domingo, 25 de agosto de 2024

ENGESA EE-T4 OGUN. Tamanho não é documento!


FICHA TECNICA
Velocidade máxima: 75 Km/h.
Alcance máximo: 360 km.
Motor: Um motor Perkins modelo QT 20 B4236 diesel quatro tempos, turbinado, quatro cilindros em linha, 125 HP 
Peso: 4 toneladas.
Comprimento: 3,7 m.
Largura: 2,14 m
Altura: 1,35 m.
Tripulação: 4
Inclinação frontal: 60º
Inclinação lateral: 30º
Passagem de vau: 670 mm
Obstáculo vertical: 60 mm
Armamento: metralhadora .50 ou calibre 7,62mm, canhões 20mm lançadores de mísseis.

ORIGENS 
Por Ghost
Na segunda metade dos anos de 1980, o Iraque, então governado por Saddam Hussein estava profundamente envolvido no conflito com o Irã. Para repor as perdas e modernizar seu exercito o governo iraquiano começou a reequipar seu exercito com novos equipamentos de diversos fornecedores como o carro de combate T-72 e PT-76 os veículos de combate de infantaria BMD-1, sistema de artilharia de foguetes BM-21 Grad de origem soviética, obuseiros GHN-45 155 mm da Áustria e os Astros II , EE-11 Urutu e EE-9 Cascavel do Brasil.
Durante os estudos realizados para a obtenção dos novos equipamentos para o seu exercito o Iraque se interessou pelo projeto do blindado leve Wiesel projetado pela Porsche e fabricado pela MaK da então Alemanha Ocidental, era um veículo blindado leve, sobre lagartas que não possuía equivalentes classificado como “Airportable Armoured Vehicle” (veiculo blindado aerotransportável), uma novidade naquela época nos finais da “Guerra Fria”. Sua função era dotar as brigadas aerotransportadas do Exército da Alemanha Ocidental com um veículo blindado de reconhecimento e capaz de ser transportado e lançado a partir de aeronaves ou mesmo helicópteros pesados. O Wiesel alemão foi fabricado somente em duas versões. A primeira delas era um veículo anticarro, denominada TOW Al e a segunda estava equipada com um único canhão Rheinmetall MK 20 Rh 202 de 20 mm. No entanto, os iraquianos foram surpreendidos pela recusa do governo alemão em vender o seu novo blindado fora do âmbito dos países da OTAN. A solução era buscar outro veiculo, em outro país.
O compacto veículo blindado leve Wiesel da Alemanha era o único veículo de seu tipo em meados da década de 80. A recusa da Alemanha em vender este veículo ao Iraque, gerou uma oportunidade para a Engesa que foi procurada pelo país de Saddam Hussein que financiou o desenvolvimento de uma viatura daquele tipo que se tornou, o EE-T4 Ogun.

