domingo, 29 de março de 2020

LIVRO: Forças Terrestres Chinesas

O Exército de Libertação Popular Chinês desde 1949: Forças Terrestres, Benjamin Lai, Osprey Publishing, 2013.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 29 de março de 2020.

O exército chinês (oficialmente Forças Terrestres do Exército de Libertação Popular, doravante PLA) nunca foi conhecido por sua proficiência militar, como já tratado no blog, eles carecem de experiência de combate e operam blindados muito velhos. O autor chinês Benjamin Lai tentou pintar um quadro mais favorável ao PLA, mas terminou com uma obra de valor misto: enquanto as fotos são muito bonitas, a maior parte a cores, o texto é apenas a repetição da propaganda oficial do Partido Comunista Chinês, que unificou a China continental sob o comunismo maoísta em 1949.

O PLA é a definição das forças armadas chinesas seguindo o padrão soviético de usar Exército Vermelho ou Exército Soviético para a totalidade das suas forças armadas. O PLA chinês é constituído de: 

- Força Terrestre do Exército de Libertação do Povo, 
- Marinha do Exército de Libertação do Povo, 
- Força Aérea do Exército de Libertação do Povo, 
- Força de Foguetes do Exército de Libertação do Povo,
- Força de Apoio Estratégico do Exército de Libertação do Povo. 

O livro trata das forças terrestres, incluindo unidades não necessariamente ligadas ao exército (Força Terrestre do PLA), como a Polícia Armada Popular (PAP) e os fuzileiros navais que pertencem à marinha (oficialmente Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Exército de Libertação do Povo, encurtado para Corpo de Fuzileiros Navais do Exército de Libertação do Povo).

Distintivo do Corpo de Fuzileiros Navais do Exército de Libertação do Povo Chinês (中国人民解放军海军陆战队).

A China vem, há muito anos e escaldada da humilhação de 1979, tentando erguer uma força militar moderna, com certa ênfase na diminuição da dependência do número e movendo-se para uma ocidentalização baseada na absorção de equipamentos modernos, especialmente na informatização, e no aumento de unidades de elite: o seu Corpo de Fuzileiros Navais foi reativado em 1979 (trazendo linhagem de 1953), tendo 16 mil homens atualmente, divididos em 2 brigadas de 6 mil homens cada e guarnições com as típicas funções de fuzileiros navais, com previsão de aumento para 20 mil homens em breve; com uma terceira brigada sendo organizada a partir da transferência da 77ª Brigada de Infantaria Motorizada da Força Terrestre do PLA.

Os fuzileiros navais chineses são conhecidos por seus camuflados azuis.


Dado que as próximas guerras da China serão eminentemente navais com ênfase anfíbia contra ilhas no Pacífico, essa decisão faz completo sentido. Mesmo os americanos já estão se adaptando para combater essa nova capacidade anfíbia chinesa. A forma como essa modernização ocorre já é uma história completamente diferente, marcada mais pelos tropeços do que pelos acertos.

A China também se expande para a África e para a América Latina, mas de volta ao livro. 

A avaliação mais precisa do livro The Chinese People's Liberation Army since 1949: Ground Forces foi feita pelo Coronel Dr. R. A. Forczyk. O título dá a entender que as forças navais e aéreas serão tratadas em algum momento, mas sem anúncios até hoje, e talvez pela reação da resenha do coronel na época.

Natal Vermelho: A Incursão ao Aeródromo de Tatsinskaya em 1942.

Robert Forczyk é PhD em Relações Internacionais e Segurança Nacional pela Universidade de Maryland e possui uma sólida experiência na história militar europeia e asiática. Aposentou-se como tenente-coronel das Reservas do Exército americano, tendo servido 18 anos como oficial de blindados nas 2ª e 4ª divisões de infantaria dos EUA, e como oficial de inteligência na 29ª Divisão de Infantaria (Leve). O Dr. Forczyk é atualmente consultor em Washington, DC., e já publicou dezenas de livros, incluindo os dois volumes sobre a guerra blindada germano-soviética de 1941-45, sobre as operações Caso Vermelho (invasão da França), Caso Branco (invasão da Polônia), biografias de Walther Model e Georgy Zhukov, e um dos seus best-sellers Where the Iron Crosses Grow: The Crimea 1941-44 (Onde as Cruzes de Ferro Nascem: A Criméia 1941-44). Nota-se que suas palavras têm peso.

O título é baseado na famosa frase final do filme Cruz de Ferro.

À seguir a tradução da resenha de três estrelas.

