sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

NOTA À IMPRENSA - EXÉRCITO BRASILEIRO


NOTA À IMPRENSA

A respeito da ocorrência policial envolvendo militar do Exército na rodovia Presidente Dutra, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que:

1. No dia 18 Jan 2018, o 2º Sargento Renato Borges Maciel, lotado no 34º Batalhão de Infantaria Mecanizado (34º BI Mec), sediado em Foz do Iguaçu/PR, foi preso na divisa entre os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, em posse de substância entorpecente e armas de fogo não pertencentes à Instituição, como resultado de levantamento de dados dos Serviços de Inteligência do Exército Brasileiro, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Civil/RJ.

2. Será instaurado um Processo Administrativo para a apuração de todos os fatos e responsabilidades. O Exército Brasileiro enaltece a atuação sinérgica das Forças de Segurança Pública e coloca-se à disposição para apoiar as investigações na busca do rigoroso esclarecimento das circunstâncias que envolveram a ocorrência policial.

3. O Exército Brasileiro não admite atos dessa natureza, que ferem os princípios e valores cultuados pela Força Terrestre.


Brasília-DF, 18 de janeiro de 2018.


CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO
EXÉRCITO BRASILEIRO
BRAÇO FORTE – MÃO AMIGA

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

ARTEC GmbH BOXER MRAV. Mais um gigante alemão.

FICHA TÉCNICA
Velocidade máxima: 103 Km/h.
Alcance máximo: 1100km.
Motor: Um motor MTU 8V 199 TE20 alimentado a diesel  com 711 Hp
Peso: 33 Toneladas.
Altura: 2,37 m.
Comprimento: 7,88 m.
Largura: 2,99 m
Tripulação: 3+8 soldados equipados.
Armamento: Variável com a versão. Ver texto
Trincheira: 2 m
Inclinação frontal: 60º
Inclinação lateral: 30º
Obstáculo vertical: 0,8 m
Passagem de vau: 1,2.

DESCRIÇÃO
Por Carlos E. S Junior
Uma das características mais marcantes dos produtos da industria bélica alemã que se tornaram uma espécie de “marca registrada” deles é o tamanho de seus veículos de combate terrestre. O veículo blindado sobre rodas do exército alemão, batizado de Boxer, não é uma exceção. Com suas 33 toneladas de peso bruto, o Boxer é 8 toneladas mais pesado que a média dos veículos de sua categoria. Na verdade, o Boxer não um projeto somente da industria alemã, mas uma criação conjunta entre a industria britânica, francesa, alemã e holandesa que precisaram desenvolver uma nova geração de veículo blindado sobre rodas para múltiplas missões e que o modelo básico fosse um transporte de tropas em meados de 1998.  A França e a Inglaterra se retiraram do programa em 1999 e 2003 respectivamente, passando a desenvolverem seus próprios projetos, deixando apenas a Alemanha e Holanda no programa do Boxer. O primeiro blindado ficou pronto em 2002 e foi entregue para o Exército Alemão para testes. A Alemanha encomendou 272 unidades do Boxer e a Holanda pediu 200 unidades.

Acima: A Alemanha encomendou, inicialmente 272 unidades do Boxer para seu exército. Esta encomenda foi seguida por um lote adicional cujo término das entregas deve ocorrer durante o ano de 2018.
O Boxer, como todos os projetos recentes de veículos sobre rodas, tem na sua modularidade seu principal atributo. Assim, o modelo básico pode ser preparado para diversas missões específicas com a fácil instalação de módulos de missão que podem ser substituídos rapidamente para modificar a função do veículo, promovendo um efeito multiplicador a frota de Boxers, através desta flexibilidade de emprego. Para se ter uma ideia da facilidade desse sistema de módulos, basta observar que em apenas uma hora os módulos são trocados mudando o perfil de missão do veículo. Nesse aspecto, o Boxer pode ser considerado superior a outros blindados da mesma categoria.
A blindagem do Boxer é particularmente forte e é composta de cerâmica com outros elementos não especificados. Normalmente esse tipo de informação é classificada, mas certamente deve haver tecnologia adquirida na produção da blindagem de outros veículos alemães como o poderoso carro de combate pesado Leopard 2A6. Porém, é informado pelo fabricante que a blindagem do Boxer suporta impactos de 30 mm na parte frontal e de munição 12,7 mm no resto de veículo. O assoalho é reforçado com três camadas para proteger contra minas e IEDs (Explosivos improvisados), muito usados em guerra irregular para destruir ou inutilizar os veículos e tanques inimigos.
Acima: Nesta ilustração podemos ver de forma fácil como funciona o sistema de modularidade do Boxer. Esta forma de troca de módulos, pode ser empregada até mesmo em projetos de outras áreas como a naval (já tem sistemas parecidos em navios) e em projetos de aeronaves de combate.
A versão básica do Boxer é capaz de transportar 8 soldados totalmente equipados. A capacidade de transporte de carga excede 8 toneladas, dando muita flexibilidade para adaptações de módulos de missão mais pesados. Ele pode ser usado como posto de comando, porta morteiro de 120 mm, ambulância, transporte logístico entre outras versões, ao gosto do cliente. A Lituânia, o terceiro país a adquirir o Boxer, usa o modelo como um IFV (Infantry Fighting Vehicle) que usa uma torre Samson Mk2, armada com um canhão de 30 mm e um lançador duplo para mísseis anti tanque Splike -LR, guiado por infravermelho e com alcance de 4 km. É interessante que a Lituânica batizopu sua versão do Boxer como "Vilkas IFV". Já, a Austrália, testou a versão Boxer CRV equipada com uma moderna torre Lance que é armada com um canhão automático Rheinmetall MK30-2/ ABM em calibre 30 mm para seu programa de aquisição de um veículo blindado de combate (AFV) sobe o nome Land 400, que deve ter sua seleção decidida em meados de 2018.
Acima: A versão Boxer CRV é armada com um poderoso canhão automático Rheinmetall MK30-2/ ABM em calibre 30 mm capaz de destruir viaturas leves e causar danos graves em veículos maiores como IFVs ou mesmo MBTs, dependendo do modelo.
O Boxer é propulsado por um motor MTU 8V 199 TE20 alimentado a diesel, e que produz 711 Hp de força. A velocidade máxima é de 103 km/h em estrada, o que o torna um dos mais rápidos veículos blindados sobre rodas da atualidade. A autonomia é muito boa, chegando a 1100 km também o colocando em destaque como o blindado de maior autonomia dessa categoria. Todos estas capacidades, é claro, dificilmente, sairia barato. Cada Boxer, básico, custa cerca de U$ 4,5 milhões, cerca de 3 vezes mais que um MOWAG Piranha IIIC, como o usado pelos fuzileiros navais brasileiros. Assim o Boxer traz mais força para uma tendência em se utilizar veículos sobre rodas modulares capazes de múltiplas missões, ainda mais por que a guerra tem se tornado cada vez mais urbana, onde blindados sobre lagartas não tem a mesma agilidade que um blindado sobre rodas.
Acima: Uma das missões que o Boxer pode assumir é o de posto de comando. Nesta foto podemos ver um exemplar desta versão do exército holandês. 