UMA OPORTUNIDADE PARA A ENGESA.
Na segunda metade dos anos 80, a ENGESA – Engenheiros Especializados S/A já havia se firmado como uma grande companhia na aérea de defesa, sendo que seus principais produtos eram veículos militares sobre rodas. A empresa possuía clientes nos mais variados cantos do mundo, abrangendo desde a América do sul passando pela África ate as areias dos desertos no Oriente médio. Em alguns casos a empresa possuía clientes chaves. Um desses casos era o Iraque. Autoridades militares do Iraque solicitaram a Engesa se a mesma seria capaz de projetar um veiculo blindado a partir dos requisitos do exercito iraquiano e que, em muitos pontos, possuía características semelhante ao projeto alemão Wiesel. Com o comprometimento da equipe de projetos da Engesa com outros programas (EE T-1 Osório e EE-18 Sucuri II) o novo veiculo se beneficiou em muitos pontos pois foram introduzidos os conhecimentos adquiridos nestes projetos. O projeto era muito avançado para seu tempo, visto que seu único concorrente era o próprio Wiesel e com uma particularidade, os dois projetos eram inteiramente diferentes, muito embora fossem contemporâneos.
Os estudos começaram e em maio de 1986 foi apresentado o primeiro protótipo destinado a ensaios mecânicos. Logo em seguida um segundo foi construído e enviado para testes naquele país, surgindo assim à necessidade de se efetuar diversas modificações que levaram à construção de um terceiro protótipo. Isto não impediu que ele fosse oferecido a outros países, cujas delegações visitavam a sede da Engesa em São José dos Campos, SP, onde ocorria uma série de demonstrações deste e dos demais veículos militares ali produzidos. Paralelamente a estes testes foi construído então um quarto protótipo bem mais elaborado que os outros três e equipado com uma pequena torre Engesa com duas metralhadoras em calibre 7,62 mm, que foi apresentado na Primeira Exposição Internacional de Produtos Militares ocorrida em Bagdá em 1989, tendo o veículo permanecido para testes no país, quando em 1991, em decorrência da Guerra do Golfo, o mesmo foi deixado em Tikrit em um Quartel do Exército iraquiano e o pessoal da Engesa retornou ao Brasil e nunca mais tivemos notícia deste veículo. Com o agravamento da crise financeira da Engesa que logo em seguida pede concordata e tem sua falência decretada em 1995, o projeto do Ogum não foi levado adiante e dos quatro protótipos apenas um existe atualmente (o segundo protótipo) e se encontra em poder do Exército, lotado no 2º Regimento de Carros de Combate em Pirassununga, SP. Uma curiosidade é o fato de ter participado de uma concorrência em Abu Dhabi em 1988 e conseguido vencer tecnicamente o Wiesel nas provas ali realizadas, aliás, a mesma em que o EE-T1 Osório venceu o italiano Ariete, venceu no campo técnico mais acabou derrotado no político.
O Ogun é uma blindado tão compacto quanto seu concorrente europeu. Essa característica permitiria uma mobilidade muito grande devido a facilidade de transportar esse veículo por aviões e helicópteros pesados que poderiam, rapidamente, colocar varias viaturas no teatro de operações em pouco tempo.

PROTEÇÃO
A estrutura do veiculo era formada por um monobloco composto por chapas de aço bi metálicas semelhantes às utilizadas nos blindados sobre rodas 6x6 Urutu e Cascavel, de alta resistência o que lhe dava uma resistência estrutural com ângulos de incidência e baixa silhueta o que garantia uma proteção balística efetiva, segundo o fabricante, contra o calibre 7,62mm AP. Ainda falando da proteção do Ogum, a Engesa estudou a possibilidade de instalar o EE T-4 Ogum a blindagem que foi desenvolvida para o Osório que e era formada por um composto de aço, cerâmica, alumínio e fibra de carbono esse material, somado aos ângulos do desenho do Ogum lhe garantiram uma plena capacidade contra projéteis de até 14,5 mm. Porém foi descartada por ser um veiculo pequeno devido às necessidades de se manter o baixo peso para ser transportado e lançado a partir de aeronaves de transporte ou mesmo helicópteros pesados.
Para manter a proposta de um veículo leve, a blindagem do Ogun permite suportar disparos de armas leves até o calibre 7,62x51 mm AP (perfurante de blindagem).

PROPULSÃO
A opção inicial era por um motor da empresa alemã MTU.  Que possuía instalações no Brasil (pois a Engesa acreditava que no futuro o Exercito Brasileiros pudesse adquiri-lo). Porém, a Engesa acabou declinando desta opção em função do seu alto custo. A segunda opção foi a instalação do motor do próprio Wiesel um motor Audi 2,5 litros, 5 cilindros turbo diesel com 85 cv de potência, porém esse motor foi descartado pela Engesa pelo fato de ainda estava sendo desenvolvido. A escolha definitiva recaiu sobre o propulsor Perkins modelo QT 20 B4236, a diesel, quatro tempos, turbinado, quatro cilindros em linha, 125 HP, transmissão automática Alisson modelo AT 545, quatro marchas à frente e uma à ré, o que lhe dava uma autonomia de 350 km, em estradas a uma velocidade de 70 km/h.  Já os dois últimos protótipos foram equipados com motor BMW modelo M21D24WA-LLK, diesel de seis cilindros, bem mais leve e com potência de 130 HP, raio de ação de 360 km e uma velocidade de 75 km/h. Sua suspensão é do tipo barras de torção com três amortecedores de cada lado. As lagartas são alemãs Diehl com sapatas removíveis, guiadas pelo centro com duplo pino emborrachado, o que lhe dá baixa pressão sobre o solo.
Versões previstas para o Ogun

