Mostrando postagens com marcador Empresas; Armas de Fogo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Empresas; Armas de Fogo. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Grupo russo Kalashnikov assinou acordo para fabricação do fuzil AK-103 na Arábia Saudita


Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex360, 20 de fevereiro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 19 de abril de 2021.

Ao assinar o Pacto de Quincy em 1945, os Estados Unidos se comprometeram a garantir a proteção da Arábia Saudita em troca de petróleo. No entanto, durante os anos de Obama, às vezes Washington parecia se distanciar desse acordo, adotando uma atitude mais flexível em relação ao Irã, inimigo jurado de Riad. Na época, o objetivo era chegar a um acordo sobre o programa nuclear iraniano.

Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita se aproximou da Rússia, notavelmente assinando ordens de equipamento militar, incluindo sistemas de artilharia TOS-1A “Solntsepek”, um lançador de foguetes múltiplo montado em um chassi de tanque T-72 e usando munição termobárica e incendiária.


Em seguida, com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, os Estados Unidos voltaram aos fundamentos de sua política externa, com a assinatura de vários contratos importantes de armas, uma linha mais dura em relação ao Irã. E o envio de tropas para solo saudita durante as tensões de 2019.

No entanto, as relações entre Washington e Riad mudarão novamente. Durante a campanha eleitoral, o novo presidente americano, Joe Biden, prometeu fazer da Arábia Saudita um "Estado pária".

Mas desde que entrou na Casa Branca, Biden teve que revisar seu discurso. Agora se fala em "recalibrar" as relações com o reino saudita, que recebeu apoio de Washington depois dos recentes ataques reivindicados pelos rebeldes Houthi (apoiados por Teerã).

Apesar de suas relações com os Estados Unidos serem complicadas, a Arábia Saudita pretende melhorar suas relações com a Rússia, especialmente no campo da indústria de armamentos. E isso se materializará com o estabelecimento de uma fábrica de fuzis de assalto AK-103 pelo grupo Kalashnikov no reino. O anúncio foi confirmado ao jornal Kommersant por Denis Manturov, Ministro da Indústria e Comércio da Rússia.

“Quanto ao contrato para a execução da primeira fase do estabelecimento de uma produção conjunta de fuzis Kalashnikov, foi assinado pelas partes e está sujeito a procedimentos de homologação interestadual, após o que entrará em vigor”, declarou o Ministro russo, às vésperas da abertura da feira de armas IDEX-2021, em Abu Dhabi.

Forças especiais sauditas no Iêmen armadas com fuzis AK-103.

Essa produção na Arábia Saudita de fuzis de assalto AK-103 foi objeto de um memorando de entendimento assinado em 2017. E segundo o diretor-geral da Kalashnokov, Dmitri Tarasov, a negociação poderia ter sido concluída muito antes não fosse a pandemia da Covid-19. E garante que seu grupo está "absolutamente pronto" para trabalhar com os sauditas.

De forma mais ampla, em termos de indústria militar, Riad tem grandes ambições, com um plano de investimentos de mais de US$ 20 bilhões nos próximos dez anos, com o objetivo de poder cobrir 50% das necessidades das forças armadas locais.

"O governo colocou em prática um plano pelo qual investiremos mais de US$ 10 bilhões na indústria militar na Arábia Saudita na próxima década e montantes iguais em pesquisa e desenvolvimento", disse Ahmed bin Abdulaziz Al-Ohali, o governador da Autoridade Geral para Indústrias Militares (GAMI), de acordo com a Reuters.

De calibre 7,62x39mm e com desenho agora antigo, o fuzil AK-103 já está em uso, a priori, pelas forças especiais sauditas.

Bibliografia recomendada:

The AK-47: Kalashnikov-series assault rifles.
Gordon L. Rottman.

Leitura recomendada:



quarta-feira, 7 de abril de 2021

VÍDEO: Lugers da ocupação francesa em 1945


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 7 de abril de 2021.

A Alemanha Nazista derrotada foi ocupada pelos quatro vencedores principais, com quatro zonas de ocupação: soviética, americana, britânica e francesa. A zona de ocupação francesa continha recursos como arquivos de fotos da Wehrmacht, material nuclear para a planejada bomba atômica alemã (material este que foi cedido aos americanos para o bombardeio à Nagasaki) e, mais relevante para o vídeo, a fábrica da Mauser em Oberndorf - capturada quase intacta pelo 9e Régiment de Chasseurs d'Afrique em 20 de abril de 1945.

Zonas de ocupação de 1948 a 1949.

Zonas de ocupação em Berlim. Ao lado, o distintivo das forças francesas em Berlim.