Acima: O Boxer é uma viatura de grandes dimensões.  O "maiorzinho" ali da esquerda é um Boxer CRV, seguido pelo Patria AMV, M-1A1 Abrams (sim, é um MBT!), e um LAV-25.

VÍDEOS

BOXER ACV/ IFV


BOXER ATV/ MRAP


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domingo, 14 de janeiro de 2018

Comemorar sua atuação 24 horas por dia, 7 dias por semana na Amazônia? Os 100 anos de um Batalhão de Selva!


Humaitá (AM) – O Exército Brasileiro tem várias de suas organizações militares (OM) com mais de 100 anos de profícuo trabalho e constante vigilância dos interesses, das aspirações e da manutenção dos valores que forjaram nossa Naçao. E, destarte, na Amazônia brasileira isso é motivo de alegria e lídimo sentimento do dever cumprido, 24 horas por dia, 7 dias por semana!

Em 2 de janeiro, o 54° Batalhão de Infantaria de Selva (54º BIS), “Batalhão Cacique Ajuricaba”, completou 100 anos de existência. Suas origens remontam ao 45º Batalhão de Caçadores do 15º Regimento de Infantaria, criado em 1915, pelo Decreto no 11.498, de 23 de fevereiro; organizado em 1917 pelo Aviso nº 852, de 9 de novembro; e instalado em 2 de janeiro de 1918, na cidade de Manaus (AM).

As comemorações do centenário tiveram seu início em 6 de novembro de 2017, com a realização da formatura da Saudade, que contou com a participação de autoridades e militares da reserva.

No período de 25 a 28 de novembro de 2017, o Batalhão realizou uma marcha de 100 km no trecho da BR 319, sentido Manaus-Humaitá. A atividade teve a participação de 100 militares, sendo 33 militares da 1ª Companhia de Fuzileiros de Selva; 33 da 2ª Companhia de Fuzileiros de Selva; e 33 militares da Companhia de Comando e Apoio; além do Comandante da organização militar.

Em 30 de novembro de 2017, a Banda de Música do 54° BIS realizou, na praça da matriz de Humaitá, o concerto musical alusivo às comemorações do aniversário dos 100 anos do Batalhão, com a ilustre participação das bandas da Companhia de Comando da 17ª Brigada Infantaria de Selva e do 6° Batalhão de Infantaria de Selva.

No dia 9 de janeiro, coroando as comemorações dos 100 anos, foi inaugurado o Bosque dos Antigos Comandantes e Subcomandantes do Batalhão. Também foi realizada a inauguração do Espaço Cultural, com objetivo de criar um ambiente de exposição e reflexão acerca da identidade do 54º BIS na Força Terrestre, bem como da importância da presença do Exército Brasileiro na cidade de Humaitá.

Por fim, foi realizada uma formatura comemorativa ao centenário da organização militar. A solenidade contou com as presenças de autoridades civis e militares, de antigos Comandantes, de amigos do Batalhão e de militares da reserva, além de familiares e convidados dos integrantes da Unidade.


sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Exército e Forças de Segurança nas ruas de Mossoró


Mossoró (RN) – Na tarde de 9 de janeiro, Mossoró foi cenário de uma inédita Operação Interagências, envolvendo a tropa verde-oliva e diversos órgãos de Segurança Pública.

Integrantes do Exército Brasileiro, das Polícias Rodoviárias Federal e Estadual, das Polícias Civil e Militar, da Guarda Civil Municipal de Mossoró e agentes da Fiscalização de Trânsito e Transporte saíram às ruas da cidade, com o objetivo de intensificar as ações de policiamento em toda a zona urbana.