VERSÕES E ARMAMENTOS
A ideia da Engesa era que o EE T-4 Ogum constituísse uma família de blindados em várias versões que seriam baseadas sobre o mesmo chassi, permitindo assim uma economia importante, na medida em que os clientes podem comprar um maior número de unidades para diversas missões podendo assim se beneficiar da economia de escala e assim diminuir os preços de cada veículo. A logística da manutenção é também muito facilitada. A versão inicial solicitada pelo exército iraquiano era de um veículo de reconhecimento dotado de armamento leve. Porém a Engesa propôs as seguintes versões: Veículo Transporte de Pessoal (APC) com capacidade para quatro soldados equipados mais o motorista armado com uma torre com uma metralhadora. 50 ou calibre 7,62 mm em suporte simples; Veículo com canhão de 20 mm (o que proporciona maior poder ofensivo nas missões de reconhecimento); Veículo com torre para duas metralhadoras em calibre 7,62 mm; Veículo de reconhecimento com metralhadora .50 em torre giratória; Veículo transporte de munição; Veículo comando; Veículo Ambulância com capacidade para três feridos, Veículo porta-morteiro 120 mm; Veículo antitanque lançador de mísseis (equipado com uma torre dotada de dois mísseis). Todos os veículos da família Ogum seriam equipados com Além do armamento descrito acima, todas as versões do Ogum seriam equipadas com tubos lançadores de granadas fumígenas que poderiam ser lançadas individualmente ou em grupos para fornecer uma cortina de fumaça diminuindo a visibilidade do Ogum para seus inimigos na hora que estivessem em combate.
Nessa foto, uma configuração mais simples com uma metralhadora pesada M-2HB em calibre 12,7x99 mm (50 BMG).

                      

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

EXÉRCITO BRASILEIRO NOS ESTADOS UNIDOS - Tropa CORE realiza assalto aeromóvel

CORE 2024

Louisiana – EUA

Na noite do dia 15 de agosto ocorreu o embarque tático das tropas brasileiras para o início da fase operacional do Exercício CORE 24.

Nessa ocasião, foram empregadas aeronaves AH-64 (Apache), UH-60 (Black Hawk) e CH-47 (Chinook) do exército americano, infiltrando a tropa CORE até o local controlado pela tropa oponente do exercício.

O embarque marca uma das fases de um assalto aéreo, operação em que tropas são transportadas e inseridas em uma área de combate por meio de aeronaves, geralmente helicópteros. Essas operações são usadas em situações em que o objetivo é realizar ataques rápidos, tomar ou defender posições estratégicas, ou ainda, realizar outras missões táticas de forma eficiente e com um tempo de resposta reduzido.

A tropa brasileira demonstrou seu adestramento e prontidão, na preparação e na execução do assalto aéreo, estando em alto grau de integração operacional com a tropa norte-americana que opera em conjunto com os brasileiros.
Tropa brasileira se preparando para embarcar nos UH-60 Black Hawk do Exército do Estados Unidos.

Histórico

Em 2021, o Exército Brasileiro e o Exército Americano realizaram o Exercício Culminating, nos Estados Unidos. Após a atividade, foi assinado um programa de cooperação que estipula exercícios bilaterais anuais até o ano de 2028. Os exercícios receberam a denominação de CORE, acrônimo em inglês para Operações Combinadas e Exercícios de Rotação.

Os Exercícios CORE têm a participação de tropas das Forças de Prontidão do Exército Brasileiro. Os militares do país visitante são enquadrados em unidades do Exército anfitrião.

Além da edição atual, que é realizada nos Estados Unidos, já foram desenvolvidas duas no Brasil, uma em São Paulo e a outra no Pará e no Amapá, e uma nos Estados Unidos.



CORE: COMBINANDO DIPLOMACIA COM INTEROPERABILIDADE.

