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segunda-feira, 28 de junho de 2021

Retrofuturismo nuclear com o bullpup Korobov

O fuzil bullpup Korobov TKB-408 em uma arte conceitual do jogo Nuclear Union.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 28 de junho de 2021.

O retrofuturismo pós-apocalíptico é uma temática favorita dos países do Leste Europeu, com os grandes sucessos S.T.A.L.K.E.R. e Metro sendo ambientados em universos pós-apocalípticos com misturas de equipamentos e indumentárias de várias eras diferentes. O protagonista de União Nuclear é retratado carregando o fuzil bullpup Korobov TKB-408, um protótipo soviético de 1946.

O projeto russo-ucraniano União Nuclear (Nuclear Union em seu titulo em inglês), ou Nova União no original (Новый Союз / Novyy Soyuz), era um exemplar dessa tendência. Sendo um RPG em terceira pessoa, o mundo de União Nuclear é ambientado no pós-guerra nuclear de uma história alternativa onde a Crise dos Mísseis de Cuba em 1962 levou os Estados Unidos e a União Soviética à guerra nuclear. Ambos os lados arrasados, a União Soviética sobreviveu em um estado deplorável de semi-barbarismo, daí o nome original Nova União. Foram publicados três vídeos com trailers sobre o novo jogo.

Trailer de Anúncio


Trailer da Arte Conceitual


Trailer de Jogabilidade


Cinquenta anos depois da guerra, os fragmentos da União Soviética que foram rapidamente trazidos para a clandestinidade tornaram-se gradualmente um verdadeiro estado com sua própria capital, uma cidade chamada Pobedogrado. O principal protagonista do jogo é um ex-piloto da aviação militar soviética, que é enviado da cidade subterrânea de "Pobedogrado" no subsolo de Moscou para a superfície externa radioativa, para várias missões em nome do governo subterrâneo de Pobedogrado, incluindo o recuperação de tecnologias avançadas de guerra soviéticas pré-nucleares e a investigação de um conjunto de fenômenos estranhos e misteriosos que estão acontecendo na superfície externa; incluindo mutantes e atividades paranormais.

O jogo foi desenvolvido pela empresa ucraniana Best Way e deveria ser financiado e publicado pela editora russa 1C Company, com o lançamento para o Microsoft Windows marcado para 2014. No entanto, a empresa russa retirou o seu envolvimento no final de 2013 devido à instabilidade política na Ucrânia, resultando no cancelamento do jogo. Em fevereiro de 2014, tropas russas ocuparam a Criméia, no território ucraniano. O site do jogo permanece como um dos únicos vestígios do projeto. Nele, o protagonista senta-se observando a paisagem arrasada de Pobedogrado segurando o seu fuzil bullpup Korobov TKB-408 soviético.

Imagem do site novysoyuz.ru.

O TKB-408 Korobov foi um protótipo de fuzil bullpup do projetista soviético German A. Korobov em 1946, e que foi submetido a uma série de testes oficiais conduzidos, no mesmo ano, para selecionar um fuzil de assalto para o Exército Vermelho no calibre intermediário 7,62x39mm soviético. Assim como no caso do jogo União Nuclear, o bullpup de Korobov foi um projeto cancelado. A comissão do Exército Soviético considerou o TKB-408 insatisfatório, com os testes finalmente selecionando o AK-47 de Mikhail Kalashnikov; tornando o Korobov TKB-408 uma mera nota de rodapé na história das armas de fogo.

O fuzil TKB-408 teria sido esquecido completamente não fosse o desenho bullpup ser tão popular nos últimos anos. O russos tentaram outros projetos bullpup com o TKB-011, o TKB-022 e o TKB-0146 (que também estariam presentes no jogo). Os ucranianos também experimentaram com o conceito com o Vepr, uma conversão do AK-74. Na história do jogo, fuzis Korobov começaram a aparecer nas mãos de gangues contra-revolucionárias nas regiões de Ryazan e Tambov, na URSS, no início dos anos 1990. Estas gangues encontraram a documentação do TKB-408 e corrigiram suas deficiências. Nos documentos oficiais, o protótipo é referido como "Objeto 93" (Ob'yekt 93), em alusão ao ano da sua descoberta.

A sobrevida de um protótipo mal-sucedido é um enredo parecido com o uso do fuzil bullpup brasileiro LAPA no livro de ficção científica Selva Brasil, de Roberto de Sousa Causo; que, inclusive, tem um soldado brasileiro carregando o fuzil-metralhador argentino FARA 83 na capa. Em Selva Brasil, Jânio Quadros invade a Guiana Francesa e inicia uma guerra inter-geracional com as potências européias e os Estados Unidos, com uma aliança sul-americana lutando uma guerra de guerrilha.

Selva Brasil.
Roberto de Sousa Causo.