Uma Exposição de Cães e Pôneis do PLA 

Por Robert A. Forczyk, 8 de abril de 2013.


Folheando o Exército de Libertação do Povo Chinês desde 1949: Forças Terrestres de Benjamin Lai, uma adição recente à série Elite da Osprey, fica claro que a China tem alguns uniformes e equipamentos muito atraentes. Obviamente, o autor não menciona que a única grande ação de combate bem-sucedida conduzida pelo PLA nos últimos trinta anos foi assassinar cerca de 3.000 dos seus compatriotas na Praça da Paz Celestial em junho de 1989 (referido aqui como um "episódio"). Essa é o problema básico deste volume: excelentes fotos, resumo completo da organização e do equipamento do PLA, mas acompanhado por uma sutil higienização da história. O autor menciona que o PLA esmagou a revolta tibetana, mas a atribui a uma trama da CIA - a idéia de que os tibetanos não querem fazer parte da China não é mencionada. Esse volume serve para destacar o progresso que o PLA fez na modernização de suas forças terrestres e não quer olhar para nada que o prejudique essa visão - como o fato do PLA ter muito menos experiência em combate do que qualquer outro grande exército do mundo. Muitos brinquedos, nenhuma experiência. Todo o problema da missão também é convenientemente ignorado (se é estritamente defensiva, por que todos esses paraquedistas, fuzileiros navais, tanques, mísseis, etc?). O autor também não discute a doutrina do PLA, embora isso fosse mais relevante do que todo o espaço que ele dedicou à Polícia Armada Popular (PAP). No geral, este é um volume interessante, mas deixa um leve sabor de propaganda.

"1º de outubro de 1949: Soldados do PLA marcham durante a primeira parada do Dia Nacional na Praça da Paz Celestial, em Pequim. Eles usam capacetes de aço japoneses capturados, e estão armados com fuzis-metralhadores tchecos ZB vz 26; nessa época o PLA tinha um arsenal heterogêneo de armas japonesas e daquelas tomadas do KMT chinês, incluindo armas portáteis tchecas, americanos e mesmo algumas britânicas. Note que estão estão marchando em uma cadência convencional - o 'passo do ganso' de estilo soviético ainda não havia sido adotado. (China Magazine)"

O volume começa com uma discussão sobre a origem do PLA - como a "ala armada do Partido Comunista Chinês" - e passa dez páginas resumindo suas principais atividades desde 1949. Ele fornece apenas dois parágrafos curtos sobre a Guerra da Coréia, o que não é muito considerando que esta foi a maior operação do PLA desde que foi criada, a Guerra de Fronteira Indo-Chinesa de 1962 recebe duas sentenças, embora essa tenha sido a única vitória clara alcançada pelo PLA sobre um adversário estrangeiro e demonstrou a adaptabilidade tática da China. Em contraste, o autor dá mais cobertura às curtas escaramuças sino-soviéticas em 1969 do que à Guerra da Coréia. Ele gasta cerca de 1 ½ páginas na Guerra Sino-Vietnamita de 1979, mas tenta colocá-la sob uma luz positiva (sem mencionar que a China atacou o Vietnã em apoio ao seu aliado genocida, Pol Pot). A maioria dos relatos sugere que uma força vietnamita muito menor surrou os invasores do PLA e que foi a China que "aprendeu uma lição". Quando ele chega a 1989, o autor se refere à Praça da Paz Celestial como uma "controversa operação de segurança interna" - ah, é verdade, é censurada na China, onde o autor reside. Também não há menção de que boa parte do PLA é desdobrado para invadir Taiwan, caso necessário.

Uniforme, distintivos e divisas do exército chinês.

Toda publicação da Osprey vem acompanhada de ilustrações de alta qualidade.


