sábado, 26 de fevereiro de 2022

GUERRA NA UCRANIA. “Preciso de munição, não de carona”


Zelensky recusa oferta dos EUA para sair do país: “Preciso de munição, não de carona”
Declaração foi divulgada pela embaixada da Ucrânia no Reino Unido pelo Twitter; presidente ucraniano disse, neste sábado, que não estão abaixando as armas.

Sharon Braithwaite, da CNN
26/02/2022 às 08:05 | Atualizado 26/02/2022 às 08:22.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky recusou uma oferta dos Estados Unidos de retirada da capital Kiev, disse a embaixada da Ucrânia no Reino Unido neste sábado no Twitter.
Segundo a embaixada, Zelensky disse aos EUA: “A luta está aqui. Preciso de munição, não de carona.”
“Os ucranianos estão orgulhosos de seu presidente”, acrescenta o tweet.

 Em um vídeo postado na manhã de sábado no Twitter, Zelensky disse que não estão abaixando as armas.
Zelensky continua sendo um “alvo principal da agressão russa”, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, na noite de quinta-feira, em meio à invasão da Ucrânia pela Rússia.
A declaração acompanha as próprias palavras de Zelensky. Ele afirmou que informações da inteligência do país informaram que ele se tornou um alvo chave na operação.
Zelensky disse na quinta-feira que “de acordo com nossas informações, o inimigo me marcou como alvo número 1, e minha família – como alvo número 2. Eles querem destruir a Ucrânia politicamente destruindo o chefe de Estado. Temos informações de que grupos de sabotagem inimigos entraram em Kiev.”

BATALHA SE INTENSIFICA
A batalha pelo controle de Kiev, capital da Ucrânia, se intensifica ao longo deste sábado (26). Os combates se espalham pelas ruas, e explosões e tiros foram ouvidos durante a madrugada, enquanto as tropas russas avançavam sobre a cidade.
De acordo o prefeito da capital Kiev, Vitaliy Klitschko, um prédio residencial de mais de 20 andares foi atingido por um míssil. As equipes de emergência se dirigiram ao local. Não há informações de vítimas .
Equipes da CNN norte-americana na capital ucraniana relatam fortes explosões a oeste e sul de Kiev na manhã deste sábado. O céu, ainda escuro, iluminou-se com uma série de clarões no horizonte.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse neste sábado que a capital Kiev está sob controle da Ucrânia. “Nós resistimos e estamos repelindo com sucesso os ataques inimigos. A luta continua”, disse ele em uma mensagem pelas redes sociais.
De acordo com o governo ucraniano, um tanque e aeronaves do exército russo foram destruídas no combate desta madrugada. O Estado-maior das forças armadas informou que havia também ataques em outras cidades.

ENTENDA O CONFLITO
Após meses de escalada militar e intemperança na fronteira com a Ucrânia, a Rússia atacou o país do Leste Europeu. No amanhecer desta quinta-feira (24), as forças russas começaram a bombardear diversas regiões do país.
Horas mais cedo, o presidente russo, Vladimir Putin, autorizou uma “operação militar especial” na região de Donbas (ao Leste da Ucrânia, onde estão as regiões separatistas de Luhansk e Donetsk, as quais ele reconheceu independência).
O que se viu nas horas a seguir, porém, foi um ataque a quase todo o território ucraniano, com explosões em várias cidades, incluindo a capital Kiev.
De acordo com autoridades ucranianas, dezenas de mortes foram confirmadas nos exércitos dos dois países.
Em seu pronunciamento antes do ataque, Putin justificou a ação ao afirmar que a Rússia não poderia “tolerar ameaças da Ucrânia”. Putin recomendou aos soldados ucranianos que “larguem suas armas e voltem para casa”. O líder russo afirmou ainda que não aceitará nenhum tipo de interferência estrangeira.
Esse ataque ao ex-vizinho soviético ameaça desestabilizar a Europa e envolver os Estados Unidos.

REGIÕES DA UCRÂNIA QUE REGISTRARAM BOMBARDEIOS DA RUSSA.