A fábrica da Mauser também tinha novos protótipos, como os do Sturmgewehr 45(M) (StG-45(M), o "M" sendo de Mauser) de estampagem, mas esses foram evacuados pelos alemães para a Áustria, onde foram capturados pelos aliados. Essa epopéia gerou, entre outros, o protótipo CEAM Modèle 50/B, e os fuzis CETME e HK G3 (além do sistema de trancamento por roletes do SIG 510).

O enorme complexo da Mauser continha pilhas e pilhas de armas acabadas e de peças, tanto da Luger P08 quanto de pistolas Walther P38 e fuzis Mauser Kar 98k, mas, principalmente, o ferramental para a produção dessas armas. Os franceses então produziram 48 mil fuzis Kar 98k, 35 mil pistolas P38 e 3.500 pistolas Luger P08 para uso das forças francesas (modelos de Luger também foram fabricados para o comércio privado). Inicialmente com águias nazistas na lateral da corrediça - por serem peças pré-existentes - as novas fabricações continham uma estrela.

Os estoques de peças da Mauser continham pouquíssimos carregadores, então os franceses fabricaram 10 mil novos carregadores no arsenal de Levallois, uma média de 3 carregadores por pistola, com um suprimento de dois carregadores por pistola (1 em reserva). Para facilitar o emprego do armamento, 5 mil manuais franceses da Luger foram impressos entre 1950 e 1951.

Estrela na corrediça.

A Luger francesa tinha placas de empunhadura de alumínio fundido e era acabada com uma cor cinza-azulada, apelidada de "cinza fantasma", tal qual nas P38 francesas.

Essas pistolas Luger viram uso extensivo nas guerras da Indochina e Argélia, saindo de serviço de primeira linha em 1953 em favor das pistolas MAC Modèle 1950. As Luger foram então transferidas para a Gendarmerie Nationale, para o novo Exército Austríaco e para estoques de reserva do Exército Francês até os anos 1970.

Essa produção supria um exército em necessidade de recriação, tanto na França quanto na ocupação da Alemanha e na reocupação da então Indochina Francesa. Uma França se reerguendo e se reafirmando como uma potência mundial ainda utilizou essa produção para empregar e reter especialistas de armamento franceses e alemães. Em 1948, os soviéticos protestaram a produção francesa alegando que a produção de armas na Alemanha violava os acordos aliados do tempo de guerra, sendo explicitamente proibido. Ora, os soviéticos tomaram as fábricas e levaram todo o ferramental para a União Soviética e continuaram produzindo por décadas com as máquinas e especialistas "voluntários" alemães. Mas ainda assim os franceses já haviam cessado a produção na Alemanha há tempos, e então os franceses retiraram tudo de utilizável da fábrica e destruíram o prédio no final de 1948.

Rádio-operador do 1er BEP em combate na Rota Colonial 6, no Tonquim, em 1952.
Ele tem uma Luger no coldre.

Bibliografia recomendada:

The Luger.
Neil Grant.

Leitura recomendada:

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Resultados dos testes do MAS 62


Por Ian McCollum, Forgotten Weapons, 8 de julho de 2015.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 1º de fevereiro de 2021.

Obrigado ao leitor Thibaud, temos uma tradução de alguns dos resultados dos testes do julgamento militar francês do FN FAL e do MAS Modelo 62. Obrigado, Thibaud!

Nos anos 1950 e no início dos anos 1960, o arsenal francês MAS produziu várias dúzias de protótipos de fuzis em 7.62x51 OTAN. Este artigo descreve um dos últimos, o Type 62 (Tipo 62). Ele mostra uma notável semelhança com o FAL belga e quase foi adotado pelas forças armadas francesas até que o novo cartucho da OTAN de 5,56mm começou a se tornar popular.