                           

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

ÍNDICE DE AERONAVES MILITARES - WARFARE Blog


NORTHROP F-5EM TIGER II - A receita perfeita da FAB para um caça pular da 2º para a 3º geração!!!


Northrop F-5EM Tiger II
FICHA TECNICA 
Velocidade de cruzeiro: Mach 0.98 (1050 km/h) à 11000 m. 
Velocidade máxima: Mach 1.63 (1741 km/h) à 11000 m
Razão de subida: 10500 m/min.
Potência: 0,64.
Carga de asa: 81,87 lb/ft².
Fator de carga: 7,33, -3,5 Gs
Taxa de giro instantânea: 20º/s.
Razão de rolamento: *250º/s (estimado).
Teto de Serviço: 15790 m.
Alcance: 890 km.
Alcance do radar: Leonardo Grifo F: 56 km, e 38 km contra alvos voando baixo.
Empuxo: 2 turbojatos General Electric J85-GE-21, com 2200 kgf de empuxo máximo, cada um.
DIMENSÕES
Comprimento: 14,45 m.
Envergadura: 8,13 m.
Altura: 4,08 m.
Peso vazio: 4392 kg.
Combustível Interno: 2563 litros.
ARMAMENTO
Ar Ar: Curto alcance: Míssil Piranha, Míssil Python 3, Míssil Python IV.
           Médio alcance: Míssil R-Darter, Míssil Derby.
Ar Terra: Bombas Mk82/83/84, bombas incendiárias BINC-200/300, bombas anti pista BAPI, bombas de fragmentação BLG-120/204/252 e lançadores de foguetes de 70 mm.
Interno: 1 canhão M-39A-2 de 20 mm com 280 tiros.

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior
O projeto do F-5 nasceu no início de 1954, quando a Northrop pesquisou junto a aliados americanos,  com poucos recursos para usar um caça mais complexo como o grande McDonnell Douglas F-4 Phanton II, as suas necessidades para um novo caça que pudesse ser construído a um baixo custo. O resultado foi um pequeno caça chamado incialmente de N156F, que acabou sendo escolhido pelo departamento de defesa dos Estados Unidos para fazer parte do programa de assistência militar para países considerados amigos. O F-5 passou por diversas versões, sendo que a versão F-5E foi a mais promissora por sua maior capacidade de combate aéreo e por isso foi adquirido por muitos países que acabaram usando-o como a primeira linha de defesa por muitos anos. Logicamente, muitos desses países, aposentaram ou estão na iminência de aposentar os pequenos F-5 e substitui-los por novos caças, porém outros, como o nosso Brasil, com sua crônica falta de verbas para investimentos em aquisição de novos vetores acabaram tendo que usar a criatividade e procurar formas de atualizar os sistemas de  seus caças para que pudessem ter alguma eficácia nos cenários atuais do campo de batalha.
O Chile e Singapura foram bem sucedidos nos programas de modernizações de seus F-5E e, mais particularmente o Chile, nosso “quase” vizinho, demonstrou em combates simulados no deserto do Atacama e em Nellis nos Estados Unidos, onde participou de treinamentos Red Flag, um desempenho notável contra caças F-15 e F-16C, que são mais recentes e mais potentes que o leve F-5E. 
Graças a esse desempenho satisfatório, a FAB (Força Aérea Brasileira), resolveu seguir a receita de modernizar seus 47 F-5E, para um padrão que se chamou inicialmente F-5BR e atualmente F-5EM. Foram contratadas a Elbit Sytems de Israel, especialista nesse tipo de programa de modernização, e a nossa conhecida Embraer, que fez a  integração dos novos sistemas e a revisão estrutural dos F-5s da FAB.
Um caça F-5E da FAB antes de sua modernização.