A Rússia vem reforçando seu controle militar em torno da Ucrânia desde o ano passado, acumulando dezenas de milhares de tropas, equipamentos e artilharia nas portas do país.
Nas últimas semanas, os esforços diplomáticos para acalmar as tensões não tiveram êxito.
A escalada no conflito de anos entre a Rússia e a Ucrânia desencadeou a maior crise de segurança no continente desde a Guerra Fria, levantando o espectro de um confronto perigoso entre as potências ocidentais e Moscou.

* Com informações de Sarah Marsh e Madeline Chambers, da Reuters, e de Eliza Mackintosh, da CNN.

                      

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Torre de Renault R 35 como Tobruk na Muralha do Atlântico


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 25 de fevereiro de 2022.

Uma torre de carro de combate leve Renault R 35 transformada em bunker "Tobruk" no norte da França, como reforço da Muralha do Atlântico, fotografada por Christian Jardin.

Essas torres Tobruk foram um aprendizado da guerra no deserto norte-africano, por isso o nome. Essas guarnições de concrete, pequenas e circulares, foram equipadas com torres de Renault R 35 e do mais antigo Renault FT-17

Exemplar de um Tobruk mais bem conservado protegendo a entrada do bunker que agora abriga o Museu Militar das Ilhas do Canal. Esta torre foi originalmente montada em um Tobruk no Forte de Saint Aubin, Jersey.

O Renault R 35 foi um tanque de infantaria francês de dois homens usado na Campanha da França em 1940, e mais de 800 foram capturados pelos alemães. Alguns foram usados na sua função original, usando a designação Panzerkampfwagen 35R 731(f). Esses beutepanzers R 35 foram usados principalmente em funções de treinamento ou policiamento. Eles também foram usados nos treinamentos anfíbios para a Operação Leão-Marinho (Operation Seelöwe), a planejada invasão anfíbia da Inglaterra. Em ação, esses carros leves foram usados nos combates no Círculo Polar Ártico contra os soviéticos e em operações anti-partisan ao redor da Europa. Os alemães também transferiram carros Renault R 35 para seus aliados, com os italianos executando uma carga contra a cabeça-de-praia dos Rangers americanos durante a invasão da Sicília.

A Romênia comprara um número de tanques Renault R 35 quando era aliada da França. Esses veículos acabaram participando da invasão da União Soviética pelo Eixo em 1941. O Blog tratou desse assunto aqui.

Renault R 3 desembarcando de uma balsa na costa francesa durante treinamentos alemães, 1940.

A torre está bem danificada, com um rombo na lateral, além de vários buracos causados por calibres pesados. A torre também perdeu o canhão Puteaux SA 18 de 37mm.



Entrada protegida da guarnição.

A escritora especializada em blindados  Camille Harlé Vargas publicou as imagens no Twitter dizendo "Torre de R35 reutilizado para as fortificações alemãs do Atlântico, aqui próximo ao porto de Merrien no Finistère", com a posição da torre no Google Maps.

Na sequência da postagem, o leitor com o apelido Dr Agos (History Geek) postou um extrato bibliográfico e comentou: "Os regimentos canadenses tiveram muitos problemas com esse tipo de torre na Itália - a famosa linha de fortificações 'Hitler'. Não era nada óbvio." O canhão nessa vinheta é um 75mm, muito mais pesado e poderoso que o pequeno 37mm do R 35, mas demonstra a eficiência dessas fortificações Tobruk.

O extrato lê:

"No flanco esquerdo da brigada, os Seaforths haviam entrado no emaranhado de posições de metralhadoras interligadas. Quando os tanques britânicos Churchill do Regimento de Cavalaria da Irlanda do Norte entraram em seu setor, pelo menos cinco dessas bestas de 40 toneladas foram perfurados por um único canhão de torre de 75 mm montada. Os Highlanders serpentearam por seus camaradas britânicos, estremecendo com as piras funerárias em chamas, e após a batalha os canadenses pediram ao [regimento] Iron Horse que carregasse uma pequena folha de bordo em seus tanques restantes como um sinal de gratidão dos canadenses."