A ação foi fruto de uma reunião de coordenação, realizada, no dia anterior, na sede do Batalhão General Tibúrcio, oportunidade em que o Tenente-Coronel Eduardo Henrique de Sá Oliveira, Comandante da Área de Operações em Mossoró, reuniu-se com representantes das instituições mencionadas para planejar uma operação em conjunto.

Essa operação interagências durou cerca de três horas, na qual foram empregadas duas companhias de fuzileiros. A força de combate do Exército, aliada ao conhecimento dos demais participantes, quanto à área de atuação e à definição dos melhores horários para as investidas, aumentou o poder de dissuasão contra a prática de ilícitos.

A atuação da Força Terrestre em conjunto com as Forças de Segurança disponíveis está autorizada pelo Decreto Presidencial que legitimou a Operação Potiguar III.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

STRIKE EAGLE EM AÇÃO!!!!

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domingo, 7 de janeiro de 2018

TUPOLEV TU-160M BLACKJACK. Um gigante preparado para novos tempos

FICHA TÉCNICA
Velocidade de cruzeiro: Mach 0,82 (1000 km/h)
Velocidade máxima: Mach 1,89 (2000 km/h em alta altitude)
Alcance: 12300 km (travessia e sem reabastecimento)
Teto de serviço: 15600 m.
Propulsão: 4 turbofans Kuznetosov NK-32, com empuxo “seco” unitário de 13.700 kg e em regime de pós-combustão de 25.000kg
DIMENSÕES
Comprimento: 54,10 m
Envergadura: 55,7 m (asas abertas), 33,6 m (asas enflechadas)
Altura: 13,6 m
Peso: 110.000 kg (vazio) e 275000 kg (com máxima carga)
ARMAMENTO
40000 kg de capacidade de transporte de armas que podem ser na forma de doze misseis nucleares de cruzeiro Raduga Kh-55SM "Kent"ou sua versão convencional Kh-555 “Kent-A”, com o mesmo alcance, mas com ogiva de 400 kg de alto explosivo); 12 mísseis Kh-101/102; 20 bombas convencionais de planeio guiadas UPAB-1500; 12 mísseis nucleares de curto alcance Kh-15 "Kickback"

DESCRIÇÃO
Por Sérgio Santana
Curiosamente, a aeronave identificada como Tupolev Tu-160 “Blackjack” é o aperfeiçoamento dos projetos T-4MS e M-18/20, elaborados pelos escritórios rivais OKB-51 e OKB-23, liderados respectivamente por Pavel O. Sukhoi e Vladimir M. Myasishchev.
Em 28 de novembro de 1967 o governo soviético emitiu a ordem 1098-378, estabelecendo as especificações técnicas de um bombardeiro tripulado supersônico de alcance intercontinental armado com até quatro mísseis Kh-45 ou vinte Kh-22; velocidade máxima entre 3200-3500 km/h, na qual devia cobrir uma distância de 11.000-13.000 km voando a 18.000 metros. Estas e outras características deviam ser superiores à ameaça colocada pelo projeto norte-americano AMSA, cujo resultado final é o B-1B Lancer (já descrito no WARFARE).
Todavia, em fins de 1972, após os dois competidores terem analisado diversas configurações aerodinâmicas, o Alto Comando da Força Aérea decidiu que a nenhum deles seria autorizado o desenvolvimento: No que dizia respeito à Myasishchev isto se devia a que suas instalações, resumidas a um conjunto de prédios nos arredores de Moscou foram considerados incapazes de produzir uma aeronave com aquela complexidade, mesmo já tendo concebido o primeiro bombardeiro a jato soviético, o M-4, codificado pela OTAN como “Bison”; enquanto que relativamente à Sukhoi, o impedimento se baseava na crença de que o novo projeto ultrapassava a sua capacidade, já comprometida com variantes do Su-17 “Fitter-C” e o refinamento de projetos que se tornaram o Su-27 “Flanker” e Su-24 ”Fencer”. Assim, todos os resultados da pesquisa para o novo bombardeiro foram repassados ao OKB Tupolev, que embora ocupado com o desenvolvimento de aeronaves civis – o trijato Tu-154 e o supersônico Tu-144 – e militares, como o Tu-142 e Tu-22M, viu prevalecida a sua experiência no tipo de plataforma que o governo buscava, mesmo tendo frequentado as reuniões sobre tal assunto apenas como “ouvinte”.
Acima: Uma das poucas fotos do protótipo do Sukhoi T-4M Sotka, que visava dar a Força Aérea Soviética (VVS) um bombardeiro estratégico de alta velocidade (3000 km/h) para fazer frente ao programa norte americano XB-70. A complexidade e a mudança de prioridades da VVS naquela época, motivou o cancelamento do projeto.