Trecho do livro:

"Em segundos, o tiroteio se transformou em uma barragem de fogo que vinha de todos os lados. Enfiei a cara na lama, levantei o fuzil e puxei o gatilho com toda a força. Por alguma razão, parei de respirar durante alguns segundos. Só tinha consciência de estampidos e zunidos e ricochetes e de impactos que se comunicavam do blindado pro chão e do chão pro meu peito.
Ouvi algumas explosões mais fortes -granadas-de-mão, na certa-, e a terra balançou mais intensamente debaixo do meu corpo, chocalhando meus dentes. Empunhei o meu LAPA M3. Ao meu lado Cides enfiou o FARA entre a lagarta e despejou um carregador de trinta tiros. Não tinha espaço pra que a arma ficasse na vertical e Cides deve tê-la virado com a face direita pra cima, porque os cartuchos expelidos batiam no fundo do blindado e caíam por cima da gente feito um chuveiro de rebites rubro-incandescentes - e só então notei que tinha deixado o capacete pra trás."

O vários protótipos russos e ucranianos não foram o fim dos bullpups eslavos. Além do fuzil VHS croata, projetado desde o início como um bullpup e seguindo a ergonomia do FAMAS, os fuzis da família AK vem sendo readaptados para o padrão bullpup no Oriente Médio nos anos recentes.

Essas conversões realizadas em Idlib, na Síria, se tornaram onipresentes na atual guerra civil. Vários modelos são encomendados e convertidos para os combatentes, sendo empregados com miras ópticas modernas e camuflagens exóticas; de forma muito parecida com o universo sem lei de União Nuclear.

Apresentação do Korobov TKB-408 pelo Grupo Kalashnikov


Bibliografia recomendada:

Metro 2033.
Dmitry Glukhovsky.

Leitura recomendada:

O Exército Francês está contratando escritores de ficção científica para imaginar ameaças futuras, 3 de junho de 2020.

A Arte da Guerra em Tropas Estelares - 1 Os americanos e a Primeira Guerra Interestelar, 17 de fevereiro de 2020.

A Arte da Guerra em Tropas Estelares - 2 O exército do retro-futurismo, 17 de fevereiro de 2020.

A Arte da Guerra em Tropas Estelares - 3 Para a glória da Infantaria Móvel, 17 de fevereiro de 2020.

A Arte da Guerra em Tropas Estelares - 4 Derrotar civilizações extraterrestres, 17 de fevereiro de 2020.

A Arte da Guerra em Duna, 17 de setembro de 2020.

O FAMAS no mercado de exportação4 de novembro de 2019.

GALERIA: O FAMAS em Vanuatu22 de abril de 2020.

GALERIA: O Steyr AUG e os fuzis bullpup na Índia, 28 de julho de 2020.

GALERIA: Comandos Anfíbios Argentinos com o FAMAS, 17 de julho de 2020.

GALERIA: Cenas da Guerra da Indochina por Filip Štorch, 2 de maio de 2021.

terça-feira, 22 de junho de 2021

A adoção do tanque T-72A "Dolly Parton" do Exército Soviético


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 22 de junho de 2021.

No dia de hoje, em 22 de junho de 1979, por ordem nº 9103 do Ministro da Defesa da URSS, o tanque T-72A foi adotado pelo Exército Soviético. O tanque T-72A era um tanque T-72 com uma arma melhorada, motor e um telêmetro a laser, além de blindagem composta no chassis e na parte superior da torre apelidada pelos americanos de Dolly Parton.

Um total de 5.264 tanques T-72A foram entregues ao Exército Vermelho Soviético.


Vista superior do T-72A. Este modelo ostenta uma blindagem composta "Dolly Parton" espessa na frente da torre.

O T-72A apresentava uma nova torre com blindagem frontal mais espessa, quase vertical. Devido à sua aparência, a blindagem foi apelidada não-oficialmente de "Dolly Parton" pelo Exército dos EUA. Essa blindagem usou o novo enchimento de torre de haste de cerâmica, incorporou blindagem laminada aprimorada no glacis e montou novas saias laterais anti-carga oca. O apelido deriva da cantora country Dolly Party ser famosa pelos seios grandes.

Dolly Parton vestida de coelhinha da Playboy na capa de outubro de 1978.

O T-72 é uma família de tanques de batalha soviéticos/russos que entrou em produção pela primeira vez em 1971. Cerca de 20.000 tanques T-72 foram construídos, e reformas permitiram que muitos permanecessem em serviço por décadas. A versão T-72A introduzida em 1979 é considerada um tanque de guerra principal de segunda geração. Foi amplamente exportado e prestado serviço em 40 países e em vários conflitos. A versão T-72B3 introduzida em 2010 é considerada um tanque de batalha principal de terceira geração.

O desenvolvimento do T-72 foi um resultado direto da introdução do tanque T-64. O T-64 (Objeto 432) era um projeto muito ambicioso para construir um tanque bem blindado competitivo com um peso não superior a 36 toneladas.

A Federação Russa tem mais de 5.000 tanques T-72 em uso, incluindo cerca de 2.000 em serviço ativo e 3.000 em reserva. O T-72 foi usado pelo Exército Russo em combate durante a Primeira e Segunda Guerras da Chechênia, e pelos dois lados na Guerra Russo-Georgiana de 2008. Na recente guerra entra a Armênia e o Azerbaijão, ambos os lados também usaram o T-72, que ficaram infames por serem destruídos por ataques de drones.