O F-5EM teve seu radar original APQ 159 V5 da Emerson que possui um alcance teórico de 74 Km, mas sem capacidade rastrear e atacar um alvo voando baixo (look down shot down), por um moderno radar pulso Doppler Fiar Grifo F com capacidade de múltiplo engajamento e look down shot down. O alcance contra alvos voando alto, é de 56 Km, e de 38 Km contra alvos voando baixo.  A primeira vista, isso pode parecer pouco, mas os “74 Km” do radar anterior eram teóricos e pela idade do equipamento, eles eram no mínimo “míopes”. Este novo radar Grifo F, permite o uso de mísseis BVR (fora do alcance visual), coisa que nenhum caça da FAB possuía antes. Certamente foi uma escolha bem feita e aumentou a letalidade do pequeno F-5 de forma contundente. O F-5, tem um RCS frontal muito pequeno, e isso, associado ao novo radar, permite que ele se aproxime bem do inimigo antes de ser detectado, diminuindo o tempo de resposta do alvo.
A instalação do novo radar Leonardo Grifo F, exigiu modificações importantes no radome e no interior da parte frontal da aeronave. Uma das modificações foi a retirada de um dos canhões M-39 de 20 mm para acomodar o conjunto de equipamentos do novo radar. O Radome precisou ser aumentado também.
 
Uma outra melhoria muito significativa, se não a mais significativa, diz respeito ao uso do sistema de transmissão e recepção de dados por data link. Com esse dispositivo, indispensável no campo de batalha atual, o F-5EM pode mandar e receber dados entre si e entre ele e um  E-99 AEW&C por exemplo, sem expor sua posição. O F-5EM poderia, por exemplo, manter seu radar desligado e receberia os dados de posicionamento do inimigo, do radar Erieye do E-99. O sistema de data link que o F-5EM usa, e o rádio V/UHF digital da marca Rohde & Schwartz que fazem as transmissões de dados e voz usando criptografia e salto de frequência (com centenas de mudanças de frequência por segundo), tornando a interceptação dessas comunicações algo praticamente impossível. O desenvolvimento de táticas de interceptação e combate usando esse sistema de integração de dados, permitiu um aumento de letalidade para um padrão inédito na Força Aérea Brasileira.
O F-5EM trouxe um importante aumento de capacidade para os pilotos da FAB. Muitos de seus recursos novos só poderiam ser experimentados em aeronaves mais novas.

Foram instalados 2 computadores que recebem dados de diversos sensores espalhados pela fuselagem do avião, e enviam esses dados de forma organizada para as telas do painel do F-5M, promovendo a consciência situacional do piloto, e facilitando a tomada de decisões durante o combate. Um outro sistema muito importante instalado no F-5EM, é o RWR (sistema de alerta radar) da empresa israelense Elisra. Esse sistema detecta, analisa e alerta o piloto sobre emissões de radares que estiverem rastreando o avião. Com isso o piloto fica ciente do tipo de ameaça que ele está sofrendo, e com isso poder iniciar os procedimentos de combate, para enfrentar ou se evadir.
Foi instalado no F-5M uma cabine de nova geração com 3 telas multifunção MFD coloridas, e incorporado um controle HOTAS (hands on throttle-and-stick) para diminuir a carga de trabalho do piloto, e agilizando sua capacidade de resposta em combate, na medida que todos os sistemas importantes para a administração da situação de voo e combate são acionadas no manete do HOTAS.
Uma das mudanças mais severas no F-5EM ficou em seu painel de instrumentos do cockpit. O F-5 original tinha apenas instrumentos analógicos. O novo painel substituiu tudo por 3 telas mulfuncionais que garantem maior agilidade de leitura para facilitar a operação da aeronave.

No que se refere ao armamento, os novos sensores, permitem o uso de armas que  nunca tinham sido usadas pelos caçadores da FAB, como por exemplo um míssil de médio alcance. O radar Fiar Grifo F, pode ser usado para fornecer dados de ataque para mísseis de diversas nacionalidades, como o AIM-120 Amraam, MICA, R-Darter, e Derby. Essa possibilidade é muito importante na medida que nos deixa 
livres para escolher uma arma que seja isenta de restrições “idiotas” para o fornecimento de armas. 
A FAB adquiriu um lote de mísseis Derby, fabricados pela Rafael, empresa do segmento aeroespacial de Israel, Este míssil tem guiagem ativa alcance de 50 km. Os mísseis de curto alcance serão o Piranha, Python III e Python IV. todos guiados por infravermelho, sendo o Python IV o míssil com alta capacidade de engajamento fora do ângulo de visada, o que lhe permite engajar alvos mais manobráveis e com alta chance de destruição. 
Para o ataque a alvos terrestres, o F-5EM, terá uma maior precisão por causa da instalação de um radar altímetro usado no AMX. Embora a FAB não deva adquirir o míssil Maverick, ele poderia ser facilmente integrado ao F-5EM devido aos seus novos sistemas. Um dos 2 canhões M-39 A-2 de 20 mm teve que ser removido para a instalação de aviônicos e do novo radar, porém isso não piora o poder de fogo do F-5EM que a partir de agora será armado com mais mísseis por causa dos incrementos na aviônica.
Nessa rara foto de um F-5EM armado, podemos ver sua composição de 2 mísseis Python IV na ponta das asas e 2 mísseis de médio alcance Derby nos cabides externos.