Na próxima seção, o autor discute a organização de nível superior do PLA e, em seguida, mergulha nas estruturas táticas até o batalhão, a companhia e o grupo de combate. Fiquei realmente surpreso com quantos cozinheiros existem um batalhão de infantaria do PLA - pelo menos 25. Ele então discute as principais armas de combate, incluindo blindados, aviação, tropas de forças especiais, paraquedistas e de mísseis. A maioria das fotos no volume é colorida e muito agradável, mas muitas das tropas parecem posadas. As legendas do autor indicam que muitas foram capturadas durante eventos militares em casas abertas e até as cenas "táticas" parecem encenadas. Olhando para os uniformes, o olho de um soldado pode notar que todos os uniformes e equipamentos parecem novos em folha - sem desgaste. Um grupo de combate de infantaria que se move ao lado de um IFV está terrivelmente amontoado - parece um 'ataque de onda humana' - e, apesar de seus novos capacetes e uniformes camuflados, eles estão usando sapatos de borracha e meias brancas dos anos 50. Uma patrulha de infantaria é mostrada com todos os membros da patrulha com os cadarços das botas desamarrados - eles tiveram que pedir as botas emprestadas para a foto? Adoro os tanques ZTZ-99 com jantes brancas nas rodas - que com certeza os tornam mais fáceis de detectar! No exército dos EUA, quando você vê todos os equipamentos polidos como aqui, é reconhecível como uma "Dog and Pony Show" (Exposição de Cães e Pôneis, "pra inglês ver") de para impressionar os visitantes e os ignorantes militares. As discussões das tropas das forças especiais e paraquedistas beira ao cômico, dando a impressão de que essas unidades são todas altamente capazes e equivalentes às melhores unidades ocidentais quando, na verdade, o PLA não tem saltos paraquedistas em combate a seu crédito e os saltos de tempos de paz são poucos e preciosos.



Contra-capa.

Nas seções finais, o autor discute recrutamento e uniformes. Ele sugere que o PLA esteja se movendo para uma força profissional, mas adicionar de 600 a 1.000 graduados por ano para um exército desse tamanho é uma gota num balde. Ele afirma que os sargentos podem se casar, mas que suas esposas só podem visitá-lo uma vez por ano - isso parece mais uma prisão do que um exército profissional. Apesar de suas afetações ocidentais modernas, o PLA ainda é majoritariamente uma força conscrita dominada pelo partido e pode ter armas do século XXI, mas ainda está usando uma abordagem dos anos 50 para seus soldados. Espero que o autor faça volumes nas forças naval e aérea, mas os leitores devem estar cientes de que essa é uma cobertura muito lustrosa, sem qualquer tentativa de uma avaliação equilibrada.


Yak:
A anexação do Tibete não foi muito diferente da invasão de um país como a Polônia. Este livro implica que a resistência à anexação tibetana era apenas uma trama americana, que se encaixa na narrativa de propaganda do governo da China de que o Tibete "sempre foi parte da China"; portanto, caso ela invadisse o Tibete, de alguma forma já o possuía. Dado o fato de que a liderança da China se opõe à noção de governo representativo, parece improvável que tudo isso seja apenas uma pequena nota de rodapé na orgulhosa marcha para a democratização.

R. A Forczyk:
Também é importante observar que tipicamente regimes que usaram força brutal em larga escala contra seu próprio povo, ou pessoas que consideram seu próprio povo, também não têm problemas em usar o mesmo tipo de força letal contra forasteiros. A história do Partido Comunista Chinês (PCC) - que administra o PLA - é de uso irrestrito da violência, conforme necessário. 

Ao contrário dos soviéticos, os chineses não têm ambições globais de espalhar sua forma de tirania, mas a defenderão contra todas as ameaças - incluindo qualquer cheiro de mudança democrática.

Yak:
Concordo plenamente. Fingir que a moralidade pode ser higienizada das atrocidades da história humana moderna não é um caminho que devemos seguir. Infelizmente, muitas pessoas que estudam a China geralmente ficam um pouco insensíveis aos problemas do seu regime autoritário, e convenientemente obscurecem ou ignoram problemas em nome de apontar para outro alguém que era supostamente pior. Os pecados das forças armadas americanas não são necessariamente melhores ou piores, mas pelo menos esse assunto está aberto à discussão. Na China, as forças armadas nunca fizeram nada errado e isso não pode ser questionado.

Chimonsho (Benjamin Lai?):
Suponho que esta resenha avalie o livro do PLA com precisão. Dito isto, definitivamente há espaço para uma gama mais ampla de pontos de vista entre os autores do Osprey, que Lai fornece (e observa em seu próprio comentário). Muitos livros da Osprey omitem grande parte do contexto político mais amplo, portanto este é bastante representativo a esse respeito, embora por razões diferentes.

Quanto à comparação do Holocausto oferecida pelo Sr. Forzyck, é um assassino de discussões confiáveis; como comparar significativamente o mal absoluto com outros fenômenos? A Praça da Paz Celestial foi um ultraje, mas muito menos destrutiva do que o Holocausto e, de fato, em grande parte um assunto interno. Acredito que isso será visto como um obstáculo na longa e rochosa estrada da China para um governo totalmente representativo. O Holocausto, no entanto, foi um divisor de águas na história judaica, européia e mundial. Maçãs e laranjas, além do recurso compartilhado à brutalidade.

