segunda-feira, 5 de julho de 2021

Duas Derrotas: o Vietnã e o Afeganistão


Pelo Capitão-de-Fragata Pierre Ortiz, ENDERI, 31 de maio de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 13 de junho de 2021.

O comandante Pierre Ortiz lembra os motivos pelos quais, após 10 anos de guerra, os americanos fracassaram no Vietnã há 50 anos. Numa altura em que estes parecem querer retirar do Afeganistão as suas forças que ali estão desdobradas há quase 19 anos, ele explica porque é que esta retirada deve ser vista como mais um fracasso para os Estados Unidos.

Afeganistão, uma guerra americana e ocidental

Soldados afegãos e um soldado americano da ISAF, 2012.

Em outubro de 2001, os Estados Unidos, apoiados por seus aliados, travaram a guerra mais longa de sua história (19 anos). Os objetivos da guerra são bem conhecidos: primeiro, derrubar os talibãs - cúmplices e protetores de Bin Laden - que reinavam em Cabul e que se recusavam a entregar seu constrangedor convidado.

A primeira fase é conhecida: em poucos dias de ataques relâmpagos, os talibãs fogem e se juntam a seus maquis montanhosos e suas áreas tribais na fronteira com o Paquistão. Cabul está sob controle, objetivo alcançado. O próximo passo é impedir o retorno dos talibãs e estabelecer um regime de "boa governança" pró-Ocidente; isto será um fracasso.

Um menino afegão segura sua arma de brinquedo com soldados belgas da patrulha ISAF durante uma missão conjunta com soldados alemães em Taloqan, a oeste de Kunduz, no Afeganistão, em 30 de setembro de 2008.

Como no Vietnã, os Estados Unidos estão muito longe de suas bases; os meios e os recursos empregados serão colossais, de 800 a 1000 bilhões de dólares. Com o dólar menos no controle do mundo financeiro do que em 1965, a guerra será, portanto, mais longa e custará mais em comparação.

Ao contrário do Vietnã, os adversários enfrentados serão principalmente guerrilheiros pashtuns, que nunca se arriscarão a enfrentar a coalizão de frente. Poucas perdas materiais, controle aéreo total, uso máximo de armas aéreas: aviões, helicópteros e drones, sendo estes últimos de uso pesado; a guerra da "alta tecnologia"...

Poucas pessoas no terreno. Perdas de pessoal relativamente baixas: 2.400 mortos em 19 anos. Uma guerra engajados profissionais pouco questionada no país. Com mídia muito mais controlada do que no Vietnã, a lição foi aprendida.

Outro ponto em comum com o conflito vietnamita são os aliados locais, que são muito exigentes, pouco confiáveis, ineficientes, corruptos e, além disso, perigosos; há inúmeros casos de soldados do Exército Nacional Afegão voltando suas armas contra aliados ocidentais.

A guerra dos insurgentes

Um combatente mujahideen afegão carrega um míssil FIM-92 Stinger americano colina acima perto de Jaji, leste do Afeganistão, fevereiro de 1988.
(Robert Nickelsberg / Time Magazine)

O que impressiona talvez sobretudo neste confronto de 19 anos e mesmo de 41 anos, se começarmos a contar desde a chegada dos soviéticos no final de 1979, é a certeza e a determinação de superação por parte dos insurgentes qualquer que seja o custo e qualquer que seja a duração diante das forças que os dominam mil vezes por seus meios.

Uma certeza alimentada por uma cultura de guerras tribais mesclando naturalmente o estado de guerra com o da vida, uma fé religiosa beirando o fanatismo que defende a aceitação da onipresença da morte que não devemos temer, ou mesmo que devemos chamar como bênção.

Como para o Vietnã, um ódio ao estrangeiro ateu e a outra raça, a um invasor instalando um regime corrupto e rejeitado pela população pashtun, a um invasor que multiplica as vítimas entre a população civil.

Fuzileiros navais americanos explodindo casamatas e túneis usados pelo Viet Cong em uma vila, 1966.

A questão surgiu já durante a presença soviética: aliás, quem estava lutando contra os insurgentes? Os soviéticos ou, em primeiro lugar, os não-muçulmanos que não têm lugar numa sociedade monocultural e que fará de tudo para permanecer assim? Os insurgentes talibãs, pelo menos nas áreas de maioria pashtun, são "como peixes na água"; basta olhar para os rostos consternados dos legisladores afegãos com a notícia da morte de Bin Laden.

Como os insurgentes vietnamitas, os talibãs não estão sozinhos; eles recebem o apoio de "brigadas internacionais" de muitos países muçulmanos e não-muçulmanos para travar a jihad.

Soldados do Exército Soviético na torre de um tanque em um posto avançado durante o pôr do sol no Afeganistão, setembro de 1984.
(Alexander Zemlianichenko / AP)

Eles são apoiados por um grande número de órgãos oficiais do Paquistão que consideram o Afeganistão como seu quintal. O papel desempenhado pelos paquistaneses é um andaime muito elaborado de astúcia; eles desempenharão admiravelmente a figura de aliados objetivos e prestativos dos americanos, enquanto secretamente apóiam os insurgentes, fato o qual os Estados Unidos estavam bem cientes. Quem poderia imaginar por um segundo que o governo de Karachi não sabia da presença de Bin Laden em seu território? Além disso, existem poucas fronteiras tão porosas como aquela que pretende separar o Afeganistão do Paquistão.

Finalmente, outro elemento fundamental, o custo da guerra; para combater os efeitos dos artefatos explosivos caseiros, fabricados com algumas dezenas de dólares, são usados materiais cujo custo gira em torno de dezenas de milhares de dólares.

Concluir ou observar?

