domingo, 25 de agosto de 2019

O Elemento Humano: Quando engenhocas se tornam estratégia

Pelo General H. R. McMAster, em 2009.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 18 de agosto de 2019.

Tenente-General Herbert Raymond McMaster.
As guerras no Afeganistão e no Iraque, e os debates políticos sobre a natureza e o alcance do envolvimento dos EUA nesses países, ressuscitaram as "lições" do Vietnã mais uma vez. Longe de ter chutado a "síndrome do Vietnã", como o presidente George H. W. Bush colocou no exuberante rescaldo da Operação Tempestade no Deserto, agora parece possível que a memória da Guerra do Vietnã seja confundida para sempre na imaginação do público com os conflitos no Afeganistão e Iraque, produzindo algo como uma síndrome do Vietnã com esteroides.
Um pouco disso é compreensível. No Afeganistão e Iraque, os Estados Unidos estão engajados em conflitos do tipo que, após a dolorosa experiência da Guerra do Vietnã, muitos acreditavam que nossa nação nunca mais lutaria. À medida que o debate sobre política e estratégia americana no Iraque e no Afeganistão se intensificava no ano passado, vozes de todos os lados invocaram o Vietnã para gerar apoio para seus argumentos. Alguns sugeriram que, no nível da grande estratégia, os conflitos no Afeganistão e no Iraque eram campanhas relacionadas na guerra contra o terrorismo mais ampla, assim como o Vietnã era um dos capítulos de uma Guerra Fria mais ampla; outros, argumentando em termos ideológicos, compararam a luta global de hoje contra adeptos do Jihadismo Salafista à luta de ontem contra o Comunismo mundial. Em um nível ainda mais alto de abstração, o Afeganistão e o Iraque parecem análogos à experiência americana no Vietnã simplesmente porque apresentam problemas complexos com uma multiplicidade de dimensões políticas, militares, econômicas e culturais.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Cabo Toloza, o "Rambo Salvadorenho"


Por Filipe do A. Monteiro
Cabo Samuel Toloza, Batalhão Cuscatlan do Exército de El Salvador. A palavra Cuscatlan é o nome original dos nativos Nahua para o que é hoje El Salvador. O nome foi adotado por uma unidade salvadorenha que se destacou lutando contra comunistas na Guerra Civil Salvadorenha. O batalhão, composto por 380 homens, foi enviado ao Iraque como parte do MNF-1 e foi parte da Brigada Hispanoamericana (Brigada Plus Ultra), que era formado por tropas hondurenhas, nicaraguenses, dominicanas, salvadorenhas e espanholas (que formavam a maior parte da força até a decisão de Madri de retirar suas tropas em 2004).

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

IVECO/ OTO MELARA CENTAURO II - O caça tanques italiano


FICHA TÉCNICA
Velocidade máxima: 105 Km/h (Em estrada).
Alcance Máxima: 800 Km (Em estrada).
Motor: Motor turbodiesel Iveco Vector 8V com 720 hp de potência.
Peso: 30 Toneladas (carregado).
Comprimento: 8,26 m.
Largura: 3,38 m.
Altura: 3,65 m.
Tripulação: 4 tripulantes.
Inclinação frontal: 60º.
Inclinação lateral: 30º.
Passagem de vau: 1,5 m,
Obstáculo vertical: 0,60 m.
Armamento: Um canhão de 120 x 45 mm, com 40 granadas. Uma metralhadora coaxial em calibre 7,62 mm com 750 munições e uma estação remota de armas Hitrole, da Oto Melara, que pode ser equipada com uma metralhadora de uso geral 7,62 mm, ou uma metralhadora pesada M2HB em calibre 12,7 mm. O uso de lançador automático de granadas, também pode ser empregado nessa estação de armamento. Há 16 granadas de fumaça sendo que 8 são para pronto uso, 4 de cada lado da torre.

domingo, 11 de agosto de 2019

O FN FAL quase foi o Fuzil de Batalha da América

  


Do blog War is Boring, 5 de outubro de 2014.
Tradução Filipe do A. Monteiro.

