quarta-feira, 24 de junho de 2020

Soldado americano acusado de planejar ataque neonazista contra sua própria unidade


Do jornal Deutsche Welle, 23 de junho de 2020.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 24 de junho de 2020.

O soldado de 22 anos, ligado a neonazistas, é acusado de planejar uma emboscada mortal em sua própria unidade, na tentativa de desencadear uma nova guerra. Ele pode pegar prisão perpétua se for condenado.

Um soldado americano com laços neonazistas foi acusado de planejar um ataque extremista islâmico a sua unidade militar na Turquia, disseram autoridades na segunda-feira. O jovem de 22 anos é acusado de querer desencadear uma nova "guerra de 10 anos" no Oriente Médio, segundo as acusações.

O Departamento de Justiça disse que o soldado Ethan Melzer, de Louisville, Kentucky, tentou trabalhar com um grupo extremista identificado como o grupo neonazista e satanista Ordem dos Nove Ângulos (Order of the Nine Angles), também conhecido como O9A, para orquestrar um ataque à sua unidade.

Um dos principais símbolos do O9A.

Dizem que Melzer planejou que o ataque "jihadista" causasse a morte do maior número possível de soldados.

De acordo com a acusação, a trama de Melzer foi frustrada pelo Exército dos EUA e pelo FBI no final de maio, quando ele procurou um informante do FBI que acreditava ter laços com grupos jihadistas e ofereceu informações detalhadas sobre os movimentos de sua unidade. Ele foi preso em 10 de junho.

"Motivado pelo racismo"

A advogada interina dos Estados Unidos, Audrey Strauss, para o Distrito Sul de Nova York descreveu Melzer como "o inimigo interno" que supostamente tentou "orquestrar uma emboscada assassina em sua própria unidade".

"Melzer foi motivado pelo racismo e pelo ódio enquanto tentava realizar esse último ato de traição", disse Strauss.

O Departamento de Justiça disse que Melzer usava salas de bate-papo online para fornecer detalhes da localização planejada de sua unidade e dos arranjos de segurança na Turquia, para que eles pudessem ser facilmente dominados. Ele também confessou que sabia que poderia morrer no processo, mas "teria morrido com sucesso".

Ele foi acusado de conspirar e tentar assassinar americanos e membros das forças armadas americanas, fornecendo e tentando fornecer apoio material a terroristas, além de conspirar para assassinar e mutilar em um país estrangeiro não revelado. Se considerado culpado, ele enfrentaria prisão perpétua.


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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Exército indiano revisa seleção e treinamento de Operações Especiais


Por Steve Balestrieri, SOFREP, 21 de junho de 2020.

Tradução Filipe de A. Monteiro, 22 de junho de 2020.

O Exército Indiano está tentando reestruturar o processo de seleção de seu pessoal voluntário para as Forças Especiais e batalhões aeroterrestres. Também visa expandir seu papel em vários teatros operacionais.

A índia, apesar de possuir grandes números unidades e tropas de Forças Especiais, não possui uma estratégia nacional sobre como suas tropas FE/SF devem ser empregadas. Isso afeta a eficácia final da força e aumenta a possibilidade de que a força seja mal utilizada pelo governo.

Em resposta a isso, em 2012, um comitê de segurança nacional viu a necessidade de um Comando de Operações Especiais dedicado, semelhante ao USSOCOM; no entanto, isso ainda não foi concretizado: A Seleção e Avaliação, bem como o treinamento para as Forças Especiais da Índia e unidades aeroterrestres, não são realizadas em um local centralizado, nem possuem um núcleo de instrução padronizado.


Uma proposta, vinda de vários oficiais de alta patente da defesa, recomenda que o processo de seleção seja centralizado e conduzido a partir de um único local.

Atualmente, cada uma das unidades conduz seu próprio processo de seleção e avaliação chamado "Estágio", enquanto sob o guarda-chuva do Regimento Paraquedista. O Regimento Paraquedista, o qual fornece mão-de-obra para as Forças Especiais e batalhões aeroterrestres, possui pessoal especialmente treinado que é voluntário de todas as armas e serviços do Exército. Oficiais e todas as outras graduações podem se voluntariar para se juntar ao regimento e às Forças Especiais.

Os candidatos devem completar um período probatório difícil de três meses. Após a conclusão bem-sucedida do período, eles são iniciados no regimento aeroterrestre ou nas unidades das Forças Especiais. As unidades individuais têm parâmetros de missão muito rígidos e sua Seleção/Avaliação e treinamento são voltados para a missão da unidade específica. O treinamento cruzado é praticamente inexistente.

"Cada unidade de forças especiais se orgulha de certas tradições e etos ... o estágio existe para garantir que o soldado esteja mentalmente adaptado a elas e disposto a aceitá-las," disse uma fonte dentro das forças armadas.


No esforço para levar as unidades FE/SF a um estado mais alto de prontidão e versatilidade, isso está prestes a mudar. Qualquer pessoa pode se voluntariar para as FE/SF, independentemente da Arma ou Serviço aos quais são designados. No entanto, sob o sistema atual, os oficiais que se voluntariam, primeiro vão ao Centro de Treinamento Regimental de Paraquedistas (Parachute Regimental Training CentrePRTC) em Bengaluru e são posteriormente enviados às unidades do Regimento Paraquedista para seu estágio individual. No entanto, os alistados e os suboficiais se apresentam diretamente às unidades para o seu período de estágio.

O Exército propôs um sistema que altera o programa inicial de Seleção e Avaliação para voluntários das Forças Especiais e do Regimento  Paraquedista. Os candidatos serão notificados com dois meses de antecedência antes do início do processo de seleção, após o qual ocorrerá uma fase preparatória de orientação de uma semana.

Paraquedistas indianos recebendo as asas de prata americanas após um salto com os Rangers.

Uma vez concluída a orientação, a Fase I do treinamento incluirá um processo de seleção e avaliação de quatro semanas na Escola de Treinamento das Forças Especiais.

Após o curso de seleção inicial, os candidatos serão designados para batalhões paraquedistas ou de forças especiais através de uma comissão de oficiais.

Uma vez designados para um batalhão, os voluntários serão submetidos à Fase II do estágio: três meses de treinamento em habilidades básicas. Este curso de treinamento será diferente para voluntários das forças especiais e aeroterrestres.

Finalmente, o grupo selecionado passará pela Fase III do treinamento, o qual incluirá quatro semanas do curso básico de paraquedismo na Escola de Treinamento Paraquedista de Agra.

A proposta do Exército exige que quatro cursos sejam realizados a cada ano - em março, junho, setembro e dezembro - com um máximo de 500 candidatos por curso, incluindo oficiais.


Com a possibilidade de conflito com o Paquistão e a China, as FE/SF indianas precisam melhorar sua prontidão geral. Isso deve incluir treinamento cruzado para todas as tropas e preparação para todos os ambientes. Uma fraqueza patente que o Tenente-General Prakash Katoch, um oficial de operações especiais do exército indiano, apontou foi:

"A falta de uma célula de inteligência, recursos de inserção e extração 'dedicados' (helicópteros, aeronaves, etc.), grupo de apoio, grupo de logística, célula cibernética, célula de treinamento, grupo de pesquisa e desenvolvimento, interface com R&AW, NTRO, IB, com a Escola de Treinamento das Forças Especiais (Special Forces Training School, SFTS) e similares. Podemos propagar que a Índia está erguendo o AFSOD nas linhas do Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos (United States Special Operations CommandUSSOCOM), mas há pouco entendimento de que aeronaves e helicópteros integrados ao SOCOM sejam especialmente modificados para forças de operações especiais."

Finalmente, as forças armadas indianas têm uma mentalidade reativa defensiva que também precisa mudar para que as unidades FE/SF operem com eficiência máxima.

Steve Balestrieri atuou como graduado, sargento e Warrant Officer (sem equivalente no Brasil) das forças especiais antes que ferimentos forçassem sua reforma precoce.

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FOTO: As cobiçada asas paraquedistas30 de janeiro de 2020.


domingo, 21 de junho de 2020

A Índia pode vencer a China em uma guerra de fronteira?


Do site The Week, 21 de junho de 2020.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 21 de junho de 2020.

Estudos desacreditam alegações de "superioridade" da China. Uma análise das capacidades indo-chinesas ao longo da LAC.*

*Nota do Tradutor: A LAC (Line of Actual Control/ Linha de Controle Real) é a fronteira efetiva entre a China e a Índia.

Com a Índia e a China travando um confronto olho-a-olho em Ladakh, e os primeiros incidentes de violência relatados em quase cinco décadas, Hu Xijin, editor do Global Times, considerado um porta-voz do Partido Comunista Chinês, twittou: "A sociedade indiana precisa eliminar dois erros de julgamento: 1. Subestima a vontade da China de impedir que as tropas indianas cruzem a LAC; 2. Considera que a Índia tem capacidade militar para vencer a China em uma guerra de fronteira. O entendimento correto um do outro é a base para a convivência amigável entre China e Índia".

20 militares do Exército indiano, incluindo um coronel, foram mortos em um confronto com tropas chinesas no Vale de Galwan. O confronto é o maior confronto entre as duas forças armadas após os confrontos em Nathu La em 1967, quando a Índia perdeu cerca de 80 soldados, enquanto mais de 300 militares do exército chinês foram mortos. Ao reagir, a Índia fez uma forte exceção à China, alegando soberania sobre o Vale de Galwan, dizendo que suas "reivindicações exageradas e insustentáveis" são contrárias ao entendimento alcançado sobre o assunto entre os dois lados.

Áreas em disputa na Linha de Controle Real (LAC).

Mesmo que a escalada esteja em andamento, o que aconteceria no caso de um confronto militar entre a Índia e a China? A sabedoria convencional da força militar "muito superior" da China, ecoada pela maioria dos comentaristas, realmente é verdadeira? Uma inspeção cuidadosa mostra que isso pode não ser verdade. Estudos recentes do Belfer Center em Harvard e do Centro para uma Nova Segurança Americana (Center for a New American Security, CNAS) mostram um quadro diferente.

Existem disparidades na história do crescimento? Claro. O relatório do CNAS estima que o orçamento de defesa de Pequim em 2019 seja mais de cinco vezes aquele de Délhi, e o PLA parece possuir uma vantagem quantitativa dominante (e crescente) sobre as forças armadas da Índia. As Forças Terrestres do Exército de Libertação Popular (PLAGF), com quase 1,6 milhão de soldados em serviço ativo, continuam sendo o maior exército do mundo, enquanto o Exército Indiano, com aproximadamente 1,2 milhão de soldados, fica em segundo ou terceiro lugar.

Oficiais chineses e indianos na fronteira.

"Tanto a Índia quanto a China operam em ambientes de ameaças multi-vetores. A Índia continua sendo uma consideração de segunda ordem (embora importante) para os planejadores estratégicos do PLA, que concentram a maior parte da sua atenção e recursos militares no combate à projeção de poder dos EUA e dos aliados dentro da chamada Primeira Cadeia de Ilhas (First Island Chain), que se estende do Japão a Taiwan e Filipinas. Enquanto isso, a Índia continua enfrentando uma série de insurgências domésticas de queima lenta e os muitos desafios impostos pelo revisionismo de tom nuclear e guerra terceirizada do Paquistão", de acordo com o relatório.

No entanto, os dois estudos apontam que a Índia tem "vantagens convencionais subestimadas que reduzem sua vulnerabilidade a ameaças e ataques chineses" que não são reconhecidas adequadamente.

Uma análise:

Como as duas forças de ataque nuclear se comparam?

No que diz respeito às forças de ataque nuclear, o relatório Belfer diz que, ao todo, cerca de 104 mísseis chineses podem atingir toda ou parte da Índia. As forças nucleares chinesas compreendem mísseis balísticos terrestres e marítimos e aeronaves que podem emergir como bombardeiros nucleares. A maior parte das forças de mísseis da Índia está localizada mais perto do Paquistão do que a China, com estimativas de que cerca de dez lançadores Agni-III podem atingir todo o continente chinês. Outros oito lançadores Agni-II poderiam atingir os objetivos centrais da China. A Índia possui uma doutrina de retaliação, que depende fortemente da ampla dispersão do arsenal e do sigilo de suas localizações, e apresenta capacidades credíveis de segundo ataque.

Exército


O relatório Belfer estima que o Exército indiano tenha uma força de ataque disponível total de cerca de 2,25 mil militares nos comandos do Norte (34.000 tropas), Central (15.500 tropas) e Leste (1.75.500 tropas), voltados para a China. Embora os números chineses correspondentes possam ser considerados numericamente próximos, há uma infinidade de outros fatores em jogo. O relatório do CNAS credita a experiência e a natureza endurecida pela batalha do exército indiano, que, desde a guerra sino-indiana de 1962, lutou no conflito de Kargil em 1999 e enfrenta uma guerra terceirizada e conflitos regulares com o Paquistão. "Tropas ocidentais que participam de jogos de guerra e exercícios regularmente expressam uma admiração relutante pela criatividade tática e alto grau de adaptabilidade de seus colegas indianos", de acordo com o relatório. O último conflito do PLA, no entanto, foi a Guerra do Vietnã de 1979 (desencadeada pela invasão do Vietnã ao Camboja), onde enfrentou duras perdas por vietnamitas endurecidos, prontos para a batalha após a guerra americana.

A Índia e a China enfrentam ameaças ao longo de múltiplos vetores; o estudioso Sr. Taylor Fravel escreveu que a China representa uma séria ameaça ao desdobramento militar dos EUA na Ásia Central, e o país também enfrenta insurgências internas em áreas como Xinjiang. Tomando a fronteira do Himalaia, isso resulta em uma clara vantagem localizada para a Índia; o CNAS estima que, em puramente em números, as forças terrestres indianas superam os chineses - considerando a proximidade com a LAC e também com relação aos ativos aéreos desdobrados de forma avançada. "A Índia mantém um grande número de tropas militares e paramilitares ao longo dos vários planaltos, passagens de montanhas e vales que fornecem os pontos potenciais mais óbvios da entrada trans-Himalaia, a China - de acordo com sua doutrina de defesa de fronteira - estaciona a maior parte de seus forças convencionais em seu interior, para avançarem em caso de conflito".


O relatório também classifica as recentes aquisições indianas de ativos de asas rotativas Apache e Chinook, juntamente com aeronaves de transporte militar como o C-130 e o C-17 Globemaster, como apoio rápido e crítico ao poder de fogo para tropas indianas isoladas.

No entanto, existem ameaças crescentes. Na fronteira do Himalaia, a construção maciça de infraestrutura do lado chinês no Tibete, incluindo rodovias e ferrovias de alta velocidade, permite ao PLA o benefício da "mobilidade trans-teatro"; assim, Pequim poderia se engajar em rápidos movimentos laterais através do platô tibetano, enquanto as forças indianas permanecem um pouco limitadas pela natureza acidentada da topografia do lado da fronteira, segundo o relatório.

Marinha

Segundo o CNAS, a Marinha Indiana é amplamente considerada uma força marítima capaz e equilibrada, com aproximadamente 137 navios e submarinos, e 291 aeronaves sob seu comando. No caso de um ataque de múltiplas frentes, a Índia desfruta de uma vantagem quantitativa de 5 para 1 em relação ao Paquistão. De acordo com o relatório, a natureza peninsular da geografia indiana forneceu à maior democracia do mundo vantagens posicionais impressionantes nas regiões norte do Oceano Índico, compostas por territórios insulares como Lakshadweep e as Ilhas Andaman e Nicobar.


No entanto, a Índia está enfrentando uma disputa acirrada vinda da China por seu domínio no Oceano Índico, com especialistas observando de perto o uso de Pequim do porto de Hambantota, no Sri Lanka, Gwadar no Paquistão e incursões navais a oeste do Estreito de Malaca. A China também está consolidando sua posição no Mar da China Meridional, com a construção de vários postos avançados artificiais. Além disso, o relatório do CNAS afirma que a Marinha da Índia está em necessidade crucial de atualização da infraestrutura; a parte da Marinha da Índia no orçamento geral de defesa continuou a despencar nos últimos anos, passando de uma média de 15 a 16% em meados da década de 2010 para 12% em 2018-19.

Força Aérea

Em termos gerais, o CNAS estima que, pelo menos no teatro do Himalaia, a Índia tem uma forte posição aérea regional, em grande parte devido à escassez relativa de infraestrutura aérea chinesa na Região Autônoma do Tibete (TAR) e às severas limitações operacionais, tanto em termos de capacidade de combustível quanto de carga útil, induzida pela operação de aviões de combate em altitudes extremas.


No total, o estudo Belfer estima que a Força Aérea Indiana (IAF) tenha um número estimado de 270 caças e 68 aeronaves de ataque ao solo em seus comandos do Norte, Centro e Leste, voltados para a China, com foco em uma rede em expansão de Terrenos Avançados de Pouso (Advanced Landing Grounds, ALGs), que fornecem locais de preparação e centros de logística para missões de ataque de aeronaves. Fundamentalmente, todos eles estão situados permanentemente perto da fronteira da China, diminuindo o tempo de mobilização e limitando as perspectivas de um avanço bem-sucedido na China.

De acordo com o estudo da CNAS, a indução do sistema de defesa aérea S-400 emergirá como um facilitador essencial, liberando o estoque cada vez menor da Índia de caças multifuncionais para se concentrar em missões ar-terra em vez de em contra-ar defensivos.


Comparando os caças de quarta geração, Belfer estima que o caça J-10 da China é tecnicamente comparável ao Mirage 2000 da Índia e que o Su-30MKI indiano é superior a todos os caças chineses do teatro, incluindo os modelos J-11 e Su-27 adicionais. Numericamente também, a Índia possui uma clara vantagem. "A China abriga um total de 101 caças de quarta geração no teatro, dos quais uma proporção deve ser mantida para a defesa contra a Rússia, enquanto a Índia tem cerca de 122 de seus modelos comparáveis, dirigidos exclusivamente à China".

Campo de Batalha Sul da Ásia

Após incursões pós-chinesas, um influente think tank americano disse que o "objetivo imediato" da China no sul da Ásia é limitar qualquer "desafio" da Índia e dificultar sua crescente parceria com os EUA. O relatório intitulado "Uma Pesquisa Global da Competição EUA-China na Era do Coronavírus", do Instituto Hudson, também observou que a profunda parceria da China com o Paquistão e a estreita relação com o Sri Lanka são essenciais para os planos de Pequim de dominar a região. Ele observa que Islamabad é o aliado mais próximo de Pequim no sul da Ásia e, ao contrário de Colombo, caiu nos braços da China com os olhos bem abertos.

Manifestação anti-chinesa na Índia.

O segmento no sul da Ásia, intitulado "O Impulso da China no sul da Ásia: considerações para a política dos EUA", argumenta que o "objetivo imediato" da China no sul da Ásia é "limitar qualquer desafio vindo da maior democracia do mundo, a Índia, e dificultar sua crescente parceria com os Estados Unidos". Segundo o relatório, o verdadeiro contra-ponto da China no sul da Ásia é a Índia. "No sul da Ásia, diferentemente do sudeste, leste ou centro da Ásia, existe uma hegemonia natural: a Índia. A China não pode deixar isso de lado com facilidade", afirmou.


"A Índia tradicionalmente vê a China como igual, e não superior, e desconfia dos objetivos de Pequim e desconfia dos avanços da China em sua periferia. Até hoje, uma disputa territorial em curso com a China estraga as relações. Tudo isso cria uma competitividade ao invés de dinâmica colaborativa", afirmou o relatório.

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O mesmo de sempre: o oportunismo pandêmico da China em sua periferia20 de abril de 2020.

O fim da visão de longo prazo da China6 de janeiro de 2020.

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Tanques, navios e fuzis de assalto: a Índia ainda compra a maior parte de suas armas da Rússia, 25 de fevereiro de 2020.

GALERIA: Manobra blindada nas Montanhas Celestiais11 de abril de 2020.

Exército indiano revisa seleção e treinamento de Operações Especiais22 de junho de 2020.

Mission Failed: 5 vezes que as forças especiais dos EUA não conseguiram fazer o serviço

Operadores Delta e Ranger no momento do choque entre o Bluebeard 3 e o Republic 4 durante a fracassada Operação Eagle Claw, em 1980.
(Ilustração de Jim Laurier e Johnny Shumate/Osprey Publishing)

Por Robert Farley, The National Interest, 21 de junho de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 21 de junho de 2020.

As missões de alto risco e alta recompensa às vezes terminam em fracasso.

Aqui está o que você precisa se lembrar: A maioria dessas operações combina um grau excessivo de otimismo militar sobre os parâmetros de possibilidade com uma falta de entendimento político dos riscos e custos do fracasso. Mas esses problemas não são incidentais ao paradigma da força de operações especiais; indivíduos com alto capital humano tendem a ter uma forte percepção das suas capacidades e uma forte crença em sua capacidade de realizar trabalhos difíceis. E os civis que não possuem conhecimentos militares muitas vezes têm motivos para considerar essas crenças pelo valor de face, especialmente quando as SOF oferecem soluções rápidas e fáceis para problemas complicados.


Desde a Segunda Guerra Mundial, as forças armadas americanas experimentaram com forças de operações especiais, pequenos grupos de guerreiros com o equipamento e o treinamento para realizar missões extremamente difíceis. Com efeito, forças especiais existem para alavancar o capital humano em situações táticas incomuns. Soldados selecionados por altas capacidades físicas e mentais, depois intensamente treinados, podem teoricamente alcançar objetivos que soldados normais não podem.

Os sucessos de operadores especiais são bem conhecidos; eles incluem, principalmente, o assassinato de Osama bin Laden no Paquistão. Mas operações especiais sempre enfrentaram críticas de partes das forças armadas com orientação mais convencional. A troca básica envolve a perda de capital humano que as unidades de linha regulares sofrem quando seus melhores soldados e oficiais se juntam às formações de forças especiais. Os recursos de treinamento dedicados a operadores especiais também podem, em alguns casos, limitar as forças convencionais.

Existem também problemas organizacionais; enquanto alguns comandantes se mostraram excessivamente conservadores em relação ao uso de operadores especiais (mantendo-os fora da luta em antecipação de algum trabalho desconhecido no horizonte), outros gastaram forças especiais em operações convencionais, onde o alto capital humano das unidades tinha efeito limitado. E os políticos, com uma percepção limitada da sua utilidade militar, tendem a achar atraentes as operações especiais sem avaliar completamente seus custos.

Oppose Any Foe:
The Rise of America's Special Operations Forces.
Mark Moyar.

Em seu novo livro Oppose Any Foe (Oponha-se a qualquer inimigo), Mark Moyar lança um olhar crítico sobre a história das forças especiais americanas, levando a sério os custos que o desenvolvimento de tais unidades impõe ao restante das forças armadas e levando em consideração as limitações estratégicas de operações especiais. Moyar argumenta, entre outras coisas, que o glamour e o inegável heroísmo de operadores especiais ajudaram a desviar o escrutínio de algumas de suas falhas mais flagrantes e do empreendimento das operações especiais como um todo.

Apresentação de Oppose Any Foe


Aqui estão cinco dos raides mais desastrosos da história das forças de operações especiais dos EUA:

O Raide do Atol de Makin

Em agosto de 1942, o recém-formado Marine Second Raider Battalion (Segundo Batalhão de Incursores Fuzileiros Navais) lançou seu primeiro raide contra o Atol de Makin, mantido pelos japoneses no Pacífico Sul. Os submarinos entregaram 222 fuzileiros navais especialmente selecionados e treinados a pouca distância da ilha; sua missão era atacar e destruir as instalações japonesas, semeando assim um senso de vulnerabilidade estratégica no alto comando japonês.

Marine Raiders posando em frente a uma fortificação japonesa em Cape Totkina, Bougainville, nas Ilhas Salomão, em janeiro de 1944.

Os Raiders perderam rapidamente o elemento surpresa, mas mesmo assim conseguiram causar algumas baixas aos defensores japoneses. O comandante, Evans Carlson, decidiu que a resistência japonesa restante era muito rígida para alcançar os objetivos principais, que incluíam a destruição de aparelhos de rádio. No entanto, os esforços da unidade para deixar a ilha foram frustrados por marés altas; apenas um pequeno contingente foi capaz de nadar de volta para os submarinos em espera.

Quando amanheceu, os americanos descobriram que a maioria dos japoneses estava, de fato, morta. Os fuzileiros navais destruíram as instalações japonesas restantes e um submarino voltou para buscar os sobreviventes. Infelizmente, pelo menos um barco não conseguiu sobreviver ao surf. Ao todo, trinta dos fuzileiros navais comprometidos com a operação morreram, com muitos mais feridos. O sucesso mediano do ataque deu aos comandantes americanos um gosto amargo em relação a outras operações semelhantes no Pacífico.

Coréia do Norte: Colina 205

Em 25 de novembro de 1950, como parte da ofensiva americana mais ampla na Coréia do Norte, o Oitavo Batalhão Ranger, uma unidade criada em agosto, recebeu a tarefa de capturar e defender a Colina 205, ao longo do rio Chongchon. Sem o conhecimento dos americanos, as forças chinesas regulares haviam se infiltrado na Coréia do Norte em grandes números e estavam se preparando para lançar uma grande contra-ofensiva.

Soldados da 3ª Companhia Ranger assaltam uma colina ocupada pelos chineses em 1951. Esse tipo de operação foi endêmico da Guerra da Coréia.

O uso de operadores especiais (mesmo quando montados às pressas) como ponta de lança de uma ofensiva convencional não era novo nem fora das missões tradicionais de tais unidades; unidades semelhantes haviam realizado regularmente esses trabalhos na Segunda Guerra Mundial. Mas os riscos dessa abordagem logo se tornaram evidentes, pois os Rangers sofreram baixas graves atacando uma colina com uma defesa mais robusta do que o esperado. A situação piorou quando o contra-ataque veio; a infantaria e artilharia chinesas jorraram por sobre as defesas dos Rangers durante a noite de 25 de novembro, em seis ataques separados. Oitenta e oito Rangers atacaram a Colina 205; quarenta e sete sobreviveram para defendê-la; apenas vinte e um deixaram a colina vivos.

O desempenho do Oitavo Batalhão Ranger foi, sem dúvida, heróico, mas não muito melhor do que um batalhão de infantaria regular a ponto de fazer o sacrifício valer a pena. O compromisso e o massacre de muitos dos melhores soldados do Exército causaram pouco mais que um soluço no avanço chinês.

Operação Eagle Claw (Garra de Águia): Fuga de Teerã

À medida que a crise dos reféns em Teerã prosseguia, o governo Carter começou a considerar opções militares para resolver o impasse. Um ataque convencional aos iranianos parecia fazer pouco sentido, e não havia muitas razões para acreditar que uma campanha aérea coercitiva pudesse forçar a República Islâmica a entregar os reféns.

Deltas, descaracterizados, embarcando em um C-130 durante a Operação Eagle Claw.

As forças armadas responderam com um plano para resgatar os reféns por via aérea, usando principalmente comandos Rangers e da Força Delta. O complexo ataque envolveu a aterrissagem de helicópteros perto do local da embaixada, incapacitando ou matando os guardas iranianos e, em seguida, carregando os reféns nas aeronaves antes que as forças iranianas regulares pudessem reagir. Foi cuidadosamente orquestrado e precisava ser; um passo errado poderia resultar na morte de dezenas de reféns ou na adição de alguns operadores especiais à lista de reféns.

Mas no dia do raide, pouco deu certo. Problemas mecânicos afetaram vários helicópteros, deixando o contingente com poucas aeronaves para realizar a operação com sucesso. Após a ordem de "última forma" ser dada, um dos helicópteros colidiu com um dos C-130, matando oito militares. O raide fracassado ajudou a garantir a derrota do presidente Carter nas eleições presidenciais de 1980.

Granada: Três Dias de Confusão

Substituir o governo de Granada parecia uma operação bem dentro das capacidades das forças armadas dos Estados Unidos. Embora defendido por contingentes de soldados granadinos e cubanos, o governo tinha pouca capacidade real de resistir a um ataque conjunto dos EUA. E, de fato, o principal período de conflito durou apenas três dias, em 1983.

Posto de controle americano em Granada, 1983.
A placa diz "O comunismo pára aqui".

Mas nesses três dias, os operadores especiais americanos tiveram vários problemas. A apreciação insuficiente do clima levou ao afogamento de quatro Navy SEALs na noite de 23 de outubro; um assalto aeromóvel na prisão de Richmond Hill enfrentou fogo inesperado de baterias antiaéreas, depois que um atraso deixou os helicópteros Black Hawk voando à luz do dia; um esforço para tomar um quartel vazio em 27 de outubro levou à aterrissagem forçada de três helicópteros e à morte de três Rangers.

Fuzileiros navais americanos exibem retratos de Ho Chi Minh e Vladimir Ilyich Lenin que foram apreendidos no aeroporto de Pearls, em Granada, em 1983.

Ao todo, treze dos dezenove americanos mortos pela invasão de Granada eram operadores especiais. Os comandantes culparam as dificuldades em comunicações ruins, e pelo fraco entendimento dos oficiais convencionais das capacidades das SOF. Os problemas em Granada ajudaram a impulsionar reformas não apenas das forças de operações especiais, mas também das forças armadas como um todo; os autores da Lei Goldwater-Nichols de 1986 prestaram atenção especial às dificuldades que as forças invasoras enfrentaram.

Mogadíscio: O que estamos fazendo aqui?

Os Estados Unidos entraram na guerra civil somaliana sob a égide de uma missão humanitária, destinada a restaurar o suprimento de alimentos para a maior parte da população civil. Em pouco tempo, no entanto, as metas americanas se expandiram. Não ajudou que a transição do presidente George H. W. Bush para o presidente Bill Clinton tenha criado incoerência política; Clinton tinha pouca experiência em política externa e uma noção pouco clara sobre quais resultados, precisamente, ele queria na Somália.


Em 3 de outubro de 1993, em um esforço para prender os principais comandantes do senhor-da-guerra Mohammed Farah Aidid, um grupo de comandos Rangers e da Força Delta americanos tentou um raide aero-terrestre combinado contra alvos no centro de Mogadíscio. Os dois pontos da operação rapidamente deram errado; os veículos terrestres tiveram dificuldade para encontrar o caminho para a área-alvo, enquanto um dos helicópteros colidiu após ser atingido por uma granada lançada por foguete. A confusão que se seguiu durou a maior parte da noite e resultou no acidente de outro helicóptero, na perda de dezenove operadores americanos e na morte de mais de mil somalis.

Companhia B ("Bravo") do 3º Batalhão, 75º Regimento Ranger na Somália em 1993.

O valor das forças de operações especiais reside em seu capital humano. Quando essas unidades sofrem baixas, elas não podem substituir facilmente as perdas; cada operador individual representa anos de treinamento intensivo, juntamente com um conjunto raro de características físicas, mentais e emocionais. Infelizmente, porém, estilhaços e acidentes de avião não respeitam o capital humano. Quando operadores especiais são empurrados para situações táticas convencionais em que não podem alavancar suas capacidades, sofrem e morrem como qualquer outro soldado. E nesses casos, a perda para o país é imensa, não apenas pela importância política de operações específicas, mas também pela perda de alguns dos melhores guerreiros dos Estados Unidos.

Operadores Delta nos anos 1990.

A maioria dessas operações combina um grau excessivo de otimismo militar sobre os parâmetros de possibilidade com uma falta de entendimento político dos riscos e custos do fracasso. Mas esses problemas não são incidentais ao paradigma da força de operações especiais; indivíduos com alto capital humano tendem a ter uma forte percepção das suas capacidades e uma forte crença em sua capacidade de realizar trabalhos difíceis. E os civis que não possuem conhecimentos militares muitas vezes têm motivos para considerar essas crenças pelo valor de face, especialmente quando as SOF oferecem soluções rápidas e fáceis para problemas complicados.

O Dr. Robert Farley é um colaborador frequente do National Interest, é autor de The Battleship Book. Ele atua como professor sênior na Escola de Diplomacia e Comércio Internacional Patterson na Universidade de Kentucky. Seu trabalho inclui doutrina militar, segurança nacional e assuntos marítimos. Ele escreve nos blogs  Lawyers, Guns and Money, Information Dissemination e no Diplomat.

Bibliografia recomendada:





Leitura recomendada:



As lições de Mogadíscio, 7 de outubro de 2018.

Sim, a China estaria disposta a travar outra Guerra da Coréia caso necessário


Por Robert Farley, The National Interest, 21 de junho de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 21 de junho de 2020.

Mas e se armas nucleares fossem usadas?

Ponto-chave: Pequim não quer instabilidade nem armas nucleares norte-coreanas soltas. Até que ponto a China pode ir para impedir que isso aconteça?

Há três anos, descrevi como seriam os contornos de uma guerra entre a China e os Estados Unidos. Embora as divergências entre Washington e Pequim sobre Taiwan e o Mar da China Meridional tenham diminuído, parece cada vez mais que os assuntos na Península Coreana forneceriam a centelha do conflito. Se a situação tensa na Coréia levasse à guerra entre os Estados Unidos e a China, como o conflito começaria? Quem teria a vantagem? E como isso terminaria?

Este artigo apareceu pela primeira vez em 2017 e está sendo repostado devido ao interesse do leitor.

Exército vermelho chinês durante manobras conjuntas com a Mongólia e a Rússia.

Como começaria

A guerra entre a Coréia do Norte, ou a RPDC, e os Estados Unidos é mais provável que acenda uma guerra entre a China e os EUA do que vice-versa, embora não seja incompreensível que Pyongyang possa tirar proveito da distração dos EUA com a China para fazer uma jogada contra a Coréia do Sul (ROK). Mas se assumirmos o primeiro, isso mudaria a situação militar no início do conflito EUA-China. Enquanto na maioria dos cenários uma guerra acontece de acordo com o cronograma de Pequim e, conseqüentemente, com a vantagem de Pequim, se a Coréia do Norte desencadear um conflito, a China poderá ser forçada a uma luta que não deseja e não está totalmente preparada. No mínimo, permitiria que as forças americanas se mobilizassem totalmente na expectativa de lutar contra a China. Mesmo que os chineses pudessem dar o primeiro golpe, as forças americanas estariam em alerta máximo, rastreando os movimentos chineses e capazes de responder imediatamente. A experiência de novembro de 1950, na qual a China foi autorizada a lançar um ataque surpresa, certamente estaria no topo das mentes dos comandantes dos EUA.

Soldado chinês escoltando prisioneiros americanos na Coréia em dezembro de 1950.

A China pode decidir intervir em uma nova Guerra da Coréia sob duas circunstâncias; primeiro, se acreditasse que a coalizão EUA-ROK estaria prestes a destruir a RPDC (como foi o caso em 1950); e segundo, se acreditasse que a RPDC estaria vencendo e que a intervenção chinesa poderia impedir a escalada americana. No primeiro caso, os objetivos de guerra da China seriam impedir a destruição da RPDC e impedir que a RPDC desencadeasse seu arsenal nuclear. No segundo, o objetivo seria o oposto; para garantir ganhos norte-coreanos (independentemente de representarem toda a península coreana ou não) e eliminar qualquer tentação da parte dos EUA de escalar para armas nucleares. Em ambos os casos, os planejadores dos EUA e da ROK prestariam muita atenção às manobras chinesas, e ambos os países teriam se mobilizado totalmente para a guerra.

Os Aliados

Nem a China nem a Coréia do Norte têm muitos amigos ao redor do mundo. Ainda assim, ambos provavelmente gozariam de uma neutralidade benevolente da Rússia, o que ajudaria significativamente a manter as forças armadas de ambos supridos com combustível, peças de reposição e munição.

KATUSAs saúdam durante uma cerimônia de 60 anos do estabelecimento da KATUSA no USAG Yongsan em Seul, em outubro de 2010. O Korean Augmentation To the United States Army (KATUSA) é uma parte do exército sul-coreano anexado ao Oitavo Exército dos Estados Unidos (EUSA), tendo sido criado em julho de 1950 para fornecer ao Exército Americano expertise geográfica e linguística da Coréia, além de auxiliar na identificação amigo-inimigo entre forças sul e norte-coreanas.

O resto do mundo provavelmente apoiaria os Estados Unidos e a República da Coréia em vários graus, menos se os EUA iniciarem a guerra, mais se a RPDC a iniciar. A China, sem dúvida, se preocuparia com seu flanco sudoeste, mas é improvável que a Índia intervenha em qualquer conflito que não envolva diretamente seus interesses. Os aliados dos EUA, europeus e do Pacífico, ofereceriam retórica e potencialmente algum apoio militar menor.

A participação do Japão seria o maior ponto de interrogação. Tóquio considera a Coréia do Norte e o crescimento do poder militar chinês como principais ameaças à segurança nacional. O Japão pode muito bem ser atacado pela Coréia do Norte durante hostilidades intra-coreanas. No mínimo, o Japão ofereceria bases e apoio aos Estados Unidos e (mais silenciosamente) à ROK. Mas se Tóquio percebesse que um eixo chinês-norte-coreano poderia vencer (além de apenas preservar uma RPDC), então Tóquio poderia muito bem intervir do lado dos EUA de maneira significativa. A combinação do poder militar, financeiro e econômico de Tóquio pode afetar significativamente o curso do conflito.

O Rumo dos Combates

No balanço, a Coréia do Sul é consideravelmente mais poderosa que a Coréia do Norte. Embora as forças da Coréia do Norte possam causar enormes danos à Coréia do Sul em um conflito convencional, elas não podem esperar destruir a República da Coréia, ou a ROK, por conta própria. Ataques profundos contra comunicações e logística norte-coreanas dificultariam a manobra do exército norte-coreano, ou KPA. E nos primeiros dias do conflito, o poder aéreo sul-coreano e americano controlaria totalmente o céu.

Fuzileiros navais americanos e sul-coreanos.

A intervenção chinesa pode mudar essa equação. A guerra entre as Coréias criaria um problema para os EUA, introduzindo a necessidade de suprir e manter forças terrestres em larga escala na Península Coreana. Desencadeados contra a Coréia do Sul, os mísseis balísticos e de ataque terrestre da China podem causar estragos nas instalações militares dos EUA e da ROK. Mísseis destruiriam aeronaves da Coalizão no solo e reduziriam a prontidão dos aeródromos. Ataques nas áreas de preparação e logística dariam às forças dos EUA e da ROK um gostinho dos mesmos problemas que eles haviam servido aos norte-coreanos. As forças e instalações navais americanas também seriam atacadas.

Na primeira Guerra da Coréia, os Estados Unidos se contiveram de atacar a China diretamente. Em uma nova Guerra da Coréia, os americanos não exerceriam tal tolerância. As instalações militares chinesas associadas a ataques contra a Coréia seriam atacadas por recursos aéreos, de mísseis e navais dos EUA. A marinha chinesa (PLAN), caso ela se lançasse ao mar ou permanecesse no porto, seria um alvo interessante, embora a Marinha dos EUA pudesse limitar geograficamente seus ataques. As bases aéreas chinesas dentro da China e as aeronaves baseadas nelas também sofreriam ataques americanos.

Como Terminaria

Em quase todos os cenários concebíveis, Pequim trabalharia duro para impedir Pyongyang de usar seus arsenais nucleares, químicos e biológicos. De fato, os Estados Unidos poderiam muito bem declarar desde o início que considerariam qualquer uso de armas nucleares pelo eixo Pequim-Pyongyang como implicando ambos os parceiros e, portanto, exigindo retaliação contra ambos.


Se Pequim e Washington pudessem evitar o combate nuclear, o fim da guerra mudaria para a sobrevivência da RPDC. A Coréia do Norte não pode se opor indefinidamente contra o poder combinado dos EUA e da ROK, muito menos com a adição do Japão à Coalizão. Se a intervenção chinesa puder atrapalhar a máquina de guerra EUA-ROK através da força bruta (a destruição de ativos militares suficientes para impossibilitar a sua continuação) ou forçar os EUA a desistir através da imposição de altos custos, a RPDC poderia sobreviver e permanecer no controle de uma parte da península coreana (grande ou pequena dependeria do momento e da extensão da intervenção chinesa). Se os chineses forem incapazes disso, a RPDC deixará de existir e a ROK se estenderá até a fronteira chinesa.

No primeiro cenário, o mundo se parece muito com o de hoje, apenas com destruição substancial no nordeste da Ásia e profunda interrupção nos sistemas econômico e financeiro globais. O segundo cenário vê o mesmo tipo de perturbação e destruição, mas a China é claramente o perdedor, com implicações potencialmente terríveis para o poder e a legitimidade do Partido Comunista da China.

Pensamentos de Despedida

É improvável que os chineses possam ganhar a guerra pela Coréia do Norte, mas eles podem muito bem ser capazes de impedir que a RPDC perca. Mas há poucas dúvidas de que a China não quer atrelar sua crescente máquina militar aos caprichos de Pyongyang. Mesmo que a China pudesse vencer essa guerra, a devastação em suas relações comerciais e financeiras excederia amplamente o valor da preservação da RPDC. Esta é uma guerra que a China quer evitar, e só entraria em desespero.

O Dr. Robert Farley é um colaborador frequente do National Interest, é autor de The Battleship Book. Ele atua como professor sênior na Escola de Diplomacia e Comércio Internacional Patterson na Universidade de Kentucky. Seu trabalho inclui doutrina militar, segurança nacional e assuntos marítimos. Ele escreve nos blogs  Lawyers, Guns and Money, Information Dissemination e no Diplomat.

Bibliografia recomendada:

A Guerra da Coréia: Nem Vencedores, Nem Vencidos.
Stanley Sandler.

Leitura recomendada:






FOTO: Filipinos na Coréia14 de março de 2020.





LIVRO: Forças Terrestres Chinesas29 de março de 2020.