NASCE O TU-160
Inicialmente denominado “Produto K” ou Tu-156 (identificação utilizada por um modelo quadrimotor especializado em funções AEW), o TU-160 se beneficiou especialmente do projeto M-18, do qual as ambiciosas especificações foram reduzidas ao considerado minimamente útil: a obtenção do desempenho resultante combinou asas de enflechamento variável, para se adaptar a cruzeiros subsônicos de longo alcance bem como às bruscas acelerações supersônicas; motores turbofans de baixo consumo – mesmo com a pós-combustão acionada – e elevada potência, testados sob um Tu-142LL. Ainda que a mobilidade das entradas de ar a princípio aumentasse o índice de reflexão-radar (uma das maiores preocupações devido às dimensões do modelo) esta foi atenuada pelo revestimento absorvente de radiação composto por grafite negro. Com o mesmo objetivo, a seção frontal dos propulsores foi protegida por telas especiais.
A suave interação das asas com a fuselagem também servia a este propósito, além de aumentar a sustentação e a eficácia aerodinâmica do conjunto cuja estrutura é formada principalmente por ligas de alumínio, na proporção de 58%, com ligas de titânio, aço de alta resistência e materiais compostos também integrando o Tu-160.
Como no bombardeiro experimental Sukhoi Su-100, as superfícies de controle do “Blackjack” são acionadas por impulsos elétricos (sistema FBW), organizados em uma rede capaz de resistir a três falhas totais (triplamente redundante), com o comando da aeronave final sendo exercido mecanicamente como último recurso. O enflechamento das asas também é automático, de acordo com os perfis de voo.
Durante os voos longos, a instalação de um pequeno forno e de um toalete visou ao conforto da tripulação, composta por comandante, co-piloto e os dois operadores, um para sistema ofensivo e outro para o defensivo, acomodados em assentos K-36OL (equipados com kits de sobrevivência NAZ-7), capazes de ejeção individual ou em sequencia, acionada por qualquer tripulante. Caso a ejeção ocorra sobre a água, há um bote inflável LAS-5M. Em missões a grande altitude, o traje anti-G e o capacete ZSh-7B, ambos equipamentos padrões, são substituídos por uniformes de pressão total Baklan”, similares aos dos cosmonautas.
Além do controle da aeronave, a tripulação tem de supervisionar mais de 100 computadores digitais, dos diversos complexos eletrônicos, oito dos quais destinados à navegação. Tais máquinas integram o sistema duplo de navegação inercial K-042K; a navegação estelar e por satélite (Glonass); a suíte de comunicações multicanal, com antenas acima e abaixo do convés de voo; o radar de seguimento de terreno “Sopka”, para voos a baixíssima altura; o radar de navegação/ataque “Obzor-K”, capaz de fornecer guiagem de meio curso a mísseis ar-superfície e, finalmente, a instrumentação de voo, que inclui itens do Tu-22M3 “Backfire-C”.
Foi esta aeronave, identificada como “Produto 70-00” que decolou em 18 de dezembro de 1981 sob o comando de Boris I. Veremey, acompanhado de Sergey T. Agapov, além dos navegadores Mikhail M. Kazel e Anatoliy Yeriomenko, para um voo de 27 minutos, no qual atingiu a altitude de 2.000 metros. Por essa mesma época a aeronave foi casualmente fotografada por um turista ao lado de dois Tu-144, resultando em uma foto de má qualidade durante muito tempo atribuída a satélites norte-americanos. Logo depois disso, o Tu-160 recebeu da OTAN o código “Blackjack”. A introdução do tipo em serviço ocorreu em abril de 1987, quando começou a ser distribuído ao 184º Regimento de Bombardeiros Pesados da base aérea de Priluki, na então república soviética da Ucrânia de onde foram deslocados para território russo em 1999 após demorada negociação.
Acima: O Tu-160 tem um layout aerodinâmico que lembra o bombardeiro norte americano B-1B, cujo desempenho é bastante inferior ao do modelo russo. Embora isso possa alimentar a "fértil imaginação" de quem acredita que o russo é uma copia do modelo americano, a verdade é que o projeto do Blackjack tem objetivos um pouco diferentes e mais exigentes que os do B-1B.

APARECENDO AO MUNDO
Curiosamente, as primeiras pessoas, fora da União Soviética, a verem um Tu-160 de perto eram parte de uma delegação norte-americana chefiada pelo então Secretário de Defesa Frank Carlucci, que chegou a entrar no “Blackjack”  codificado “Vermelho 12”, estacionado na base aérea de Kubinka em 2 de agosto de 1988. Anos depois, este exemplar foi batizado “ Aleksandr Novikov”, em uma tradição dos tempos soviéticos de dar nome de personalidades às suas aeronaves.
Por sua vez, o público civil tomou conhecimento amplo do tipo em 20 de agosto do ano seguinte, quando um exemplar de desenvolvimento executou um voo rasante sobre a multidão reunida em Tushino para o Dia da Aviação, mas ainda naquele ano um dos Tu-160 se aproximou do litoral canadense após um voo de 12 horas. E entre 24 e 28 de maio de 1990, um Tu-160 comandado em rodízio por Vladimir Pavlov e Sergey Ossipov estabeleceu 18 recordes ainda em vigor para a sua classe (C-1r, Grupo 3, “aeronave a jato com peso máximo de decolagem entre 200.000 e 250.000 kg”), inclusive o de velocidade máxima, 1.017 km/h com 30.000 kg de carga num circuito fechado de 5.000 km, na localidade de Podmoskovnoe.
Em 1991, outro “Blackjack”, identificado “Vermelho 17”, foi interceptado por um elemento de F-16A da Real Força Aérea Norueguesa, orgânicos do 331º Esquadrão baseado em Bødo, assim inaugurando uma prática que obteve grande destaque na mídia mundial em 2007, quando exercícios de larga escala provocaram a reação não só de interceptadores noruegueses, mas igualmente dos seus pares norte-americanos, canadenses e britânicos em um intervalo de poucos dias. Uma interessante  aparição do Tu-160 se deu em 10 de setembro de 2008, quando dois exemplares, “Aleksandr Molodchii” e “Vladimir Sen’ko” pousaram na base aérea venezuelana de El Libertador. Depois desta visita América do Sul, os grandes bombardeiros russos Blackjack voltariam a dar as caras por aqui, em 29 de outubro de 2013, quando pousaram, novamente no país país sul americano. É digno de nota que os caças IAI Kfir da Força Aérea Colombiana tiveram certa dificuldade em acompanhar o Blackjack em sua rota para a Venezuela.
Acima: Um dos primeiros encontros entre o Ocidente e o Tu-160 Blackjack foi protagonizado por dois caças F-16A noruegueses em 1991.
O Tu-160 tem um peso máximo de decolagem de 275.000 kg, o que inclui 148.000 kg de combustível T-8 em 13 tanques de combustível internamente, que dependendo da carga de armas a ser empregada na missão, não são preenchidos completamente, para permitir a aeronave decolar, e serem reabastecidos em voo até o máximo, por uma aeronave tanque. O alcance máximo do Tu-160 é de 12300 km, sendo assim, capaz de atingir, praticamente, qualquer ponto do planeta sem precisar de reabastecimento em voo, recurso este, disponível nesta impressionante plataforma de combate.
A velocidade máxima em grande altitude (acima de 11000 metros) chega a incríveis mach 1,89, o que representa 2000 km/ h, segundo informação passada pelo site da Tupolev. Este desempenho é possível graças a 4 poderosos motores Kuznetosov NK-32 fornecem um empuxo máximo de 25000 kg cada um! Por isso, o Tu-160 é, efetivamente, o mais rápido bombardeiro estratégico do mundo atualmente, e deve se manter nesta posição por décadas a frente.
Acima: O bombardeiro Tu-160 Blackjack é propulsado por 4 motores Kuznetosov NK-32 fornecem um empuxo máximo de 25000 kg cada.