A Suécia comprou alguns T-72 que foram do National Volksarmee (NVA) da Alemanha então recentemente unificada. O T-72 também é o tanque padrão no Biatlo de Tanques dos Jogos do Exército da Rússia, e atualmente a Rússia está padronizando seus aliados com os padrões T-72B. Entre os novos operadores do T-72 estão o Laos e a Sérvia. As forças pró-russas na Ucrânia também operam o T-72, apesar das sanções, e o Exército Indiano usou carros T-72 no seu stand-off com os chineses no ano passado.

A equipe do Exército da Nicarágua com um T-72 nos Jogos Internacionais do Exército Russo de 2015, na base de Alabino, nas cercanias de Moscou.

Na América Latina, o T-72 foi suprido para a Nicarágua de Ortega e a Venezuela de Chavez e agora Maduro, bases estratégicas da Rússia no continente.

A Venezuela recebeu 92 T-72B1 da Rússia entre 2009-2012. Houve uma proposta em 2012 de mais uma centena, mas não foi pra frente. Esses T-72 (ou T-72V de Venezuela) costumam participar de desfiles públicos que recebem pesada cobertura midiática, de forma a demonstrar o poder do regime socialista bolivariano.

Tanques T-72B1V do Exército da Venezuela durante desfile em homenagem à morte do ex-presidente Hugo Chávez, março de 2014.

Bibliografia recomendada:

T-72 Main Battle Tank 1974-93,
Steven J. Zaloga e Peter Laurier.

TANKS:
100 Years of Evolution,
Richard Ogorkiewicz.

Leitura recomendada:

PERFIL: Veterana da USAF estampa a capa da Playboy em três países, 28 de setembro de 2020.

GALERIA: O T-72 polonês em direção à Lituânia, 8 de novembro de 2020.

Carros de combate principais T-72B1MS no Laos, 22 de setembro de 2020.

Equipe nº 1 vietnamita no segundo lugar do Grupo 2 no Biatlo de Tanques na Rússia28 de novembro de 2020.

Águia Branca: Novas entregas do T-72B1MS "Águia Branca" na Sérvia, 28 de maio de 2021.


FOTO: T-72 georgiano decapitado, 23 de setembro de 2020.


FOTO: T-72 armênio destruído, 18 de dezembro de 2020.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

ENTREVISTA: Ex-espião soviético Viktor Suvorov


Por Luke Harding, The Guardian, 29 de dezembro de 2018.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 14 de junho de 2021.

"Eles me perdoariam? Não."
- Viktor Suvorov.

Deserções da agência de espionagem mais poderosa de Moscou são tão raras que acredita-se que haja apenas dois exemplos vivos. Um é Sergei Skripal, que quase morreu este ano. O outro é o entrevistado.

Viktor Suvorov passou oito anos trabalhando para a agência de inteligência militar da Rússia, o GRU. (Sebastian Nevols / The Guardian)

Viktor Suvorov (nascido Vladimir Bogdanovich Rezun, 20 de abril de 1947) estava em casa quando soube da notícia. Um ex-espião russo, Sergei Skripal, foi encontrado envenenado em um banco de parque em Salisbury. Skripal e sua filha Yulia estavam em estado crítico no hospital; não estava claro se eles viveriam.

Viktor Suvorov estava em casa quando soube da notícia. Um ex-espião russo, Sergei Skripal, foi encontrado envenenado em um banco de parque em Salisbury. Skripal e sua filha Yulia estavam em estado crítico no hospital; não estava claro se eles viveriam.

Suvorov ouviu o que aconteceu com os Skripals por meio de “outros canais”, não apenas pelas notícias da BBC, ele me disse. Uma figura travessa de 71 anos, falando comigo nos escritórios de seu agente literário em Londres, uma sala repleta de dezenas de livros, ele é um pouco tímido sobre o que ele pode querer dizer, mas parece haver pouca dúvida de que ele está falando sobre a inteligência britânica. “Não gostaria de discutir isso”, diz ele com um sorriso bem-humorado.

Suvorov passou oito anos trabalhando para a agência de inteligência militar da Rússia, o GRU (Glavnoye Razvedyvatel'noye Upravleniye / Diretório Principal de Inteligência), o antigo serviço de Skripal. Durante a Guerra Fria, Suvorov foi considerado um oficial brilhante, destinado a grandes feitos neste mundo sombrio. Ele passou quatro anos disfarçado na Suíça, onde era seu trabalho procurar agentes estrangeiros em nome do GRU. Ele era muito bom nisso. Então, um dia, em junho de 1978, ele fez um telefonema enigmático para o consulado britânico em Genebra.

Atual brasão do GRU.
Glavnoye Razvedyvatel'noye Upravleniye / Diretório Principal de Inteligência.

Suvorov encontrou-se com um espião britânico fluente em russo em uma floresta. Ele havia trazido com ele sua esposa - também uma oficial da GRU - e seus dois filhos pequenos. Em poucas horas, a inteligência britânica contrabandeou os Suvorovs para fora do país. Ele se encontrou no Reino Unido, um lugar que conhecia apenas dos thrillers de Ian Fleming e cuja língua ele não falava.