A folha de bordo é um símbolo do Canadá desde o início do século XVIII; ela é representada em bandeiras atuais e anteriores do Canadá, na moeda de um centavo, e no Brasão de Armas. Ela também é uma visão comum em adornos pessoais.

A Sargento Gal Gadot com uma submetralhadora Uzi

Sargento Gal Gadot posando com uma submetralhadora Uzi, a icônica arma israelense.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 25 de fevereiro de 2022.

A estrela israelense Gal Gadot serviu dois anos nas Forças de Defesa de Israel, como instrutora de combate do exército, saindo com o posto de Samal (sargento). Em Israel, o serviço é compulsório para ambos os sexos, com os homens servindo 3 anos e as mulheres dois.

Geralmente, as mulheres servem em funções de secretaria e recursos humanos, chamadas pejorativamente de Jobnicks. Mas Gal, que já era famosa por ter vencido o concurso de Miss Israel em 2004, tornou-se instrutora de combate e atuou assim na preparação física dos soldados.

Disparo automático da Uzi


Gal descreveu seu tempo no exército como parte de ser israelense:

"Você dá dois ou três anos de sua vida a eles e não é sobre você. Você aprende disciplina e respeito."

Aos 18 anos, ela conquistou o título de Miss Israel e representou o país no concurso de beleza Miss Universo no mesmo ano de 2004. Em 2007, Gal  participou de uma sessão de fotos para a revista Maxim intitulada "Mulheres do Exército Israelense", que apresentou modelos de Israel que eram militares das FDI. A foto de Gal apareceu no convite para a festa de lançamento do ensaio, e na capa do jornal New York Post.

Foto do ensaio da Maxim.

A chamada da Maxim dizia "Elas são lindas de morrer e podem desmontar uma Uzi em segundos. As mulheres das Forças de Defesa de Israel são os soldados mais sexy do mundo?" e contou com a entrevista de quatro modelos militares.

Gal
Expertise: Condicionamento físico
"Ensinei ginástica e calistenia", diz esta impecável ex-Miss Israel. "Os soldados me amavam porque eu os fazia ficarem em forma."

Yarden
Expertise: Inteligência Militar
Estacionada no norte de Israel para seu período de dois anos nas FDI, Yarden diz que a prática de tiro ao alvo era sua atividade favorita. “Adorei disparar o M-16”, diz ela. “E eu era boa em acertar os alvos. Mas não atirei com nada desde que deixei o exército.” Ou em alguém, esperamos.

Nivit
Expertise: Inteligência Militar
“Meu trabalho era ultrassecreto”, diz essa nativa de Tel Aviv, que ainda mora com os pais. “Não posso falar sobre isso além de dizer que estudei um pouco de árabe!”

Natalie
Expertise: Telecomunicações navais
Essa loira sedutora se lembra claramente de sua parte favorita de servir seu país: “Conheci meu marido. Seu comandante continuou tentando nos arrumar." Para sua sorte, Natalie seguiu as ordens.

Gal Gadot deixou o exército e começou a trabalhar como atriz, interpretando o papel principal no drama israelense Bubot ("Bonecas") em 2008, como Miriam "Merry" Elkayam; além de ser escolhida para ser a modelo principal da Castro, a maior marca de roupa israelense. Seu caminho para o estrelato começou quando ela foi notada pelo diretor taiwanês Justin Lin para a franquia Velozes e FuriososSegundo Gal, uma das benesses do seu serviço militar foi desbancar a modelo brasileira Gisele Bündchen para o papel da agente Gisele Yashar no filme Velozes e Furiosos 4 (Fast & Furious, 2009):

"Eu acho que a principal razão do diretor Justin Lin realmente ter gostado foi de eu ter servido no exército e ele queria usar meu conhecimento sobre armas."


A carreira de Gal Gadot continuou subindo e ela alcançou fama internacional ao ser escolhida como a Mulher Maravilha em 4 de dezembro de 2013, estrelando no filme de Zack Snyder Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, 2016). Em seguida, ela protagonizou dois filmes próprios como a Mulher Maravilha em 2017 e 2020; com um terceiro filme previsto, ainda sem data, que encerrará sua atuação com o personagem.