A ARMA BELGA ERA MUITO BOA APESAR DISSO
Fuzileiro Naval dos Estados Unidos com um SLR L1A1 britânico, durante 
um exercício de treinamento como parte da Operação Escudo do Deserto na 
Guerra do Golfo, 5 de dezembro de 1990
Ele poderia ter sido o fuzil de batalha principal dos Estados Unidos. Em vez disso, tornou-se "o braço direito do mundo livre."
Nomeie uma guerra, revolução ou revolta durante a Guerra Fria que envolveu a Comunidade Britânica, nações da Europa Ocidental ou seus aliados e você encontrou o FAL da Fabrique Nationale nas mãos dos soldados lutando nas batalhas.
Não admira que o FAL ganhou seu apelido e se tornou um símbolo da luta contra o comunismo.
Começando imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, a FN produziu dois milhões de cópias do Fusil Automatique Léger— ou Fuzil Automático Leve. Mais de 90 nações adotaram a arma. Por um período, o FAL era até mesmo o fuzil oficial da maioria dos países da OTAN.
Um dos exemplos mais famosos da onipresença da FAL foi durante a Guerra das Falklands em 1982. O exército argentino levou a versão totalmente automática do FAL. As tropas britânicas tinham a versão semi-automática L1A1 Self-Loading Rifle ("Fuzil Auto-Carregável"). Depois de capturar tropas argentinas, a infantaria britânica e os fuzileiros navais britânicos freqüentemente andaram até a pilha de armas argentinas e recuperaram os FALs totalmente automáticos.
Na Argentina, milhares de FALs sofreram reconstruções em arsenais em 2010, um sinal claro de que o país continuará a usar a arma.
Ou considere a Guerra dos Seis Dias, de 1967. Um equívoco comum é que a Uzi de nove milímetros era a arma favorita da Força de Defesa de Israel. Na verdade, soldados israelenses carregaram mais FALs do que Uzis quando enfrentaram forças egípcias, jordanianas e sírias.
De muitas maneiras, foi a resposta do Ocidente ao Kalashnikov, apesar de ter disparado a munição mais pesada de 7,62x51 milímetros OTAN em vez da munição intermediária de 7,62x39 milímetros do AK-47.
Como o FAL viu a luz do dia é uma história que combina as realidades táticas que emergiram da Segunda Guerra Mundial e a política de quem lideraria quem durante a Guerra Fria.
SLR 1A1
O sucesso do inovador fuzil de assalto Sturmgewehr 44, da Alemanha, convenceu os oficiais de material bélico e os projetistas de armas de que a era do fuzil de batalha de ação rápida estava morta e ultrapassada. Cartuchos mais leves em fuzis de assalto com seletor de tiro capturaram a imaginação dos projetistas de armas.
Apenas os Estados Unidos adotaram um fuzil de batalha semi-automático de grosso calibre, o bem-estimado M1 Garand .30–06, arma que o General George Patton chamou de “o maior implemento de batalha já inventado”. Mas o futuro era um que disparava em fogo totalmente automático e o Garand não.
Mas a outra questão era: qual calibre? Enquanto os projetistas de armas de ambos os lados do Atlântico brincavam com protótipos de fuzis de batalha, os britânicos testaram uma munição de sete milímetros no novo FAL… e gostaram.
Nos Estados Unidos, o Exército queria continuar com a munição de calibre .30, afirmando categoricamente que nenhum outro cartucho poderia se manter no campo de batalha.
Com a formação da nova aliança da Otan em 1949, generais e planejadores civis falaram da necessidade de padronizar equipamentos, armas e suprimentos.