Nos tempos comunistas, havia deserções regulares da KGB; ela era voltada para dentro - seu objetivo era esmagar ameaças internas e dissidências. Enquanto isso, o GRU, a agência de espionagem mais poderosa e secreta de Moscou, procurava inimigos externos e estava perpetuamente nas sombras. Deserções do GRU eram extremamente raras. Acredita-se que haja apenas dois exemplos vivos: Suvorov e Skripal.

Mark Urban, autor de "The Skripal Files".

É improvável que Skripal dê entrevistas tão cedo; seu paradeiro desde que deixou o hospital permanece desconhecido, pelo menos fora dos serviços de inteligência. Ao contrário de Suvorov, Skripal não era um desertor, como tal: ele nunca teve a intenção de acabar na Grã-Bretanha. Em 2004, ele foi preso na Rússia por espionar para o MI6 e condenado por traição; ele parece ter traído o GRU por dinheiro. Seis anos depois, ele deixou uma prisão russa para Salisbury, após uma troca de espiões mediada pelos Estados Unidos. Um livro recente do jornalista da BBC Mark Urban o retrata como um nacionalista russo desavergonhado, que aplaudiu a anexação da Crimeia por Vladimir Putin do conforto de seu carro comprado pelo MI6.

"Você não pode imaginar o quão relaxante uma sentença de morte pode ser. Você não se preocupa com dinheiro, dores de cabeça ou adoecimento."

Suvorov, ao contrário, abandonou a União Soviética por razões ideológicas; ele se tornou um anticomunista apaixonado. Ele não considera sua deserção como traição: como ele aponta, ele deixou a URSS primeiro - mas todos os outros cidadãos soviéticos o seguiram quando ela deixou de existir. Nos últimos 40 anos, ele viveu sob sentença de morte. “Tenho duas sentenças de morte [do GRU e da Suprema Corte Soviética]”, sorri. “Você não pode imaginar como isso pode ser relaxante. Você não se preocupa com dinheiro, dores de cabeça ou adoecimento. Você pensa consigo mesmo: ‘Não importa! Eu estou morto!'"

O medo, sugere ele, pode ser pior do que a própria coisa, como um paciente que espera por um diagnóstico de câncer que se sente melhor ao receber as más notícias. “De repente, há um tubarão sangrento vindo em sua direção. Quando é desconhecido, é muito assustador. Quando você chega perto, você suspeita que é feito de borracha.”

Icebreaker, seu livro mais famoso.
Trata sobre Stalin tentando usar Hitler como o quebra-gelo da revolução comunista global.

Na primeira noite depois que Suvorov chegou à Grã-Bretanha, ele começou a escrever, diz ele. Ele estava determinado a não viver do Estado e ganhar seu dinheiro de forma independente - se necessário, diz ele, limpando banheiros na estação Paddington. Mas ele se tornou um escritor de sucesso surpreendente, autor de 19 livros em russo, incluindo vários sobre a história da Segunda Guerra Mundial, que juntos venderam mais de 10 milhões de cópias. Ele é famoso na Rússia - embora não tenha voltado desde que desertou - e conhecido em todos os países da antiga Europa Oriental. Seu trabalho apareceu em inglês, mas principalmente em edições há muito tempo esgotadas.

O Reino Unido é o lar de um pequeno grupo de desertores soviéticos e russos. O mais proeminente, Oleg Gordievsky, causou danos incomensuráveis à inteligência soviética, passando 11 anos dentro da KGB como agente duplo britânico. Agora com 80 anos, Gordievsky mora em algum lugar nos condados ao redor de Londres. Suvorov sugere que, desde Skripal, sua própria segurança aumentou.

Em seus livros, Suvorov tornou públicos detalhes sensíveis sobre o GRU, sua estrutura secreta e suas residências estrangeiras ao redor do mundo. Seu romance Aquarium é um relato emocionante do ethos brutal e métodos implacáveis do GRU. Ele começa com novos recrutas vendo imagens de um homem sendo colocado, ainda vivo, em um crematório em chamas. Isso, dizem a eles, é o que acontecerá com eles se traírem o serviço; um veterano comenta que a única saída da agência é pela chaminé do GRU. (Esta morte horrível foi aparentemente inspirada por eventos reais. Foi sugerido que a vítima era Oleg Penkovsky, executado por traição em 1963, embora Suvorov diga que não.)

Oleg Penkovsky.

Ele diz que a agência nunca perdoa quem a deixa. Isso inclui Skripal, que saiu da Rússia segurando um perdão oficial assinado por Putin. “O Estado pode perdoar. O GRU nunca o fará ”, diz Suvorov. No exílio, Skripal tinha um perfil tão baixo que Suvorov confessa que não tinha ouvido falar dele. Mas quando ele soube do destino de Skripal, envenenado por uma super-toxina, ele não teve dúvidas de quem estava por trás disso. “Claro, o GRU”, ele diz, com naturalidade.

