sábado, 24 de dezembro de 2016

CLASSE VALOUR. Uma fragata alemã a serviço da marinha sul africana

FICHA TÉCNICA
Tipo: Fragata multimissão.
Tripulação: 120 tripulantes.
Data do comissionamento: Fevereiro de 2006.
Deslocamento: 3500 toneladas (totalmente carregado).
Comprimento: 121 m.
Boca: 16,3 m.
Propulsão: 2 motores a diesel MTU 16 V1163-TB 93 com 15880 hp e 1 motor a gás GE LM 2500 com 27000 hp
Velocidade máxima: 27 nós (50 km/h).
Alcance: 14806 Km.
Sensores: Radar de busca: Thales MRR com 180 Km de alcance. Sonar thales UMS-4132 kingklip montado no casco
Armamento: AAW: 1 lançador vertical com 16 mísseis Kentron Umkhonto IR anti-aéreo; SSM: 2 lançadores quádruplos para mísseis MM-40 Exocet, 1 canhão OTO Melara 76 mm/62; Uma torre Denel com canhões duplos em calibre 35 mm; dois canhões Oerlikon MK-1 em calibre 20 mm, e duas metralhadoras calibre 12,7 mm operada remotamente; ASW: 2 lançadores triplos para torpedos
Aeronaves: 2 Helicópteros Lynks ou 1 Orix.