Rifles: An Illustrated History of their Impact.
"O objetivo louvável foi um que esteve muito nas mentes de muitos pensadores militares voltados para o futuro por um longo tempo", escreve David Westwood, autor de Rifles: An Illustrated History of their Impact (Fuzis: Uma História Ilustrada do Seu Impacto, sem tradução para o português). "Porque a experiência mostrou que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha lutavam frequentemente lado a lado, e a comunalidade seria em benefício de todos, incluindo os soldados em campanha".
Uma coisa era certa. Os britânicos ficaram impressionados com o FAL. Eles consideraram a arma de fogo superior aos concorrentes porque era fácil de manter, desmontar e limpar. Ele se remontava sem ferramentas especiais e era uma arma de fogo com seletor de tiro - mas disparava a munição mais leve.
Os generais americanos "turrões" não aceitariam nada além de uma arma calibre .30, insistindo na superioridade de um protótipo chamado T25, um precursor do M14 que não era nada mais que um Garand embelezado.
Logo, houve uma “Batalha das Balas” que chegou até a Casa Branca e a 10 Downing Street. O presidente Harry Truman e o primeiro-ministro Winston Churchill realizaram uma mini-conferência, onde dizem os rumores, eles conseguiriam um quid pro quo - os EUA adotariam o FAL como seu principal fuzil de batalha se a Grã-Bretanha apoiasse a OTAN adotando a munição de 7,62x51 milímetros.
A OTAN adotou a munição. No entanto, os EUA renegaram, desenvolveram o M14 - que disparava o cartucho de 7,62 milímetros da OTAN - e o adotaram como o fuzil principal das forças armadas americanas. No final, não importava para a FN porque os países da OTAN, incluindo a Grã-Bretanha, começaram a abocanhar o FAL calibrado na munição da OTAN.
Muitos consideram essa combinação de arma e cartucho o emparelhamento quintessencial do fuzil de batalha e bala durante o século XX - o FAL entrou em produção em 1953 e a FN continuou a produzir o fuzil até 1988. O M-14 caiu no esquecimento como o fuzil de batalha principal dos EUA dentro de alguns anos, substituído pelo M-16.
The FN FAL Battle Rifle
“Independentemente da atividade política que ocorreu antes de sua adoção, o 7,62x51 milímetros da OTAN revelou-se um excelente e poderoso cartucho militar”, escreve Robert Cashner, autor de The FN FAL Battle Rifle.“Com milhões de FALs fabricados e distribuídos internacionalmente, o fuzil desempenhou um papel importante em tornar o 7,62x51 milímetros da OTAN o sucesso que foi.”
O FAL também provou ser um sucesso no Vietnã nas mãos de tropas australianas. Mais de 60.000 Aussies serviram na Guerra do Vietnã de 1962 a 1972, incluindo o 1º Batalhão, Regimento Real Australiano (1RAR). Os australianos frequentemente enfrentavam vietcongues bem equipados que carregavam AK-47 novos fornecidos pelos chineses comunistas e países do bloco oriental.
Apesar do seu peso e tamanho - o FAL é um dos mais longos fuzis de batalha do século XX - as tropas do 1RAR da Austrália consideraram sua arma adequada para a guerra na selva.
A poderosa munição da OTAN poderia perfurar a folhagem espessa. Foi também uma arma muito mais confiável do que a versão inicial do M-16 que as forças dos EUA carregavam. O FAL raramente travou ou sofreu incidentes de tiro - problemas que atormentaram o M-16 durante anos.