R. A Forczyk:
Sr. Lai, 

Os problemas com este volume não são de espaço, mas de viés analítico. Não estou tentando atacar a China, que tem interesses legítimos de segurança, mas você precisa aprender a chamar as coisas pelo seu próprio nome se quiser escrever uma história militar equilibrada.

Quando você se refere ao massacre da Praça da Paz Celestial como uma "operação controversa de segurança interna", dá um tiro no pé, pelo menos no que diz respeito ao público ocidental. Seria semelhante a um autor alemão moderno que referindo-se ao Holocausto como uma "operação controversa de segurança interna".

Nota do Autor: Com tudo isto dito e representado, é recomendada a leitura do livro. As fotos são excelentes e a explicação da estrutura militar do PLA são muito boas e "valem o ingresso"; porém, o leitor deve estar atento e ler a narrativa de Benjamin Lai com um grão de sal, atento à repetição da propaganda do Partido Comunista Chinês.

Leituras recomendadas:





FOTO: Trincheira Constitucionalista

Trincheira de combatentes paulistas nos arredores de Amparo/SP durante a Revolução de Constitucionalista de 1932.

sábado, 28 de março de 2020

GALERIA: Bawouans em combate no Laos

Durante os pesados combates em Banh-Hine-Siu, pára-quedistas do 3º BPVN estão prontos para repelir os ataques dos "bô dôï" (soldados das formações regulares do Viet Minh) de dois regimentos da 325ª Divisão.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 28 de março de 2020.

Paraquedistas vietnamitas do 3e BPVN (3ème Bataillon de Parachutistes Viêtnamiens, apelidados "bawouans"), sob o comando do Chef de bataillon Mollo, engajados em pesados combates no Laos, no posto de Banh-Hine-Siu e na vila de Na Pho de 5 a 9 de janeiro de 1954, contra elementos da 325ª Divisão Viet Minh (Daï Doan 325).

As fotos de Ferrari Pierre para o ECPAD mostram o armamento típico dos paraquedistas franceses da fase final da Guerra da Indochina: fuzis e carabinas de coronha dobrável MAS 36 CR 39 e M1A1, submetralhadoras MAT 49, fuzis-metralhadores Châtellerault 24/29.

Em 9 de janeiro, um batalhão de paraquedistas vietnamitas tomou o posto de Banh-Hine-Siu, que ele teimosamente defendeu contra os combatentes do Viet Minh emboscados nas proximidades. Um lançamento de munição, a intervenção da artilharia e bombardeios com napalm os ajudam a contra-atacar os adversários entrincheirados nos arredores.

Ao mesmo tempo, combates de rua aconteceram na vila de Na Pho, onde um batalhão do Viet Minh passou a noite. Além do aspecto militar, o relatório da ação também citou refugiados do Laos que fugiram do avanço do Viet Minh, uma evacuação médica dos feridos por helicóptero e feridos aguardando tratamento.

Distintivo do 3e BPVN, em vietnamita Tien Doan Nhay Du 3 (TDND 3).

Anverso e reverso.

O 3e BPVN foi criado como parte do "amarelamento" ("jaunissement") do General Jean de Lattre de Tassigny - a criação de exércitos nacionais vietnamita, laociano e cambojano. A criação de formações paraquedistas indochineses começou em nível companhia, em 1948. Os quadros do 3e BPVN vieram da 10e CIP (10ème Compagnie Indochinoise Parachutiste), de 195 homens, incorporado ao 10e BPCP (10e Bataillon Parachutiste de Chasseurs à Pied, de tradição alpina e elevado a "groupement" por pouco tempo) de 1950 a 1952; comandada pelo Tenente Louis d'Harcourt, um futuro general, a companhia foi recrutada na região de Hanói, no Tonquim (norte do Vietnã).

3e Bawouan foi criado em 1º de setembro de 1952 com uma companhia de comando (compagnie de commandement de bataillon, CCB), e três companhias de combate (com a posterior adição de uma quarta), ele tinha um efetivo de cerca de 1.000 homens. O 3e Bawouan foi um dos cinco batalhões paraquedistas vietnamitas - 1º, 5º (que lutou em Dien Bien Phu), 6º e 7º BPVN - criados entre 1951 e 1954, e pertencendo ao Exército Nacional Vietnamita (Armée Nationale Vietnamienne, ANV); além do 1er Bataillon de Parachutistes Laotiens (1er BPL), do Laos, e o 1er Bataillon de Parachutistes Khmers (1er BPK), do Camboja.