Seu último grande sucesso foi como uma contrabandista no filme Alerta Vermelho (Red Notice, 2021), contracenando ao lado de Dwayne "The Rock" Johnson e Ryan Reynolds. Alerta Vermelho tornou-se o filme mais assistido em seu fim de semana de estreia na Netflix, bem como o filme mais assistido em 28 dias após o lançamento na plataforma. Ele também se tornou o 5º título de filme mais assistido em streaming de 2021. Com tamanho sucesso, não é surpresa que já foram fechadas duas sequências.

Sua atuação mais recente foi estrelando como Linnet Ridgeway-Doyle na adaptação de suspense de mistério Morte no Nilo (Death on the Nile, 2022), de Agatha Christie; lançado no Brasil em 10 de fevereiro de 2022.

Trailer de Morte no Nilo

Armas do Exército Ucraniano


Por Caleb Giddings, Tactical-Life, 25 de fevereiro de 2022.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 25 de fevereiro de 2022.

Quais são as armas do Exército Ucraniano? Que fuzis estão em campo na linha de frente deste conflito chocante na Europa Oriental?

À medida que a invasão russa da Ucrânia se intensifica, um entusiasta de armas de fogo pode ser desculpado por se perguntar quais armas portáteis compõem as armas do Exército Ucraniano. Vamos dar uma olhada nas armas agora nas linhas de frente.

Armas do Exército Ucraniano: Fuzis

Se você recebeu suas notícias apenas da grande mídia, pode pensar que este é principalmente um exército de variantes AK. Você estaria principalmente correto, mas não totalmente. Isso porque algumas unidades da comunidade ucraniana de Operações Especiais carregam fuzis IWI Tavor feitos sob licença.

Carabina Fort-221

A Carabina Fort-221 é uma cópia licenciada do Tavor TAR-21. Fabricada pela RPC Fort na Ucrânia, é construída em torno da munição 5,45×39 que é a munição padrão para as Forças Terrestres Ucranianas. A Fort-221 usa um carregador próprio para o cartucho 5,45.

Fuzil AK-74

O AK-74, calibrado em 5,45×39, é o fuzil padrão das Forças Terrestres Ucranianas. Também é incrivelmente comum em seus estoques. Existem centenas de milhares desses fuzis à mão. O presidente ucraniano disse durante os estágios iniciais da invasão que eles dariam um desses para qualquer um que quisesse lutar contra os russos.

Fuzis AK literalmente jogados de caminhões para os civis coletarem

Uma das variantes do AK-74 é o AKS-74U, muitas vezes chamado de Krinkov ou Krink para abreviar nos Estados. O Krinkov encurta o cano do AK-74 em vários centímetros, tornando-o uma excelente plataforma para CQB e combate corpo a corpo.

O AKM

A última geração do AK-47 em 7,62×39, o AKM, também existe em grande número na Ucrânia e em todo o mundo. Eles foram enviados para a linha de frente da luta junto com reservistas e combatentes voluntários.

M4-WAC-47

Uma das armas mais interessantes nas mãos do Exército Ucraniano é o WAC-47. Este era um protótipo de fuzil, empregado em quantidade desconhecida a partir de 2018. Como você pode ver, é um projeto no estilo do M4, mas é calibrado para munição 7,62×39. O raciocínio de que, no caso da Ucrânia fazer parceria com uma nação ocidental, a parte superior deste fuzil poderia ser facilmente trocada por uma parte superior de 5,56. Há um número desconhecido deles nas mãos de soldados ucranianos.

Armas de Porte das Forças Terrestres Ucranianas

Tal como suas armas portáteis, as pistolas que circulam em coldres ucranianos são meio que uma mistura. No entanto, essas armas do Exército Ucraniano são muito menos propensas a entrar em combate do que um fuzil. Armas de porte são um sistema de armas secundárias para o soldado de combate.

Glock 17

Como grande parte do planeta, as forças especiais da Ucrânia carregam pistolas Glock de 9 mm. Devido à sua reputação de confiabilidade e disponibilidade de peças prontas, a Glock é a escolha lógica para qualquer força de elite.