Original: https://medium.com/war-is-boring/the-fn-fal-was-almost-americas-battle-rifle-5186bdbda998



sábado, 3 de agosto de 2019

O DRAGÃO NOS TRÓPICOS. A expansão militar da China no hemisfério ocidental


Por Dr. José de Arimatéia da Cruz, 30 de setembro de 2014.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 03 de agosto de 2019.

Uma China próspera e estável não será uma ameaça para nenhum país. Será apenas uma força positiva para a paz mundial. Vice-Presidente Xi Jinping, 2012.

Apesar do fato de que a América Latina tem sido uma área de influência dos EUA desde 1823 com o estabelecimento da Doutrina Monroe, a região tem sido sempre relegada a uma reflexão tardia pelos responsáveis pela política externa dos EUA. A América Latina, como declarou JD Gordon, “em grande parte permaneceu como um remanso político para os Estados Unidos, com a América manifestando pouco em termos de estratégia para a região, isso quando pelo menos a notou” . 1 Essa postura benigna de negligência por parte dos formuladores de políticas dos EUA têm enormes implicações geopolíticas e de segurança nacional para a pátria no século XXI.

Ao negligenciar a América Latina, os Estados Unidos abriram uma porta para que potências externas preenchessem o vácuo político deixado pelos EUA, particularmente nações antagônicas à hegemonia dos EUA na região, como Irã, Rússia e a República Popular da China (RPC). Esses países rapidamente se posicionaram como uma alternativa à falta de interesse político por parte dos Estados Unidos. No contexto da política latino-americana, a presença chinesa no Hemisfério Ocidental apresenta um novo alinhamento de governos que alimentaram um sentimento antiamericano de política externa como Bolívia, Equador, Argentina, Venezuela, Nicarágua e Brasil. De fato, a China firmou acordos bilaterais com cada um desses países latino-americanos. Essas nações, embora economicamente ligadas ao mercado dos EUA, assumiram recentemente uma posição mais conflituosa em relação aos Estados Unidos, graças ao novo alinhamento da política externa com a RPC. Enquanto a presença dos EUA na região seja declinante ou inexistente, o envolvimento da China está em ascensão. Até a ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, observou que a China está fazendo ganhos "perturbadores" na região. 2
Capacetes azuis chineses na Libéria, outubro de 2018.
O plano "Ya-Fei-La" ou "Ásia-África-América Latina" da China foi concebido durante a era Mao "em um movimento para promover a solidariedade dos países em desenvolvimento".3 No entanto, o primeiro documento de política oficial da China sobre a América Latina só foi divulgado em novembro de 2008. Neste documento intitulado “Documento de política da China para a América Latina e o Caribe”, o governo chinês declarou oficialmente que seus objetivos para a América Latina e o Caribe eram impulsionar “visitas mútuas de defesa e de autoridades militares dos dois lados, bem como intercâmbios de pessoal”. Além disso, o governo chinês quer expandir “intercâmbios profissionais em treinamento militar, treinamento de pessoal e manutenção da paz”.4 Segundo David Shambaugh, contribuir para as operações de manutenção da paz faz parte da segurança global da China. De fato, a China agora é o 16º maior contribuinte nacional de pessoal para as operações de manutenção da paz, e é a primeira entre os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas.5 Além de fornecer Operações de Paz da ONU, a China também está ativamente engajada no que eles chamaram de "diplomacia militar-militar ou militar bilateral".6 Como parte de sua diplomacia militar, a China também mantém diálogos de defesa ou diálogos estratégicos com 26 países em todo o mundo.7 Alguns desses países são atores-chave e parceiros estratégicos na América Latina, incluindo o Brasil e o México.
Militar chinês (direita) no Estágio Internacional de Operações na Selva (EIOS) do CIGS,
12 de setembro-14 de outubro de 2016.
Outro aspecto importante da estratégia de "sair" da China, "uma estratégia projetada para promover sistematicamente as exportações, obter acesso aos recursos necessários e acelerar o desenvolvimento de seus empreendimentos multilaterais,”8 é treinar oficiais estrangeiros em suas academias e instituições militares.9 Por exemplo, os exércitos chileno e uruguaio têm enviado seus oficiais para estudar no Instituto de Estudos de Defesa em Changping desde 1999 e 2009, respectivamente.10 Além disso, como parte de sua diplomacia militar, a China realizou exercícios militares com vários países latino-americanos. Em novembro de 2010, militares chineses “participaram com 50 peruanos no exercício humanitário Angel de la Paz (Anjo da Paz), incluindo o desdobramento na vila de Villa Maria del Trunfo para realizar serviços médicos para a população local.”11
Policial chinês em patrulha nas ruas de Port-au-Prince,
 no Haiti, 28 de janeiro de 2010.