Como pode-se ver, a FAB fez um trabalho muito eficiente para definir os requisitos de melhorias e modernização dos F-5E, para passarem ao padrão F-5EM. Certamente que o programa de modernização da FAB criou a versão mais eficaz do F-5E em serviço no mundo. No entanto, as células estão no final de sua vida útil e antes do fim da década de 20, estes caças deixarão as fileiras da FAB e terão o merecido descanso. A FAB gostaria de substituir estes F-5EM por mais um lote de caças F-39E Gripen, porém, com os cortes de verba impostos pelo governo Lula, os orçamentos reduzidos não permitirão a concretização dessa ideia. Hoje, se considera a possível compra de caças usados, com maior probabilidade sobre caças F-16 de segunda mão que começam a ficar disponíveis no mercado internacional e poderiam atender a demanda da FAB pela substituição de dois esquadrões de caças F-5EM.

Um F-5EM da FAB operando na base norte americana de Nellis em um exercício Red Flag.


F-5EM equipado para treinamento de combate.


A FAB também possui uma reduzida quantidade de exemplares biplaces F-5FM, usadas para treinamento.


                           

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Sobre homens alemães uniformizados: a Alemanha deveria reintroduzir o serviço nacional?


Por Katja Hoyer, Zeitgeist, 8 de agosto de 2024.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 8 de agosto de 2024.

À luz da guerra na Ucrânia, muitos países europeus estão debatendo se devem reintroduzir alguma forma de Serviço Nacional. Os leitores britânicos se lembrarão de que houve uma tentativa sem entusiasmo de um debate público sobre isso na campanha Tory que antecedeu a eleição geral. Curiosamente, ninguém levou isso particularmente a sério. O recrutamento não é algo muito britânico de se fazer. O Reino Unido tem uma longa e orgulhosa tradição militar, mas é baseada em voluntários. O recrutamento aconteceu apenas no contexto das duas Guerras Mundiais e mesmo assim com relutância.

Na Alemanha, a ideia do Serviço Nacional tem uma tradição muito diferente. É uma intrinsecamente ligada à história nacional de maneiras que vão desde ser uma alavanca de unificação no século XIX até atuar como um instrumento de ideologia no século XX. Discussões sobre a reintrodução do recrutamento são levadas muito a sério.

O Ministro da Defesa Boris Pistorius – de longe o político mais popular da Alemanha – propôs um tipo de meio termo no qual um questionário é enviado a todos os homens de 18 anos. Com base nas respostas, 40.000 fariam um exame médico. Então, 10.000 seriam escolhidos para o Serviço Nacional. As mulheres não seriam recrutadas, pois isso exigiria uma mudança na constituição, o que é um processo longo e difícil. No entanto, elas podem se inscrever voluntariamente.

Uma pesquisa na Grã-Bretanha mostrou que menos de um terço das pessoas apoiaria a reintrodução do serviço militar obrigatório por 12 meses após sua abolição em 1963. A Alemanha só suspendeu o recrutamento em 2011, e a maioria das pesquisas indica que há uma pequena maioria a favor de sua reintrodução.

Dado esse debate interessante, eu estava ansioso para ouvir o que o ex-ministro da Defesa alemão Karl-Theodor zu Guttenberg tinha a dizer sobre isso. Ele estava no evento em Brandemburgo no último final de semana sobre o qual escrevi no meu artigo anterior. Foi durante seu mandato e por sua iniciativa que o recrutamento foi suspenso. No último sábado, ele argumentou muito fortemente que ele deveria ser reintroduzido.