O BLACKJACK NO SÉCULO XXI
Em fins de novembro de 2017 o “Valentin Blyzniuk”, primeiro exemplar resultado do programa de modernização do Tupolev Tu-160 “Blackjack”, designado Tu-160M, teve o seu roll-out, ou seja, foi removido para fora das instalações da Gorbunov Aircraft Works, na cidade de Kazan, onde esteve sendo submetido às modificações previstas.
Também conhecida como “Produto 70M” (Izdeliye 70M), a nova aeronave concretiza uma modernização de meia-vida do “Blackjack”, na qual todos os sistemas de missão do modelo original foram substituídos. Os primeiros trabalhos de design técnico do Tu-160M foram completados em outubro de 2014 e envolveram as seguintes modificações: a incorporação do radar Novella NVI.70 (no lugar do Obzor-K); o sistema de navegação K-042KM (que abrange o navegador inercial BINS-SP-1, o dispositivo de navegação astronômica ANS-2009M e um computador de navegação); o radar de navegação DISS-021-70, o receptor de navegação por satélite A737DP, o piloto automático ABSU-200MT e a suíte de comunicação S-505-70. Os dados de voo serão exibidos em um novo sistema de displays digitais, que substituirão os mostradores analógicos. Um novo dispositivo que deve ser incorporado é casulo Raduga APK-9E Tekon para uso com as bombas UPAB-1500.
Acima: Os 16 exemplares do Tu-160 construídos, serão modernizados para o padrão M2. Nesta foto podemos ver o processo de modernização em pleno funcionamento na fábrica da Tupolev.
Entretanto, é provável que outros sistemas do “Blackjack” original permaneçam no Tu-160M, a exemplo do ADF ARK-22, Radar Doppler DISS-7, do Sistema de Pouso por Instrumentos Kvitok e do Sistema de Dados Aéreos SVS-2ts-4; Complexo de Navegação e Pontaria Buk-K (controlado por oito computadores Orbita-20, responsável pelo voo semiautomático para a área de lançamento dos misseis, sua preparação e lançamento e retorno à base); radar de seguimento de terreno Sopka; o sistema Sprut-SM para inicialização e lançamento de misseis Kh-55SM; e, finalmente, o sistema de gerenciamento de dados pré-voo SVVI-70, parte do Sistema de Planejamento de Missão Sigma, da aviação estratégica russa. O mesmo se aplica ao sistema de auto defesa I232 Baikal-M, que abrange o sensor de infravermelho Ogonyok e o sensor de alerta radar Kiparis, os interferidores SPS-171/SPS-172 Geran-IDU/-2DU, AG-56 Sevan e os lançadores de chaff e flare APP-50 (24 lançadores com três cartuchos cada), localizados na parte inferior do cone de cauda da aeronave.
Antes de incorporar as modificações do “M” o “Valentin Blyzniuk” (nome do projetista-chefe da aeronave) e outros Tu-160, igualmente batizados com o nome de personalidades da história soviético-russa, tais como o “Andrei Tupolev” (o fundador do escritório de projetos fabricante do “Blackjack”), o “Vasiliy Reshetnikov” (piloto de bombardeiros estratégicos) e “Vasiliy Senko” (navegador de bombardeiros estratégicos, também da Segunda Guerra Mundial), passaram pelo estágio preliminar de modificações, conhecido como “Tu-160M1”, no qual receberam alguns dispositivos do Tu-160M.
Acima: O cockpit do Tu-160 é relativamente simples para os padrões atuais, porém, depois de sua modernização para o padrão M2, ele estará dentro dos atuais padrões de configuração onde muitos de seus instrumentos analógicos serão substituídos por sistemas digitais representados por telas MFDs.