David Shambaugh relata que, como parte da estratégia de sair da China, a China está "se tornando uma grande vendedora de armas no exterior, ocupando o quarto lugar internacional em 2010, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo".12 Há duas razões pelas quais a China criou um nicho para suas armas na América Latina. Primeiro, é a ascensão da maré rosa na América Latina entre 1998 e 2009, quando líderes esquerdistas, muitos hostis aos Estados Unidos, venceram eleições na Venezuela (1998), Chile (2000), Brasil (2002), Argentina (2003), Uruguai (2004), Bolívia (2005), Nicarágua (2006), Peru (2006), Equador (2007), Honduras (2007), Paraguai (2008) e El Salvador (2009). Chegando ao poder após a implementação de programas de ajuste estrutural na América Latina pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional, os líderes da revolução das marés rosas formaram um bloco ideológico que criticava o Consenso de Washington dos EUA. Este bloco ideológico liderado pela Venezuela é conhecido como a Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA). Como J. D. Gordon argumenta: Através de seus auspícios, autoritários empenhados na expansão e no coletivismo realizaram uma massiva campanha de propaganda contra os EUA e seus aliados regionais a fim de minar sua legitimidade, ao mesmo tempo em que promoviam o socialismo e a redistribuição econômica sistemática em casa.13
A postura política antagônica desses regimes em relação aos Estados Unidos e sua incapacidade de adquirir tecnologia militar ocidental os levaram a procurar equipamentos chineses.14 De acordo com R. Evan Ellis, “o primeiro grande avanço para a RPC em vendas militares para a América Latina foi o anúncio da Venezuela em 2008 de que compraria aeronaves K-8 (Karakorum), co-desenvolvidas com o Paquistão.”15 Não apenas a Venezuela, mas também a Bolívia, compraram K-8 chineses "depois que os Estados Unidos impediram a aquisição de uma aeronave comparável da República Tcheca."16
Carro blindado anfíbio VN-16 105mm de fabricação
chinesa na Venezuela, 5 de julho de 2018.
A segunda razão para as nações latino-americanas comprarem equipamentos militares chineses é o preço. O equipamento militar chinês - comparado a seus concorrentes, os Estados Unidos, a Rússia, a Inglaterra e a França - é relativamente barato, fornecendo, portanto, um local alternativo para as nações latino-americanas adquirirem equipamentos militares necessários. Entre 2006 e 2009, a China exportou armas militares convencionais para vários países, incluindo Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, México, Peru e Venezuela.17
Desde que Deng Xiaoping e os moderadores pragmáticos chegaram ao poder na China em 1979, juntando-se assim o comunismo e o capitalismo - também conhecido como o Modelo de Pequim 18 - A China tem se esforçado para alcançar seu lugar de direito entre as grandes potências do sistema internacional. Quer os Estados Unidos gostem ou não, a China será um grande poder a ser considerada no futuro. Enquanto a ascensão da China ao poder é inevitável, ainda não é uma alta prioridade para Washington. No entanto, a ascensão e expansão da China no Hemisfério Ocidental apresenta uma série de preocupações críticas de segurança nacional que não podem ser ignoradas pelos Estados Unidos e pelo Exército dos EUA. De fato, na Lista de Questões Estratégicas da Escola de Guerra dos EUA de 2014-15, as preocupações no Hemisfério Ocidental identificam especificamente o soft power (poder brando) chinês e seu engajamento político-econômico-informacional-de segurança como uma prioridade.19
Uma questão de segurança nacional para os Estados Unidos e o Exército é a expansão das forças armadas chinesas na América Latina. A parceria militar da China com membros da coalizão da ALBA levanta várias preocupações. Primeiro, a China não diferencia seus clientes. O principal objetivo da China é estabelecer uma pegada comercial na região. Portanto, armas militares vendidas para alguns países da América Latina podem acabar nas mãos erradas. A Venezuela é um bom exemplo. Anteriormente sob Hugo Chávez e agora sob Nicolás Maduro, a Venezuela vem construindo sua capacidade militar. Como a Venezuela teve algumas escaramuças de fronteira com alguns de seus vizinhos, pode-se argumentar que é do interesse da Venezuela armar-se. A preocupação é que a Venezuela tenha um relacionamento confortável com as Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia—Ejército del Pueblo (FARC-EP or FARC) - narco-terroristas, bem como uma parceria estratégica com a Rússia, Irã e Hezbollah. Além disso, como apontado por Ellis em seu artigo, "Os Estados Unidos, a América Latina e a China: uma relação triangular", A disposição da China de vender armas de baixo custo para países como a Venezuela enfraqueceu a capacidade dos EUA de trabalhar com seus aliados para impor controles de compra de armas a certos regimes.20
Outra grande preocupação em relação à expansão da China na América Latina é seu apoio a regimes autoritários. Durante grande parte das décadas de 1960, 1970 e 1980, as nações latino-americanas estavam sob o bastião de regimes burocráticos-autoritários. A democracia retornou à América Latina com a “terceira onda” de democratização no final da década de 1980, quando os militares voltaram para seus quartéis. A política estratégica expansionista da China na América Latina poderia reverter as conquistas de quase três décadas de valores frágeis, porém democráticos.