Fort-14TP


Antes da invasão, a Ucrânia estava substituindo seu estoque de pistolas existentes pela Fort-14P. Embora a Fort-14P seja uma arma de armação grande, ela é calibrada em 9×18 Makarov. Os primeiros projetos da pistola eram calibradas em 9mm Luger, mas a arma acabou sendo revertida para 9×18. Dado que a pistola Makarov era a pistola de serviço padrão da Ucrânia antes disso, essa recalibragem faz sentido. Provavelmente há grandes estoques de munição 9×18 no país.

Outras armas do Exército Ucraniano

Algumas das outras armas do arsenal da Ucrânia incluem o sistema de fuzil Barrett .50 BMG. Além disso, os militares ucranianos possuem um grande número de fuzis de precisão SVD. Finalmente, eles têm a coleção esperada de armas de cinta do antigo bloco soviético. No entanto, como os fuzis Fort, eles fabricam sob licença a metralhadora Negev. A Fort-401, como é chamada, também é calibrada em 5,45 para poder compartilhar munição com outros sistemas de armas ucranianos comuns.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

UCRÂNIA X RUSSIA. As primeiras 24 horas de guerra em imagens.

 

Tanque ucraniano T-80BV

O amanhecer do primeiro dia de bombardeiro russo sobre a Ucrania.


Soldados ucranianos.


Veiculo de reconhecimento russo na Ucrânia BMD-2.




Soldado ucraniano e um veiculo blindado de transporte de topas BTR-3


Veículo blindado de transporte de tropas BTR-3 ucraniano.



Ucraniano morto durante ação russa na Ucrânia.

Mulher vitimada pelo bombardeiro russo na Ucrânia.




Militares Ucranianos 

Tanque ucraniano T-80BV.


Militares Ucranianos

Tanques T-80VV Ucranianos.



















O futuro que a Rússia nos promete, de Olavo de Carvalho


Por Olavo de Carvalho, Brasil Sem Medo, 24 de Fevereiro de 2022.

Em artigo de 2011, o professor Olavo de Carvalho explica os planos da Rússia e as estratégias que serão usadas por Putin.

Um mês após a morte do grande filósofo e professor Olavo de Carvalho, o jornal Brasil Sem Medo (BSM) publica texto de sua autoria que mostra que ele sempre tinha razão. Dessa vez, sobre a situação da Rússia. Leia a íntegra abaixo:

O futuro que a Rússia nos promete

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 23 de maio de 2011

O prof. Alexandre Duguin, à testa da elite intelectual russa que hoje molda a política internacional do governo Putin, diz que o grande plano da sua nação é restaurar o sentido hierárquico dos valores espirituais que a modernidade soterrou. Para pessoas de mentalidade religiosa, chocadas com a vulgaridade brutal da vida moderna, a proposta pode soar bem atraente. Só que a realização da idéia passa por duas etapas. Primeiro é preciso destruir o Ocidente, pai de todos os males, mediante uma guerra mundial, fatalmente mais devastadora que as duas anteriores. Depois será instaurado o Império Mundial Eurasiano sob a liderança da Santa Mãe Rússia.

Carrasco mostra para a multidão a cabeça do executado na guilhotina.

Quanto ao primeiro tópico: a “salvação pela destruição” é um dos chavões mais constantes do discurso revolucionário. A Revolução Francesa prometeu salvar a França pela destruição do Antigo Regime: trouxe-a de queda em queda até à condição de potência de segunda classe. A Revolução Mexicana prometeu salvar o México pela destruição da Igreja Católica: transformou-o num fornecedor de drogas para o mundo e de miseráveis para a assistência social americana. A Revolução Russa prometeu salvar a Rússia pela destruição do capitalismo: transformou-a num cemitério. A Revolução Chinesa prometeu salvar a China pela destruição da cultura burguesa: transformou-a num matadouro. A Revolução Cubana prometeu salvar Cuba pela destruição dos usurpadores imperialistas: transformou-a numa prisão de mendigos. Os positivistas brasileiros prometeram salvar o Brasil mediante a destruição da monarquia: acabaram com a única democracia que havia no continente e jogaram o país numa sucessão de golpes e ditaduras que só acabou em 1988 para dar lugar a uma ditadura modernizada com outro nome.