O 3e BPVN participou das operações Mimosa (maio de 1953), Camargue (julho de 1953), Concarneau, Lamballe e Mont St Michel (agosto de 1953), Flandre (setembro de 1953) a operação no posto de Ban-Hine-Siu (janeiro de 1954) e Églantine (junho de 1954).

Os paras do 3e Bawouan mantêm o posto de Banh-Hine-Siu contra elementos da 325ª Divisão Viet Minh.

Bawouans carregam o cadáver de um camarada com um poncho usado de mortalha.

O soldado está usando um capacete de origem americana coberto com uma bandeira de sinalização para a aviação.

Durante um contra-ataque do 3º BPVN nos ferozes combates de rua de Na Pho, um paraquedista armado com um fuzil de coronha dobrável MAS 36 CR 39 capturou um fuzil alemão Mauser Karabiner 98K, equipado com sua baioneta, equipando os "bô dôï" (soldado das tropas regulares vietnamitas) da 325ª Divisão VM (Daï Doan 325).
À esquerda, um paraquedista e seu FM 24/29, à direita as pernas do Viet-Minh morto.

Elementos da 325ª Divisão do Viêt-minh se infiltraram dentro do posto de Banh-Hine-Siu, e os paraquedistas do 3º BPVN lançaram um contra-ataque para desalojá-los.

Um "bô dôi" que operava uma metralhadora Browning .30 (recalibrada em 7.62×54mmR) foi morto, com um paraquedista vietnamita trazendo a arma de emprego coletivo de volta para o posto de Banh-Hine-Siu, enquanto seus companheiros continuam a repelir uma infiltração inimiga.

Protegidos em uma trincheira, os paraquedistas de uma equipe de morteiro lutam contra a 325ª Divisão Viet Minh, ao redor do posto de Banh-Hine-Siu.

Os paraquedistas do 3º BPVN defendem o posto de Banh-Hine-Siu.
À esquerda, o soldado está armado com um fuzil-metralhador M 24/29 de 7,5mm.

Um paraquedista ferido é confortado por um camarada.
No fundo, outro paraquedista vietnamita ferido, com um fuzil MAS 36 CR 39 em bandoleira.

Paraquedistas aproveitam uma pausa para relaxar e saciar a sede.
O paraquedista no centro segura uma baioneta alemã do Mauser Karabiner 98K, capturada do inimigo.

Um paraquedista, o cinto contendo granadas defensivas MK 2 e DF 37, traz para cobertura um companheiro de combate ferido no rosto.

Um paraquedista, armado com um fuzil MAS 36 CR 39, ferido no pescoço durante fortes combates no posto de Banh-Hine-Siu. 

Paraquedistas feridos durante a defesa do posto de Banh-Hine-Siu.
O paraquedista à direita está usando um capacete francês modelo 51, enquanto seu camarada é protegido pelo capacete de paraquedista de origem americana, mais comum na época na Indochina.

Em Banh-Hine-Siu, um paraquedista do 3º BPVN depena galinhas compradas na aldeia para melhorar a ração individual da base, uma das quais é cozida em fogo de bambu.

Um oficial da 3ª BPVN conversa com uma laociana de Banh-Hine-Siu.

Retrato de um Viêt-Minh ferido durante os combates em Banh-Hine-Siu.

Bônus:


Foto do autor com um bawouan veterano da Indochina e da Argélia.

Pôster de alistamento nas forças paraquedistas vietnamitas.

sexta-feira, 27 de março de 2020

A Companhia de Fuzileiros na campanha da Itália

General Mark Clark passa em revista fuzileiros brasileiros na Itália.

Pelo General Everaldo José da Silva, Revista do Exército Brasileiro Nº 121 (1): 60-82, janeiro-março de 1984.

I – Introdução

Na qualidade de comandante de uma companhia de fuzileiros da Força Expedicionária Brasileira (FEB) não poderia me furtar a transmitir impressões sobre como vi o emprego da companhia durante a guerra, na Itália.

Assim, atendendo a convite da Revista do Exército Brasileiro, após decorridos quase 40 anos, eis-me voltando aos tempos de capitão, à frente de uma subunidade – a 1ª Companhia do Regimento “Sampaio” – a unidade de infantaria com que o então Distrito Federal contribuiu para organizar a FEB.

Não foi muito fácil, confesso, reorganizar muitas idéias e rever aquela pequena coluna de combatentes nas diferentes ações de que tomou parte.

6º RI de volta a São Paulo, 1945.