Como parte de sua política estratégica de “sair”. A China hoje está mais interconectada com o mundo do que nunca. Embora essas conexões humanas aumentadas sejam valorizadas no mundo globalizado do século 21, elas também representam uma preocupação de segurança nacional. Ellis argumentou que, com esses contatos humanos cada vez maiores, “as organizações criminosas e terroristas chinesas e latino-americanas irão interagir de maneiras difíceis de antecipar e, muitas vezes, fora do conhecimento ou controle do estado chinês”.21 À medida que o crime se torna mais sofisticado e internacional, as organizações de tráfico de drogas (DTOs) se tornam os “cisnes negros” do mundo globalizado. Eles são difíceis de encontrar, mas existem e, uma vez descobertos, é tarde demais para avaliar seus danos à sociedade.
Enquanto o presidente chinês Xi Jinping vê uma China próspera e estável não como uma ameaça a qualquer país, mas como uma força positiva para a paz mundial, outros vêem a ascensão pacífica da China como uma questão de preocupação e um perigo para o sistema internacional. A China não dominará o mundo. No entanto, será uma superpotência em ascensão que pode nem sempre cumprir as regras do jogo, especialmente se considerar essas regras como uma criação do mundo ocidental e uma tentativa de manter a China em seu lugar.
O governo dos EUA e o Exército podem fazer muito para garantir que, à medida que a China se eleva dentro do sistema internacional, ela respeite as normas, valores e instituições internacionais e não represente uma ameaça para o Hemisfério Ocidental. Os Estados Unidos devem mostrar à região que estão preocupados com a influência da China e se preocupam com a direção e o futuro do Hemisfério Ocidental. Mas, as ações falam mais alto que palavras ou pseudo-discursos. Recentemente, o presidente Barack Obama reuniu-se com 50 chefes de Estado africanos em Washington, DC, e anunciou que os Estados Unidos forneceriam US$33 bilhões em investimentos e prometeram aumentar a eletricidade para 60 milhões de lares africanos.22 Embora essa ação seja louvável em direção a um continente que sofreu por muito tempo, esse plano de ação não existe para a América Latina. Os Estados Unidos podem demonstrar boa vontade e criar confiança em direção à América Latina, buscando a mesma estratégia econômica para conquistar os “corações e mentes” de alguns regimes de esquerda que se tornaram aliados da China. De fato, alguns observadores acreditam que o governo Obama organizou a Cúpula de Líderes Norte-Americanos e Africanos em um “esforço desesperado para alcançar a China”, que se tornou o principal parceiro de negócios da África ”.23 O governo dos EUA e o Exército também poderiam expandir o Plano Colômbia, uma ofensiva antidroga, para incluir outras nações que também são afetadas pelo câncer do tráfico de drogas na região. Na verdade, seria sensato, por parte do governo dos Estados Unidos e do Exército, criar um Plano Latino-americano, semelhante ao Plano Marshall criado após a Segunda Guerra Mundial para reconstruir a Europa, com um foco militar na região: vigilância , exercícios militares conjuntos, transferência de armas, combate ao narcotráfico, treinamento policial, etc.
Então presidente Hugo Chavez em desfile.
A expansão da China no Hemisfério Ocidental concentrou-se no comércio de commodities e recursos naturais necessários para sua expansão industrial. O governo dos EUA poderia propor um novo plano para aumentar os empréstimos e investimentos na região. Como foi apontado, “sem os mais de US $ 40 bilhões do Banco de Desenvolvimento da China, por exemplo, é duvidoso se o regime socialista da Venezuela poderia ter sobrevivido às eleições nacionais de 2012 e assim continuar a fazer parceria com o Irã, comprar armas russas e exportar revolução aos seus vizinhos.”24
Muito parecido com uma tragédia grega, a ascensão da China será um dos maiores dramas do século XXI. Se a China seguirá as regras do sistema internacional, essa é uma questão aberta para os sino-futurologistas responderem. No entanto, vale lembrar a sabedoria e a visão de Franklin Roosevelt em sua tentativa de criar “um sistema mundial gerenciado por grandes potências cooperativas que reconstruísse a Europa devastada pela guerra, integrasse os Estados derrotados e estabelecesse mecanismos para uma cooperação de segurança e crescimento econômico expansivo ”.25 Roosevelt pediu a Winston Churchill, que se opunha veementemente, que a China fosse incluída como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. O pensamento estratégico de Roosevelt era simples. Ele queria a China como um amigo porque "em 40 ou 50 anos, a China poderia facilmente se tornar uma nação militar muito poderosa".26 Quarenta para 50 anos está chegando. A China está mudando o mundo e o mundo está mudando a China. A China continuará sua ascensão pacífica. Como a China se encaixa com o sistema internacional depende de como a China é tratada.