Os documentos informam que o FA MAS 62 foi testado junto com o FN FAL, que foi considerado um padrão de referência. Aqui está o resultado dos testes:
  • Miras: O equipamento de mira do FAL foi preferido pelos soldados franceses durante os testes devido à sua semelhança com aquele do FSA 49-56, mais familiar aos soldados franceses.
  • Ajuste de mira: Satisfatório em ambas as armas. Algumas massas de mira do FAL não eram apertadas o suficiente para permanecer no lugar durante o tiro automático.
  • Gatilho e seletor de tiro: O gatilho foi satisfatório em ambas as armas. Todos os testadores preferiram o seletor de tiro no FAL.
  • Precisão: A precisão do FAL era superior. Dispersão vertical estranha com o 62.
  • Manuseio durante o disparo: Satisfatório com ambas as armas. O manejo do FAL foi considerado melhor. A coronha ajustável no 62 foi apreciada.
  • Manuseio durante o tiro com luneta: Satisfatório com ambas as armas. O adaptador para montar a luneta no 62, que não é necessário para montar uma luneta no FAL, foi considerado muito frágil e complexo. A possibilidade de usar miras de ferro mesmo quando a luneta foi montada no 62 foi apreciada em oposição ao FAL, o qual não pode ser disparado usando as miras de ferro quando a luneta está instalada.
  • Manuseio e transporte: ambas as armas foram consideradas leves, fáceis de manusear e nem pesadas ou incômodas. O FAL foi preferido por seu peso mais leve (cerca de 400 gramas/0,9 libras a menos).
  • Robustez e funcionamento: Satisfatório em ambas as armas.
  • Notas durante o teste: Vantagem para o FAL pela facilidade de desmontagem e limpeza. O 62 foi considerado muito complicado, com várias peças, algumas das quais eram fáceis de perder.
4 unidades (de soldados em teste) em 5 preferiram o FAL pela sua “maturidade técnica, suas soluções práticas e seus melhores resultados durante os testes de tiro”. O FA MAS 62 foi, no entanto, melhor quando disparou granadas, mesmo que sua construção mecânica seja menos robusta.

Os resultados dos testes não culminaram na adoção de nenhum dos dois fuzis, o FA MAS 62 retornou ao fabricante e o FAL também não foi adotado. Algumas unidades francesas foram supridas com o FN FAL em pequenos números, pois parece que havia um “lobby FAL” no exército francês da época. Quando o ministro da Defesa da época, Michel Debré, foi informado disso, disse com raiva que “a arma do soldado francês será uma arma francesa!” (Por que isso não me surpreende?). Os fuzis FAL do exército francês foram eliminados e nunca mais voltaram.

Bibliografia recomendada:

Fusils d'Assaut Français de 1916 à nous jours.
Jean Huon.

Leitura recomendada:



quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

ANÁLISE: Os 5 piores fuzis AK já feitos (5 vídeos)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 10 de dezembro de 2020.

Uma análise em 5 vídeos feita pelo conselheiro técnico Vladimir Onokoy, especialista nos sistemas Kalashnikov do Grupo Kalashnikov, na Rússia. Ele fez um ranking de cinco países que produziram os piores fuzis Avtomat Kalashnikova (Fuzil Automático Kalashnikov). As posições de piores "Kalash" ficaram:

  1. Paquistão
  2. Etiópia
  3. Estados Unidos
  4. Iraque
  5. China




Transcrição do vídeo sobre os AK americanos

"Os próprios americanos entendem essa situação muito bem e zombam dos fabricantes de tais cópias vagabundas muito mais do que eu." 
- Vladimir Onokoy.

Olá e bem-vindos ao curso de palestras da Kalashnikov Media! Meu nome é Vladimir Onokoy. Hoje vamos falar sobre as cinco piores variantes do AK já feitas.

Terceiro lugar: Estados Unidos.

Pode ser uma surpresa para muitos, mas os AK também são feitos nos Estados Unidos, com dezenas de empresas os fabricando. Algumas das variantes de melhor qualidade - e, curiosamente, também algumas das piores variantes vêm de lá. Como isso aconteceu? Inicialmente, até 1989, os AK para uso civil foram vendidos nos Estados Unidos sem restrições. Esses foram feitos principalmente no Egito, Finlândia e Hungria. As pessoas estavam super interessadas nas armas soviéticas e elas eram vendidas como rapidamente.

Exemplo de um anúncio de fuzis AK finlandeses de uso civil vendidos nos EUA.

Peças típicas de um kit vendido nos EUA.

Em 1989, foi aprovada a primeira lei que regulamentava a circulação e, o mais importante, a importação dessas armas, e foi quando os kits de peças chegaram ao mercado. Basicamente, eram fuzis normais com seus receptores serrados em três lugares. Ao chegar aos EUA, eles seriam remontados com novos receptores, mantendo os munhões, grupo do gatilho e o cano. Isso significou que uma indústria totalmente desenvolvida teve de ser estabelecida muito rapidamente nos Estados Unidos para acompanhar a demanda. Como mencionei antes, em 1993, os fuzis chineses pararam de vir para os EUA, o que causou um motivo ainda maior para iniciar a produção local.

Inicialmente, as pequenas empresas, também conhecidas como lojas personalizadas (custom shops), começaram a fazer um bom trabalho e cobraram taxas especiais por isso. No entanto, em 1994, a Proibição de Armas de Assalto (Assault Weapon Ban) foi aplicada e, até 2004, a circulação dessas armas tinha sido muito limitada. Em 2004, a proibição acabou produzindo absolutamente zero resultados e, nessa época, as guerras do Iraque e do Afeganistão haviam começado. Ao voltar para casa, os veteranos muitas vezes queriam armas que haviam encontrado no campo de batalha para sua coleção doméstica. Foi assim que surgiu uma demanda considerável pela produção de fuzis AK.