Às vezes, chegou-me a fugir da memória o que tanto me preocupara na época para o cumprimento da missão determinada – o que fazer, como fazer e quando fazer – e como foi feito, na realidade.

Ouvindo melhor o subconsciente, porém, foi-me ele ainda fiel e consegui reunir as idéias adiante transcritas, todas elas pautadas na mais legítima lealdade para com aquele pugilo de bravos que tive a honra e a felicidade de comandar.

É possível, é evidente, que a outro comandante de companhia de fuzileiros poderá parecer estranha alguma conceituação que hoje trago a registro com o único propósito de servir a estudos pormenorizados que se desejar fazer a respeito da guerra na Itália, da doutrina de ontem em paralelo com a que se realiza hoje em nosso Exército Brasileiro, que nos parece muito benéfico à chegada de conclusões no aprimoramento do emprego das armas, mui especialmente da subunidade de infantaria, cuja missão no combate é, no ataque, aproximar-se o mais possível do inimigo para destruí-lo ou capturá-lo, tomando-lhe a posição, e na defensiva, repelir o avanço inimigo pelo fogo, mantendo, a todo custo, a posição ocupada.

Procurei n este registro focalizar as fases mais importantes em que a companhia de fuzileiros foi empregada durante a campanha, descrevendo fatos e comportamentos, através de informações colhidas do batalhão, em relatórios escritos e orais, e por meio de companheiros de fileira que comigo conviveram na guerra e após seu término.

Para isso, seguiremos o sumário elaborado justamente sob as idéias enumeradas e que norteará o presente trabalho.

II – Organização

A companhia de fuzileiros tipo FEB, compunha-se da seção de comando, três pelotões de fuzileiros e um pelotão de petrechos, este correspondendo ao pelotão de apoio na atual organização, com menor poder de fogo, evidentemente, em face da presença, no atual pelotão de apoio, da seção de morteiros 81 e outra, de canhões sem-recuo, principal meio de defesa a serviço da companhia.

Em ligeira observação, verifica-se que a atual organização possui maior poder de fogo e mais autonomia em combate, por poder dispensar o acompanhamento, em determinadas missões, da companhia de apoio do batalhão.

O pelotão de petrechos da companhia tipo FEB possuía, além de uma seção de metralhadoras leves .30, uma seção de morteiros 60 mm. Além desse armamento, a companhia possuía uma metralhadora .50, arma geralmente empregada contra viaturas de qualquer tipo e contra a aviação inimiga.

À falta de armamento de maior potência na companhia de fuzileiros, o batalhão reforçava as companhias segundo as missões, com suas seções de metralhadoras pesadas e morteiros 81.


Evidentemente, a atual organização dá à companhia maior liberdade de ação em combate, maior autonomia.

Não se deve inferir daí, entretanto, que a organização tipo FEB tenha sido insuficiente para atuar nos idos de 40, na II Grande Guerra. O batalhão supriu essa necessidade.

A companhia de fuzileiros era mais fluída, menos pesada, mais leve, em detrimento, é lógico, de sua capacidade de combate.

Forçosamente, a mecanização, a blindagem, meios e princípios generalizados no modo de combater hoje, foram aperfeiçoando a organização atualmente existente.

Quanto a efetivo, a companhia tipo FEB possuía da ordem de 200 homens. Seus pelotões possuíam 41 homens, inclusive um 3º sargento orientador; fora o capitão comandante e o 1º tenente subcomandante, a seção de comando constava de 33 praças.

No que se refere a armamento, o fuzil (arma individual) usado era o Springfield ou Garand, hoje substituídos pelo FAL.

As metralhadoras eram leves – ponto 30, e pesadas – ponto 50.

Além disso, como já nos referimos anteriormente, a companhia possuía três morteiros 60, hoje distribuídos aos pelotões de fuzileiros.

Sobre transporte, a companhia possuía duas ou três viaturas ¼ de tonelada (jeep) para o comando da companhia e usadas para carregar o material do pelotão de petrechos, nos grandes deslocamentos.


O equipamento da Seção de Comando, inclusive os sacos de lona, eram transportados em viaturas do batalhão.

Parece-nos merecer especial enforque a questão do uniforme.

Era ele de lã verde-oliva, que resguardava o homem da inclemência do clima europeu, nos meses de inverno. Além da calça e blusa, foi distribuída uma jaqueta, à semelhança de nossa japona, porém oferecendo vantagens por ser de duas faces, uma delas forrada de lã que aquecia a contento.