Um soldado alemão do Bundeswehr com a ISAF monitora a área em uma montanha durante uma missão de varredura com uma equipe de Descarte de Material Explosivo (Explosive Ordnance Disposal, EOD) nos arredores de Fayzabad, ao norte de Cabul, Afeganistão, em 20 de setembro de 2008.

Observar primeiro que no Afeganistão, talvez mais do que no Vietnã, é uma questão de fracasso na ausência de uma derrota e, no caso do Afeganistão, de uma derrota do Ocidente diante de outra civilização completamente diferente.

No Vietnã, como no Afeganistão e na Somália, é a derrota de um Golias longe das suas bases perante uma população cada vez mais hostil que, apesar de todas as suas tentativas, nunca poderá seduzir, primeiro porque ela o vê como um estrangeiro". Tampouco será possível instituir um regime de "boa governança" capaz de conquistar o apoio da população; eles sempre serão regimes corruptos e ineficientes odiados pelo povo.

Nessas duas guerras, uma grande parte do país, essencialmente rural, sempre terá que ser deixada para os "insurgentes" que, como a FLN na Argélia, estão fazendo reinar o terror implacável entre a população civil.

Trailer do filme A Batalha de Argel


Quem poderia negar que este é um exemplo convincente do choque de civilizações segundo a visão de Samuel Huntington? Seja o comunismo ateísta dos "prussianos asiáticos" do Vietnã do Norte ou o islamismo fanático do talibãs afegãos, o inimigo do Ocidente nunca duvidará da vitória, não importa quão duros sejam os golpes; ele até mesmo rapidamente convencerá o vencedor no campo da inevitabilidade de sua derrota e, assim, infligirá uma ferida em seu moral da qual ele não se curará, mesmo depois que as hostilidades tiverem passado.

Um choque de civilizações é, claro, e antes de tudo, um choque de valores incompatíveis, uma visão do preço da vida, a sensação do tempo. André Malraux, visitando Mao Tsé-tung em 1965, perguntou-lhe se ele achava que o comunismo duraria na China; ouviu-se responder pelo seu interlocutor: "Oh não! Talvez 1.000 anos, não mais”.

A guerra é uma disciplina e uma arte em que a relação com a morte e o tempo é tão importante quanto o poder das armas e o valor puramente militar dos exércitos. Nem os americanos nem seus aliados no Vietnã ou no Afeganistão estavam preparados para lutar tanto quanto os "insurgentes"; tratava-se de bater forte e entrar rápido. Como disseram os presidentes Nixon e Trump, "bring the boys back home" ("traga os rapazes de volta para casa") especialmente porque as opiniões civis desses países não estavam prontas para pagar o pesado tributo do derramamento de sangue, como Charles de Gaulle em La France et son Armée (A França e seu Exército) falando de guerras distantes "Todos queriam voltar ao país para encontrar seu país".

Guerra bunkerizada: Um engenheiro de combate fuzileiro naval servindo na Companhia Bravo, 1º Batalhão de Engenharia de Combate, preenche uma barreira Hesco com terra que apoiará um portão de entrada para o Exército Nacional Afegão na Base Operacional Avançada Shir Ghazay, 19 de novembro de 2013.

Ainda são guerras que custaram somas colossais de dinheiro, bilhões de dólares para o Ocidente e primeiro para os Estados Unidos, menos para o inimigo. Os ocidentais colocaram toda a sua fé na deusa da alta tecnologia e no deus tecnicismo; eram guerras "bunkerizadas" com poucas pessoas no solo e muitas no ar, o oposto dos "insurgentes".

Nenhuma batalha clássica foi perdida no terreno, mas os custos continuaram a subir à medida que a perspectiva de vitória se tornava cada vez mais evasiva, apesar da perda desproporcional entre aliados e insurgentes.

Blindado norte-vietnamita, com a bandeira da FLN/Viet Cong, entrando pelo portão arrebentado do palácio presidencial de Saigon, 30 de abril de 1975.

Quando a guerra começa? Quando a guerra termina? Talvez, no final, uma guerra não precise começar para não parar, talvez também os ocidentais devam refletir sobre esse pensamento de um tenente-coronel do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, depois do que seus compatriotas consideraram uma vitória, uma vez que Saddam Hussein foi derrubado, "War starts when it ends": a guerra começa quando acaba!

Pierre ORTIZ
  Capitã-de-Fragata (h)
  Correspondente da ASAF na Bélgica

Bibliografia recomendada:

O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial.
Samuel P. Huntington.

Leitura recomendada:





A Arte da Guerra em Duna, 17 de setembro de 2020.






Armas vietnamitas para a Argélia14 de dezembro de 2020.

ENTREVISTA: A Batalha de Quifangondo segundo Pedro Marangoni

"Batalha do Kifangondo."

Tradução Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 5 de julho de 2021.

A Batalha do Quifangondo (ou Kifangondo) foi travada em 10 de novembro de 1975 entre o ELNA e as FAPLA na província de Luanda, em Angola. A batalha também é popularmente conhecido em Angola como Nshila wa Lufu, ou Batalha da Estrada da Morte.

Pedro Morongoni é entrevistado pelo Secretário de Imprensa da União Russa dos Veteranos de Angola, Serguei Kolomnin, em 10 de novembro de 2015.

Pedro Marangoni, mercenário de nacionalidade brasileira, participou na Batalha de Quifangondo ao lado da FNLA, integrando a unidade comandada pelo Coronel Santos e Castro.