"Proclamação da República", 1893,
óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853 - 1927).
Acervo da Pinacoteca Municipal de São Paulo.

Agora o prof. Duguin promete salvar o mundo pela destruição do Ocidente. Sinceramente, prefiro não saber o que vem depois. A mentalidade revolucionária, com suas promessas auto-adiáveis, tão prontas a se transformar nas suas contrárias com a cara mais inocente do mundo, é o maior flagelo que já se abateu sobre a humanidade. Suas vítimas, de 1789 até hoje, não estão abaixo de trezentos milhões de pessoas – mais que todas as epidemias, catástrofes naturais e guerras entre nações mataram desde o início dos tempos. A essência do seu discurso, como creio já ter demonstrado, é a inversão do sentido do tempo: inventar um futuro e reinterpretar à luz dele, como se fosse premissa certa e arquiprovada, o presente e o passado. Inverter o processo normal do conhecimento, passando a entender o conhecido pelo desconhecido, o certo pelo duvidoso, o categórico pelo hipotético. É a falsificação estrutural, sistemática, obsediante, hipnótica. O prof. Duguin propõe o Império Eurasiano e reconstrói toda a história do mundo como se fosse a longa preparação para o advento dessa coisa linda. É um revolucionário como outro qualquer. Apenas, imensamente mais pretensioso.

Quanto ao Império Mundial Eurasiano, com um pólo oriental sustentado nos países islâmicos, no Japão e na China, e um pólo ocidental no eixo Paris-Berlim-Moscou, não é de maneira alguma uma idéia nova. Stalin acalentou esse projeto e fez tudo o que podia para realizá-lo, só fracassando porque não conseguiu, em tempo, criar uma frota marítima com as dimensões requeridas para realizá-lo. Ele errou no timing: dizia que os EUA não passariam dos anos 80. Quem não passou foi a URSS.

Como o prof. Duguin adorna o projeto com o apelo aos valores espirituais e religiosos, em lugar do internacionalismo proletário que legitimava as ambições de Stálin, parece lógico admitir que a nova versão do projeto imperial russo é algo como um stalinismo de direita.

O então primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, aperta a mão de operadores spetsnaz do Grupo Alpha da FSB durante uma visita a Gudermes, na Chechênia, em 2011.

Mas a coisa mais óbvia no governo russo é que seus ocupantes são os mesmos que dominavam o país no tempo do comunismo. Substancialmente, é o pessoal da KGB (ou FSB, que a mudança periódica de nomes jamais mudou a natureza dessa instituição). Pior ainda, é a KGB com poder brutalmente ampliado: de um lado, se no regime comunista havia um agente da polícia secreta para cada 400 cidadãos, hoje há um para cada 200, caracterizando a Rússia, inconfundivelmente, como Estado policial; de outro, o rateio das propriedades estatais entre agentes e colaboradores da polícia política, que se transformaram da noite para o dia em “oligarcas” sem perder seus vínculos de submissão à KGB, concede a esta entidade o privilégio de atuar no Ocidente, sob camadas e camadas de disfarces, com uma liberdade de movimentos que seria impensável no tempo de Stalin ou de Kruschev.

Ideologicamente, o eurasismo é diferente do comunismo. Mas ideologia, como definia o próprio Karl Marx, é apenas um “vestido de idéias” a encobrir um esquema de poder. O esquema de poder na Rússia trocou de vestido, mas continua o mesmo – com as mesmas pessoas nos mesmos lugares, exercendo as mesmas funções, com as mesmas ambições totalitárias de sempre.

O Império Eurasiano promete-nos uma guerra mundial e, como resultado dela, uma ditadura global. Alguns de seus adeptos chegam a chamá-lo “o Império do Fim”, uma evocação claramente apocalíptica. Só esquecem de observar que o último império antes do Juízo Final não será outra coisa senão o Império do Anticristo.


Compre na livraria do BSM: Os EUA e a Nova Ordem Mundial, um debate entre o cientista político russo Alexandre Dugin e o filósofo brasileiro Olavo de Carvalho.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Uma breve história da submetralhadora Uzi


Do site Surplus Store UK, 22 de julho de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 23 de fevereiro de 2022.