Seus argumentos eram os mesmos de sempre. Uma reintrodução pode ajudar a lidar com a crise de recrutamento na Bundeswehr, o exército alemão. Isso daria aos jovens uma chance de retribuir à sociedade que pagou por sua educação. E, falando de sua própria experiência como um "pirralho mimado" — ele usou uma frase alemã próxima a essa tradução — ele sentiu que não lhe faria mal dormir em um quarto com outras sete pessoas e ouvir o que fazer.

Por que ele suspendeu isso em 2011, então, alguém na plateia quis saber. Guttenberg argumentou que o orçamento de defesa havia sido cortado pela administração Merkel e ele teve que trabalhar com o que lhe foi dado. De qualquer forma, o período de serviço havia sido diluído para apenas 6 meses e o processo de recrutamento foi tão sem entusiasmo que apenas 16% dos jovens acabaram fazendo o treinamento básico.

Posso certamente testemunhar o último. Quando terminei a escola, o recrutamento ainda estava em vigor e, dos meus amigos homens, apenas aqueles que realmente queriam fazê-lo concluíram o treinamento básico. Alguns fizeram a alternativa civil, um tipo de serviço social para o qual você poderia fazer qualquer coisa, desde trabalhar em um asilo de idosos até reintroduzir veados na natureza. Mas, novamente, apenas aqueles que queriam fazer isso, o fizeram.

A maioria dos meus amigos simplesmente tentou reprovar no exame médico. Um comeu seis ovos, reprovando assim nos indicadores renais no teste de urina. Outro fumou maconha antes, reprovando no teste de drogas. Todos voltaram aliviados quando lhes disseram que não eram adequados para a Bundeswehr.

Ironicamente, um dos garotos que queria ir, querendo se tornar um piloto de caça, foi informado no médico que sua visão não era boa o suficiente. Então, eles o classificaram como Nível 2, o que limitou as áreas onde ele poderia ser colocado. Ele optou pelo serviço civil no final.

Dada toda essa esquiva no início dos anos 2000, por que Guttenberg achou que daria certo dessa vez, outra pessoa perguntou. Ele disse que teria que ser tornado atraente com mais opções de aprendizado e estudo pela Bundeswehr. "Então você está tentando vender a Bundeswehr para jovens fingindo que não é serviço militar que você quer que eles façam?", pressionou a pessoa que fez a pergunta.

É um ponto justo. Já há muitas pessoas que usam a Bundeswehr como um meio de estudar em vez de se juntar a ela por um longo prazo. Como resultado, ela já tem um corpo de oficiais que é desproporcionalmente grande em comparação com os praças. É difícil ver como esse problema seria resolvido.

Os jovens também parecem ser tão hostis à ideia do Serviço Nacional quanto eram na minha época. Pesquisas mostram que 60% dos jovens – ou seja, aqueles que seriam afetados diretamente – são contra a ideia.

Tivemos um exemplo disso na sala no sábado. Um jovem levantou a mão e disse a Guttenberg que não devia nada à sociedade e não via por que deveria "desperdiçar um ano" de sua vida em algo que não queria fazer.

Muitas pessoas mais velhas disseram em particular depois que sentiam que era exatamente esse tipo de atitude que fazia com que os jovens fossem obrigados a fazer algo que não queriam. Para mim, esse foi um exemplo interessante do conflito entre direitos individuais e coesão social ali mesmo em um velho celeiro em Brandemburgo.

Depois da palestra de Guttenberg, falei com muitas pessoas no evento sobre isso em um ambiente mais casual. Como esperado, a grande maioria das pessoas da minha idade e mais velhas apoiaram a ideia de reintroduzir o recrutamento (apesar do ceticismo generalizado sobre se ele poderia ser financiado).

Curiosamente, para a maioria, isso não era tanto sobre defesa e prontidão para a guerra, mas sobre coesão social. As pessoas achavam que era bom para os jovens (e possivelmente mulheres) passarem tempo com pessoas de diferentes classes sociais, diferentes regiões e diferentes origens, longe de suas famílias, amigos e zonas de conforto. Era para ser uma experiência de formação de caráter e de nação.