O governo britânico fez um relato convincente de como dois assassinos de Moscou trouxeram o terror químico para a província de Wiltshire. Ambos são homens de carreira do GRU, identificados pelo site investigativo Bellingcat como Anatoliy Chepiga e Alexander Mishkin. Mishkin é médico, Chepiga um oficial das forças especiais; ambos foram condecorados como heróis da Rússia em 2014, possivelmente por trabalho secreto na Ucrânia. De acordo com relatos da mídia, a avó de Mishkin mostrou aos vizinhos um retrato emoldurado de seu filho apertando a mão de Putin.

Vladmir Putin, ex-agente da KGB.

A dupla admite ter estado em Salisbury - eles foram filmados pela CCTV - mas dizem que eram meros turistas. Suvorov acredita que este não foi seu primeiro assassinato e que eles pertencem a um “pequeno clube” de assassinos estatais russos. Ele é mordaz sobre seu profissionalismo e competência. “Na minha época, isso não teria sido possível! Tão idiotas!” ele diz. Ele descreve a operação como uma “cadeia de estupidez” que deixa pistas: voar de Moscou, ficar em um hotel e ir duas vezes a Salisbury.

"O chefe do GRU diria: ‘Toc, toc, Sr. Putin. Achamos que agora é a hora [de matar Skripal]. Está ok com você?'"

Ele não tem dúvidas de que o presidente da Rússia teria aprovado pessoalmente sua missão. “O chefe do GRU diria: ‘Toc, toc, Sr. Putin. Achamos que agora é a hora [de matar Skripal]. Tudo ok, senhor?' Há uma dimensão internacional. Ninguém correria tal risco sem a aprovação de Putin. Não é possível.”

Nos últimos anos, Skripal costumava viajar para o exterior. Isso levou a especulações de que ele ainda pode ter estado operacionalmente ativo - e que isso selou seu destino. Na opinião de Suvorov, Skripal foi envenenado pour décourager les autres*: para lembrar aos funcionários do GRU que a penalidade por cooperar com a inteligência inimiga é uma morte dolorosa e aterrorizante.

*Nota do Tradutor: francês, "por encorajar os outros", sentença de fuzilamento usada em desertores na Primeira Guerra Mundial.


Ele sugere que os assassinatos do Kremlin funcionam em um espectro. Existem as operações em que a vítima morre sem problemas, talvez por “ataque cardíaco”. E depois há os assassinatos mais exóticos, deliberadamente elaborados para criar barulho e escândalo - o assassinato de Trotsky com um picador de gelo é um exemplo clássico. A operação Skripal deveria ser mais próxima da primeira, ele pensa, embora todos no GRU entendam a mensagem.

Claro, não funcionou bem assim. Os Skripals sobreviveram e a trama desastrada foi descoberta. No mês passado, o Kremlin anunciou que o homem encarregado do GRU, Igor Korobov, havia morrido após uma “longa doença”. Suvorov acha que isso é verdade? “Não sei, mas meu instinto de espião me diz que Korobov foi assassinado”, diz ele. “Todos os que estão dentro do GRU entenderiam isso, 125%.” Ele teria sido morto, acrescenta Suvorov, para apagar uma testemunha que poderia provar ser culpada se ele pulasse para a vizinha Estônia usando um passaporte falso do GRU.

O banco em que os Skripals desabaram.

Uma questão intrigante é se a embaixada russa em Londres estava envolvida na operação de Salisbury. Ele saberia sobre novichok, o veneno deixado na porta da frente de Skripal, ou Moscou o teria mantido no escuro? Suvorov acredita que a embaixada pode ter dado apoio logístico, sem estar totalmente informada. Quem sabe tenha formado um pequeno círculo, ele suspeita. Incluiria os assassinos, um especialista técnico e um punhado de altos funcionários do Kremlin.

Como um espião rápido na Suíça dos anos 1970, Suvorov às vezes era solicitado a ajudar “ilegais” - agentes disfarçados que viviam no exterior. Ele nada sabia de suas atividades. Ele foi obrigado a verificar se havia uma marca de batom vermelho em um monumento no parque Mon Repos de Genebra, perto do apartamento de sua família. Todos os dias, sua esposa passava com seus filhos, sua filha e seu filho bebê em um carrinho de bebê. O batom significava um desejo de um ilegal de fazer contato.

Suvorov é uma figura de estatura médio-pequena, vestida com paletó de tweed e gravata roxa, que coloca para posar para fotos. Falamos em inglês e russo; ele se parece mais com um professor emérito do que com o recruta do GRU que uma vez saltou de pára-quedas ao lado de pelotões de inteligência militar e que atravessou incontáveis quilômetros de neve em noites congeladas.

Sergei Skripal.

Skripal - um “cara grande e esportivo”, como Suvorov o descreve - se assemelha melhor ao oficial típico do GRU. Ex-paraquedista, serviu disfarçado no Afeganistão e na China antes de ser destacado como “diplomata” em Malta e Espanha. Suvorov, entretanto, trabalhou em estreita colaboração com as Spetsnaz - forças especiais de elite soviéticas - procurando rotas de fuga para unidades de inteligência militar e recrutando informantes.