DESCRIÇÃO
Por Carlos E.S Junior
Desde a década de 1969 que o estaleiro Blohm + Voss GmbH alemão é conhecido como um dos mais bem sucedidos exportadores de navios de guerra para marinhas que não possuem uma tradição de engenharia de navios. Essa fama veio através do conceito MEKO (Mehrzweck Kombination, ou seja, “Combinação Multifunção”), que produz navios com projetos modulares. Os equipamentos do navio são montados em contêiner, ou palhetas, que permitem que cada cliente escolha o equipamento que melhor se encaixa em seus requisitos, sem alterar a estrutura do navio. Esse sistema é muito eficaz na diminuição dos custos de aquisição, manutenção e de modernização de meia vida. Embora existam muitos modelos de navios MEKO, o enfocado desta matéria é uma das versões mais modernas já construídas deste projeto, a MEKO A-200 SAN, preenchendo os requisitos da marinha sul africana para uma nova classe de navio de guerra moderno. Com isso a Africa do Sul batizou esta nova classe de navio como "classe Valour" sendo o primeiro navio dessa nova classe, chamado de SAS Amatola F-145 foi entregue no final de 2004 e se tornou operacional em fevereiro de 2006. Ao todo foram contratadas a construções de 4 navios dessa classe.
Acima: As fragatas da classe Valour são os maiores navios de guerra da marinha sul africana.
De cara, a primeira coisa que se nota quando nos deparamos com a Valour, é seu desenho com soluções de furtividade (stealth) incorporadas. De fato o navio foi projetado com um casco cujo desenho possui ângulos que, quando encontram a parte superior do navio, formam um desenho em forma de “X”. Todos os navios de projeto recente possuem características que diminuem e muito sua sessão cruzada de radar, e a MEKO já estava na hora de incorporar uma nova proposta com esse tipo de solução. Uma outra característica é a diminuição da assinatura infravermelha com a substituição das chaminés, para eliminação dos gases, por um cano que fica montado horizontalmente e é resfriado pela própria água do mar. Esse dispositivo atinge uma diminuição de 75% na assinatura infravermelha do navio.
Acima: Com um desenho anguloso para desviar o eco radar para longa da antena emissora, e soluções de propulsão que reduzem sua assinatura térmica, os navios da classe Valour são alvo difíceis de serem vistos pelo inimigo a longas distancias.
O navio da classe Valour, está equipado com mísseis antiaéreos de curto alcance Umkhonto Block II fabricados pela Kentron. Esses mísseis são lançados de um sistema de lançamento vertical com 16 células e são guiados por infravermelho. O míssil tem alcance máximo de 15 km e usa vetoração de empuxo para poder manobrar agilmente, podendo puxar até 40 Gs em manobra. Sua precisão se mostrou letal em testes do fabricante, e ele pode ser usado contra 8 alvos simultaneamente. Para a guerra anti superfície estão instalados 2 lançadores de 4 células para mísseis MBDA MM 40 Exocet, que é um míssil com perfil de voo sea skimmimg (rente ao mar) e alcance 70 km e é guiado por radar ativo.  O armamento de tubo é composto por um canhão Oto Melara de 76 mm que dispara a uma cadência de 85 tiros por minuto e consegue atingir um alvo a 16 km quando usando granadas padrão. O uso de uma moderna munição conhecida como Vulcano, melhora este alcance para cerca de 40 km e ainda tem guiagem por GPS e INS, garantindo uma precisão sem precedentes para este tipo de armamento. Outro reparo com canhões duplos Denel calibre 35 mm, que são apontados por radar e permitem a destruição de alvos como mísseis de cruzeiro a um alcance de 2,5 km ou um míssil de alta velocidade a um alcance de 1,5 km. O navio, ainda, possui armamento leve como dois canhões Oerlikon MK-1 calibre 20 mm operado manualmente e duas metralhadoras calibre 12,7 mm, operadas remotamente. Para guerra antisubmarino foram instalados 4 tubos lança torpedos leves de 324 mm.  O Valour pode operar um helicóptero Orix ou dois Lynx que são operados no heliporto na parte traseira do navio.
Acima: Os navios da classe Valour possuem um hangar e um heliporto para operar dois helicópteros Super Lynx 300 ou um Atlas Oryx.
A propulsão da Valour é do tipo CODAG WARP (Propulsão a diesel combinado com gás e jatos de água). Dois motores MTU 16 V1163-TB 93 diesel que produzem 15880 hp de potencia permitem uma velocidade de cruzeiro em torno de 21 nós (40 Km/h). Uma turbina a gás GE LM 2500, que fornece mais 27000 hp de força para o sistema de jato de água que é usado para mover o navio na velocidade máxima de 54 Km/h. Além do jato de água, o navio também tem duas hélices que são movidas pelos motores a diesel. A autonomia da fragata Valour é impressionante para esta categoria de navio podendo chegar a 14806 km se operado em uma velocidade de cruzeiro econômica. É interessante observar que esta autonomia supera por boa margem a autonomia de navios bem maiores, como destróieres e cruzadores.
Acima: O sistema de propulsão da fragata Valour faz a liberação dos gases por canos próximo a linha da água para resfriar rapidamente diminuindo a assinatura infravermelha.
A suíte de sensores do Valour é relativamente simples e possui um desempenho inferior a de muitas das modernas fragatas atuais em termos de desempenho. O principal sistema do navio é um radar tridimensional Thales MRR que alcança 180 Km no modo de busca. e também é capaz de classificar os 8 alvos prioritários, em cada rotação para fornecer uma solução de defesa ou ataque mais efetiva.
Além deste sensor, há um sistema multisensor RTS-6400 que é composto por um pequeno radar monopulso que opera na banda X e que consegue um alcance de detecção de 60 km. O sistema possui, ainda, uma câmera de imagem termal e um telémetro a laser. Este sistema pode operar bem mesmo em um ambiente de pesada guerra eletrônica.
Um sonar de casco Thales UMS-4132 Kingklip também equipa o navio para buscas anti submarino. Vale a pena lembrar aqui, que dado a modularidade do projeto, outros radares e sonares podem ser instalados.
Acima: O radar Thales MRR 3 D é o principal sensor de longo alcance da fragata Valour.
Com um custo de U$  327 milhões por unidade, a fragata da classe Valour é um navio moderno, com sistemas eletrônicos mais simples, mas que dão a marinha sul africana uma capacidade moderna de defesa naval minima para a atribuição daquela força armada. A Argélia, uma nação com uma investimento em defesa relativamente pesado quando comparado com os padrões africanos, encomendou uma versão do projeto MEKO 200, porém, com armamento de tubo mais pesado. Na verdade trata-se de um navio da classe Valour, com canhão de 127 mm no lugar do de 76 mm usado no navio sul africano e um armamento anti navio absurdamente mais pesado com 16 mísseis  RBS 15 Mk3.
Acima: O projeto MEKO 200 é ideal para equipar marinhas com baixo orçamento disponível, mas que ainda trabalhem para ter um meio de combate crível.



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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

FELIZ NATAL!!!!!!


Olá amigos!
O WARFARE deseja a vocês leitores, editores e colaboradores, enfim, todas as pessoas que participam deste projeto trabalhoso, porém gratificante, um natal maravilhoso e um feliz 2017!
E aguardem. O WARFARE continuará a trazer artigos descritivos de sistemas de armas para proporcionar conhecimento e valorização da cultura militar neste novo ano.

Um grande abraço a todos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

ROCKWELL B-1B LANCER. O longo braço estratégico da América

FICHA TÉCNICA
Velocidade de cruzeiro: Mach 0,90 (1150 km/h)
Velocidade máxima: Mach 1,25 (1335 km/h)
Alcance: 9400 km.
Teto de serviço: 18000 m.
Propulsão: 4 motores General Electric F-101-GE-102 com 13692 kg de empuxo cada.
DIMENSÕES
Comprimento: 44,5 m
Envergadura: 41,8 m (asas abertas), 24,1 m (asas enflechadas)
Altura: 10,4 m
Peso: 87100 kg (vazio) e 216400 kg (com máxima carga)
ARMAMENTO
23000 kg em armamento externo, mais 34000 kg de armas em 3 compartimentos internos. As armas integradas são as bombas guiadas por GPS GBU-30/31/32/37 JDAM, Bomba AGM-154 JSOW, Bomba nuclear B-61, Bomba AGM-158 JASSM, Bomba de fragmentação CBU 87/89/97/103/104/105 e todas as bombas convencionais da família MK.