Fascinante, pensei, já que estávamos em um evento que era sobre a Europa e muitas pessoas presentes eram ardentes proponentes da UE. No entanto, eles querem que os bávaros e os renanos rastejem pela lama juntos e se unam enquanto seus colegas franceses fazem o mesmo em seu próprio exército?

Também foi interessante porque, como historiador, não pude deixar de pensar em como esse era exatamente o papel que o serviço militar desempenhou durante e após a unificação alemã no século XIX. Foi introduzido pela primeira vez em grande escala durante as Guerras Napoleônicas, que são conhecidas como as "Guerras de Libertação" em alemão. A ideia de que pessoas de diferentes estados alemães lutaram juntas a partir de 1813 para expulsar os franceses de seus territórios pairou nas mentes dos nacionalistas alemães por um século e ainda estava sendo evocada em 1914, quando a Primeira Guerra Mundial começou.

Não vou aborrecê-lo com os detalhes do recrutamento depois que a Alemanha foi fundada em 1871 (se estiver interessado, há um pouco sobre seus efeitos em Blood and Iron). Basta dizer que o primeiro chanceler alemão Otto von Bismarck estava profundamente ciente do poder galvanizador que o serviço militar tinha sobre as coortes de jovens que deveriam se sentir alemães pela primeira vez. Servir lado a lado por longos períodos de tempo ajudou a superar algumas das vastas diferenças sociais, regionais e religiosas que dividiam as gerações mais velhas.

Após a Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes proibiu o recrutamento na Alemanha para garantir que a República de Weimar tivesse capacidades militares limitadas. O problema com isso foi que ajudou a gerar profundo ressentimento nos círculos militares, bem como terceirizou uma proporção significativa dos veteranos endurecidos pela batalha e da próxima geração, muitos dos quais sentiam que tinham perdido algo, para organizações paramilitares.

Os nazistas reintroduziram o recrutamento em 1935, quebrando descaradamente o Tratado de Versalhes no processo. Em suas mãos, o serviço militar e trabalhista, juntamente com a Juventude Hitlerista, que eventualmente foi compulsória para meninos, tornou-se um instrumento de doutrinação.

Após a Segunda Guerra Mundial, houve uma lacuna na qual a Alemanha foi desmilitarizada. Mas uma vez que os dois estados alemães foram estabelecidos e se tornaram a fronteira da Guerra Fria, tanto a Alemanha Oriental quanto a Ocidental reintroduziram o recrutamento – a Ocidental em 1956, a Oriental em 1962. Berlim Ocidental, no entanto, ainda era legalmente uma cidade ocupada, então não fazia parte da Alemanha Ocidental. Isso significava que os jovens não podiam ser recrutados de lá e, como resultado, muitos alemães ocidentais que queriam evitar o recrutamento se mudaram para lá.

Mesmo com este breve resumo, fica claro o quão importante é este debate na Alemanha. Se os homens alemães devem ou não ser forçados a passar um ano de suas vidas em idade de formação fazendo algo que o estado quer que eles façam é uma questão extremamente carregada e cheia de ressonância histórica na Alemanha. Faça isso sem o consentimento das pessoas e você pode acabar criando mais tensão social do que alivia. Não faça nada e a Alemanha não será capaz de se defender. Esse é um dilema não muito distante do problema que os prussianos tiveram quando Napoleão invadiu há mais de 200 anos.

Acho que Pistorius provavelmente está certo em explorar modelos híbridos. Parece haver apoio público suficiente para isso e permitirá que o estado veja se as medidas têm o efeito desejado. Por outro lado, a incapacidade da Alemanha de colocar seu exército em forma é preocupante em um mundo que não é o que era em 2011, há um grau de urgência envolvido em termos de defesa e dissuasão.

Peço desculpas se você estava lendo isso, esperando pacientemente por uma conclusão definitiva. Em vez disso, devo deixá-lo — na questão do recrutamento alemão, assim como em muitos outros assuntos — com a desculpa padrão do historiador: é complicado.