Foram também distribuídas galochas de borracha que resguardavam os pés da friagem, evitando o conhecido problema do “pé-de-trincheira”. Para forrar o capacete, havia um gorro de lá que protegia a cabeça e os ouvidos do vento, da neve e do frio.

Aos motoristas, foi pago um par de óculos especiais de forma a proteger os olhos da neve e do vento quando na direção.

Em síntese muito ligeira, aqui estão elementos que constituíram características da companhia tipo FEB. Poderíamos entrar em outras minudências, lembrando, por exemplo, a capa branca, o forro branco da barraca, com o objetivo de mascarar, camuflar, no lençol branco que cobre a Itália nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro e outras peças que o Exército Norte-Americano, a quem cabia apoiar a FEB no aspecto, distribuiu às forças brasileiros.

Não julgo, porém, de real importância para o objetivo do trabalho e, por isso, passo a considerações sobre o emprego da companhia em combate.

III – Emprego


Não pretendemos examinar o emprego da companhia tipo FEB em todas as fases do combate.

Preferimos adiantar desde já que fugiu bastante ao que se ensina e se aprende na teoria. Na prática, as missões atribuídas às unidades eram bem superiores ao que normalmente se via nos manuais e se exercitava em paz. As frentes de ataque e de defesa, os objetivos a conquistar e as posições a guardar, a manter, distribuídas à companhia tipo FEB, eram mais amplas do que previam os regulamentos, aconselhavam os princípios táticos. Entretanto, eram missões ... E missões se cumprem com os meios disponíveis.

Atribuímos esse distanciamento da teoria o fato da escassez de forças no teatro de operações italiano, à situação em si. Essa não observância às possibilidades ideais da subunidade acarretava dificuldades no desenrolar do cumprimento da missão.

No âmbito do batalhão, provocava verdadeiros vazios entre as subunidades ao ameaçar os flancos. Dificultavam as ligações entre elas e o comando do batalhão se sentia algumas vezes sem poder influir sobre o combate dada a falta de ligações, pelo rádio 111, que falhava em momentos precioso para a conduta da operação.

No âmbito da companhia, entre os pelotões, ocorria o mesmo problema, pois nem o fio, nem o rádio, nem o mensageiro funcionavam a pleno êxito nessas oportunidades em que o bombardeio da artilharia e de morteiros inimigos era desfechado sobre a coluna atacante, sobre os núcleos de defesa de uma posição.

Em face desses problemas, ocorria também a pouca disponibilidade de meios para constituir a reserva, princípio que garante a manutenção do impulso na ofensiva, e na defensiva assegura o combate para a defesa de uma posição tomada ao inimigo.

Como exemplo gritante, citamos a ação de 21 de fevereiro de 1945, sobre Castelo, em que o comandante do I Batalhão do Regimento “Sampaio” usou um pelotão da 1ª Companhia como elemento de segurança imediata dos elementos de comando do batalhão que acompanhava o ataque, ficando assim aquela subunidade com dois pelotões somente para cumprir a missão que lhe fora atribuída, de atacar à retaguarda e à esquerda do dispositivo do batalhão, em ligação com os elementos mais da direita da 10ª Divisão de Montanha, que fora lançada sobre a crista do conjunto Belvedere - Monte Gorgolesco - Capela de Ronchidos – Della Torracia. E observe-se ainda que, para essa operação, o batalhão solicitou e obteve o reforço da 5ª Companhia (do capitão Waldir Moreira Sampaio) ao regimento de infantaria, fato também que não nos parecia muito usual na teoria, mas que, segundo sentiu o major comandante do I Batalhão, se tornava imprescindível para que o ataque fosse reanimado e crescesse de ímpeto, o que realmente ocorreu, com absoluta segurança.


Na defesa, quase sempre, os dispositivos eram muito dispersos, as frentes largas demais, determinando a leitura cuidadosa de um plano de fogos em que estes se cruzassem evitando vazios, trechos não batidos.

Os pelotões ocupavam pontos críticos não permitindo que guardássemos reservas no âmbito da companhia.

O batalhão quase sempre preferia suprir essa dificuldade, colocando uma companhia ou mesmo o pelotão em condições de atuar na frente vulnerável, ameaçada.

O problema, porém sempre existiu: frentes superiores às possibilidades dos meios, determinando cuidadosa vigilância, inclusive por meio de pequenas patrulhas à noite para evitar surpresas desagradáveis.

