sábado, 4 de abril de 2020

ENTREVISTA: Um olhar mais profundo sobre a interferência militar dos EUA na Venezuela

Soldados venezuelanos participam das comemorações do desfile da independência, 5 de julho de 2018. (Marco Bello/ Reuters)

Por José Negrón ValeraJesús Mieres Vitanza, Sputnik News, 20 de julho de 2018.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 4 de abril de 2020.

[Nota do Tradutor: As opiniões expressas nesse artigo são dos autores e não do Warfare Blog. A relevância desse artigo é a visão "bolivariana revolucionária" em sua luta contra os Estados Unidos capitalista.]

"Desde 2001, a própria idéia de guerra mudou além de um caso estritamente militar".

Na véspera do Dia da Independência da Venezuela, comemorado em 5 de julho, uma reportagem publicada pela AP, especificando as observações de Donald Trump sobre a invasão da Venezuela, voltou a suscitar preocupações no país latino-americano.

O colunista do Sputnik Mundo, José Negrón Valera, analisou a situação com Jesús Mieres Vitanza, diretor da Topo el Molino (Topo do Moinho), que monitora a situação internacional em áreas como política externa, segurança e planejamento estratégico.

Operadores da 99ª Brigada de Operações Especiais, Comando de Operaciones Especiales General en Jefe Félix Antonio Velásquez, Exército da Venezuela.

Sputnik: Alguns dias atrás, a Associated Press publicou um artigo sobre uma reunião na Casa Branca em 2017, na qual Trump discutiu a possibilidade de intervenção militar na Venezuela. Você acha que esse desenvolvimento é possível?

Jesús Mieres Vitanza: A intervenção militar dos Estados Unidos é bem possível na perspectiva de curto, longo e médio prazo. No entanto, essa opção corresponde apenas ao paradigma político que está mudando gradualmente.


Com isso, quero dizer que, de acordo com o paradigma que alguns autores classificam como pós-Vestfália, a intervenção dos EUA nos assuntos da Venezuela não será apenas militar; desde 2001, a própria idéia de guerra mudou de um caso estritamente militar para um cuja natureza pode ser conectada a alguma outra dimensão.

A esse respeito, devemos nos perguntar: os Estados Unidos já intervieram em nossos negócios? Eu diria que sim, e a intervenção militar seria apenas outro meio pelo qual os EUA atacam a Venezuela. No entanto, a operação militar custaria caro a Washington, pois essas ações agravariam ainda mais a crise de confiança e liderança dos EUA na região da América Latina.

Sputnik: Qual pode ser o motivo da intervenção militar?

Jesús Mieres Vitanza: Após a publicação do livro de Michael Hardt e Antonio Negri "Empire" em 2000, ficou claro que a existência de uma fase de transição do imperialismo era real. Quero dizer que atualmente existe um império criado pelos Estados Unidos que transcende suas fronteiras geográficas e funciona em estreita conexão com os aliados políticos estratégicos dos Estados Unidos e de várias empresas multinacionais.

Empire.
Michael Hardt e Antonio Negri.

A Venezuela com a vitória de Hugo Chávez nas eleições de 1999 tornou-se um símbolo desse confronto com o império. Isso significa que a guerra que está se desenrolando aqui, como resistência aos Estados Unidos, é vista em Washington como uma guerra contra os bárbaros.

A natureza da luta que Caracas travou contra os Estados Unidos é uma guerra contra a própria guerra. Portanto, é importante entender a estratégia de várias organizações, agências e instituições dos EUA, porque elas criarão uma guerra com características especiais, onde o componente militar será apenas parte de uma enorme tática.

Milicia Nacional Bolivariana de Venezuela em manobras contra os EUA em 2017.

Sputnik: Quais condições devem surgir para intervenção ou ataque militar direto dos EUA, do qual você está falando?

Jesús Mieres Vitanza: Essas condições já foram criadas. Somos uma ameaça porque temos valores, mentalidade, objetivos, ideologia e parceiros estratégicos diferentes dos Estados Unidos. É por isso que digo que os interesses de Washington vão além do desejo de controlar algum objeto estrategicamente importante para eles. A questão é subordinar, mesmo ontologicamente, sua vontade a uma nação que não é epistemologicamente* semelhante aos Estados Unidos.

*NT: Epistemologia é o ramo da filosofia preocupada com a teoria do conhecimento; sendo o estudo da natureza do conhecimento, justificação e racionalidade da crença.

Sputnik: Quais são as implicações para a Venezuela e toda a região?

Jesús Mieres Vitanza: Eles já nos afetaram. E não se trata apenas do efeito econômico, da ausência de alguns bens, mas também de coisas mais abstratas. Já existem muitas pessoas para quem a incerteza de suas vidas diárias tem um impacto psicológico.


Estamos isolados de outros países e nações, de modos de pensar; portanto, existimos isolados, mesmo em direção ao acesso às idéias. Não podemos entender em que estágio estamos passando, se não podemos vê-lo de uma perspectiva diferente. A falta de acesso a idéias significa que não podemos entender como eles irão fazer guerra contra nós.

É por isso que digo que as conseqüências nos níveis local e regional são devastadoras. Em princípio, é porque estamos experimentando um estágio de relativismo pronunciado. Há muitas pessoas que duvidam do que é bom, do que é ruim, do que é economia, ideologia e até da guerra.

Sputnik: Muitos acreditam que a Colômbia se tornará uma plataforma para os EUA atacarem a Venezuela? Qual o papel das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército Popular (FARC) nesse caso?

Jesús Mieres Vitanza: É possível que os EUA estejam usando a Colômbia como plataforma para esse fim. Também é possível que o objetivo de tal operação possa ser a disseminação do caos e o desmembramento do interior do país do coração venezuelano, ou seja, Caracas.


No entanto, é importante analisar o papel de vários grupos e grupos que operam nas zonas limítrofes da Venezuela. Não se trata apenas das FARC, mas também de grupos radicais criminosos, bem como de estruturas estatais que operam secretamente nesta zona. É necessário analisar os interesses de cada um dos jogadores.

Sputnik: O que você acha, qual poderia ser a resposta dos aliados da Venezuela, Rússia e China em caso de ataque? Qual deve ser a escala de agressão, para que esses países se tornem mais ativos? Você acha possível que eles forneçam apoio militar? Ou eles serão limitados a declarações diplomáticas?

Jesús Mieres Vitanza: No caso de ação militar na Venezuela, a Rússia e a China participarão ativamente do conflito, principalmente porque seu comércio e interesses econômicos estarão sob ataque. Todos os políticos e funcionários da Venezuela são responsáveis por garantir que a conexão entre Caracas e os dois países seja fortalecida, para que sua participação seja a favor da Venezuela e não vice-versa.

Sputnik: A Venezuela poderá responder por ação militar no caso de um ataque dos Estados Unidos?


Jesús Mieres Vitanza: As forças armadas do país estão fazendo grandes esforços para modernizar todo o sistema e mantê-lo em ótimas condições. Mas talvez a vantagem mais importante da Venezuela seja saber quem é seu inimigo, conhecer todos os tipos de cenários militares, suprir cada uma das regiões estrategicamente importantes do país e formular uma doutrina de defesa para cada uma delas, para manter o moral das forças armadas e explicar-lhes qual é o seu propósito.

A Venezuela já tem uma resposta militar a um possível ataque dos Estados Unidos. É necessário entender claramente qual é o centro de gravidade do exército atacante para acabar rapidamente com essa intervenção estrangeira, guiada pelo objetivo estratégico de restaurar o controle sobre o território e minimizar as perdas entre pessoas e recursos.

Sputnik: Você acha que os Estados Unidos tentarão cometer atos violentos para promover o que os analistas chamam de "balcanização" ou a destruição do Estado-nação venezuelano?

Jesús Mieres Vitanza: Eu acredito que os Estados Unidos podem tomar qualquer ação apenas para desestabilizar a Venezuela e pôr um fim ao governo bolivariano. No entanto, acredito que primeiro eles tentarão alcançar o controle total do território através de várias manobras políticas, antes de desmembrar o Estado. Basicamente, quando o estado-nação for destruído, eles assumiriam riscos estratégicos, como, por exemplo, a participação de potências como Rússia e China no surgimento de novos estados.

A equipe do Exército Venezuelano no biatlo de tanques nos Jogos Internacionais do Exército Russo, 2015. (Evgeny Biyatov/ RIA Novosti)

Sputnik: O que a Venezuela deve fazer para evitar a invasão ou repeli-la?

Jesús Mieres Vitanza: O exército do país está fazendo grandes esforços, realizando pesquisas sobre o que podem ser as ações da Venezuela no caso de um conflito militar envolvendo uma invasão estrangeira no país.


No entanto, uma posição muito valiosa da doutrina atual é acreditar que os EUA, embora ainda não tenham se intrometido, estão cercando a Venezuela todos os dias para desestabilizar a nação e criar caos em larga escala. Isso fortalece o estado de impossibilidade de gerenciamento e justifica o que eles chamam de "intervenção humanitária".

A criação de novas abordagens estratégicas e até a compreensão das abordagens inimigas ajudarão a garantir uma resposta eficaz das forças armadas da Venezuela em qualquer situação interna vulnerável ou perturbada por uma ameaça estrangeira.

Leitura recomendada:



sexta-feira, 3 de abril de 2020

GALERIA: Tanques Valentine no serviço soviético

Tanques de Infantaria Mk. III Valentine II saídos da fábrica  na Inglaterra, prestes a serem enviados para a URSS outono de 1941. A placa diz "Toda ajuda para a Rússia agora!".

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 3 de abril de 2020.

Durante a guerra, e especialmente nos primeiros anos, os aliados ocidentais forneceram à União Soviética vultoso auxílio material, militar e de primeira necessidade, sob o sistema de Lend-Lease (Empréstimo e Arrendamento). Estes Valentines enviados em 1941 lutaram na Batalha de Moscou (2 de October de 1941 – 7 de janeiro de 1942), quando os soviéticos lançaram tudo o que tinham na defesa da sua capital.

Saída do primeiro Valentina para a União Soviética, 28 de setembro de 1941.


Desembarque de tanques Matilda na União Soviética em 1941.

Os Matildas não fizeram tanto sucesso entre os soviéticos quantos os Valentines.

O Valentine foi criticado pelos soviéticos por sua baixa velocidade e canhão anêmico, mas era bem quisto devido ao seu tamanho reduzido, confiabilidade e boa proteção blindada. O Comando Supremo soviético pediu que a produção do Valentine continuasse até o fim da guerra, servindo aos soviéticos em funções de segunda linha. Em agosto de 1945, o 267º Regimento de Tanques equipado com 40 Valentines III e IX avançou do leste do Deserto de Gobi através das montanhas do Grande Khingan até Kalgan, na Mongólia Interior, dentro da China.



Valentine soviético sob fogo.
Valentine Mk IX soviético na Ofensiva do Dnieper, 1943.

Valantine com o típico costume soviético dos "tank desant", infantaria pegando carona em tanques.

Valentine destruído com o grito de guerra "Por Stálin!".

Valentine destruído em fevereiro de 1944.

Valentine da 3ª Frente Bielo-Russa entrando em Vílnius, capital da Lituânia, em julho de 1944.  

Soldado alemão inspecionando um Valentine completamente destruído.

Valentine destruído com o típico grito de guerra "Za Stalina!" (Por Stálin!).

Valentine soviético com camuflagem de inverno.

Valentine VII fabricado no Canadá em serviço na União Soviética.

Tanquistas soviéticos com Valentines.


Bibliografia recomendada:

Tanques soviéticos do Empréstimo e Arrendamento na Segunda Guerra Mundial, Osprey Publishing.

Leitura recomendada:

terça-feira, 31 de março de 2020

FOTO: Partisans italianas em Castelluccio


Mulheres partigiani italianas em Castelluccio, na Itália, fazendo manutenção de armamento enquanto aguardam sua vez de participar em uma patrulha com o 5º Exército Americano em 11 de fevereiro de 1944.

Bibliografia recomendada:

World War II Partisan Warfare in Italy.
Pier Paolo Battistelli e Piero Crociani.

Leitura recomendada:

FOTO: Prisioneiros alemães na Itália26 de março de 2020.

FOTO: Cemitério alemão na Itália8 de abril de 2020.

GALERIA: Reencenação do salto no Passo de Mitla


Em 29 de outubro de 1956, o 890º Batalhão Paraquedista israelense iniciou a Operação Kadesh saltando 241km dentro do Sinai egípcio, tomando posições no Passo de Mitla ao amanhecer.

Em 29 de outubro de 2016, 60 anos após a Operação Kadesh, o 890º Batalhão Paraquedista  reencenou o salto mitológico na cultura militar israelense. Os paraquedistas saltaram com o moderno pára-quedas T-11 "Cegonha".

Paraquedistas do 890º Batalhão Paraquedista em tocas no Passo de Mitla, movimento inicial da Operação Kadesh, em 29 de outubro de 1956.
(Foto de Avraham Vered para o jornal do exército Ba'machane)

Versão colorizada.

Aguardando o amanhecer.

Equipados e prontos.

Embarcando.

Chuva de velame n'aurora.

O velame quadrado do T-11.

Aterrissagem mais suave que usando o T-10.

Jovens paraquedistas com um veterano do salto no Passo de Mitla em 1956.

Leitura recomendada:

59 anos após o último uso em combate, por que os paraquedistas de Israel precisam de novos pára-quedas?

Pára-quedistas das FDI a bordo de um C-130 Hércules, equipado com bolsa de equipamentos e prontos para serem enganchados a uma linha estática no avião, em 17 de janeiro de 2012. (Crédito da foto: Unidade Porta-Voz das FDI)

Por Mitch Ginsburg, The Times of Israel, 19 de janeiro de 2015.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 31 de março de 2020.

[Nota do Tradutor: A relevância desse artigo é a discussão sobre o perigo de estendidos tempos de paz, quando o governo civil começa a ver as capacidades operacionais dos seus militares meramente como gastos inúteis sem contraparte política.]

A IDF está lançando o Stork (Cegonha), um pára-quedas fabricado nos EUA que é mais seguro, pode suportar mais peso e permite uma aterrissagem mais suave. Mas quem salta de aviões na guerra moderna, afinal?

Após mais de cinco décadas de serviço e apenas um chamado para combater, o exército israelense decidiu, em meio a restrições orçamentárias, substituir os paraquedas antigos por um novo modelo fabricado nos EUA.


O novo formato quadrado do T-11.

O T-11, conhecido como Stork (Cegonha) em Israel, não é dirigível, como seu antecessor, mas sua cobertura quadrada permite suportar mais peso ao mesmo tempo em que oferece um pouso mais suave - um recurso que, centenas de milhares de paraquedistas israelenses podem atestar, foi extremamente carente no modelo anterior. Foi usado pela primeira vez em um curso de treinamento no início deste mês [janeiro de 2015] e servirá à Brigada Paraquedista a partir da classe de novembro de 2014 em diante.


Os pára-quedistas da Força Aérea do Bangladesh saltam de uma aeronave C-130 HÉrcules da Força Aérea dos EUA sobre o Bangladesh durante o exercício Cope South 14, em 10 de novembro de 2013, com pára-quedas T-10.

"Nosso objetivo é saltar de pára-quedas uma grande força de tropas, rapidamente, em uma determinada área", disse o comandante da escola de salto das FDI, Major Elad Grossman, à revista semanal do exército Ba’machane na semana passada. "E o novo pára-quedas Stork permite que isso aconteça no menor espaço de tempo e com o maior grau de sigilo."



O novo pára-quedas tem muitas vantagens sobre o modelo anterior Tzabar. Ele pode ser lançado a partir de um avião em movimento a uma velocidade maior, o que significa que o volumoso avião de carga Hércules usado para essas missões - um alvo fácil para os modernos mísseis antiaéreos - passará menos tempo sobre o solo inimigo. Ele também vem com um pára-quedas reserva que pode ser aberto com qualquer uma das duas mãos - o Tzabar era apenas para a mão direita, o que apresentava um problema no caso de, digamos, um braço quebrado - e que se abre longe do corpo, reduzindo as chances de emaranhamento com o pára-quedas principal. E há um controle deslizante embutido que evita que os cabos se torçam sob o velame, um problema comum no modelo antigo.



E, no entanto, cerca de 59 anos após o último lançamento em combate de tropas das FDI em paraquedas, há poucas provas de que paraquedistas sejam necessários no campo de batalha moderno.

Saltando de volta no tempo

A primeira pessoa a compreender as tropas modernas no ar, Benjamin Franklin, foi inspirada por uma ascensão de balão de ar quente em 1783. Ele considerou a invenção uma "nova reviravolta nos assuntos humanos", que poderia "convencer os soberanos da loucura das guerras". Seu raciocínio, escrito em uma carta de 1784, era que 5.000 balões, carregando dois homens cada, custariam menos de cinco navios e devastariam um inimigo.

“Onde está o príncipe que pode se dar ao luxo de cobrir seu país com tropas para sua defesa, para que dez mil homens descendo das nuvens não possam, em muitos lugares, fazer uma série infinita de estragos antes que uma força possa ser reunida para repeli-los?" ele se perguntou*.

*NT: A bibliografia de língua inglesa, especialmente a americana, gosta de mencionar esta carta de Bejamin Franklin como a primeira idéia sobre o uso de paraquedistas, mas outros já haviam pensado a respeito, como o czar russo Pedro, o Grande (1682-1725) que escreveu sobre o seu sonho de um "corpo voador... uma força constituída de tal forma que poderia agir sem sobrecarga em todas as direções... e mandar de volta informações confiáveis das atividades inimigas... à disposição do general, seja para isolar o inimigo, privá-lo de passagem, atacar sua retaguarda ou cair sobre seu território e criar uma distração." O pára-quedas moderno foi inventado décadas depois por Louis-Sébastien Lenormand na França, que fez o primeiro salto público registrado em 1783, o mesmo ano que Franklin assistiu a ascensão de um balão e um ano antes da sua carta. Os russos foram pioneiros na criação de formações paraquedistas, influenciando os franceses e alemães em 1934, e sendo os primeiros a saltarem em combate na Finlândia em 1939.



Cerca de 156 anos depois, em abril de 1940, as tropas alemãs Fallschirmjäger testaram a teoria, saltando de pára-quedas na Dinamarca e na Noruega e, mais tarde, na Holanda. Os Aliados retribuíram com uma série de assaltos paraquedistas. Os resultados foram mistos. A novidade desapareceu junto com o elemento surpresa; o preço do sangue costumava ser alto.

O empreendimento sionista, no entanto, conquanto o genocídio na Europa atingiu seu estágio final e febril, enviou 39 de seus melhores homens e mulheres para serem treinados e aerotransportados pelos britânicos para a Europa ocupada pelos nazistas.


Hannah Senesh vestindo um uniforme do exército húngaro como uma fantasia do Purim.

Desses, 26 foram desdobrados, geralmente em suas terras natais; sete foram descobertos e mortos, por execução ou em campos de extermínio. O mais proeminente entre eles, pelo menos na morte, foi Hannah Senesh, que foi torturada e morta pela Gestapo na Hungria, mas cuja lenda desempenhou um papel enorme na formação da luta e no etos literário sionista.


Em junho de 1948, apenas um mês após a Declaração de Independência de Israel e em meio a uma guerra em andamento, as recém-formadas FDI, impressionadas com o heroísmo dos paraquedistas da Segunda Guerra Mundial e talvez deliberadamente ignorantes dos resultados mistos, enviaram um lote de 50 paraquedistas à Tchecoslováquia; eles foram treinados lá, com pilotos israelenses, e depois levados de avião para uma base aérea israelense, Tel Nof, onde foram lançados do céu.


Paraquedistas do 890º Batalhão Paraquedista em tocas no Passo de Mitla, movimento inicial da Operação Kadesh, em 29 de outubro de 1956. (Foto de Avraham Vered para o jornal do exército Ba'machane, colorizada)

Os dias de glória, no entanto, ficaram sob o comando de Ariel Sharon, culminando em um salto de 29 de outubro de 1956, durante a suave escuridão da noite, quando 395 paraquedistas foram lançados nas profundezas do deserto do Sinai, a cerca de 150 milhas (241km) dentro do território egípcio.

Desde então, os paraquedistas conseguiram libertar o Muro das Lamentações e a Cidade Velha de Jerusalém (1967) e lideraram o contra-ataque através do Canal de Suez (1973) e avançaram para o norte, pela rota montanhosa, para chegar a Beirute pela primeira vez durante a Guerra do Líbano (1982). Mas nem a brigada conscrita nem suas brigadas de reserva foram convocadas novamente para saltar de pára-quedas atrás das linhas inimigas, e muitos acreditam que nunca serão.



"Em termos operacionais, a manobra aérea de flanqueamento - o salto sobre o inimigo - é feita hoje de helicóptero, que é mais rápido e flexível", disse o Brig. General (reformado) Uzi Eilam, que ingressou no primeiro batalhão de paraquedistas, o 890º, em 1954, serviu na Guerra de Suez em 1956 no batalhão de Motta Gur, que não saltou, e passou a chefiar a Comissão Israelense de Energia Atômica e o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Defesa.

"Em termos de moral, continua sendo importante", acrescentou. "Essa é uma das maneiras pelas quais a brigada atrai indivíduos de qualidade".


Equipamento paraquedista israelense sendo lançado sobre o deserto do Negev em 28 de junho de 2007. (Unidade Porta-Voz das FDI)

O Coronel (reformado) Gabi Siboni, ex-chefe da unidade de reconhecimento da Brigada Golani e amigo próximo do chefe de Estado-Maior do Estado-Maior Geral, General Gadi Eisenkot, também da Brigada Golani, recusou-se a deixar explícita sua opinião a respeito do investimento em paraquedistas nos dias de hoje, mas sua intenção era clara.

"Como um Golanchik* comum", disse o chefe do programa de assuntos militares e estratégicos do grupo de pesquisa INSS, "você pode imaginar o que penso de todo o aparato paraquedista".

*NT: Veterano da Brigada Golani.

Tradição, tradição!

A capacidade militar dos paraquedistas como unidade aeroterrestre sempre foi a de entregar grandes forças, se necessário, muito atrás das linhas inimigas. Durante a Guerra do Golfo de 1991, quando as tropas de Saddam Hussein dispararam mísseis contra Israel do oeste do Iraque, Israel contemplou o lançamento de paraquedistas na região, revelou o Tenente-General Dan Shomron em um artigo da revista Israel Air Force de 1999. Ele não deu detalhes, dizendo que os planos podem ser necessários no futuro.

Mas a principal razão pela qual essa opção não foi exercida, além dos compromissos óbvios com a força aliada, era a mesma de sempre: as tropas são facilmente identificadas na chegada, os aviões são suscetíveis a mísseis terra-ar e as tropas só podem saltar com suprimentos limitados, necessitando de um vôo de re-suprimento, e não são protegidas por blindados ou artilharia.


O Tenente-General Benny Gantz, comandante-em-chefe das FDI, na porta de um avião durante um exercício da Brigada Paraquedista, de 8 de novembro de 2012 (Unidade Porta-Voz das FDI/ Flash 90)

Hoje, mais do que nunca, existe uma aeronave capaz de substituir o paraquedista. O V-22 Osprey decola e pousa como um helicóptero - verticalmente - e pode voar, inclinando seus rotores, tão longe e tão rápido quanto um avião de carga*, que tem um alcance que excede em muito um helicóptero tradicional.

*NT: É questionável que o Osprey ultrapasse aviões de carga em termos de alcance e capacidade de carga. O V22 Osprey custa quase o dobro do Sikorsky CH-53E Super Stallion com capacidade de carga inferior, e incapaz de carregar material pesado. O C-130 Hércules tem uma capacidade de carga de 19,000kg, como 92 passageiros ou 64 paraquedistas totalmente equipados, enquanto o Osprey carrega apenas 24 homens. 

Em 2013, os EUA liberaram a venda de seis Ospreys para Israel, o primeiro para um país estrangeiro, por aproximadamente US$ 400 milhões em dinheiro da ajuda. Em outubro de 2014, o Ministro da Defesa Moshe Ya'alon teria decidido cancelar o contrato ainda não assinado.

O exército não respondeu a uma solicitação de estimativa do custo anual total da execução de seu curso de treinamento paraquedista - pára-quedas, instrutores, dobradores de pára-quedas, base e, principalmente, tempo de vôo envolvido.

“Operacionalmente, as chances de usar paraquedistas diminuem a cada ano que passa”, disse o Major-General Yoram Yair à publicação da IAF. Mas certas coisas, disse ele, têm o "valor agregado" da tradição e carregam a marca da excelência, o que ajuda o exército a manter sua hierarquia de unidades.

NT: Salto do 2e REP, da Legião Estrangeira Francesa no aeroporto de Tombuctu no Mali em 2013.




A razão central para continuar o treinamento paraquedista, no entanto, pode não estar relacionada apenas a preocupações, tradição ou prestígio orçamentários. Um coronel da IAF, não identificado no artigo, afirmou que um jovem soldado colocado à porta aberta de um avião e instruído a pular no vento frio fica com uma impressão duradoura.

“Estou nas FDI há quase 30 anos e lutei em várias guerras”, disse ele, “e não sei de nada parecido com a ordem de levantar e carregar contra o inimigo como a situação à porta do avião, quando dizem 'salte!' e você salta para fora.”

Original: https://www.timesofisrael.com/59-years-after-last-combat-use-why-do-israels-paratroopers-need-new-chutes/

NT: Outro exemplo de salto moderno, com 90 paraquedistas do 2e REP saltando no Passo de Salvador, no Níger, e destruindo armazéns escondidos de armamento dos jihadistas.


FOTO: Reservista Israelense de 77 anos em Gaza

Nahum 'Nahche' Gilboa, 77 anos, é o mais antigo reservista de combate que já serviu nas IDF. (Imagem do Canal 2 israelense em 2014)

Muitos israelenses contribuem, de vez em quando, alguns dias de serviço de reserva junto às Forças de Defesa de Israel (FDI) até os 40 anos. Nahum “Nahche” Gilboa dedicou seu tempo durante a Operação Protective Edge (Operação Cunha de Proteção, em hebraico Miv'tza Tzuk Eitan, literalmente Operação Penhasco Forte), como o mais antigo soldado de combate na história de Israel - aos 77 anos de idade em 2014.

Tendo servido como reservista na Operação Kadesh de 1956 na Península do Sinai, Gilboa vestiu o uniforme verde da IDF na Brigada de Paraquedistas em 2014 durante o conflito de 7 semanas em Gaza (8 de julho – 26 de agosto de 2014). Ele já atuava então nas FDI de Israel há 59 anos.

Gilboa, um fazendeiro de Lachish, uma comunidade perto de Kiryat Gat, disse gostar de passar tempo com os soldados mais jovens, e que o serviço de reserva - e o trabalho duro na fazenda - o ajudavam a manter-se jovem. A sua família não questionava sua atitude e Gilboa disse que "é parte de quem eu sou".

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FOTO: Desfile israelense, 6 de março de 2020.


FOTO: Guerrilheira Mascarada

Guerrilheira zapatista do Ejército Zapatista de Liberación Nacional (EZLN), México.

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Guerra Irregular:
Terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história.
Alessandro Visacro.

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PINTURA: Mulheres na Grande Marcha6 de março de 2020.