Fuzis AK apreendidos no Iraque, 2010.

"Century Arms: Porque mesmo macacos alcoólatras precisam de empregos."

Como eu disse, inicialmente isso estava sendo fornecido por pequenas lojas personalizadas. No entanto, com o tempo, as pessoas entraram nesse negócio com a única intenção de ganhar dinheiro. E foi assim que algumas das piores variantes do AK surgiram. Os próprios americanos entendem essa situação muito bem e zombam dos fabricantes de tais cópias vagabundas muito mais do que eu.

Um desses infames fabricantes americanos de AK foi a empresa Inter Ordnance (IO). Eles decidiram ganhar dinheiro rápido produzindo um AK vagabundo e começaram a lançar sua versão AKM (alegadamente feita de acordo com um desenho técnico polonês). De alguma forma, esse projeto não funcionaria se um amortecedor de borracha estivesse faltando no conjunto de recuo. Na ausência de um, o conjunto do ferrolho simplesmente ficaria preso na parte de trás do receptor [caixa da culatra]. O fabricante simplesmente ignoraria as perguntas sobre se algo assim já aconteceu com os fuzis poloneses. Suas armas eram mal-feitas e com toneladas de problemas. Os ferrolhos se desintegrariam. Os rebites nos munhões costumavam ser muito defeituosos. Alguns daqueles fuzis eram tão tortos que alguém pensaria que foram projetados para atirar do canto de uma esquina. Naturalmente, depois que os clientes tiveram uma ideia do que fazia uma AK de qualidade, a IO viu suas vendas despencarem. E, no momento, eles não estão mais produzindo fuzis AK.

Sua única qualidade restante era a garantia vitalícia. Isso significava que você poderia ter sua arma de fogo reparada ou substituída gratuitamente, caso ela estragasse. No entanto, assim que pararam de fabricá-los, a garantia vitalícia também acabou. Tudo o que restou foram clientes descontentes e o merecido prêmio pelo pior AK já feito nos EUA.

Fuzil AK da IO com os cano e mira totalmente desalinhados.

Existem também muitas oficinas de garagem que montam fuzis AK a partir de peças. Onde as pessoas amam o que estão fazendo, geralmente há bons resultados. No entanto, às vezes as coisas acontecem de maneira diferente. Certa vez, um amigo meu comprou um AKMS [Avtomát Kalášnikova modernizírovannyj, AK modernizada; S de Skladnoy, dobrável/rebatível] de uma dessas [oficinas]. Depois de um tempo, coisas estranhas começaram a acontecer com ele: depois do primeiro tiro, o conjunto do ferrolho ficou preso na posição mais recuada e não havia praticamente nada que você pudesse fazer a respeito. Ele substituiu o conjunto do ferrolho, mas nada mudou. "Você é um armeiro! Faça alguma coisa", ele me disse.

Ok, comecei a investigar e não pude acreditar nas descobertas iniciais. O cão (martelo que bate no percussor) era tão grande que qualquer recuo curto ou apenas puxar o conjunto do ferrolho para trás faria o retém do conjunto prender no cão e emperrar. Achei que o motivo não poderia ter sido tão fácil. Como alguém monta um fuzil que essencialmente não pode atirar? Ou melhor, pode disparar uma vez, mas invariavelmente emperra. Acabei tendo que raspar pelo menos meio centímetro de aço do cão. Não meio milímetro. Não alguns mícrons. Meio centímetro de aço foi o que eu tive que tirar antes que a arma começasse a funcionar corretamente. Portanto, como costuma acontecer com essas oficinas de garagem, as peças que elas produzem não podem ser disparadas duas vezes seguidas. Para fazê-los atirar como pretendido, é preciso usar uma lima ou, melhor ainda, uma furadeira Dremel neles.

Vladimir na oficina Rifle Dynamics de Jim Fuller produzindo fuzis AK.

Há também uma empresa chamada Century [Arms] que importava armas estrangeiras para os EUA e montava algumas com peças importadas, e não havia problemas com elas.Em dado momento, eles decidiram que queriam fazer seus próprios AK. Agora, eles são conhecidos como "compre um e ganhe dois" - isto é, um fuzil e uma granada-de-mão. No entanto, são diferentes das granadas de mão porque podem explodir aleatoriamente, pois seus receptores costumam ser de qualidade questionável. O que é realmente surpreendente é que seus fuzis só pioram a cada nova versão.