Skripal e Suvorov nunca se encontraram e parece improvável que algum dia se encontrem. A inteligência britânica desencoraja seus ativos de Moscou de confraternizarem, disse Suvorov, uma regra que surgiu após o assassinato de Alexander Litvinenko em 2006, depois que ele conheceu ex-agentes da KGB e bebeu chá radioativo. Suvorov diz que ele era um "amigo muito bom" de Litvinenko e falou com ele depois que foi levado ao hospital. Inicialmente, ele não acreditava que Litvinenko tivesse sido envenenado, mas durante uma ligação, a voz de Litvinenko vacilou "como um gramofone", diz ele, e o celular caiu de suas mãos. “Um cara tão legal. De repente ele foi morto. Uma morte terrível.”

Ruslan Boshirov e Alexander Petrov


Conheci Suvorov em 2015. Na época, um inquérito público estava em andamento sobre o assassinato de Litvinenko. Concluiu que Putin “provavelmente” aprovou a operação, juntamente com o chefe do FSB, órgão que sucedeu ao KGB. Os homens identificados pela investigação como os assassinos, Andrei Lugovoi e Dmitry Kovtun, eram assassinos horríveis: eles deixaram um rastro fantasmagórico de polônio em Londres e jogaram a arma do crime na pia do banheiro.

"As agências de espionagem de Moscou estão perdendo o controle? Suvorov diz que houve uma grande queda desde os dias de glória."

Em 2016, uma década após o assassinato de Litvinenko, uma equipe de oficiais do GRU invadiu os servidores do Partido Democrata dos EUA, de acordo com Robert Mueller, promotor especial que investiga conluio entre a campanha de Trump e a Rússia. A divulgação desses e-mails roubados pelo WikiLeaks prejudicou Hillary Clinton e ajudou seu oponente, que agora está na Casa Branca. A operação pode ser considerada uma grande vitória do Kremlin, mas dificilmente foi clandestina. Em julho, Mueller expôs a trama do GRU em uma acusação forense, constrangendo Putin e Trump.

As agências de espionagem de Moscou estão perdendo o controle? Suvorov diz que houve uma grande queda desde os dias de glória do GRU, nos anos 30 e 40, quando seus agentes roubaram os segredos atômicos dos Estados Unidos. Essa decadência é parte de uma degradação geral, ele pensa, afetando tudo na Rússia pós-comunista, da construção de foguetes ao jornalismo. O país está “desmoronando lentamente”, diz ele; aqueles que podem estão se mudando para o exterior.

O Homem: Ex-espião e autor de bestsellers

Suvorov foi recrutado pelo GRU em 1970. Seus livros foram publicados em 27 idiomas.
(Sebastian Nevols / The Guardian)

Viktor Suvorov é um pseudônimo literário: ele nasceu Vladimir Bogdanovich Rezun na Ucrânia soviética; seu pai um oficial militar, sua mãe uma enfermeira. (Suas raízes ucranianas são outro motivo pelo qual o Kremlin pega no seu pé, segundo fontes em Moscou.) Seu pai era um bolchevique convicto que acreditava que a URSS poderia florescer se não fosse pelos "bandidos do topo" e Suvorov cresceu um “comunista fanático”. Ele frequentou a escola militar, ingressou no Exército Vermelho e participou da invasão da Tchecoslováquia em 1968. Um oficial notável, ele treinou sargentos de reconhecimento tático e serviu na divisão de inteligência do quartel-general do distrito militar do Volga - uma experiência que Suvorov descreve em Aquarium.

Em 1970 ele foi recrutado pelo GRU. Ele agora fazia parte de uma organização de elite que era um grande rival da KGB. Sua desilusão com o sistema soviético começou apenas quando ele chegou a Genebra, diz ele, onde foi designado para a missão da ONU. Suvorov diz que foi convocado ao aeroporto um dia para assistir à chegada de um avião de transporte Ilyushin-76 de Moscou. Quando sua rampa foi abaixada, barras de ouro foram retiradas do compartimento de carga - para comprar comida da América. “Não podíamos nos alimentar”, diz ele.

Outra desilusão veio quando ele e sua “maravilhosa esposa espiã” Tatiana saíram de férias. Eles pegaram o trem de Basel e viajaram pela Alemanha Ocidental até Berlim Oriental, passando pelo muro. “Eram as mesmas pessoas, a mesma história, os mesmos malditos alemães. [Mas] é um Mercedes aqui e é um Trabant ali”, lembra ele com uma risada. Ele leu A Revolução dos Bichos de George Orwell. “A princípio pensei: ‘Estes não são porcos russos, são porcos de Berkshire’. Então percebi que era sobre as pessoas no Kremlin. Eles proibiram o livro dentro da União Soviética porque se reconheceram.”

"A Revolução dos Bichos" e "1984", clássicos de George Orwell.

Ele leu 1984. “Orwell nunca foi comunista, mas foi próximo deles. Ele entendeu que o estado totalitário tem que ser assim. Ele nunca visitou a URSS, mas percebeu tudo melhor do que qualquer um poderia imaginar”, diz Suvorov. Ele diz que sua esposa - filha de um oficial de inteligência - concordou em desertar com ele. Eles estão casados há 47 anos. “É uma conquista”, diz ele.