Sobre patrulhas, reservamos um item especial, dado seu largo emprego em campanha, em particular nos meses em que o inverno italiano obrigou aos aliados a fazerem uma parda na guerra de movimento, aproveitando para recompletarem seus efetivos, reorganizarem-se para a grande ofensiva da primavera, enquanto o degelo bloqueava as estradas.

IV – Patrulhas

Patrulha na região da Torre di Nerone, 1944.

Como todos sabem, os meses de defensiva na Itália tiveram como ações de movimento, agressivas, as conhecidas patrulhas do “pracinha”, que se infiltrava nas linhas inimigas em busca de informações, em busca de prisioneiros e para precisar melhor as posições que nos incomodavam de dia e à noite com tiros de metralhadoras e fogos de artifício, para irritar o nervo brasileiros que, a pouca distância, às vezes, chegava a sentir os preparativos e ouvir suas conversas no idioma alemão.

Segundo a missão que recebia, a patrulha se dizia:

- de Reconhecimento

- de Combate

- para fazer prisioneiro.

Prisioneiros alemães.

Não vamos definir os diferentes tipos de patrulha, convindo porém focalizar que a de combate normalmente tinha por missão “se possível” ocupar a posição inimiga, expulsando, destruindo ou capturando seus ocupantes e, por isso, era considerada de maior importância e de maior responsabilidade para os patrulheiros.

As patrulhas tanto se realizavam durante o dia como à noite, tudo em função dos fins a que deveriam servir ao escalão que as determinava.

Eram constituídas desde pequenas esquadras de ligação até o pelotão reforçado, que tinha por missão enfrentar o adversário (tendo em vista o combate para ocupar posição, desalojando dela o ocupante) ou capturar prisioneiro.

Normalmente, as patrulhas vinham em ordem escrita do batalhão, que agia por iniciativa própria ou por ordem do regimento.


Ao chegar a ordem à subunidade, os homens que constituiriam a patrulha eram cuidadosamente selecionados, segundo a missão a que seria levados.

O estudo da missão “ordem de patrulha” começava com a interpretação do documento, por parte, inicialmente, do comandante da companhia, e posteriormente, em conjunto com o oficial ou sargento designado.

Eram fatores a pesar nesse estudo os seguintes dados:

- missão

- terreno, principalmente o objetivo, o local até onde deveria chegar a patrulha, os itinerários de ida e de regresso, os acidentes mais importantes do terreno a percorrer, trechos minados etc.

- inimigo, natureza e efetivo do inimigo com que provavelmente os patrulheiros iriam encontrar.

Esse estudo era feito inicialmente na carta, e, posteriormente, no terreno, de um posto de observação (PO) de onde seria abarcada a maior extensão da área a percorrer. Quando possível, aos patrulheiros de maior responsabilidade no cumprimento da missão era mostrado no terreno o processo de como deveria cumprir sua tarefa no conjunto da patrulha.


Conforme a importância da missão, o batalhão acionava seus morteiros e o observador avançado da artilharia para apoiar a patrulha em caso de necessidade. Houve um pelotão que, durante uma “patrulha de ocupação” de dia, recebeu apoio de fogo de artilharia, que assegurou seu retorno às bases, isolando elementos inimigos que procuravam cercar, envolver a patrulha, mediante uma progressão protegida por pequena dobra do terreno. Não fosse o desencadeamento do fogo previsto e a patrulha teria sido severamente castigada por sua audácia em penetrar nas linhas inimigas em as conhecer devidamente.

Ao término da missão, de retorno às linhas inimigas, cabe ao comandante da patrulha fazer relatório oral pormenorizado ao comandante da companhia, que o transmite, imediatamente, ao comandante do batalhão, por intermédio do oficial de permanência, de forma que as informações se tornem úteis e não percam em sua validade por decurso de tempo.

O General Crittenberger, comandante do IV Corpo americano, aperta a mão do 3º Sgt. Onofre de Aguiar que acabou de retornar com a sua patrulha, novembro de 1944.

Além das informações orais, é feito um relatório por escrito o m ais explícito possível, registrando-se, de preferência, a natureza do inimigo, quanto a efetivo, armamento e missão.

Acompanha o relatório um croquis onde eram amarradas as resistências (PO e postos de comando, PC), com os meios de comunicação usados pelo inimigo.

Quanto a prisioneiros, estes não devem permanecer por muito tempo no PC da companhia. Devem ser encaminhados o mais cedo possível ao PC do batalhão.

Assim se procedia na Itália.

Em anexo, um Relatório de Patrulha, elaborado pelo então tenente Carlos Augusto de Oliveira Lima, comandante de uma patrulha, à base de pelotão reforçado.