DESCRIÇÃO
Por Carlos E.S. Junior
A história sobre o bombardeiro B-1 é bem complicada e pode-se dizer que o modelo é um verdadeiro sobrevivente de diversos fatores que quase cancelaram o seu desenvolvimento. O B-1 foi pensado para ser um bombardeiro supersônico capaz de atingir a velocidade de mach 2 em altas altitudes e que fosse capaz de penetrar em território soviético que era pesadamente bem defendido que já havia demonstrado, na pratica, a sua eficiência de seus sistemas antiaéreos derrubando um jato de espionagem U-2 do famoso piloto Francis Gary Powers. Antes do B-1, na década de 50, os Estados Unidos estavam desenvolvendo o incrível bombardeiro North American XB-70 Valkyrie, capaz de voar a mach 3.1 (3309 km/h) em altas altitudes, porém com o evidente avanço dos mísseis anti aéreos (SAM) soviéticos esse avião não poderia sobreviver em uma missão de ataque de penetração sobre o território soviético e em 1961 o programa foi cancelado, porém existia a necessidade de um bombardeiro que conseguisse executar a incursão em território soviético sem ser abatido e a partir daí, surgiu, em 1965, o programa AMSA (aeronave estratégica avançada) que a partir de 1969 acabou sendo renomeado de B-1. A empresa Rockwell ganhou o contrato para seu desenvolvimento.
O B-1 apresentou uma aparência bastante marcante, com asas com enflechamento variável que se fechavam em velocidades supersônicas para diminuir sua resistência aerodinâmica, além de seus motores estarem montados abaixo na fuselagem ao estilo concorde. Era claro que se tratava de uma aeronave complexa demais além de cara. Mesmo assim, com os elevadíssimos custos deste programa e a possibilidade de se desenvolver um bombardeiro furtivo, usando a nova tecnologia que estava em testes no jato Have Blue, que resultaria no avião de ataque F-117 Nighthawk, e que geraria o bombardeiro B-2 Spirit mais tarde, o projeto do B-1 foi cancelado pelo governo norte americano em 1977. A USAF (força aérea dos Estados Unidos) manteve os testes e avaliações do B-1, mesmo com o programa, oficialmente, engavetado.
Acima: O complexo protótipo do bombardeiro XB-70 Valkyrie foi cancelado quando os soviéticos demonstraram sua capacidade de destruir aeronaves rápidas em voo em altas altitudes, abrindo caminho para a concepção do bombardeiro B-1.
Em 1981 o presidente Ronald Reagan reabriu o desenvolvimento do B-1 porém foi exigido que o avião fosse extensivamente modificado para atingir novos requisitos que culminaram com uma nova versão do avião chamada B-1B, entrando em serviço em setembro de 1986. Um dos requisitos era que o avião fosse muito difícil de ser detectado pelos radares inimigos, sendo que o resultado desse desenvolvimento foi que o B-1B tem apenas 10% do RCS (sessão cruzada de radar) do seu antecessor, o B-52. As modificações nas entradas de ar do avião assim como outras fizeram que a velocidade máxima caísse de 2300 km/h para 1335 km/h em altas altitudes, e a velocidade máxima em baixa altitude aumentou de 960 km/h para 1040 km/h, mostrando que o avião foi otimizado para penetração a baixa altitude, já que a grandes, ele se tornaria um alvo fácil para a poderosa defesa aérea soviética. A propulsão do B-1B é fornecido por 4 poderosos motores General Electric F-101-GE-102 com 13692 kg de empuxo cada. O alcance do B-1B, chega a 9400 km, dando capacidade de infringir ataques contra alvos em qualquer parte do mundo.
Acima: Propulsado por 4 potentes motores turbofans General Electric F-101-GE-102 que fornecem 13692 kg de empuxo, com pós combustores ligados, cada um.
Após a guerra fria, o B-1B passou por uma nova modernização que o transformou de um bombardeiro nuclear especializado, para um bombardeiro capaz de executar ataques convencionais, tornando seu uso mais flexível e útil para a USAF, que não tinha mais um inimigo que justificasse um bombardeiro exclusivamente para ataques nucleares. Já nesse ponto a Rockwell, fabricante do B-1, vinha tendo diversos problemas financeiros e acabou sendo vendida para a Boeing em dezembro de 1996, passando a responsabilidade das futuras modernizações e desenvolvimentos para o famoso fabricante do B-52.