Quem gosta de assistir a vídeos de treinadores de armas de fogo americanos pode estar familiarizado com James Yeager, que certa vez decidiu fazer um teste honesto com fuzis novos em folha da Century. O teste foi curto, pois os dois fuzis morreram após 1.500 tiros. Em um deles, era possível remover o pino que prende o cano no lugar usando apenas um martelo e uma ferramenta de punção leve. Acho que era o mesmo fuzil cujo cano se movia para frente e para trás depois de dar uma boa batida no concreto. Você poderia alterar a folga entre o cartucho e a munição nele e meio que trazê-lo de volta ao normal, quebrando a arma no chão. O cano agora vivia uma vida independente, movendo-se livremente. O treinador acabou declarando que não iria mais testar aqueles fuzis, pois as pessoas começaram a xingá-lo, e isso só iria incomodar ainda mais a empresa e os telespectadores.

Carabina Saiga em uma loja de armas americana custando 1.349 dólares.

Como resultado de tudo isso, verdadeiros conhecedores de AK nos Estados Unidos estão limitados a comprar peças importadas; antes das sanções, as nossas Saigas eram uma escolha popular. Eles estão atualmente cobrando uma pequena fortuna por eles; eu os vi custando US$ 1.300 (por volta de R$ 6.534), e os preços certamente subiram ainda mais agora. A alternativa é gastar ainda mais, cerca de 2-2,5 mil, em um fuzil personalizado montado por pessoas que realmente amam nossas armas e têm uma ideia adequada do que é controle de qualidade.

Falando francamente, a partir de 2019, nem uma única arma padrão AK atualmente produzida em massa nos EUA deveria ser chamada de Kalashnikov.

Bibliografia recomendada:

AK-47:
A Arma que Transformou a Guerra.
Larry Kahaner.

The AK-47:
Kalashnikov-series assault rifles.
Gordon L. Rottman.

Leitura recomendada:

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

IMI Magal: carabina .30M1 de volta ao jogo


Por Ronaldo Olive, The Firearm Blog, 16 de outubro de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 6 de dezembro de 2020.

Embora nunca tenham sido um item oficial das Forças de Defesa de Israel, as carabinas M1 feitas nos EUA foram uma visão muito comum em todo o país por décadas. Amplamente distribuídas entre as forças policiais e unidades da Guarda de Fronteira/Guarda Civil, essas armas da Segunda Guerra Mundial também encontraram seu caminho para realizar tarefas de segurança em kibutzim* e outros assentamentos, tornando-se até mesmo uma presença frequente nas mãos de guias turísticos particulares. As razões por trás dessa popularidade foram muitas, incluindo o fato de que elas foram aparentemente fornecidas pelo governo dos Estados Unidos a baixo ou nenhum custo; eram armas confiáveis; e o cartucho .30M1 (ou 7,62x33mm), para o qual foram calibrados se mostrarem atraentes para uso em cenários urbanos imposição da lei de curta distância.

Renault R35 preservado onde foi atingido, próximo dos protões da Degania Alef. Ele foi destruído por um tiro de PIAT no alto da torre, com o buraco visível na foto.

*Nota do Tradutor: Kibutzim é plural de kibutz. Um kibutz é uma forma de coletividade comunitária israelita, que foi tradicionalmente baseada na agricultura. Os kibutzim começaram como comunidades utópicas, uma combinação de socialismo e sionismo. Hoje, a agricultura foi parcialmente suplantada por outros ramos econômicos, incluindo fábricas industriais e empresas de alta tecnologia. Nas últimas décadas, alguns kibutzim foram privatizados e mudanças foram feitas no estilo de vida comunitário. Um membro de um kibutz é chamado de kibutznik (plural kibbutznikim ou kibbutzniks). O primeiro kibutz, estabelecido em 1909, foi a Degania, posteriormente Degania Alef, com um kibutz gêmeo Degania Bet. As duis Deganias são famosas por repelirem os ataques sírios com tanques franceses Renault R35 na Batalha do Vale Kinarot (15–21 de maio de 1948) durante a Guerra de Independência (1948-49). O famoso general israelense Moshe Dayan nasceu no Degania Alef em 20 de maio de 1915 e participou da batalha em 1948, comandando todas as forças israelenses nas Deganias. O primeiros dos Renault R35 sírios destruídos permanece na Degania Alef como monumento.

Com isso em mente, a IMI - Israel Military Industries (agora, IWI - Israel Weapon Industries Ltd.) decidiu, em meados da década de 1990, usar esta munição, bastante disponível e apreciada, para um derivado semi-automático do Fuzil de Assalto Micro Galil 5,56x45mm, também conhecido como MAR. As mudanças necessárias no design interno foram adicionadas ao Galil operado a gás (este, em essência, amplamente baseado no AK), incluindo não apenas um novo cano de 230mm (cinco ranhuras, à direita, taxa de torção de 1:20), mas um número de alterações no ferrolho/conjunto do ferrolho e mudanças dimensionais no sistema de gás para lidar com as pressões mais baixas (em comparação com a munição 5,56x45mm) geradas pelo cartucho .30M1. Embora o carregador da Carabina M1 original de 30 tiros pudesse ser usado, a IMI também oferecia uma unidade de 27 tiros totalmente compatível que mantinha o ferrolho aberto após o último tiro disparado.

O MAR de tiro seletivo 5.56x45mm que serviu de base para a carabina Magal .30M1 semi-automática.

Uma Carabina M1 com carregador mais curto de 15 tiros (2,6kg carregado) e um Magal da Polícia Militar do Pará com carregador de 27 tiros fornecido de fábrica (3,6kg carregado).

Fora isso, as mudanças foram principalmente no departamento estético/ergonômico. O receptor superior usinado todo em aço e cada parte do mecanismo de disparo foram alojados dentro de uma parte inferior de polímero de uma peça, que incluía a empunhadura de pistola, guarda-mato de tamanho completo, compartimento do carregador e guarda-mão, este apresentando um orifício abaixo do cano para o adição de uma lanterna. Para que conste, um Magal totalmente desmontado compreende 72 peças, sendo os procedimentos de desmontagem de primeiro escalão semelhantes àqueles da família Galil.

Meus arquivos antigos me dizem que um lote inicial de cerca de 1.000 dessas carabinas IMI foram entregues a agências policiais para uso nos conflitos israelense-palestinos de 1999-2000, mas muitos relatos negativos do seu uso em serviço começaram a voltar, incluindo falhas operacionais atribuídas ao cano muito curto que produziu pressão de gás insuficiente (piorou quando os acessórios de controle de distúrbios foram fixados ao cano) e superaquecimento do cano durante o fogo contínuo. Foi relatado que o fabricante planejou uma produção inicial de 4.000 armas, mas eu me pergunto se isso jamais chegou a ser concluído.

Duas carabinas Magal nas mãos de agentes da polícia israelense, por volta de 2000, além de uma arma do tipo M4 ao lado.

Com a coronha dobrada para a direita, o Magal tem 485mm de comprimento (740mm, comprimento total). A arma vista ao lado com a coronha estendida é equipada com um acessório adicional no cano para uso com munições anti-motim.

No entanto, o Magal também foi promovido no exterior. Que eu saiba, o único pedido de exportação confirmado veio da PMPA - Polícia Militar do Pará (Polícia Militar do Estado do Pará), que recebeu 555 exemplares em 2001 ou mais. Observe que o Magal já havia sido testado, aprovado e certificado (ReTEx No.1711/00. 8 de novembro de 2000) pelo Exército Brasileiro antes de sua adoção pelo PMPA. Este escriba teve a sorte de ter sido convidado para ir à cidade de Belém, capital do Estado do Pará, para um rápido encontro prático com a carabina israelense naquela época. Ah, sim: o Magal ainda é visto em uso ocasional hoje pelos policiais militares daquele estado da região da Amazônia.

O autor com um Magal do PMPA durante visita a Belém, no início dos anos 2000. A arma está equipada com uma mira reflexiva iluminada Meprolight MEPRO 21, dia e noite, na montagem Picattiny dianteira, além de uma lanterna no orifício do guarda-mão. Não me lembro da mira ter sido, de fato, adotada por aquela polícia militar.

A alavanca de manejo do lado direito é, no entanto, facilmente manipulada com a mão esquerda. O guarda-mato de mão inteira e o retém do carregador pressionável para frente são evidentes.

A alavanca seletora de tiro tipo AK na posição “Segura”.

O seletor duplicado no lado esquerdo, acima da empunhadura de pistola, agora está definido para “Fogo”.

A alça de mira com abertura em forma de L tem configurações para 150 (aqui) e 250 metros, com orelhas de proteção resistentes.

A massa de mira, igualmente bem protegida, possui uma pequena inserção de trítio para ajudar em situações de pouca luz.

Algumas centenas de cartuchos de ponta macia revestidos disparados sem interrupções em Belém me deram uma boa impressão geral sobre o Magal, não obstante os problemas relatados no texto.

A missão final da pouco conhecida carabina IMI Magal nas mãos de um agente da Polícia Militar do Pará. Ele é integrante da unidade de Motopatrulhamento (Patrulhamento de Motocicleta), um dos primeiros usuários locais da arma israelense.