Pedro Marangoni nasceu em São Paulo, Brasil, em 1949.
  • Formado no Centro de Formação de Pilotos Militares da Força Aérea Brasileira (1968-1971).
  • Ocupação: Piloto de Helicópteros, 9.000 horas de vôo.
  • Serviu na Legião Estrangeira  Francesa (1972-1973).
  • Depois viveu em Moçambique (1973-1974).
  • Chegou em Angola em Junho 1975, combateu com o grupo do Coronel Gilberto Santos e Castro ao lado da FNLA.
  • Participou na Batalha de Quifangondo (23 de Outubro - 10 de Novembro de 1975). Abandonou a luta em Fevereiro de 1976.
  • Viveu na  Rodésia (1976 – 1977).
  • Depois esteve com a Resistência Nacional Moçambicana, na região de fronteira com a Rodésia, Inyanga, Umtali.
  • Em 1979-1980 serviu na Legião Espanhola.
  • Depois da África voltou para o Brasil e trabalhou na Amazônia (Brasil), Bolívia e Peru, como piloto de helicópteros por cerca de 20 anos.
Agora vive no Brasil.

Livros publicados:
  • Angola - Comandos especiais contra os cubanos;
  • A Opção pela Espada;
  • A Era do Não: Poesia de crítica social, ateísmo, ceticismo;
  • O infinito não tem pressa;
  • Maria da Silva - apenas um retrato do cotidiano;
  • A grande manada.

Morro dos Asfaltos, Angola.
Da esquerda pra direita: Paiva, Lopes, Daniel, Pedro Marangoni (boina vermelha), Nelson, Morteirete (gorro sul-africano), Simões Comprido e o Capitão Valdemar (loiro, camisa preta). No centro, Coronel Santos e Castro (camisa preta e suíças).

Extratos do artigo escrito por Pedro Marangoni com o título "Quatro MLRS BM-21 Grad deteram os inimigos que avançavam sobre Luanda e mudaram o rumo da guerra?":
 
Quatro MLRS BM-21 Grad deteram os inimigos que avançavam sobre Luanda e mudaram o rumo da guerra?
Sim, mas como arma de efeito moral e não destrutivo.
 
Observando o comportamento dos africanos em combate, de um modo não-científico mas baseados em guerras recentes, verificaremos que a sua combatividade decresce do norte para o sul do continente negro. Minha experiência na África Austral mostrava que quem atacava vencia, quem era atacado recuava sempre e a maior parte das vítimas eram civis, não militares. Frentes elásticas e combatentes sem qualquer motivação mais profunda. Era a proporção de não-africanos – advisers, internacionalistas, mercenários, voluntários, etc., que decidia os confrontos. Estes eram tropas de conquista, os outros, de simples ocupação de terreno conquistado. E assim aconteceu também em Angola, de forma significativa.

Um BM-21-1 Grad russo em exibição em São Petersburgo, em maio de 2009.

Os combatentes não-africanos com ideais ou vontade de vencer eram afetados por armas que realmente eram perigosas e produziam baixas; a esmagadora maioria africana temia qualquer coisa que explodia e fizesse barulho. Desculpem-me por não ser politicamente correto, mas esta é a verdade.

Fui, nos anos setenta, advertido de que estaria fornecendo informações importantes ao inimigo, ao menosprezar em artigos escritos, o 122 soviético, que considerava uma arma de efeito moral, não efetiva para causar baixas. Mas assim o via, como os demais colegas de combate. Temíamos mais um morteiro 81. Um morteiro 120, então, nos pregava ao solo, irremediavelmente...

Observei incontáveis vezes, a marca deixada no asfalto ou no solo, por explosões do 122 e dos morteiros 120, 81 e 60. Os estilhaços dos morteiros rasgavam o solo no ponto de impacto, desenhando uma estrela, mostrando que varreram o solo em trajetória rasante, atingindo mesmo quem estivesse deitado. Já o 122 deixava poucas marcas, com estilhaços sendo lançados em ângulo mais fechado, mais alto e menos perigosos. Vários caíram a poucos metros de mim na Batalha de Quifangondo, sem maiores danos. Tenho certeza que qualquer morteiro caindo na mesma curta distancia teria me posto fora de combate.

Esquemática do BM-21 Grad.

Mas a capacidade de lançamento múltiplo, rápido, seqüêncial dos MLRS BM-21 é devastador para tropas mal-treinadas, inexperientes ou pouco motivadas. Sem nenhuma dúvida eles foram decisivos para o pânico e a debandada geral das tropas da FNLA e zairenses em Quifangondo.

E o que deteve a pequena tropa não-africana? Em primeiro lugar, os canhões anti-carro 76mm, que aproveitaram o absurdo avanço das frágeis Panhard totalmente descobertas; em segundo lugar, para segurar os poucos infantes que seguiriam atrás delas, as metralhadoras anti-aéreas (ZPU-4?) cujo tiro podíamos sentir sobre nossas cabeças e que não nos deixavam levantar do solo.

Mas, mesmo se as Panhards não fossem detidas e nosso pequeno grupo pudesse avançar, não teríamos ninguém nos seguindo, pois o grosso da tropa africana debandara apavorada pelo efeito psicologicamente devastador dos MLRS BM-21 Grad...

Resumindo, sim, concordo que esta arma foi decisiva não só no rumo da batalha, mas de toda a guerra. Acredito que se o indisciplinado exercito zairense entrasse em Luanda, tudo seria arrasado e saqueado e uma avalanche de tropas de Mobutu Sesse Seko se despejariam pela fronteira norte, numa ocupação criminosa. E nós, o pequeno grupo de comandos especiais que por um ideal, serviu de ponta de lança, seríamos dizimados ou presos ou expulsos, pois representávamos um obstáculo às barbáries zairenses em solo angolano.

Pedro Marangoni: "A bem da história militar será um mapa incomum, feito em conjunto pelos dois lados opostos envolvidos".

Mensagem de Sergei a Pedro:

"Estimado Pedro Marangoni!

Fico-lhe muito grato por suas mensagens relativas à Batalha de Quifangondo, em particular pelo artigo "Quatro MLRS BM-21 Grad deteram os inimigos que avançavam sobre Luanda e mudaram o rumo da guerra?", que já foi publicado no nosso website em russo e português.
Encontrei nas suas mensagens alguns elementos muito interessantes para mim, como histórico, em particular, em relação ao efeito provocado pelas metralhadoras anti-aéreas ZPU-4 de calibre 14,5 mm (os angolanos e cubanos os chamavam "cuatro bocas"), ao efeito moral, produzido por salvas de BM-21 e também acerca do número exacto de comandos especiais portugueses ao lado da FNLA e ELP (Exército de Libertação Português). E mais algumas perguntas, se permitir." 

Entrevista

Pedro Marangoni com a boina vermelha dos comandos especiais, posição no rio Onzo.
Na torre do seu Panhard-90 está o lema "A morte tem medo de nós!".

Serguei Kolomnin: O ELP – foi simplesmente o slogan, ou força real com a estructura, programa e o comando formados?

Pedro Marangoni: Como recebi sua mensagem em português correto, vejo que não é através de tradutor eletrônico e sim de quem tem ótimos conhecimentos da língua portuguesa, portanto ficarei mais a vontade para responder em meu idioma.

O ELP só seria mencionado de forma politica, tentando comprometer a FNLA e também porque dizia-se que o Coronel Santos e Castro era ligado a este "exército" que considero apenas teórico, nunca chegou a existir como força real, coesa, organizada e pronta para combate. Apenas uma organização política. Nunca ajudou nossas tropas, que foram recrutadas entre portugueses refugiados na Rodésia, pelo comandante dos Flechas, Alves Cardoso, do DGS/PIDE. Mas os membros do grupo do Coronel Santos e Castro não eram mercenários, eram combatentes que viviam na África e quiseram ficar lá para passar ali a sua vida. Era composto por 153 portugueses, mais eu. O único militar do grupo que poderia se chamar de “estrangeiro" era eu, brasileiro, mas com dupla nacionalidade portuguesa. O Coronel Santos e Castro apareceria em Ambriz, como conselheiro militar de Holden Roberto e ligação com o nosso grupo. Depois passara a participar dos combates, fardado mas sem armas. Depois de Quifangondo volta à Europa.

Serguei Kolomnin: O que pode dizer da ajuda dos EUA à FNLA e ao ELP?

Pedro Marangoni: Quanto  à ajuda dos EUA, tínhamos pouco apoio e se os EUA ajudavam mais, provavelmente a ajuda era desviada por Mobutu. Muitos artigos também exageram a atuação dos norte-americanos, que pouco interviram e pouco nos ajudaram. Muitos livros históricos agora apenas mais uma obra politica, repleta de mentiras e exageros; estes livros prestam-se para falsear a história da descolonização e dificultar para que as gerações pós-guerra conheçam o que se passou realmente e aprendam a não repetir erros do passado.

FAPLA: Baluarte da paz em Angola.

Serguei Kolomnin: Na edição "FAPLA: baluarte da paz" (Berger-Levrault International, Paris. pg. 110) lê-se, que a ponte sobre o rio Bengo tinha sido  destruída pelos sapadores das FAPLA para impedir o avanço da tropa da FNLA. Alguns angolanos participantes na Batalha de Quifangondo (FAPLA) mencionam a [ponte] do Panguila também como destruída. O General Xavier, actual responsável da Academia Militar das Forcas Armadas Angolanas também insiste no facto que a ponte sobre o rio Bengo tinha sido destruída.

Outro ex-combatente (FAPLA) Álvaro António, que era capitão, actualmente colocado na Unidade da Guarda Presidencial (UGP) na entrevista à TV angolana afirma: "Nesta altura em que se destruiu a ponte estavam a atravessar três viaturas, entre as quais um tanque que ainda não tinha passado, tendo os outros dois caído com a ponte, morrendo os seus ocupantes". Ele acrescentou ainda, "que desta acção resultou a captura de quatro mercenários norte-mericanos que permaneceram encarcerados na ex-sala do director da Escola Primária da Fazenda experimental da Funda".

Se a ponte do Bengo estava destruída, de que maneira a tropa da FNLA tencionara e conseguiria atravessar o rio? À nado?

Ou a ponte sobre o rio Bengo continuava a funcionar, tendo só alguns danos não significativos? Conforme a minha experiência militar, explodir e destruir a ponte sólida, construída em betão [concreto] é uma coisa nada fácil…

Detalhe da pintura "Batalha do Kifangondo" mostrando os Panhard avançando pela ponte do Panguila; esta representada - incorretamente - como destruída.

Pedro Marangoni: Encontrei as recordações do general angolano Xavier honestas, parece-me ele realmente esteve em Quifangondo. Mas nenhuma das duas pontes estavam destruídas e não entendo porque os angolanos insistem em mentir sobre um facto que daria até mais valor à luta deles... Claro com a ponte destruida, seria uma defesa mais segura, praticamente admitindo que não conseguiriam deter o inimigo. A ponte destruída seria uma proteção a mais.

Talvez a  ponte do Bengo estivesse sabotada, não destruída, ou seja, colocaram as cargas explosivas e não detonaram, tal seria feito apenas se não conseguissem nos deter! Será que isso aconteceu também na ponte do Panguila, onde encontramos os cordéis detonantes? E a explosão teria falhado?

Um grupo de comandos com o Capitão Valdemar precedeu o grande ataque, infiltrando-se pela madrugada e tomando a primeira ponte, a do Panguila. Apenas cordéis detonantes foram encontrados, sem explosivos. Eu próprio passei por ela, intacta. A segunda ponte também, no primeiro ataque foi avistada inteira pelos blindados e também pelos aviões de reconhecimento.

Se a ponte do Bengo estava destruída, como posteriormente as FAPLA/cubanos avançaram contra o Morro da Cal e Caxito? Pelas pontes... A preocupação da FNLA era que as duas pontes fossem destruídas quando avançássemos e a engenharia zairense só tinha uma ponte disponível para construir.

Ainda sobre pontes: a única ponte importante que foi destruída pelo MPLA, quando do grande avanço da FNLA rumo à Luanda foi a de Porto Quipiri, na saída de Caxito. Aí a engenharia zairense construiu uma [ponte] flutuante, de madeira e depois uma grande ponte metálica, que permanece até hoje.

O depoimento do Capitão Álvaro António... lembremos sempre: a primeira vítima da guerra é a verdade... Atualmente existem mais heróis que combatentes na ocasião da batalha... estaria ele lá? Lembremos que os cubanos, de arma na mão, tiveram que obrigar os angolanos a voltarem para os postos de combate, pois fugiam em pânico. Não existiram, por exemplo, quatro mercenários norte-americanos capturados! No combate, foram capturados apenas o municiador da Panhard-90 Remédios, o condutor da Panhard-60 Serra e seu atirador Oliveira, todos portugueses. Americano só havia um, observador do CIA, sempre desarmado, que não saiu do Morro da Cal. Os autênticos mercenários apareceram no Norte de Angola um mês depois de Quifangondo, e eram na verdade ingleses e americanos, mas não conseguiram nada, pois a luta já tinha terminado.

O comando Remédios.

O meu grande amigo Remédios foi capturado porque foi ferido com gravidade (está vivo e hoje mora em [local omitido]), mas Serra e Oliveira suspeita-se que forçaram a queda da Panhard-60 no pântano para se entregarem, desertando. Talvez você tenha conhecido Oliveira, fiquei surpreso ao vê-lo na televisão, anos mais tarde como comandante militar das FAPLA num setor no Sul de Angola!

Um fato interessante é que nem mesmo o MPLA nos considerava realmente mercenários, apenas usavam como propaganda, pois meus colegas capturados não foram julgados com os ingleses e americanos e tiveram tratamento mais humano. Além de Remédios, Serra e Oliveira, capturados em Quifangondo, anteriormente haviam sido capturados na Batalha de Caxito, em 7 de Setembro de 1975, os comandos especiais brancos Quintino, Fernandes e Pereira. Eles estão na foto do seu  arquivo:

Comandos especiais Quintino, Fernandes e Pereira, junto aos companheiros angolanos negros, após serem capturados no Caxito.

Resumindo, no Quifangondo ficaram no terreno uma Panhard-90, uma Panhard-60 e um caminhão Mercedes zairense; brancos capturados – 3, todos portugueses. O tal capitão mente.

Serguei Kolomnin: Qual foi o destino da maioria dos comandos portugueses após o desastre do Quifangondo?  Portugal ? África do Sul?

Pedro Marangoni: Como já disse, o Coronel Santos e Castro voltou à Europa. Outros foram-se embora depois que abandonamos a luta em Fevereiro de 1976; alguns continuaram a luta. Por exemplo, o meu  colega a quem chamávamos "Passarão". Tomei conhecimento que ele retornou do Zaire e continuou combatendo sozinho (ele havia nascido lá, era um africano branco a quem negavam a pátria), fazendo emboscadas contra os cubanos, formou e comandou um pequeno grupo, atuando na região de Ambriz, até que em Outubro de 1977, sofreu queimaduras graves com o mosquiteiro que pegou fogo e agonizou por duas semanas até morrer. Foi enterrado pelos africanos na mata perto da Fazenda Loge, região de Ambriz.

Passarão de pé, na extrema direita.

Após Angola, os comandos portugueses voltaram para a Rodésia, alguns foram para o Brasil, buscando uma pátria nova e outros para Portugal, país que alguns nunca haviam estado, africanos brancos de várias gerações e que foram muito discriminados pelos portugueses na Europa.

Serguei Kolomnin: É de conhecimento geral que, atacando contra Quifangondo, a FNLA e os zairenses foram apoiados pela artilharia de longo alcance sul-africana. O que poderia dizer a este respeito?

Pedro Marangoni: As peças 140mm G-2 sul-africanas chegaram ao Morro da Cal na tarde do dia 9 e começaram o fogo de barragem no dia 10 por volta das 05:00h;  foram diminuindo a intensidade do fogo até cessarem de vez, não sei precisar o momento. Segundo o сoronel Santos e Castro, que me informou pessoalmente, às 16:30h (04:30pm) os sul-africanos se retiraram do local com todo o material, sem autorização ou comunicar a ninguém. Os sul-africanos fugiram durante o combate. Após Caxito, abandonaram os obuseiros sem as culatras e foram resgatados em Ambriz, já de noite, por um helicóptero. Fugiram de helicóptero para um barco na costa de Ambriz, levando as culatras dos obuseiros 140mm G-2. Tudo à revelia da FNLA. Os obuseiros posteriormente foram rebocados pela FNLA, mas sem poder usá-los, acabaram em Ambrizete como ferro velho.

Serguei Kolomnin: Poderia pormenorizar o dispositivo de combate e a composição da força da FNLA e zairenses? Quantos carros Panhard, soldados (FNLA e zairenses), peças de artilharia haviam no palco de combate no dia 10 de Novembro perante o último ataque contra Quifangondo?

Pedro Marangoni: Números aproximados.

Artilharia: 
  • 1 canhão 130mm,
  • África do Sul 3 obuseiros 140mm,
  • FNLA alguns morteiros 120mm.
Cavalaria:

Comandos Especiais: 
  • 1 Panhard-90 (destruída),
  • 2 Panhards-60 (uma destruída e uma avariada),
  • 1 VTT Panhard com um grupo de combate, retornou ileso sem lançar a tropa,
  • um jeep com canhão 106mm sem recuo (não participou).
Zaire:
  • Cerca de 10 jeeps com canhão 106mm sem recuo (não participaram),
  • Umas 15 Panhards diversas, nenhuma participou do combate, assim que transpuseram a ponte do Panguila descarregaram toda a munição e recuaram.
  • Vários canhões anti-aéreos 20mm montados em jeeps (não participaram).
Infantaria:
  • Comandos: dos 154, cerca de 80 participaram do combate, apenas uns 10 cruzaram a ponte do Panguila avançando, o restante não avançou, permaneceu diante da ponte.   
  • FNLA: cerca de 800 homens (não tenho certeza, número aproximado), nenhum cruzou a ponte do Panguila.
  • Zaire: um batalhão de infantaria (dizem dois, não sei), uma equipe de engenharia; dois caminhões Mercedes carregados de soldados zairenses cruzaram a ponte do Panguila e começaram a morrer sem chance de defesa na primeira curva depois da ponte. Poucos voltaram, quase todos feridos. Um dos caminhões retornou à noite, após o combate, com alguns homens.
Quando recuei para o Morro da Cal, debaixo de cerrado bombardeio, por volta das 18:00h (06:00pm) do dia 10, tudo estava completamente deserto e as únicas viaturas eram o jeep do estado-maior e a nossa VTT Panhard.

Na noite de 11 de Novembro 1975, após a derrota, juntamente com o Coronel Santos e Castro,  apenas 26 homens ficaram na frente de combate no Morro da Cal, todos comandos especiais, portugueses, entre eles todos os oficiais. Nenhum dos quadros da FNLA.  A FNLA simplesmente fugiu  mato adentro sem comando e os zairenses recuaram para o Caxito.

Serguei Kolomnin: A maioria das fontes (livros, recordações) mencionam os três aviões da FA sul-africana  "Buccanir" a bombardear as posições FAPLA/cubanas na manhã do dia 10 de Novembro.

De outro lado,  o General Xavier (Jornal de Angola, 13 de Janeiro 2010. General Xavier: História vivida em Kifangondo) diz o seguinte: "as FAPLA estavam à espera de uma investida maior no dia 10 de Novembro de 1975. O relógio indicava 05H00, quando dois aviões se fizeram aos céus flagelando as posições das FAPLA, no Morro de Kifangondo. A primeira impressão é que fomos bombardeados pela aviação, mas não. Eram vôos de reconhecimento que iam verificar os acessos, principalmente o estado das pontes…" E acrescenta: "eram avionetas de reconhecimento, que partiam da pista do Ambriz ou de pequenas pistas em fazendas como a Martins de Almeida".

Como poderia comentar estas palavras do veterano? Eram bombardeiros da África do Sul ou avionetas de reconhecimento FNLA? Se havia realmente aviação sul-africana envolvida nessa batalha?

Pedro Marangoni: Aviões? Isto é muito interessante, confirmo as palavras do General Xavier, eram apenas dois aviões nossos, convencionais, civis, de observação, decolados de Ambriz, mas já era dia claro. Os primeiros tiros dos 140 sul-africanos foram em Luanda e depois foram recuando o alcance para atingir Quifangondo, coincidindo com a passagem dos aviões, o que para leigos poderia ser tomado por um bombardeio aéreo.

Mistério: realmente por volta das 05:00h ouvi um ruído semelhante a jatos de combate em grande altitude e depois três explosões surdas, não mais, abafadas entre o morro de Quifangondo e Luanda . Aviões ou uma experiência de tiro com canhões de uma fragata sul- africana que estava ao largo, com alcance suficiente para atingir o local? Isto é apenas uma conjectura minha, sem informações. Nem o Coronel Santos e Castro ou o Major Alves Cardoso foram comunicados de ajuda de aviões ou marinha sul-africanas. Se houve uma tentativa, não foi além, talvez devido à dificuldade de execução (proximidade das forças oponentes no terreno).

Serguei Kolomnin: No seu livro "А Opção pela Espada" há um mapa bastante pormenorizado e bem claro das posições FNLA/zairenses - FAPLA/cubanas no Quifangondo. Mesmo com o número exato das peças e obuseiros (1 canhão 130mm zairense, 3 obuseiros 140mm sul-africanos, FNLA etc). Você indicou os quatro BM-21 nas posições FAPLA/cubanas por acaso ou tinha informação mais ou menos exata? Muitas fontes dizem que eram seis.

Conforme minha opinião, baseada em certas recordações, eram quatro BM-21, que chegaram ao Quifangondo nas vésperas do dia 10 de Novembro. Como poderia comentar isso?

O que poderia dizer à respeito do mapa da batalha feita do ponto de vista dos angolanos, que  está exposta no nosso?

Mapa angolano da Batalha de Quifangondo.

Pedro Marangoni: O mapa de Quifangondo exposto ali é um documento valioso. E aparentemente as posições das FAPLA/cubanas estão próximas daquilo que imaginei. Existe, no índice, um símbolo para ponte destruída para impedir o avanço inimigo! Novamente a insistência das pontes destruídas, e note-se que estranhamente não se acha no terreno tal símbolo, apenas no índice. As menções de mercenários referem-se ao nosso grupo, pois os mercenários de Callan só chegariam [em Angola] mais tarde. Nossas posições e rota de ataque, e posterior retirada estão corretas, apenas não existem datas.  Nota-se que, colocam corretamente o nosso grupo na vanguarda e a FNLA na nossa retaguarda. Com exceção do símbolo ponte destruída e do suposto bombardeamento da aviação, me parece um mapa honesto.

Esquema da Batalha do Quifangondo por Pedro Marangoni.

O meu mapa foi feito de memória, sem escala e sem consulta a um mapa real do terreno; e apenas o que visualizei no decorrer do combate. O lado da FNLA/Zaire/Comandos é exato; do lado inimigo são minhas conjecturas. O número e localização de canhões anti-carro por informação do Tenente Paes na primeira investida.

O número de BM-21 calculei pela sequência de lançamentos, quando caíram em maior intensidade, pela concentração das explosões; apenas uma hipótese que agora me parece acertada.

Observação: em meu livro, "Órgãos de Stálin", juntamente com monocaxito, era a terminologia genérica que dávamos a qualquer míssil 122, de lançador simples ou não, sem significar BM-21.

Se você tiver dados confiáveis, autorizo que atualize com mais precisão a metade das FAPLA-cubanos no mapa.

Serguei Kolomnin: Poderia fazer uns comentários acerca das fotos expostas na  nossa página, dedicada a este tema?

As fotos nº 9 e nº 11 com Panhards destruídas são originais do período em Angola. Talvez saiba quem está junto com Holden Roberto na foto nº 3? Foto nº 4  - são soldados da FNLA ou zairenses?

Foto 3: Holden Roberto.

Pedro Marangoni: Foto nº 3: Em primeiro plano não sei identificar; atrás, ao lado de Holden, é o jornalista brasileiro e assessor do Presidente, Fernando Luás da Camara Cascudo.

Foto 4: Tropas FNLA no Zaire.

Foto nº 4: Esta foto me parece ser dos tempos mais fortes da FNLA, antes da guerra civil e mesmo do 25 de Аbril de 1974, e foi feita no Zaire, provavelmente na base de Quinkuzo. Nunca mais se viu tal concentração de tropas.

Fotos 9 e 11: viaturas destruídas Panhard 60 e Panhard 90, respectivamente.

Não dá para identificar; mas em toda a guerra civil os comandos perderam apenas uma Panhard-90, a do Tenente Paes em Quifangondo.

Comandos Quintino, Fernandes e Pereira, capturados no Caxito.

Foto nº 12: Como já disse são os primeiros comandos especiais capturados na batalha de Caxito em 7 de Setembro de 1975, onde participaram de improviso e com armamento obsoleto, sendo envolvidos devido à enorme inferioridade numérica; bateram-se bem. Da esquerda para a direita, (brancos) Quintino, pelotão G3; Fernandes, paraquedista, pelotão MAG; Pereira, motorista do caminhão Mercedes.

Encontrei mais fotos que tem mais relação com Quifangondo, fotos nunca publicadas, em mal estado, mas importantes e autorizo a publicação no site. Foram me dadas pelo autor, Azevedo, tripulante, que escapou da Panhard-60 cujos dois tripulantes foram capturados em Quifangondo.

Obuseiro 140mm sul-africano.

Três Panhards do ELNA/FNLA.

Mostram a chegada da artilharia sul-africana no Morro da Cal. Ao lado, uma torre de madeira, marco geodésico que marcava nossa posição ao inimigo e que ninguém se preocupou em derrubar e também as nossas três Panhards, estacionadas no abrigo onde passamos a noite antes do combate.

Outra foto mostra a Panhard-90 do Tenente Paes, pronta para descer ao Panguila, com a flâmula onde se lia «Ouso»! As fotos coloridas mostram no jeep, após a conquista de Quicabo, o comando Remédios, que foi capturado em Quifangondo, com sua M79, que o General Xavier relata estar no museu em Luanda.

A Panhard 90 do Tenente Paes, pronta para descer ao Panguila.
O tenente morreu quando o seu blindado foi destruído, o único Panhard 90 perdido pelo ELNA.

O comando Remédios com seu lança-granadas M79, hoje exposto no museu de Luanda.

A outra e da “Força Aérea da FNLA”, logo após meu bombardeio, junto com Rabelo, um piloto civil, contra a emissora oficial em Luanda. Os homens com tarja preta são os técnicos em explosivos, uma equipe de muito valor, que prepararam as cargas que lancei.

O avião civil usado no bombardeio à rádio em Luanda e a equipe FNLA.

Como conclusão queria dizer o seguinte: publicando estas fotos e meus depoimentos o Veteranangola.ru assim amplia a contribuição não só para a reconstrução da verdadeira história militar de Angola, bem como para alertar sobre injustiças de cunho social, discriminatório, por parte de europeus e africanos e que devem ser conhecidas pelo menos como uma homenagem e retratação às vítimas.

A bem da história militar será um mapa incomum, feito em conjunto pelos dois lados opostos envolvidos. Creio que é uma oportunidade de mostrar ao mundo que militares em confronto são profissionais em trabalho, não inimigos pessoais.


FIM

Bibliografia recomendada:

A Opção pela Espada.
Pedro Marangoni.


Panhard Armoured Car:
1961 onwards (AML 60, AML 90 and Eland).

Leitura recomendada:


Operação Quartzo - Rodésia 198028 de janeiro de 2020.

Tiro em Cobertura Rodesiano15 de abril de 2020.

FOTO: Batedores cubanos em Angola, 8 de junho de 2021.

FOTO: Ruger Mini-14 com o Regimento Real das Bermudas

Soldado do RBR com um fuzil Ruger Mini-14 GB/20 em Ferry Reach, nas Bermudas, 1994.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 4 de julho de 2021.

Um soldado do Regimento Real das Bermudas (Royal Bermuda Regiment, RBR) em Ferry Reach, Ilha de São Jorge, Bermudas, em 1994, agindo como "inimigo" para o Potencial Quadro de Oficiais Não Comissionados. Ele está vestindo uma parca Denison paraquedista obsoleta e um chapéu verde de selva, além de um uniforme Material de Padrão Disruptivo (Disruptive Pattern Material, DPM) nº 9. Ele está armado com um fuzil automático Ruger Mini-14 GB/20.

O Regimento Real das Bermudas (RBR), anteriormente Regimento das Bermudas, é a unidade de defesa do Território Britânico Ultramarino das Bermudas. É um único batalhão de infantaria territorial formado pela fusão, em 1965, de duas unidades originalmente voluntárias, a Artilharia Milícia das Bermudas (Bermuda Militia Artillery, BMA) de maioria negra, e o Corpo de Fuzileiros Voluntários das Bermudas (Bermuda Volunteer Rifle Corps, BVRC) quase inteiramente branco.

Recrutas do RBR limpam seus fuzis Mini-14, antes de uma sessão de tiro no Campo Warwick, durante o Acampamento de Recrutas de 1994.

O Mini-14: Um M14 encurtado e de baixo custo


Leitura recomendada:


sábado, 3 de julho de 2021

FOTO: Dupla sniper na República Centro-Africana

Dupla sniper em posição de tiro com apoio no ombro, 2014.
O atirador tem um fuzil FR F2
.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 3 de julho de 2021.

Em 20 de novembro de 2014, 14h27, um atirador de precisão (tireur de précision) se inclina sobre seu binômio para identificar um possível alvo durante uma patrulha na região de Bambari, capital da província Ouaka, na República Centro-Africana.

Esses soldados pertencem à força de reação rápida (Force de Réaction Rapide Sangaris) desdobrada na base operacional avançada (base opérationnelle avancéeBOA) de Bambari. Os militares franceses intervieram depois de receberem um pedido de socorro de trabalhadores humanitários preocupados com sua segurança.


O fuzil de precisão FR F2 (Fusil à Répétition modèle F2 / Fuzil de Repetição modelo F2) é uma evolução do FR F1, como novo cano, nova luneta e novo bipé. O sistema do FR F1 e F2 foi projetado em torno de um grupo de ferrolho e ação aprimorados do venerável MAS M1936, reforçados e redesenhados para garantirem melhor precisão. O FR F2 (assim como o predecessor FR F1) é um fuzil sniper muito preciso, devido à sua qualidade, alças helicoidais de trancamento traseiro que movem o ferrolho para frente durante o fechamento para obter um assento ideal do cartucho, cano flutuante e freio de boca/estabilizador eficiente combinado que amortece as vibrações do cano.

Uma das principais melhorias do FR F2 é que o cano do fuzil é protegido termicamente por uma cobertura de polímero. Seu cano é de flutuação livre (para evitar vibrações) e está equipado com um quebra-chama. O FR F2 pode ser equipado com a mira eletro-óptica SAGEM. Esta arma é equipada com uma luneta APXL 806-04 (Exército), um Scrome ou Nightforce NXS (Força Aérea), um Schmidt & Bender 6x42 mil-dot (Marinha) para tiro diurno e também pode ser equipado com uma luneta noturna SOPELEM OB-50 e um designador laser AIM-DLR.

História dos fuzis de precisão FR-F1 e FR-F2: Entrevista com Henri Canaple


Bibliografia recomendada:

Out of Nowhere:
A History of the Military Sniper.
Martin Pegler.

Leitura recomendada:


FOTO: Sniper com baioneta calada9 de dezembro de 2020.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

FOTO: Tanquista chinês do PLA com um T-26 soviético

Tanquista chinês do PLA, com uma cicatriz na boca, em frente ao seu carro T-26 soviético durante uma parada militar no final da década de 1940.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 2 de julho de 2021.

O líder comunista chinês, Mao Tsé-tung, estabeleceu a República Popular da China (RPC) na China continental em 1949, com Chiang Kai-shek e os nacionalistas fugindo para a Ilha de Formosa, agora República da China (ROC) ou Taiwan. Em 1º de outubro de 1949, o Exército de Libertação do Povo (PLA) do Partido Comunista Chinês (PCC) realizou um grande desfile na capital Pequim, com desfiles menores em outras cidades importantes, com os tanques sendo uma mistura de tanques japoneses capturados pelo Exército Revolucionário Nacional (NRA, nacionalistas) e depois capturados pelo PLA, tanques americanos fornecidos ao NRA através do Empréstimo-e-Arrendamento (Lend-Lease Act, LLA) e capturados pelo PLA, e T-26 e T-34 soviéticos fornecidos pela União Soviética ao PLA.

No espaço de um ano, essas tropas seriam lançadas em combate novamente. Em outubro de 1950, Mao tomou a decisão de enviar o "Exército Voluntário do Povo" à Coréia contra as forças das Nações Unidas lideradas pelos EUA na Guerra da Coréia. Os exércitos chineses que lutaram ali estavam equipados com armas pesadas de fabricação soviética, incluindo tanques T-34.

Tanques T-34/85 do Exército de Libertação do Povo desfilam na Praça Tiananmen no desfile do Dia Nacional Chinês de 1950, 1º de outubro de 1950.

Bibliografia recomendada:

China's Wars: Rousing the Dragon 1894-1949,
Philip Jowett.


Leitura recomendada:

LIVRO: Forças Terrestres Chinesas, 29 de março de 2020.