De sua nova casa no Reino Unido, Suvorov escreveu um dos livros mais influentes da era da perestroika, Icebreaker (Quebra-gelo). Quando foi publicado em 1988, seu argumento era herético: que Stalin havia planejado secretamente uma ofensiva contra a Alemanha de Hitler e teria invadido em setembro de 1941, ou o mais tardar em 1942. Stalin, escreveu ele, queria que Hitler destruísse a democracia na Europa, na forma de um quebra-gelo, abrindo caminho para o comunismo mundial. O livro minou a ideia de que a URSS era uma parte inocente, arrastada para a segunda guerra mundial. Os liberais russos apoiaram a tese de Suvorov; agora tem ampla aceitação entre os historiadores.

Ao todo, os livros de Suvorov foram publicados em 27 idiomas. Seu primeiro livro, The Liberators (Os Libertadores), foi um relato pessoal vívido da vida no exército soviético, e suas cartilhas sobre a inteligência militar soviética tornaram-se textos convencionais. Em uma entrevista anterior, ele apontou que existe uma tradição na literatura russa de oficiais militares transformarem suas experiências em livros - Tolstoi, Lermontov e Solzhenitsyn. Suvorov não se classifica entre esses grandes nomes, mas observa que a guerra oferece um rico material. “Há uma sensação de romance na batalha”, diz ele.

Pós-Skripal, ele escreveu um novo livro sobre o GRU, atualmente sendo traduzido do russo para o inglês e com publicação programada para o próximo ano. Ele diz que seus treinadores na academia GRU em Moscou nunca mencionaram explicitamente novichok para ele; a URSS desenvolveu o poderoso agente nervoso na década de 1970 e parece ser uma das muitas substâncias letais à disposição do GRU. Mas seus instrutores deixaram claro que, “de vez em quando”, o GRU tem que eliminar seus inimigos. Disseram-lhe: “Quando você fizer essa operação, um especialista irá encontrá-lo. Ele explicará pessoalmente como fazer.” O GRU tem sua própria diretoria de produtos químicos, diz ele.

Kontrol (Controle, 1994).
O primeiro de uma trilogia de sucesso sobre o período stalinista.

Além da tentativa de assassinato em Salisbury, o Kremlin interferiu na política britânica ao ajudar na votação do Brexit? Suvorov admite que não tem informações privilegiadas aqui, mas, com base em seu conhecimento dos métodos de Moscou, ele acha que era uma oportunidade: "Se houver qualquer tipo de problema interno no campo de seu inimigo, tente explorá-lo."

Apesar de nossa atual turbulência política, ele continua sendo um admirador da Grã-Bretanha, descrevendo-a como um lugar de grande “imaginação criativa”. E quanto a seus espiões? Ele se recusa a dizer muito sobre o MI6, a organização que o levou para uma nova vida, exceto que está cheio de pessoas “inteligentes” e “profissionais”.

Box da trilogia Controle (Контроль / Kontrol, 1995), Escolha (Выбор /Vybor, 2005) e Comedor de cobras (Змиеядеца /Zmiyeyadetsa, 2010). A trilogia foi cotada para uma adaptação no cinema.

Conheci muitos russos que vivem no exílio. Eles incluem desertores da KGB querendo ajuda com suas memórias, oligarcas que brigaram com Putin e oponentes políticos do regime em Moscou. Alguns se adaptam ao exílio; outros não. Suvorov é, sem dúvida, o mais feliz que encontrei. Ele ainda está em um casamento amoroso. Seus filhos adultos são inteligentes e bem-sucedidos, diz ele, e ele tem dois netos.

Ainda há toda a possibilidade do GRU tentar matá-lo, diz ele. Isso apesar do fato de que seus livros têm - até certo ponto - lisonjeado o GRU e servido como um anúncio de suas atividades subterrâneas. “Eles vão me perdoar? Não. Não é uma questão de saber se eles gostam ou não de mim. É um exemplo para todos os outros. Sim, você pode escapar. Sim, eles gostam dos seus livros. Mas eles vão se lembrar de você, sempre.”

Antes de apertarmos as mãos e seguirmos nossos caminhos separados, faço a Suvorov uma pergunta final e delicada. Não quero revelar o endereço da sua casa - não sei - mas onde devo dizer que ele mora? Suvorov ri novamente. “Diga Inglaterra. Ou talvez no País de Gales. Ou talvez Grã-Bretanha.”

Vídeo recomendado:


Bibliografia recomendada:

A KGB e a Desinformação Soviética: A visão de um agente interno,
Ladislav Bittman.

Leitura recomendada:









domingo, 30 de maio de 2021

Como a Rússia capturou seu primeiro MKb-42(H)


Por Andrey Ulanov, Forgotten Weapons, 30 de maio de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 30 de maio de 2021.

