiriam manter um guarda-chuva anti-aéreo o tempo todo e as forças francesas seriam incomodadas por bombardeiros à hélice fazendo sortidas ocasionais. A marinha brasileira seria obliterada e a sua força aérea reduzida à metade, mas o território permaneceria nas mãos brasileiras.
O veredicto foi a França tomando todas as ilhas brasileiras no saliente nordestino mas perdendo a Guiana para o Brasil. Esse resultado é muito otimista e assume que os brasileiros não teriam problemas de suprimentos, mas é provável que os militares brasileiros teriam dificuldade em negociar suas próprias linhas internas, demorando para trazer reforços e suprimentos (comida, munição, peças de reposição, etc) para o campo de batalha. Já a França, trazendo material pelo mar com depósitos posicionados na Martinica teria um acesso mais fácil. Seria interessante que o Camarada Binkov fizesse um segundo vídeo tratando das considerações logísticas de ambos os combatentes.
Vídeo:
Essa idéia veio com a publicação do Livro Branco da Defesa de 2020 que apontou a França como a principal ameaça ao Brasil na região. Essa decisão ecoou no mundo todo, trazendo surpresa à França, que sempre viu o Brasil como aliado. O anúncio não foi tomado como uma agressão vinda do Brasil e não teve maiores repercussões exceto uma "guerra de memes" na internet.
A última vez que o Brasil teve problemas diplomáticos reais com a França foi na "Guerra da Lagosta", uma ocasião onde as duas marinhas se encararam e uma marinha brasileira quase incapaz de fazer a navegação de cabotagem do Rio de Janeiro para o nordeste conseguiu defender os interesses nacionais pelo blefe. A última vez onde forças brasileiras de fato chegaram "às vias de fato" com os franceses foi na intrusão francesa no Amapá, em 1895. Tropas francesas comandadas pelo Capitão Lunier invadiram território brasileiro, sendo repelidos pelo general honorário do exército brasileiro Francisco Xavier da Veiga Cabral. Após a defesa do Amapá, Veiga Cabral se tornou um dos maiores heróis da história do estado. Na época, uma frase foi dita que acabou marcando o sentimento do povo do Amapá em relação a Veiga Cabral:
“Se é grande o Cabral que nos descobriu, maior é o Cabral que nos defendeu!”
Um enfrentamento de maior relevância ocorreu na invasão da Guiana Francesa em 1809, no âmbito das Guerras Napoleônicas. Nessa ocasião, a Brigada Real da Marinha desembarcou nas praias da Caiena, capital da então colônia francesa, sendo seguida por regulares da colônia brasileira e tropas portuguesas e britânicas, ocupando a Guiana Francesa até 1817.
Desembarque em Caiena, 1809. Óleo sobre tela de Álvaro Martins. Essa operação é considerada o batismo de fogo dos Fuzileiros Navais do Brasil. |
Depois das Guerras Napoleônicas, o Brasil e a França têm uma história de estreita amizade, desde o reconhecimento do Brasil por Paris logo cedo até três missões militares de instrução francesas no Brasil (duas na Força Pública de São Paulo e uma no Exército Brasileiro). Aliados nas duas guerras mundiais, a França novamente mandou equipes de instrução durante o regime militar, até mesmo o Brasil recebendo o General de Gaulle durante o governo Castello Branco.
Os dois países também vêm de uma longa história de compras militares e exercícios conjuntos (especialmente entre as duas marinhas). Culturalmente, a França vê o Brasil como o país sul-americano mais interessante e trata com surpresa os turistas brasileiros na França. O Brasil, sempre muito ligado à cultura francesa, vê a França como um país de sofisticação e progresso.
Uma fonte de estudo interessante é o livro do General Aurélio de Lyra Tavares sobre as relações dos dois países até a década de 1970.
Bibliografia recomendada:
Brasil França: Ao longo de 5 séculos. General A. de Lyra Tavares. |
Leitura recomendada:
O Estado-Maior Brasileiro considera a França a principal ameaça militar até 2040, 9 de fevereiro de 2020.
PINTURA: Desembarque anfíbio em Caiena, 1809, 4 de fevereiro de 2020.
FOTO: 14ª Reunião de Estados-Maiores entre o Brasil e a França, 2 de maio de 2020.
FOTO: Equipe de míssil anti-aéreo Mistral durante o lançamento do foguete Ariane 5, 15 de janeiro de 2020.
A geopolítica do Brasil entre potência e influência, 13 de janeiro de 2020.
Relatório Pós-Ação de participação na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro, 5 de janeiro de 2020.
Legionários e gendarmes destruíram um grande acampamento de garimpeiros ilegais na Guiana, 7 de abril de 2020.
Chineses buscam assistência brasileira com treinamento na selva, 9 de julho de 2020.
VÍDEO: Estágio Jaguar na Guiana Francesa, 19 de setembro de 2020.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
ANÁLISE: Os 5 piores fuzis AK já feitos (5 vídeos)
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 10 de dezembro de 2020.
Uma análise em 5 vídeos feita pelo conselheiro técnico Vladimir Onokoy, especialista nos sistemas Kalashnikov do Grupo Kalashnikov, na Rússia. Ele fez um ranking de cinco países que produziram os piores fuzis Avtomat Kalashnikova (Fuzil Automático Kalashnikov). As posições de piores "Kalash" ficaram:
- Paquistão
- Etiópia
- Estados Unidos
- Iraque
- China
Transcrição do vídeo sobre os AK americanos
"Os próprios americanos entendem essa situação muito bem e zombam dos fabricantes de tais cópias vagabundas muito mais do que eu." - Vladimir Onokoy. |
Peças típicas de um kit vendido nos EUA. |
"Century Arms: Porque mesmo macacos alcoólatras precisam de empregos." |
Fuzil AK da IO com os cano e mira totalmente desalinhados. |
Vladimir na oficina Rifle Dynamics de Jim Fuller produzindo fuzis AK. |
Carabina Saiga em uma loja de armas americana custando 1.349 dólares. |
AK-47: A Arma que Transformou a Guerra. Larry Kahaner. |
The AK-47: Kalashnikov-series assault rifles. Gordon L. Rottman. |
terça-feira, 1 de dezembro de 2020
Por que eu prefiro ser baleado por um AK-47 do que um M4
7,62x39mm versus 5,56x45mm. |
Dr. Dan Pronk. |
Instrutores de tiro de combate do Exército Francês treinam com o AK-47 Kalachnikov, 16 de janeiro de 2020.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O CALIBRE 5,56 MM: As tropas americanas estão sob risco?, 19 de setembro de 2019.