Notas Finais
1. J.D. Gordon, "The Decline of U.S. Influence in Latin America," Defense Dossier, Issue 9, Washington, DC: American Foreign Policy Control, dezembro de 2013, p. 3.
2. “Latin American Geopolitics: The Dragon in the Backyard,” The Economist, 13 de agosto de 2009.
3. Margaret Myers, “China’s Engagement with Latin America: More of the Same?" Inter-American Dialogue, disponível em www.thedialogue.org/page.cfm?pageID=32&pubID39=2934&mode=print.
4. Documento de políticas da China para a América Latina e o Caribe, China View, Beijing, China, 5 de novembro de 2008, disponível em news.xinhuanet.com.
5. David Shambaugh, China Goes Global: The Partial Power, New York: Oxford University Press, 2013, p. 288.
6. Ibid., p. 299.
7. Ibid., p. 300.
8. Peter Hakim e Margaret Myers, “China and Latin America in 2013,” Inter-American Dialogue, disponível em www.thedialogue.org/page.cfm?pageID=32&pubID=3491&mode=print.
9. Shambaugh, p. 300.
10. R. Evan Ellis, China-Latin America Military Engagement: Good Will, Good Business, and Good Strategic Position, Carlisle, PA: Strategic Studies Institute, U.S. Army War College, agosto de 2011, disponível em www.strategic studiesinstitute.army.mil.
11. Ibid., p. 20.
12. Shambaugh, p. 301.
13. Gordon.
14. Ellis, “China-Latin America Military Engagement,” p. 22.
15. Ibid., p. 22.
16. R. Evan Ellis, “The United States, Latin America and China: A Triangular Relationship?Inter-American Dialogue, maio de 2012, p. 9.
17. Shambaugh, p. 303.
18. Para uma excelente discussão sobre como o Consenso ou Modelo de Pequim pode legitimar regimes autoritários, ver Stefan Halper, The Beijing Consensus: Legitimizing Authoritarianism in our Time, New York: Basic Books, 2010.
19. USAWC Key Strategic Issues List 2014-15, Carlisle, PA: Strategic Studies Institute, U.S. Army War College, 2014-15.
20. Ellis, “The United States, Latin America and China,” p. 7.
21. R. Evan Ellis, U.S. National Security Implications of Chinese Involvement in Latin America, Carlisle, PA: Strategic Studies Institute, U.S. Army War College, junho de 2005, disponível em www.carlisle.army.mil/ssi, p. 31.
22. Andres Oppenheimer, “Obama: Yes, to Africa, No to Latin America?” Miami Herald, 9 de agosto de 2014, disponível em www.miamiherald.com.
23. Ibid.
24. R. Evan Ellis, “Russia, Iran, and China in Latin America,” p. 10.
25. G. John Ikenberry, “The Rise of China and the Future of the West,” Foreign Affairs, Vol. 87, Issue 1, janeiro/fevereiro de 2008, pp. 23-37.
26. Ibid.