Quando um novo modelo de arma chega à frente de batalha, sempre existe o risco de ser capturado pelo inimigo. As forças armadas fazem de tudo para evitá-lo. Por exemplo, quando a URSS realizou testes comparativos da submetralhadora Sudaev (PPS) e uma nova versão da submetralhadora Shpagin (PPSh-2), Stalin assinou pessoalmente uma ordem ordenando que os testes fossem realizados na retaguarda com as unidades retiradas da linha de frente que tem experiência em combate. Independentemente disso, a ordem foi violada e as submetralhadoras de Sudaev foram testadas nas batalhas perto de Leningrado.

Sem dúvida, os alemães tomaram precauções semelhantes. Então, quem capturou e quando foi capturado o primeiro Maschinenkarabiner 42 alemão?

Algumas fontes russas afirmam que o primeiro MkB foi capturado em março de 1943. No entanto, esta informação ainda não foi confirmada por nenhum documento. Conduzindo minha própria pesquisa no Arquivo Central do MOD russo (conhecido como TsAMO), encontrei um relatório datado de junho de 1943 (fonte: fundo 81, arquivo de caso 87, "Correspondência sobre armas leves estrangeiras"), que nos permite restabelecer a linha do tempo de captura do primeiro Maschinenkarabiner 42. Ele é o seguinte:

“Ao Chefe do GAU KA (diretoria principal de artilharia do Exército Vermelho). Estou enviando o tenente-técnico N.N. Troitsky para entregar uma carabina automática alemã e 4 cartuchos para ela, que foram capturados no setor do 22º Exército perto da cidade de Holm em junho”.


Encontramos então o MKb42(H), número de série 1334, na documentação do campo de tiro de teste soviético, onde a carabina chegou no início de julho. Curiosamente, ele tinha apenas 3 cartuchos até então. Aparentemente, um cartucho foi imediatamente encaminhado para os especialistas em munição. Este MKb42(H) passou por pesquisas preliminares e testes em julho de 1943. Uma vez que os três cartuchos originais não eram remotamente suficientes para quaisquer fins de teste, o campo de teste foi ordenado a fabricar 500 cartuchos de munição compatível "recravando os cartuchos alemães e aparando as balas" no local.


O livro de Dieter Handrich, Sturmgewehr! From Firepower to Striking Power (Sturmgewehr! Do poder de fogo ao poder de ataque), indica que os testes militares do MKb-42(H) foram ordenados em abril de 1943. Como resultado, cerca de 2.000 unidades foram enviadas para o Heeresgruppe Nord, destinadas às seguintes divisões: 1ª, 11ª, 21ª, 93ª, 212ª divisões de infantaria e 18ª divisão Panzergrenadier. Na verdade, a lista real era um pouco diferente. Para nós, o detalhe mais interessante é que a 93ª divisão de infantaria recebeu 213 Maschinenkarabiner, dos quais 7 foram perdidos já em junho de 1943 (fonte: NARA T-315 R-1167 e T-312 R-600).

Como você provavelmente já deve ter adivinhado, a 93ª Divisão de Infantaria estava localizada na área da cidade de Holm, enfrentando o 22º Exército soviético. A linha de frente nesta área era relativamente estável, então enviar um lote de novas armas aqui para testes de combate certamente pareceu uma ótima ideia para o comando alemão. No entanto, os alemães não consideraram a alta atividade de razvedka, as unidades soviéticas de reconhecimento de campanha nesta área. Não muito diferente dos Rangers do Exército dos EUA, esses operadores altamente treinados com trajes ghillie, muitas vezes com experiência de caça na Sibéria, realizavam ataques rotineiramente atrás das linhas inimigas para explorar novas informações sobre as forças inimigas e trazer prisioneiros vivos para interrogatório. Seu objetivo secundário era impedir que seus colegas alemães fizessem o mesmo.


Em um dos relatórios do 22º Exército, descobri o seguinte episódio:

Em 22 de junho de 1943, um grupo de batedores do 820º Regimento de Infantaria liderado pelo 2º Ten Arkhipov descobriu uma emboscada armada por uma unidade de reconhecimento alemã. Apoiados por um pelotão de infantaria sob o comando do Tenente Ivushkin, os batedores soviéticos atacaram o grupo, eliminando 12 soldados alemães e capturando três (dois obergefreiters e um soldado). De acordo com o relatório de campanha soviético, o grupo pertencia ao 1º Batalhão, 272º Regimento da 93ª Divisão de Infantaria. O relatório também lista “quatro carabinas-metralhadoras” como troféus.

Durante o interrogatório subsequente, o prisioneiro Hugo Hinsche indicou que um pelotão especial de reconhecimento de batalhão foi formado no 1º batalhão do 272º regimento de granadeiros em maio de 1943. O pelotão era composto por 27 pessoas armadas com “carabinas-metralhadora do modelo de 1942”. Pode-se dizer com alto grau de certeza que foi o razvedka do 820º Regimento de Infantaria soviético que se tornaram os primeiros soldados aliados a apreenderem uma amostra desta tão procurada arma alemã. A história do 43º modelo de cartucho, fuzis de assalto Kalashnikov e tudo o mais começa com essas pessoas.

Bibliografia recomendada:

German Automatic Rifles 1941-45:
Gew 41, Gew 43, FG 42 and StG-44.
Chris McNab.

Leitura recomendada: