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sábado, 14 de março de 2020

Como a China viu a intervenção da França no Mali: Uma análise


Por Yun Sun, Brookings Institution, 23 de janeiro de 2013.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 03 de dezembro de 2019.

A resposta da China à decisão da França de enviar tropas para lutar contra extremistas islâmicos no Mali é no máximo morna e reservada. Na declaração oficial do Ministério das Relações Exteriores da China, o governo apenas "observou" o envio de tropas por "países e organizações regionais" sem qualquer compromisso explícito de apoiar a missão no estágio atual. Isso levantou uma ampla especulação no Ocidente de que a China está “pegando carona” de novo em uma missão liderada pelo Ocidente para estabilizar um país infestado de ameaças terroristas. Entre o debate, é importante que a comunidade internacional esclareça e compreenda as perspectivas da China.

A China se opõe fortemente a ser descrita como um "caroneira". Antes de tudo, na experiência da China, a intervenção estrangeira nem sempre leva a mais estabilidade ou melhor proteção dos interesses chineses no terreno. No caso da Líbia, a China viu o Reino Unido e a França “abusarem” da Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas (UNSCR) de 1973 para lançar intervenções militares além do escopo original do seu mandato. A intervenção levou a mais caos, que combinado com a mudança de regime custou à China US$ 20 bilhões de seus investimentos na Líbia. Desde então, a China tem sido particularmente cautelosa ao concordar com qualquer resolução do Conselho de Segurança da ONU que autorize uma intervenção militar. Isso é parte da razão fundamental pela qual a China lançou três vetos de projetos de resolução do Conselho de Segurança para autorizar a intervenção militar na Síria.

O exemplo da China "pegando carona" mais citado é a guerra no Afeganistão. Muitos vêem a China, como uma grande superpotência, não carregando seu peso e desfrutando injustamente dos benefícios da segurança contra o terrorismo, enquanto os EUA e outros países continuam lutando contra o Talibã no Afeganistão. No entanto, a visão da China é que a guerra no Afeganistão dificilmente foi motivada pela intenção dos EUA de protegerem a China e outros países da região. Em vez disso, Pequim vê a guerra dos EUA no Afeganistão como um avanço da influência geoestratégica americana - uma que criou grande instabilidade no Afeganistão e na região do sul da Ásia. Além disso, Pequim argumenta que os pontos fortes da China no Afeganistão estão na reconstrução pós-conflito em áreas como desenvolvimento de infraestrutura e investimento econômico. E esse papel da China foi reconhecido e bem-vindo pelos Estados Unidos.

Soldado malinense fala com legionários do 2e REP em Ménaka, no Mali, em 2019.

A resposta morna da China à intervenção francesa no Mali também se origina de sua preocupação com um possível abuso do mandato da ONU, como o que aconteceu na Líbia. Na visão de Pequim, qualquer intervenção internacional legítima deve ser baseada em um mandato da ONU. No caso do Mali, embora a França tenha obtido o apoio dos membros do Conselho de Segurança da ONU para a intervenção, sua missão é invariavelmente diferente da Missão de Suporte Internacional liderada por africanos no Mali (International Support Mission in Mali, AFISMA), estipulada pela UNSCR 2085 com a qual a China concordou. De fato, a China espera que a França se retire em breve e entregue a responsabilidade militar à missão liderada pelos africanos.

Outros analistas chineses atribuíram ainda a intervenção da França ao desejo de Hollande de impulsionar sua imagem e popularidade em casa, devido ao fracasso de suas políticas econômicas domésticas.

A China vê a motivação da França para intervir no Mali como dificilmente altruísta. Li Zhibiao, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, destaca uma suspeita de que a França esteja explorando o papel cada vez menor de Washington na África para expandir sua própria influência. Outros analistas chineses atribuíram ainda a intervenção da França ao desejo de Hollande de aumentar sua imagem e popularidade em casa, devido ao fracasso de suas políticas econômicas domésticas. Além disso, a China também vê dois pesos e duas medidas na decisão da França de enviar tropas, uma vez que desconsiderou um pedido semelhante de assistência militar da República Centro-Africana. Como argumenta um famoso analista da África, "a ação da França na África é motivada por seus próprios interesses e preferências" e, portanto, não é tão gloriosa quanto parece.


A China não está particularmente otimista com o resultado da intervenção francesa no Mali. Muitos legisladores e analistas chineses acreditam que o Mali se tornará o "Afeganistão" da França, arrastando a França para um conflito prolongado. Igualmente preocupante é a possível retaliação dos jihadistas contra a França e outros países vizinhos, manifestada na crise dos reféns na Argélia, onde militantes ligados à Al Qaeda sequestraram quase 200 reféns para exigir a suspensão dos ataques franceses e a libertação de militantes. Embora a crise dos reféns tenha sido resolvida, o medo de futuros ataques cresce drasticamente.

O que mais preocupa a China com a intervenção francesa no Mali é que ela pode "fornecer um precedente para a legitimação do 'neo-intervencionismo' na África". He Wenping, um dos principais especialistas chineses em África, ressalta que, embora a França apóie a bandeira de “combater o terrorismo” na sua decisão de intervir no Mali, nem todos os grupos locais de oposição no Mali são realmente terroristas. A China vê isso como particularmente alarmante porque legitima o “combate ao terrorismo” como justificativa para a intervenção estrangeira em uma guerra civil de um país soberano. Para Pequim, o precedente é um desafio perigoso ao seu princípio de não interferência, a base da política externa da China.

Nota do Tradutor: O título original é "Como a China vê a intervenção da França no Mali: Uma análise". 

Yun Sun é um membro sênior e codiretora do Programa do Leste Asiático e diretora do Programa da China no Stimson Center. Sua experiência é em política externa chinesa, relações EUA-China e relações da China com países vizinhos e regimes autoritários.

Post script: As missões de paz da ONU dos chineses


Como fica evidente no texto, a China errou de forma grosseira em sua análise da intervenção francesa. Não apenas isso, a França conseguiu iniciar uma missão da ONU no Mali, afastando a idéia de "invasão neo-colonialista".

Para não perder influência, a China integrou a Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (Mission multidimensionnelle intégrée des Nations unies pour la stabilisation au Mali, MINUSMA); a primeira vez que forças de combate chinesas foram destacadas como parte integrante de uma missão da ONU.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

FOTO: Boinas azuis da UNIFIL

Sgt. Lia Ricathalia, boina azul do contingente indonésio da UNIFIL, em um posto de patrulha na Linha Azul próximo ao Portão Fátima em Kafer Kela, no sul do Líbano em 9 de outubro de 2012.
(Foto de Pasqual Gorriz/ UNIFIL.)