EMPREGO EM COMBATE
Antes que o novo Blackjack seja oficialmente declarado operacional, entretanto, a sua versão padrão obteve o batismo de fogo em missões reais, sobre a Síria em 17 de novembro de 2015. Naquela data os Tu-160 “Vitaliy Kopylov” e “Vladimir Sudets” atacaram alvos do grupo terrorista Estado Islâmico com 16 mísseis Kh-101 lançados a partir do território iraniano. Nos dias seguintes o Tu-160 voltou àquele teatro de operações, lançando também misseis Kh-555. Para estas missões o Blackjack decolou da sua base em Engels, voando sobre o Mar Cáspio em direção aos seus alvos; contudo, para uma daquelas missões, em 20 de novembro, dois Tu-160 decolaram da Base Aérea de Olenyogorsk, contornou a Noruega e as Ilhas Britânicas, entrou no Estreito de Gibraltar e percorreu toda a extensão do Mar Mediterrâneo para disparar oito misseis Kh-555 em alvos na Síria. A rota de retorno envolveu sobrevoar Síria (quando foram escoltados por caças Su-30SM), Iraque, Irã e o Mar Cáspio, e após tudo esse percurso, pousaram em Engels. Todo o voo cobriu mais de 13000km.
Acima: Aqui um Tu-160 lança um míssil de cruzeiro (provavelmente um Kh-55) contra um alvo do Estado Islâmico em território sírio. A foto foi feita a partir de um caça Su-30SM. Observe que um segundo caça Su-30SM aparece nesta foto embaixo e um pouco atrás do Blackjack.

AS GARRA DO URSO
No que se refere a armamentos, o Tu-160M tem a mesma capacidade do “Blackjack” original, ou seja, 40.000kg de mísseis e bombas transportados exclusivamente em dois compartimentos internos na fuselagem, que medem 11.28m de comprimento, 1.92m de largura e 2.4m de profundidade.
As opções de cargas incluem: Até doze misseis nucleares de cruzeiro Raduga Kh-55SM (AS-15 “Kent”, com 3500km de alcance e ogiva de 200 Kt (quilotons), ou sua versão convencional Kh-555, AS-15 “Kent-A”, com o mesmo alcance, mas com ogiva de 400 kg de alto explosivo) em dois lançadores giratórios sêxtuplos; a mesma quantidade de misseis Kh-101/102 (ambos com alcance de até 5000km, mas com ogiva nuclear de 250 kt no primeiro modelo e convencional de 400 kg no segundo); mais de 20 bombas convencionais de planeio guiadas a por sensor eletro-optico (EO) de 1500kg UPAB-1500, com alcance de 70 km.
Acima: Aqui podemos ver com mais detalhe o sistema MKU-6-5U de lançamento rotativo de mísseis usado no TU-160.
A Russia herdou 16 exemplares do Tu-160 Blackjack e que estão sendo modernizados. Porém, foi reaberto a linha de montagem para que sejam construídos mais 34 unidades que já sairão da linha de montagem na versão Tu-160M2, versão definitiva, à proporção de três exemplares por ano, que servirão à aviação estratégica russa por pelo menos quatro décadas, com entrada em serviço planejada para 2021. Estas poderosas aeronaves continuarão a serem empregadas ao lado do futuro bombardeiro estratégico russo PAK DA, atualmente em fase de projeto.
Acima: O Tu-160 faz uso de um sistema de asas de geometria variável, como um T-22M3 e o bombardeiro norte americano B-1B, o que lhe permite otimizar a navegação em velocidades altas ou baixas.

VÍDEO


VÍDEO MOSTRANDO O TU-160 EM AÇÃO NA SÍRIA.

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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Assinatura do Contrato de Licenciamento do Radar M60, produto de defesa com tecnologia nacional.


Brasília (DF) – No dia 13 de dezembro, no Quartel-General do Exército, foi realizada a assinatura do contrato de licenciamento e certificação do Radar SABER M60, entre o Exército Brasileiro e a EMBRAER Defesa. A certificação é o resultado de uma parceria entre as instituições no desenvolvimento de tecnologia nacional de defesa para a criação de um equipamento destinado a integrar um sistema antiaéreo visando a proteção de pontos e áreas sensíveis.

Na presença do Comandante do Exército, General de Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas; do presidente da EMBRAER Defesa e Segurança, Jackson Schneider; e de oficiais-generais da Instituição; o Chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército (DCT), General de Exército Juarez Aparecido de Paula Cunha, assinou o contrato de licenciamento do Radar SABER M60 com o presidente da Savis Bradar (empresa controlada pela EMBRAER), Nilson Santin.

“O Radar SABER M60 é, realmente, um caso de sucesso!”, afirmou o chefe do DCT, General Juarez. Já o presidente da EMBRAER Defesa e Segurança ressaltou o orgulho da parceria com o Exército e explicou que, a partir desse licenciamento, o radar será comercializado para outros países e a tecnologia gerada poderá ser aproveitada em prol do Brasil. “Hoje é um momento importante para a EMBRAER, para o Exército e para o País”, completou.

RADAR SABER M60
O SABER M60 é utilizado pelas tropas brasileiras desde 2012, e foi empregado inclusive nas operações em prol dos grandes eventos sediados pelo Brasil nos últimos anos. Ele permite rastrear alvos em um raio de 60 quilômetros, transmitindo informações em tempo real para um Centro de Operações de Artilharia Antiaérea (COAA). O equipamento também está integrado ao Sisdabra (Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro) da Força Aérea Brasileira. O radar foi desenvolvido pela BRADAR, empresa controlada pela EMBRAER Defesa e Segurança, em parceria com o Centro Tecnológico do Exército.