Seja você um amante da história militar, um jogador de vídeo game dedicado ou um skirmisher de airsoft, é provável que você tenha encontrado a Uzi em mais de uma ocasião. É uma arma icônica que desempenhou seu papel na história militar e, ao mesmo tempo, faz parte da cultura popular. Neste artigo, vamos dar uma olhada na história desta famosa arma de fogo.

Projeto e desenvolvimento

A Uzi surgiu no ano de 1950, depois que os projetos foram elaborados no final da década de 1940, como parte de uma competição interna realizada pelas forças armadas israelenses. Os projetos foram produzidos pelo Major Uziel Gal, um projetista de armas israelense nascido na Alemanha, também conhecido por sua assistência no projeto do famoso Ruger MP9.

Disparo automático com a Uzi


A Uzi usa um projeto de ferrolho aberto que expõe a extremidade da culatra do cano e pode ajudar a resfriar a arma durante longos períodos de fogo contínuo. Este projeto, no entanto, significa que o receptor pode ser muito mais suscetível à contaminação por areia e sujeira. A arma também usa um projeto de ferrolho telescópico que permite o tamanho pequeno da arma, resultando em uma arma de disparo mais lento com melhor equilíbrio.

Os primeiros modelos dessa metralhadora apresentavam uma coronha de madeira destacável, mas isso foi posteriormente substituído por uma coronha de metal dobrável para facilitar e muito o transporte.

Confiabilidade

Bala na câmara, ferrolho aberto.

A confiabilidade da arma é uma de suas vantagens, pois, com um pequeno número de peças móveis, apenas algumas poucas coisas podem dar errado. Isso também ajudou com reparos e manutenção, pois poderia ser desmontada e reconstruída de maneira rápida e fácil. Tal como acontece com muitas armas, a limpeza e a manutenção são importantes devido à maior suscetibilidade de sujeira e areia no receptor. Condições adversas também podem aumentar a probabilidade de obstrução da arma.

A arma também vem com dois recursos de segurança. O primeiro é a alavanca seletora de três posições localizada na parte superior do punho, com "S" significando seguro, "R" significando repetição (semi-automático) e "A" significando automático. O segundo mecanismo de segurança é a trava de segurança, que está posicionada na parte traseira da empunho. O objetivo desse mecanismo é evitar a descarga acidental se a arma cair ou se o usuário perder o controle ao disparar a arma.

Registro de segurança.

Disparo

Como mencionado acima, a Uzi possui opções de disparo semi-automático e totalmente automático. O projeto da Uzi não incentiva a precisão à distância, pois o tamanho e a construção da arma promovem o disparo em distâncias curtas. Isso piora especialmente ao atirar em fogo automático, pois o recuo agrava o problema.

Variante Mini-Uzi

Mergulhadores de Combate brasileiros (GRUMEC) portando Mini-Uzis.

A Uzi original foi objeto de muitas reproduções e modificações ao longo dos anos. Uma das variantes mais comuns é a Mini-Uzi, que foi desenvolvida em 1982. Ela apresentou um cano mais curto e uma coronha dobrável lateral que reduziu ainda mais o tamanho geral da arma de fogo.

Não só isso, mas a variante mais compacta também fez uso de carregadores de 20 tiros com um alcance de tiro efetivo de 100 metros. A principal diferença entre a Uzi e a Mini Uzi era que a versão menor só era capaz de disparar em semiautomático, limitando consideravelmente a cadência de tiro.

Uso militar

A Uzi foi popularizada pelas forças militares israelenses e desde então foi exportada para mais de 90 países em todo o mundo. Países tão variados como Japão, Brasil, Argentina, Bélgica e Estônia usaram a Uzi de uma forma ou de outra para uso militar desde sua concepção.

Embora a Uzi esteja praticamente fora de serviço agora, a imagem icônica da arma continua viva no mundo do cinema, da TV e dos vídeo games.

Arnold Schwarzenegger com uma Uzi no filme O Exterminador do Futuro (1984).