O B-1B é uma aeronave difícil e cara de manter, só sendo possível seu uso pela força aérea dos Estados Unidos que é generosamente contemplada com altos orçamentos anuais. Mesmo assim, deve-se observar que o B-1B é o avião com maior capacidade de carga bélica do arsenal norte americano, podendo transportar até 34000 kg de bombas ou mísseis internamente mais 23000 kg de armas externamente, o que lhe capacita a causar um sério estrago no inimigo. O B-1B pode transportar, atualmente, praticamente todas os modelos e tipos de bombas do arsenal norte americano, sendo que as ultimas armas guiadas por GPS como as bombas da família JDAM e JSOW permitiram um aumento radical da letalidade e eficácia do B-1B. Com essas armas, o B-1B faz, sozinho, o serviço de um esquadrão de caças F-16. Também fazem parte do arsenal do B-1B, bombas de fragmentação como as CBU 87/ 89 e 97 capazes de, individualmente, espalhar centenas de pequenas granadas ou minas em uma extensa área, saturando o campo de batalha.
Além dessas armas convencionais, o B-1B pode, tecnicamente, transportar a bomba nuclear B-61 com rendimento de até 340 kt, em sua mais recente versão, a Mod-7. Ao todo podem ser transportadas 16 bombas nucleares desse tipo, porém, devido a um tratado de limitação de armas nucleares assinado com os russos.
Acima: Nesta foto, o poder de fogo do B-1B mostra a 'semeadura" de dezenas de bombas MK-82 Snakeye, de alto arrasto e com 227 kg.
O radar do B-1B é um Northrop Grumman APQ-164 com capacidade multímodo de varredura eletrônica que fornece mapeamento do terreno com alta resolução e permite, modo de seguimento do terreno, dados de velocidade e posicionamento além de informações meteorológicas.
Um fato interessante sobre o B-1B é que ele possui uma suíte de guerra eletrônica extremamente avançada que lhe permite uma alta imunidade contra sistemas de defesa antiaérea. Essa suíte é o sistema EDO Corporation AN/ ALQ-161, que produz interferências contra os radares inimigos e atua de forma integrada ao lançador de iscas infravermelhas (IR) AN/ALE-49 que representa o maior sistema de lançamento de iscas IR instalados num avião, atualmente. Para despistar mísseis guiados por radar, o B-1B usa o sistema AN/ALE-50 Towed Decoy System que lança iscas magnéticas shaff que embaralham o radar do míssil impossibilitando a ele distinguir o que é o avião alvo dos outros ecos radar produzido pelas iscas. O sistema de alerta de radar (RWR) AN/ALR-56 alerta ao piloto quando o B-1B foi rastreado por algum radar hostil permitindo que o piloto e o navegador tomem as medidas necessárias para se evadir de um ataque. Depois de uma modernização efetuada em 2009, o B-1B recebeu a integração do pod designador de alvos Sniper que integra um sistema FLIR e um iluminador a laser que fornece a capacidade de atacar com precisão alvos em movimento. Esse recurso permite ao B-1B operar como uma plataforma de apoio aéreo sobre o campo de batalha, flexibilizado seu emprego.
Acima: Atualizado, o atual cockpit do B-1B recebeu 4 telas multifuncionais que substituíram muitos os instrumentos analógicos originalmente instalados na aeronave. A tripulação de um B-1B é composta por piloto, copiloto, operador de sistemas defensivos e operador de sistemas ofensivos.
Hoje com 62 unidades em serviço, de 100 produzidas o B-1B responde por uma importante parcela na responsabilidade da dissuasão estratégia norte americana. O programa de desenvolvimento de um novo bombardeiro chamado de LRSP (Long Range Strike Plataform), em que diversas propostas foram estudadas, a Boeing ofereceu uma versão muito modernizado do B-1, chamada de B-1R que possui sistemas aviônicos muito mais avançados, incluindo um novo radar e até capacidade de lançar misseis ar ar para auto defesa, além de ter a velocidade máxima aumentada para mach 2.2. Porém essa proposta nunca saiu do papel pois os requisitos deste novo bombardeiro mudaram e hoje teve escolhida uma aeronave subsônica stealth batizada de B-21 Raider que será fabricado pela Northrop Grumman e deverá entrar em serviço em meados da década de 20.
Acima: As asas de enflechamento variável são uma das características que chamam a atenção no projeto do B-1B.

Acima: Os pilotos do B-1B entram na aeronave por uma escada retrátil abaixo da fuselagem, logo atrás do trem de aterrissagem frontal.


VÍDEO


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terça-feira, 6 de dezembro de 2016