Leve, o M60 pode ser facilmente transportado para qualquer local do território nacional ou empregado em missões de paz no exterior. Sua instalação para entrar em operação pode ser feita em menos de 15 minutos e por apenas três pessoas. Outro ponto importante é que o radar pode ser integrado a sistemas de armas baseados em mísseis ou canhões antiaéreos.

O Radar SABER M60 possui baixo peso e elevada mobilidade, é acondicionado em caixas de transporte, podendo ser transportado por viaturas, aviões de pequeno porte, helicópteros, trens e embarcações, pode ser instalado no alto de edificações, e suporta a operação em todas as condições climáticas do território brasileiro. Estas características o tornaram indicado para emprego em operações de defesa externa, bem como em Operações de Garantia da Lei da Ordem e em Operações de Manutenção de Paz.
                                    

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

F-35A no Canyon de Star Wars em imagens sensacionais!

Cenas impressionantes do caça F-35A feitas por Dafydd Phillips no dia 1 de dezembro de 2017 no popularmente conhecido "Canyon de Star Wars", ou, mais precisamente no Death Valley Canyon, no estado da Califórnia, Estados Unidos. As sequencias foram feitas com dois caças F-35A holandeses que foram aos Estados Unidos. Degustem dessas lindas cenas!


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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

ENGESA

Por General de Exército Armando Luiz Malan Paiva Chaves
O nome ou, melhor dizendo, o acrônimo ENGESA é muito mais do que o batismo de uma empresa. É o relato da obra de um empresário altamente dotado de inteligência, bagagem técnica e cultural, acurada visão de futuro e aptidão para selecionar valores humanos e que levou uma modesta firma de fabricação de componentes para exploração petroleira a se transformar num complexo industrial-militar, o qual disputou mercados com os maiores e mais tradicionais produtores de armamentos de alta tecnologia mundiais. Vencido pela concorrência por justa ambição de crescimento, que ignorou a ponderação no cumprimento de compromissos contratuais e bancários assumidos, esse empreendedor mergulhou na inadimplência, na concordata e na falência. Deixou de existir. Passou a ser uma história, a contar e lembrar.

Nascimento e evolução

Em 1958, a ENGESA (Engenheiros Especializados S/A) foi criada por José Luiz Whitaker Ribeiro. Em 1968, produzia componentes para a exploração de petróleo e os fornecia a Petrobras. Ao ter seus caminhões enfrentando estradas de terra e barro para chegarem ao destino no litoral, desenvolveu, "de motu próprio", uma caixa de transferência com tração total, aplicada com sucesso em seus veículos nacionais. Em 1970, o Exército interessou-se em testar o invento. Aprovado, passou a usá-lo.

Na época, estavam em desenvolvimento no Parque Regional de Motomecanização, da 2ª Região Militar, os blindados S/R Cascavel e Urutu. Convidada, a ENGESA aceitou associar-se à Força Terrestre e participar do empreendimento. Em 1974, a empresa tomou a iniciativa pioneira de oferecer à Líbia o blindado Cascavel, com canhão 90 milímetros. Foi um sucesso! A ENGESA começava a crescer com a exportação. Em poucos anos, vendeu esse blindado a 18 países localizados no Oriente Médio, na África, na América do Sul e no Mediterrâneo.
Acima: Veículo de transporte de tropas Urutu, um dos mais bem sucedidos produtos da Engesa.
Nos anos de 1980, iniciou o desenvolvimento em computador (hoje, AutoCad) doEE-T1 Osório, carro de combate (CC) armado de canhão 120 milímetros. Em 1985, a Arábia Saudita convidou Alemanha, Brasil, EUA, França, Grã-Bretanha e Rússia a levarem seus CC para demonstração. O Osório, já testado aqui, foi transportado de avião ao destino. Teve muito bom desempenho.

Em 1986, a ENGESA obteve financiamento de US$ 65 milhões pelo BNDES. No mesmo ano, assinou contratos com o Exército para grandes fornecimentos: 40 mil tiros de morteiro; 100 conjuntos de rádio; 51 blindados Urutu; 500 a 600 viaturas de 2 1/2 toneladas; 380 viaturas de 3/4 toneladas e 82 jipes. Apesar do subsídio, os recursos foram aplicados para a aquisição de fábricas, como a IMBEL, de Juiz de Fora, bem como para novos desenvolvimentos, como mísseis e helicópteros, que não chegaram a ser efetivados. O Exército exigiu e obteve uma Confissão de Dívida, porém, nada do contratado jamais foi entregue.

Plano inclinado descendente

Do exposto, deduz-se que 1986 foi o ano de entrada da empresa no plano inclinado descendente, que a levaria, mais adiante, à extinção. Em 1987, a Arábia Saudita convocou para segunda avaliação o Abrams norte-americano, o AMX 40 francês, o Challenger britânico e o Osório brasileiro, este, mais uma vez, transportado de avião. Pelo relato dos dirigentes da ENGESA, tudo indicava que seu produto foi o vencedor do certame. Prova disto é que foi assinado um pré-contrato para a aquisição de 316 carros de combate, por US$ 2,2 milhões.

Em 1989, o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa norte-americanos apresentaram ao Congresso minucioso relatório defendendo a conveniência de o Abrams ser vendido à Arábia Saudita, tanto pelo que a fabricação representaria para a indústria nacional, como pelo que significaria a entrada de um novo fabricante (ENGESA) no mercado do Oriente Médio. A ação diplomática produziu seus efeitos e o Abrams foi vendido aos árabes, deixando a ENGESA "a ver navios".
Acima: O MBT Osório foi o mais sofisticado produto da Engesa.
Nos anos de 1990, a ENGESA pediu concordata. O Governo brasileiro autorizou o Tesouro Nacional a conceder à IMBEL NCz$ 30 milhões (de cruzados novos) para adquirir o acervo tecnológico da ENGESA, excluído o do Osório. A empresa vendedora teria três anos de prazo para recompra. Caso isto não ocorresse, o acervo tecnológico do Osório seria cedido à IMBEL por preço simbólico de NCz$ 1,00.

Deduz-se do parágrafo anterior que os méritos tecnológicos da ENGESA eram amplamente reconhecidos, seja pelo Exército, seja pelo mais alto escalão da administração pública. E que a inconsistência de sua política econômico-financeira vinha sendo severamente avaliada e mesmo sancionada, como o foi com a aquisição do acervo tecnológico.

Um Grupo de Trabalho criado na Presidência da República, ligado ao Gabinete Militar, reuniu representantes do Tesouro, do BNDES e do Banco do Brasil, para acompanhar a evolução do saneamento. Foi, inclusive, proposta a concessão de aumento de capital da IMBEL, pelo BNDES e BB, para que a ela fossem transferidas todas as garantias da ENGESA depositadas nos dois bancos. A IMBEL não aceitou a proposta, pois nada receberia em caso de falência. Em contraposição, propôs a entrega do acervo tecnológico, o que ocorreu, já que o prazo para recompra se esgotara. Os 30 milhões recebidos para a aquisição temporária do acervo tecnológico foram aplicados na recompra da Fábrica de Juiz de Fora, que voltou a ser propriedade da IMBEL.

Agonia

Em 1991, firmou-se um Protocolo de Intenções e Procedimentos. Nele, foi estabelecido que as ações dos controladores passassem ao domínio da IMBEL, a preço simbólico. A Fábrica foi credenciada para negociar com os credores redução de 90% das dívidas. O BNDES e o BB receberiam 53% do resultado da alienação de ativos não operacionais e os 47% restantes passariam para a IMBEL pagar parcialmente os credores. Seria criada nova empresa afim, com os recursos devidos aos trabalhadores, que virariam acionistas, com os valores desses recursos.

Em 1992, os ativos não operacionais não obtiveram preço. Em consequência, todo o plano falhou. Em 1994, o Gabinete Militar da Presidência apresentou proposta de desapropriação da ENGESA por interesse público. Na época, o Governo julgou temerária tal iniciativa e a arquivou.
Acima: Mesmo com vendas expressivas para o mercado internacional, a Engesa veio a falir devido a falhas de gestão.
Ainda naquele ano, o Presidente da IMBEL viajou à Grã-Bretanha para apresentar, ao Conselho de Administração da British Aerospace, uma proposta de associação com sua subsidiária Royal Ordnance para a copropriedade e a gerência conjunta da ENGESA, mediante investimento de US$ 125 milhões. Os britânicos disseram concordar com o valor da participação, porém, os recursos não poderiam ser aplicados para saldar dívidas tributárias, trabalhistas e bancárias. Mais uma tentativa frustrada de salvar a empresa.

Em 1995 decretou-se a falência da ENGESA. O juiz passou a tratar das alienações. Questionou a propriedade da IMBEL sobre o acervo tecnológico, que só foi assegurada com ganho de causa obtido na justiça. Todo o material do acervo foi transferido para a Fábrica de Piquete, à exceção dos planos do Osório, que não foram encontrados nem na fábrica, em São José dos Campos, nem no complexo administrativo de Barueri. Em 2005 a fábrica de São José dos Campos foi vendida à EMBRAER.


Considerações finais


A epopeia da ENGESA - da criação ao declínio, e deste à falência - é exemplo frustrante da aptidão criativa e tecnológica do empresariado brasileiro, bem como da carência de recursos financeiros governamentais para assegurar a regularidade de encomendas de que depende a sobrevivência das empresas. As motopeças, os blindados Charrua e Bernardini, e o carro de combate Tamoio reforçam a exemplificação.

Enquanto foi possível financiar demandas não entregues, a ENGESA foi largamente apoiada. Porém, seu ímpeto de produzir e exportar gerou compromissos financeiros que foram muito além do que o Governo brasileiro poderia apoiar. Veio-lhe a inadimplência e não houve como contorná-la, nem como moderar sua ambição. À frustração da venda do Osório somou-se o fracasso de novas iniciativas, como a de helicópteros e a de mísseis.

O Governo e o Exército Brasileiro, via IMBEL, procuraram caminhos para salvar a ENGESA, contudo, a cova que a enterraria já era muito funda, cavada por seu próprio Conselho de Administração. O Brasil perdeu uma empresa que lhe poderia dar autossuficiência em muitos itens de emprego militar, destruída pelas mãos de quem a criara e a quis maior do que lhe disponibilizavam os meios.

Não se tem notícia da utilização do acervo tecnológico guardado na Fábrica de Piquete, que poderia ser muito útil nos desenvolvimentos programados pelo Exército. Também não se sabe do acervo do Osório, sem dúvida muito valioso, que é propriedade da Força. Caberia uma ação, mesmo policial, para descobrir seu destino. Localizado, teria grande valor na orientação da fabricação de blindados brasileiros.