FICHA TÉCNICA
Tipo: Carabina.
Miras: Alça tipo peep sight com regulagem para 150 e 250 metros.
Peso: 2,78 kg.
Sistema de operação: A gás com trancamento rotativo do ferrolho.
Calibre: .30 M1.
Capacidade: 15, 27 ou 30 munições.
Comprimento Total: 73 cm (coronha estendida)
Comprimento do Cano: 9 polegadas.
Velocidade na Boca do Cano: 600 m/seg
Cadência de tiro: Semi Automático.

Autor: Ronaldo Olive "Kid"

Ronaldo Olive é um escritor brasileiro de longa data (começando na década de 1960) sobre assuntos de aviação, forças armadas, imposição da lei e armas, com artigos publicados em periódicos locais e internacionais (Reino Unido, Suíça e EUA). Sua vasta experiência o tornou um palestrante convidado frequente e instrutor nas forças armadas e policiais do Brasil.

Bibliografia recomendada:

The M1 Carbine.
Leroy Thompson.

Leitura recomendada:

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A arma excepcional da ação: O FAL em Long Tan no Vietnã

Batalha de Long Tan, 1966.
O relatório oficial pós-ação do exército australiano chamou o FAL de "a arma excepcional da ação".
Ilustração de Steve Noon.

Por Bob Cashner, The FN FAL Battle Rifle, 2013.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 16 de julho de 2019.

As unidades australianas e neozelandesas que lutando ao lado de forças dos EUA, do Vietnã do Sul e outras no Vietnã durante as décadas de 1960 e 1970 foram armadas com o fuzil SLR L1A1 semi-automático feito pela Lithgow; eles o consideraram uma arma confiável para a luta na selva. Apesar da mão-de-obra e artilharia e apoio aéreo muito limitados quando comparados com seus aliados americanos, os australianos e neozelandeses, recebendo treinamento especial na selva, derivado das lições aprendidas nas selvas da Malásia e Bornéu, operaram de uma maneira que o Viet Cong e o NVA chegaram a temer. Pequenas patrulhas australianas e neo-zelandesas movimentavam-se como fantasmas e muitas vezes provavam ser superiores ao inimigo quando se tratava de furtividade e habilidades de campanha. Apesar do desprezo geral dos australianos pela “contagem de corpos” como uma medida de sucesso, as estatísticas fornecem uma considerável defesa dos métodos não convencionais que eles usaram.

SLR L1A1, o FAL australiano e neo-zelandês.

Algumas estimativas afirmam que as tropas americanas gastaram cerca de 200.000 cartuchos de munição de armas portáteis por baixa inimiga; para os australianos e neozelandeses armados com o L1A1, 275 tiros foram gastos por baixa inimiga (Hall & Ross 2009). As razões para isso foram muitas. Primeiro, os soldados australianos e neozelandeses foram treinados em um padrão de pontaria muito acima e além daquele do soldado de infantaria americano. Em segundo lugar, muitos veteranos da 1ª Força-Tarefa Australiana eram veteranos de Bornéu e da Malásia, reforçando o treinamento na selva que as forças australianas e neozelandesas receberam antes de serem desdobradas para o Vietnã. Em terceiro lugar, os australianos e neozelandeses freqüentemente operavam em patrulhas pequenas, silenciosas e furtivas, em vez de em enormes varreduras do tamanho de um batalhão (ou maiores).

O método australiano foi recompensado ao infligir baixas inimigas sem a necessidade de dezenas de aeronaves e milhares de granadas de artilharia por engajamento. Por exemplo, mais de um terço dos contatos inimigos dos australianos foram emboscadas. Em 34% dos casos, os Aussies e os Kiwis emboscaram o Viet Cong/Exército Norte-Vietnamita (VC/NVA), enquanto que em apenas 2% dos contatos o inimigo conseguiu surpreender os ANZACs em suas próprias emboscadas. Um estudo do SAS sobre as ações australianas no Vietnã afirmou que, apesar dos ataques aéreos e de artilharia normalmente bastante oportunos e relativamente pesados que a infantaria ocidental desfrutou na guerra, cerca de 70% das baixas inimigas foram infligidas com armas portáteis de infantaria. Os métodos táticos dos ANZAC também mantiveram o inimigo respondendo a eles em vez de vice-versa, um elemento crítico na guerra de contra-insurgência.

O Soldado Bill Stallan do 6º Batalhão, do Regimento Real Australiano, em patrulha de selva em Phuoc Tuy, 1971.
Embora os fuzis L1A1 australianos fabricados pela Lithgow fossem soberbamente confiáveis e poderosos, os soldados foram inicialmente fornecidos apenas cinco carregadores, os quais deveriam ser recarregados de bandoleiras.
(Imperial War Museum, MH 16767)

Apesar de seu comprimento de 1.143 mm (45 polegadas) dificilmente ser ideal na selva, o SLR obteve notas muito altas por sua robustez e confiabilidade. A batalha de Long Tan em agosto de 1966 ocorreu sob uma forte chuva de monções e lama viscosa, condições que causaram mais do que alguns problemas para as metralhadoras M60 e suas cintas de munição expostas, bem como o punhado dos novos fuzis americanos Armalite M16 usados pelos australianos. O L1A1 resistiu ao teste com notação perfeita; o relatório oficial pós-ação do exército australiano chamou-lhe "a arma excepcional da ação". (Australian Army 1967: 26)

Tal como acontece com o L1A1 britânico, o SLR australiano ofereceu apenas fogo semi-automático. A conservação da munição fornecida pelo modo semi-automático fez uma diferença real em Long Tan. A maioria dos soldados recebia, na melhor das hipóteses, um carregador cheio no fuzil e quatro carregadores sobressalentes em seu equipamento de lona; um total de 100 tiros ou menos não dura muito em um tiroteio de longa duração, mesmo em modo semi-automático. Ainda assim, na selva, geralmente era um procedimento operacional padrão "despejar" o primeiro carregador o mais rápido possível para estabelecer a superioridade de fogo e, em seguida, alternar para o "double-tap" ("tiro duplo") mirado.

Militares da Companhia B do 2º Batalhão do Regimento Real Australiano, avançam com cuidado após desembarcarem de helicóptero, julho de 1967.
Os ANZACs no Vietnã freqüentemente removiam as alças de transporte dos seus SLR para diminuir o peso, e os quebra-chamas para diminuir a extensão.
(Bettmann/Corbis)

Mesmo assim, uma das maiores lições de Long Tan foi a emissão de muito mais munições e carregadores para o soldado de infantaria. O fornecimento de apenas cinco carregadores, os quais deveriam ser recarregados de bandoleiras, era obviamente insuficiente para um soldado engajado em um tiroteio.

Tal como acontece com os combatentes em todo o mundo, os australianos e os neozelandeses rapidamente também fizeram uso do poder de penetração da munição de 7,62x51mm OTAN. Mais de um soldado inimigo escondido atrás do tronco de uma seringueira encontrou seu abrigo transformado em mera coberta por tiros de 7,62x51mm explodindo através dela.

Soldados do 7 RAR, armados de SLR/FAL, aguardam transporte para Phuoc Hai, em 26 de agosto de 1967.

Uma modificação semioficial do L1A1 no Vietnã, que começou no SAS australiano, foi apelidada de "The Beast" ("A Besta") ou, às vezes, de "The Bitch" ("A Megera"). Este era um L1A1 convertido para fogo totalmente automático com peças do FM L2A1 e o cano, menos o quebra-chama, cortado logo adiante do conjunto do obturador de gás. Com um carregador de 30 tiros, o qual poderia esvaziar em menos de três segundos, era uma arma de curto alcance temível. Um número nada insignificante de soldados de ambos os lados pensaram que a enorme explosão "d'A Besta" parecia uma metralhadora pesada .50, proporcionando um poderoso efeito psicológico junto com poder de fogo extra. O veterano australiano de reconhecimento, Peter Haran, descreveu suas modificações na zona de combate em seu SLR:

No Recce [reconhecimento] tínhamos escolha de arma e voltei para o SLR [ao invés do Armalite], mas fiz alguns ajustes. Substituí a trava de segurança por uma de um SLR de cano pesado L2A1 e limei a armadilha do gatilho e o pino projetado para impedir que a trava de segurança ficasse em "automático". Com uma carregador de 30 tiros em vez de um de 20 tiros, eu agora tinha a arma que queria no mato - um "Slaughtermatic", como eu a chamei: em essência, uma metralhadora totalmente automática de 7,62 mm sem alimentador de cinta, um fuzil leve com soco máximo quando em fogo automático. Considerei que carregadores demais passando sem uma pausa provavelmente derreteriam o cano, mas se algum dia acontecesse esse tipo de luta, eu provavelmente não voltaria para casa de qualquer maneira. (Crossfire: An Australian Reconnaissance Unit in Vietnam, Haran & Kearney 2001: 32)

- Bob Cashner, The FN FAL Battle Rifle, pg. 52-54.

The FN FAL Battle Rifle,
Bob Cashner.

Bibliografia recomendada:

Vietnam ANZACs:
Australian & New Zealand Troops in Vietnam 1962-72.
Kevin Lyles.

Leitura recomendada: