sábado, 18 de maio de 2024

KAI KF-21 BORAMAE - A gênese do que pode se tornar o primeira caça de 5º geração sul coreano.

 

FICHA TECNICA 
Velocidade de cruzeiro: Mach 0.9 (1111 km/h)
Velocidade máxima: Mach 1.80 (2220 km/h)
Razão de subida: 15240 m/min (estimado).
Potência: 1,1.
Carga de asa: 78,33 lb/ft².
Fator de carga: 8,5 Gs (estimado).
Taxa de giro instantânea: 21º/s (estimado).
Razão de rolamento: *250º/s (estimado).
Teto de Serviço: 16000 m.
Alcance: 2800km.
Alcance do radar: Hanwha Systems KF21AESA - 130 km contra alvos de 1m2 de RCS (estimado).
Empuxo: 2 motores General Electric F414-GE-400K, com 9790 kgf de empuxo máximo, cada um.
DIMENSÕES
Comprimento: 16,9 m.
Envergadura: 12,2 m.
Altura: 4,7 m.
Peso vazio: 11800 kg.
Combustível Interno: 17000 lb
ARMAMENTO
Ar Ar: Míssil de curto alcance IRIS-T, Míssil de longo alcance Meteor, Míssil de médio alcance AIM-120C/D Amraam, AIM9X Sidewinder.
Ar Terra: Míssil de cruzeiro Taurus KEPD 350, Míssil AGM-65 Maverick, Míssil Brimstone, Bombas de queda livre da família MK, Bombas de fragmentação CBU-87, CBU-97, WCMD, Bombas guiadas por GPS da família JDAM, Bomba planadora KGGB.
Interno: 1 canhão General Electric M-61A2 Vulcan  em calibre 20 mm.

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior
A Força Aérea da Coréia do Sul (ROKAF) possui uma grande responsabilidade sobre suas costas: A defesa de um espaço aéreo de um país que, tecnicamente, se encontra em guerra com a Coreia do Norte desde os anos 50 do século passado, uma vez que nunca foi assinado um tratado de paz. Por isso, sua força aérea é tratada com bastante atenção pelas autoridades politicas do país que investem grandes quantias de dinheiro para que a capacidade da aviação de combate do país tenha uma quantidade grande de caças e que estes sejam aeronaves de boa capacidade. No entanto parte de sua capacidade de combate aéreo já tem uma idade avançada. São 19 caças bombardeiros pesados F-4E Phanton II, e 80 caças F-5E Tiger II. Para substituir esses velhos caças, a Coreia poderia encomendar mais caças F-15K e KF-16 (O F-16 fabricado sob licença por eles) ou partir para investir em um desenvolvimento próprio de uma nova aeronave de combate que tivesse recursos mais modernos.
Durante os estudos para encontrar a configuração aerodinâmica que atendesse melhor os requisitos de desempenho que a Força Aérea da Coreia do Sul solicitou, muitos desenhos foram considerados, incluindo a configuração com canards ativos como nesse desenho conceitual.

A opção escolhida foi partir para um desenvolvimento do zero de um caça leve bimotor que tivesse desenho furtivo, mas que inicialmente, em seu primeiro lote transportaria suas cargas de armas externamente, mas com previsão para mudanças nos segundos lotes para a implementação de um compartimento de armas interno, que tornará esse projeto seu primeiro avião de 5º geração quando estiver pronto. O projeto desta aeronave foi chamado de KF-X, e quando o protótipo foi apresentado em 2021, recebeu o nome de KF-21 Boramae. A Coreia do Sul assinou um contrato com a Indonésia que deveria arcar com 20%  do custo de desenvolvimento do projeto, sendo que no entanto, o país deixou de pagar os valores contratados colocando em duvida o futuro da participação da Indonésia no programa. Problemas com espionagem industrial também pesam atualmente na polemica participação da Indonésia no desenvolvimento do KF-21.

O KF-21 Boramae teve sua apresentação publica em 9 de abril de 2021.

O KF-21, em seu primeiro lote, conforme informei anteriormente, transporta suas armas externamente, o que o torna mais fácil de ser detectado pelos radares inimigos. Por isso, ele ainda é considerado uma aeronave de 4,5 geração. Os lotes futuros terão capacidade de transportar armas internamente e isso o tornará um caça furtivo de 5º geração.
Ao todo foram construídos 6 protótipos, sendo que destes, dois são bipostos, porém com capacidade de combate total. O programa de testes de voo está indo perfeitamente bem e sem intercorrências graves, o que mostra um alto grau de competência dos engenheiros da KAI no desenvolvimento do seu novo caça.
Momento do primeiro voo do KF-21 numero 1 em 19 de julho de 2022.

Uma qualidade que considero importante em qualquer caça moderno, é a sua relação empuxo peso. Uma aeronave que tenha uma relação em que o empuxo de seus motor seja próximo do peso da aeronave em condição de combate, ou ainda, melhor, que supere esse valor, vai resultar em um caça que pode manobrar de forma agressiva perdendo menos energia em manobras de combate aéreo ou se recuperando rapidamente, depois de uma manobra de alto G. E é nesse ponto que o projeto do KF-21 surpreendeu positivamente. Quando configurado para missão de combate ar ar, sua relação empuxo peso é 1,1. Isso é melhor do que consegue um caça SAAB JAS-39E Gripen (nosso F-39), e ainda melhor do que o caça F-35 consegue. Para se chegar a esse desempenho, a KAI conseguiu fabricar uma aeronave relativamente leve, e instalou dois confiáveis motores General Electric F-414-GE-400K (uma versão do motor usado no F/A-18E Super Hornet e no nosso F-39 Gripen E). Esses motores, que serão fabricados sob licença pela empresa sul coreana  Hanwha Aerospace, entregam 9790 kgf de empuxo com os pós combustores ligados.
Embora muitos dados oficiais de desempenho ainda não tenham se tornado publico, é notório que o KF-21 é um avião que manobra bem, de forma ágil e que acelera bem também.

Embora a aeronave seja uma novidade e ainda esteja em testes de desenvolvimento, alguns vídeos do KF-21 em voo e executando manobras, já deixou claro que ele é um avião bem ágil o que é uma característica positiva. O que não se sabe, ainda, pois não foi informado, é sua capacidade estrutural para suportar as forças G. Não se sabe qual é o limite G para manobras instantâneas e sustentadas. 
Outro interessante dado é que mesmo sendo um avião com uma boa relação empuxo peso, sua aerodinâmica não foi muito colaborativa para alta velocidade máxima. Isso parece estar se tornando um padrão em novos projetos de aeronaves de combate. O KF-21 atinge a velocidade máxima de mach 1,8 em alta altitude, o que representa cerca de 2220 km/h. Isso é um pouco mais rápido do que consegue entregar um F-35. 
Sua capacidade de transporte de combustível internamente é de 17000 lb, o que permite a aeronave ter um alcance de cerca de 1000 km. Se instalar os tanques externos, esse desempenho aumenta para 2800 km. 
Nessa foto podemos ver um equipamento (rampa de estabilização de rotação) que é empregado para testes de voo em altos ângulos de ataque.

A Coréia do Sul, havia solicitado aos Estados Unidos, uma série de tecnologias chaves para o projeto do KF-21. A maioria delas foi liberadas pelas autoridades norte americanas. Nesse ponto, o leitor mais atento terá percebido que eu escrevi "maioria".  Sim, meus amigos, os Estados Unidos não aceitaram fornecer 4 das tecnologias pedidas, e isso foi um problema sério para o andamento do desenvolvimento do KF-21. As tecnologias negadas foram: O radar AESA, sistema de rastreamento passivo infravermelho (IRST), pod de mira eletro-óptica (EO TGP) e tecnologia de interferência de radiofrequência (RF jammer). Como você, leitor, pode imaginar, essas são, justamente as tecnologias que a Coreia do Sul não tinha e com a recusa dos norte americanos de liberarem, geraram atrasos no programa.
Algumas tecnologias criticas que foram solicitadas pelos sul coreanos aos Estados Unidos para o projeto KF-X (agora KF-21) e que foram negadas, atrasaram bastante o desenvolvimento da aeronave.

Por isso, o radar precisou ser desenvolvido do zero através dos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento da empresa Hanwha Systems, porém com suporte da empresa israelense Elta Systems, que já é conhecida no mercado internacional como uma espécie de "plano B" para quando uma nação não consegue adquirir dos fornecedores tradicionais, tecnologia de sensores como radares aerotransportados. Na minha pesquisa para escrever esta matéria, não encontrei uma designação do modelo de radar que foi desenvolvido para o KF-21, por isso, vou me referir a ele como KF21 AESA. Como se pode notar pela nomenclatura que usei, trata-se de um modelo de varredura eletrônica ativa, como os mais modernos encontrados nos caças de 4º e 5º geração em serviço atualmente. As especificações do desempenho deste radar também não foram divulgadas ainda, mas a julgar pelos padrões encontrados em outras aeronaves de mesma categoria, posso estimar que tenha capacidade de engajamento de alvos múltiplos, algo como, pelo menos 6 alvos simultaneamente, capacidade de interferir nos sensores inimigos, através de redirecionamento de sinais (jammer ativo), e que tenha um alcance de detecção na casa dos 120 a 140 km no modo ar ar.
Rara foto do radar  Hanwha Systems KF21 AESA

Para detecção passiva, o KF-21 usa um sensor de buscar e rastreio por infravermelho IRST desenvolvido pela mesma empresa Hanwha Systems que desenvolveu o radar. Porém, para o IRST a Hanwha recebeu ajuda da Leonardo que forneceu a tecnologia para o seu buscador Skyward, também usado pelo caça SAAB JAS-39 Gripen E que a Força Aérea Brasileira está recebendo atualmente. A versão instalada no KF-21 foi designada Skyward-K. Este sistema permite fazer a busca de alvos aéreos de forma passiva, não emitindo assinatura e podendo ser um recurso muito útil contra aeronaves inimigas que usem tecnologia de invisibilidade ao radar. O dado de alcance desse equipamento, também é numa informação classificada. Porém, dados de modelos análogos, como o Pirate, usado no Typhoon e também desenvolvido pela Leonardo, pode se estimar que o alcance esteja na casa dos 40 a 50 km contra o alvo vindo de frente e cerca de 60 a 70 km contra o alvo visto por trás (as saídas de gases do motor ampliam significativamente a assinatura para este tipo de sensor).
O caça recebeu uma suíte de guerra eletrônica com capacidade de bloquear sinais de RF. Porém os dados relacionados aos demais recursos, naturalmente, é informação também classificada.
Um fato interessante sobre o KF-21 é que já tinha uma versão biplace (foto) projetada. Cada vez menos caças de primeira linha tem recebido uma versão biplace. O F-22 e o F-35 dos Estados Unidos, e o Su-57 da Rússia não tem uma versão biplace.

O arsenal que o KF-21 vai empregar, inicialmente já é bastante variado. O avião conta com 10 estações para cargas externas. São 6 estações fixas nas asas e mais 4 pontos semi-embutidos para mísseis de médio e longo alcance sob a fuselagem.
Para missões de combate ar ar, o KF-21 está equipado com o míssil de curto alcance europeu Iris-T, cujo alcance máximo está em 25 km. O Iris-T é um míssil de 4º geração que opera com seu sensor de busca infravermelha integrado ao capacete HMD do piloto e que pode ser apontado com o movimento do capacete e engajar alvos em alto ângulo fora da visada (90º). O sensor de busca infravermelha somado ao  sistema  de propulsão com vetoração de empuxo, permite ao míssil executar manobras violentas para executar uma curva violenta e correr atrás de seu alvo. Na pratica, trocando em "miúdos", o míssil pode ser lançado contra uma aeronave inimiga que esteja voando ao lado do KF-21 nas posições 3 e 9 horas.
O míssil Iris-T é o armamento de auto defesa padrão que a Coreia do Sul escolheu para ser o armamento padrão do KF-21. 

Para combate além do alcance visual (BVR), o KF-21 usa o moderno míssil Meteor, de longo alcance. Trata-se do míssil mais avançado do mercado no momento. Guiado por radar ativo, permite que o caça  lance o míssil contra um inimigo e, imediatamente, já saia de sua posição para buscar novos alvos ou retornar a base. O Meteor tem alcance estimado em cerca de 200 km. Além desses armamentos europeus, os mísseis norte americanos de médio alcance AIM-120 e o de curto alcance  AIM-9X, também poderão ser empregados no KF-21.
O lote inicial do KF-21 não transporta armas internamente. Os aviões estão sendo entregues com pontos de fixação semi-embutidos para mísseis Meteor (e AIM-120 Amraam) sob a fuselagem e com 6 estações fixas sob as asas

Para missões de ataque conta alvos de superfície, o míssil de cruzeiro Taurus KEPD 350 será usado para destruir alvos de alto valor e reforçados. Este míssil tem alcance aproximadamente de 500 km, transportando uma ogiva penetradora de dois estágios com 480 kg. Seu sistema de guiagem se dá por um complexo sistema que envolve INS, GPS, banco de dados de imagens do terreno e radar altímetro.
Para ataques contra alvos táticos de campo de batalha o míssil norte americano AGM-65 Maverick, amplamente empregado pela força aérea sul coreana em seus F-16, também será empregado pelo KF-21.O Maverick possui versões guiadas por sensor eletro ótico, infravermelho e a laser. Seu alcance está na faixa dos 22 km.
Para as missões antinavio, o míssil AGM-84 Harpoon foi integrado ao KF-21. O míssil, já em uso por outros modelos de caças da aviação de combate sul coreana, possui alcance de 140 km, com guiagem por radar ativo na fase final do engajamento.
Outros armamentos ar superfície estão planejados para serem integrados ao controle de fogo do KF-21. São eles o míssil Brimstone, que pode substituir os Mavericks no futuro. Também o novo míssil SPEAR 3, que pode operar como uma munição vagante e com alcance de 140 km, muito provavelmente será integrado ao caça sul coreano.
As bombas da família MK de queda livre, assim como bombas guiadas da família JDAM e as bombas de fragmentação CBU-87 e 97 estão integradas no modelo. Por ultimo, o KF-21 conta com um armamento orgânico na forma de um canhão de 6 canos rotativos M-61A2 em calibre 20 mm, fabricado pala General Electric e que é amplamente empregado por todos os caças dos Estados Unidos, com exceção do F-35.
Essa ilustração mostra uma configuração para missão de ataque usando duas bombas GBU-32 JDAM, dois mísseis Iris-T na ponta das asas, quatro mísseis Meteor de longo alcance e dois tanques de combustível externos.

O KF-21 foi projetado para entregar um desempenho comparável ao de um caça F-16, no entanto, com tecnologia desenvolvida localmente e com aplicação de soluções de redução de assinatura radar e que, no futuro, terá capacidade de transportar armas internamente, se tornando uma legitima aeronave de 5º geração. A Coreia do Sul vive em constante tensão com seu vizinho comunista, a Coreia do Norte e tem tensões com a China também. Essa situação obrigou o país a investir pesado em tecnologia de defesa, o que resultou em uma das mais completas e bem preparadas forças armadas do mundo.
O KF-21 é o resultado de investimento em pesquisa e desenvolvimento, e de muita coragem da indústria do país em buscar maior autonomia para se defender em um ambiente tão hostil no qual está a Coreia do Sul. O KF-21 terá bom apelo comercial se conseguir ser oferecido com preços menores do que caças como Rafale ou o F-35 tem apresentado. Isso poderá trazer a Coreia do Sul para o disputado mercado de caças de primeira linha dominado por norte americanos, russos e europeus.
As duas versões do KF-21 (monoplace e biplace) voando em formação.

Teste de reabastecimento em voo do KF-21 recebendo combustível de um Airbus A330 MRTT da Força Aérea da Coreia do Sul.

É visível a semelhança do desenho do KF-21 com o F-22 Raptor americano quando visto de alguns ângulos.
           





                  

quarta-feira, 15 de maio de 2024

A Heckler & Koch está considerando produzir seus novos fuzis, também em calibres soviéticos

HK-132E projetado para usar a munição soviética 7,62x39 mm

A guerra na Ucrânia está a ajudar a aumentar o interesse de HK em armas que disparam munições soviéticas, mas poderá abrir portas a muitos outros mercados.

Por Joseph Trevithck - Tradução Carlos Junior
A Heckler & Koch da Alemanha está pensando em produzir novas versões de armas de fogo em seu catálogo em calibres de design soviético, como o cartucho 7,62x39mm que ficou famoso pelo rifle AK-47. Um importante fator impulsionador tem sido a guerra em curso na Ucrânia, onde as forças armadas daquele país continuam a fazer uso intenso de armas de fogo da era da Guerra Fria e seus derivados. Ao mesmo tempo, as armas que disparam tipos de munições soviéticas continuam a ser amplamente utilizadas em todo o mundo e o famoso fabricante de armas alemão tem tido um interesse intermitente em tentar entrar nesses mercados há décadas.

O jornal Welt publicou em 14 de maio de 2024, uma história abordando os planos de produtos futuros da Heckler & Koch (H&K) como parte de um esforço mais amplo da empresa para aumentar as vendas.

“A H&K está planejando expandir sua gama de produtos para incluir fuzis de assalto e metralhadoras para munições da Kalashnikov e outros calibres do antigo Pacto de Varsóvia”, de acordo com uma tradução automática do artigo em alemão do Welt . "'Existem necessidades correspondentes, portanto os estudos conceituais já começaram', disse o porta-voz da H&K. Existem projetos de desenvolvimento, mas nenhuma produção ainda."

Nessa foto podemos ver o fuzil matriz embaixo. o HK-433 configurado para munição 5,56x45 mm e em cima a versão configurada para usar a munição soviética 7,62x39 mm.

O Welt não mencionou os cartuchos que a H&K está considerando agora empregar em algumas de suas armas existentes. Os tipos mais prolíficos desenvolvidos na União Soviética durante a Guerra Fria para fuzis e metralhadoras foram os cartuchos 7,62x39mm e 5,56x39mm.

O jornal Welt observou que em dezembro passado, a H&K revelou o HK-132E, uma versão 7,62x39mm de seu rifle de assalto HK-433, cuja versão básica é compartimentada para disparar o cartucho 5,56x45mm padrão da OTAN. Pelo que foi visto até o momento, o HK-132E parece praticamente inalterado em relação à sua arma original, exceto no calibre do cano, compartimento do carregador e carregador. O cartucho de 7,62x39mm possui um estojo cônico que requer carregadores com curvaturas mais pronunciadas para serem alimentados de forma confiável em comparação com os cartuchos de munição de 5,56x45mm.

O HK-433 foi projetado desde o início como uma plataforma altamente modular com cano e outros componentes facilmente intercambiáveis . A H&K já ofereceu outras opções de calibre para a série HK-433. As forças armadas alemãs estão notavelmente na linha de se tornarem o primeiro usuário militar de uma arma desta família com a adoção supostamente iminente da versão compacta HK-437 (G-39)  configurado para o cartucho 300 Blackout projetado nos EUA.

O fuzil HK-437 (G-39) no calibre 300 Blackout é um exemplo de modificação da plataforma HK-433 para um novo calibre. Esse modelo está sendo entregue a forças especiais do Exército Alemão.

Outras armas H&K também poderiam ser potencialmente configuradas para disparar  a munição 7,62x39mm. Isso pode incluir versões dos populares padrões de rifle 5,56x45mm HK-416 ou 7,62x51mm HK-417 da empresa, bem como suas metralhadoras alimentadas por cinto MG-4 e MG-5 nesses mesmos calibres. Além disso, em 2022, os militares alemães escolheram uma versão do HK-416, que tem crescido em popularidade internacionalmente.

                  

quarta-feira, 8 de maio de 2024

A Batalha da Normandia vista do outro lado: os Aliados enfrentam a "Baby Division"


Do Theatrum Belli6 de junho de 2023.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 8 de maio de 2024.

Formada poucos meses antes do desembarque na Normandia, a divisão SS Hitlerjugend ainda é considerada hoje como o adversário mais formidável que os Aliados tiveram de enfrentar no noroeste da Europa. Confiados aos melhores quadros da Waffen SS, os soldados da “Jovem Guarda” (97% deles tinham menos de 25 anos em junho de 1944) resistiram ferozmente nas batalhas de Caen e Falaise.

O rugido ensurdecedor dos motores e das lagartas dos panzers ecoou no ar quente do final da tarde de 6 de junho de 1944. Há mais de doze horas que a guerra arde em solo normando: nas primeiras horas do dia, tropas anglo-americanas, apoiadas por ondas de caças-bombardeiros, estabeleceram posição em vários pontos da costa. Colocado em alerta na mesma manhã, a 12º SS Panzerdivision Hitlerjugend moveu-se para noroeste, em direção a Caen.

Insígnia da unidade.

Os Granadeiros Panzer (Panzergrenadiers), meio camuflados sob os galhos, agarram-se às superestruturas dos Panzers Mark IV, os motociclistas, brincando de cães de guarda, seguem subindo e descendo a coluna, que é fechada por um comboio de caminhões carregados de soldados e cobertos de folhagens . A estrada se estende, sem fim, sob o sol ainda alto no céu.

Envolvidos em uma verdadeira corrida contra o tempo, a “Jovem Guarda” – apelido da unidade de elite da SS – correm ao encontro do inimigo, prontos para participar de uma das lutas mais ferozes de toda a batalha da Normandia.

Em 5 de junho de 1944, na véspera do Dia D, a Hitlerjugend contava com 20.540 homens de todas as categorias. Dos 664 oficiais que lhe foram atribuídos, apenas 520 estavam presentes nas fileiras. Estas tropas foram distribuídas entre um regimento blindado, dois regimentos de granadeiros blindados (cada um composto por três batalhões), um regimento de artilharia, um batalhão antiaéreo, um batalhão antitanque, um forte grupo de reconhecimento e diversas unidades de apoio. O próprio regimento blindado reuniu dois batalhões blindados – sendo 150 deles – um equipado com Panthers e outro com Panzers IV.

A maioria dos soldados da Divisão Hitlerjugend ainda eram adolescentes: dentro do 1º Batalhão do 25º Regimento de Granadeiros Blindados SS, nada menos que 65% dos homens tinham menos de 18 anos, e apenas 3% (quase todos eram oficiais ou suboficiais) com mais de 25 anos.

Os melhores quadros da Waffen SS, como o Standartenführer Kurt Meyer - a quem suas façanhas valeram o apelido de "Panzermeyer" (Meyer, o Blindado)... - ou o Sturmbannführer Max Wünsche, foram colocados à frente da Jovem Guarda: titulares das mais altas condecorações e aparecendo como heróis, eles eram adorados por seus homens. Receberam, por sua vez, mais do que simples instrução militar: educados para se tornarem “combatentes”, e não simples soldados, os jovens voluntários da Hitlerjugend aprenderam a formar uma verdadeira Bruderschaft (irmandade). Valores como autodomínio, espírito de sacrifício, obediência absoluta foram incutidos neles. Mais do que qualquer outra unidade de elite da Wehrmacht ou da Waffen SS, a 12ª Divisão Panzer aprendeu a ser implacável em combate. Ainda antes de terem sido submetidos ao batismo de fogo, os “jovens lobos do Führer”, galvanizados por vários meses de treinamento de raro rigor, demonstraram uma determinação inabalável.

Da esquerda para a direita: Max Wünsche, Fritz Witt e Kurt Meyer, entre 7 e 14 de junho de 1944, perto de Caen.

Mantida até então na reserva pelo OKW (Comando Supremo das Forças Armadas), a 12ª SS Panzerdivision Hitlerjugend foi colocada à disposição do Grupo de Exércitos B de Rommel na manhã de 6 de junho. 
Recebeu ordem de se reagrupar a leste de Lisieux, no setor do 7º Exército. Incapaz de se mover numa unidade, como a maioria dos reforços enviados para as cabeças de ponte aliadas, a divisão Hitlerjugend terá de se dividir em vários grupos durante as operações de transporte.

As primeiras unidades a tomarem a estrada na manhã do Dia D, às 10h, foram os 1º e 2º batalhões do 12º regimento blindado SS, acompanhados respectivamente pelos 26º e 25º regimentos de granadeiros blindados SS. Elementos avançados da Hitlerjugend chegaram à região de Lisieux às 15h, mas pouco depois receberam ordens para chegar aos subúrbios ocidentais de Caen, ameaçados pela 3ª Divisão de Infantaria Canadense.

As diversas unidades da divisão chegarão de forma dispersa à zona de desdobramento nas próximas vinte e quatro horas. Desprovidas de qualquer cobertura aérea, as forças alemãs que se deslocavam para a frente eram constantemente metralhadas e bombardeadas por caças-bombardeiros.

Somente ao anoitecer é que a aviação aliada aliviaria a pressão. O comandante da divisão Hitlerjugend, Brigadeführer Fritz Witt, ainda nada sabe sobre os movimentos do inimigo. Os rumores mais loucos circulam entre suas tropas, mas o moral permanece alto.

O líder do 25º Regimento de Granadeiros, Kurt Meyer, a quem Witt confiou a vanguarda de sua coluna, atravessou Caen por volta da meia-noite. Tendo conseguido formar um Kampfgruppe (grupo de combate, unidade ad hoc) com todos aqueles que escaparam dos terríveis bombardeios aliados, foi o primeiro a chegar à linha de fogo a noroeste da cidade. Muito atrás, o 2º batalhão do 12º regimento blindado só chegou na manhã do dia 7, e com apenas cinquenta tanques. Já os Panthers do 1º batalhão, sem combustível, perderam-se na margem leste do Orne.

Resta que, na escala de todo o teatro de operações, as unidades da Hitlerjugend, embora tenha sofrido pesadas perdas em homens e equipamentos, constituem - com a 21ª Divisão Panzer da Wehrmacht - as únicas forças capazes de lançar um contra-ataque a oeste de Caen.

Panzermeyer.

Na manhã de 7 de junho, a divisão Hitlerjugend ainda estava instruída a chegar às praias da costa da Normandia e jogar o inimigo no mar. No entanto, tudo indica que as unidades aliadas já tinham alcançado os acessos ao campo de aviação de Carpiquet: os alemães estão caminhando para o desastre!

As informações fragmentárias que chegaram à divisão nem sequer permitiram traçar uma linha de frente, Panzermeyer preferiu estabelecer um sistema de defesa nos subúrbios de Caen, enquanto aguardava a chegada de reforços. Os seus três batalhões de granadeiros blindados tomaram posições em torno das três aldeias de Carpiquet, enquanto Rots e Buron “limpavam” o campo dos poucos canadenses que já tinham conseguido infiltrar-se no setor.

Colocando duas companhias de tanques atrás de cada flanco e posicionando suas unidades de artilharia bem na retaguarda, Meyer preparou uma armadilha para a vanguarda das forças aliadas que avançavam para o sul. Em seguida, transferiu seu posto de comando para a Abadia de Ardenne, cuja dupla torre sineira constitui um posto de observação ideal.

Instalado em seu observatório, Meyer, com as feições marcadas pelo cansaço da noite anterior, testemunha, minuto a minuto, o desdobramento das forças canadenses.

Controlando a situação a partir do seu quartel-general em Saint-Pierre-sur-Dives, o comandante Witt marcou o contra-ataque para o meio-dia, uma vez reagrupadas todas as suas forças.

Os primeiros panzers começam a se reunir ao redor da abadia por volta das dez horas da manhã e depois se escondem. Sentados na grama, os tripulantes em uniformes de couro preto fumam um último cigarro. Tudo aconteceu tão rapidamente desde que atravessaram Caen em chamas que não tiveram tempo de ter medo. Agora que a hora da batalha se aproxima, uma angústia surda toma conta deles.

Os canadenses vão cair de cabeça na armadilha. Panzermeyer permite-lhes aproximar-se até à aldeia de Franqueville, que comanda a estrada de Bayeux e o aeródromo de Caen-Carpiquet. Seus veículos blindados estavam separados apenas por oitenta metros dos tanques alemães, camuflados na vegetação rasteira, quando o líder SS deu o sinal para atacar. Panzers IV e soldados de infantaria emergem de seus esconderijos. Descendo das alturas que davam para a estrada, eles literalmente abalroaram a coluna inimiga, enquanto as baterias antitanque, escondidas nas valas, disparavam à queima-roupa contra os veículos blindados Stuart, que estavam parados.

Os jovens soldados da Hitlerjugend lutarão ferozmente, nada poderá deter o seu ímpeto. Confrontados com a violência do seu ataque, os canadenses tiveram de ceder terreno rapidamente. O ataque da divisão SS é notavelmente coordenado - panzers, granadeiros blindados e unidades de artilharia entram em ação em perfeita harmonia - e as forças aliadas só conseguem deter os Panzers IV à custa de esforços sobre-humanos.

Kurt Meyer afirmaria mais tarde que apenas a escassez de combustível e munições o forçou a interromper a sua “corrida para o mar”; parece, de fato, que o progresso de seus homens foi interrompido pela violência do fogo da artilharia aliada.

Embora tivesse fracassado na tentativa de chegar às praias da Normandia, a divisão Hitlerjugend, por outro lado, conseguiu impedir que os canadenses alcançassem a posição-chave do aeródromo de Carpiquet; além disso, duas aldeias, Franqueville e Authié, na estrada para Bayeux, foram recapturadas em poucas horas.

Os combates custaram aos canadenses mais de 300 homens e cerca de trinta veículos blindados, tendo a Hitlerjugend perdido apenas 200 soldados e 6 tanques.

A bravura e determinação com que a jovem unidade de elite da SS lutou durante o seu batismo de fogo deixará uma profunda impressão nos canadenses. No entanto, os jovens lobos do Führer viram um grande número de seus camaradas tombarem naquele dia. Emil Werner, do 25º Regimento de Granadeiros Blindados, descreveu os combates ferozes de 7 de junho de 1944 nestes termos:

"Até Cambes tudo correu bem para nós. A aldeia parecia calma. Perto das primeiras casas, porém, fomos apanhados pelo fogo da artilharia inimiga: uma tempestade de fogo caiu sobre a coluna. Foi necessário atacar uma igreja onde atiradores isolados haviam assumido posições. Foi aqui que vi a minha primeira morte: foi o granadeiro Ruelh, da secção de comando. Coloquei seu corpo no meu ombro - um estilhaço de uma granada havia quebrado sua cabeça. Ele foi o segundo homem em nossa companhia a morrer. Já dois camaradas caídos e ainda não tínhamos visto um único inglês! Então a situação tornou-se crítica. Ferido no braço, o líder da minha seção teve de ser carregado para a retaguarda."

O granadeiro Grosse, de Hamburgo, saltou em direção a um arbusto, com sua submetralhadora pronta para disparar, gritando: “Mãos ao alto! Mãos ao alto!" Dois ingleses emergiram da folhagem, cabeças baixas e braços para cima. “Ouvi dizer que Grosse posteriormente recebeu a Cruz de Ferro de Segunda Classe por esse feito de armas."

Tendo finalmente chegado à frente na noite de 8 de junho, uma companhia de Panthers do 1º batalhão, apoiada por granadeiros blindados, realizou um ataque noturno ao longo da estrada Caen-Bayeux. Assim que saem de Rots, os panzers avançam em triângulo, os granadeiros agarrados às suas torres. Como de costume, Panzermeyer, ao comando de uma motocicleta, assume a liderança da companhia de reconhecimento.

À meia-noite, a coluna chegou à vista das primeiras casas de Bretteville-l’Orgueilleuse. Meyer se prepara para dar o sinal de ataque quando dois tiros de canhão soam durante a noite, desencadeando o ataque. Apanhados sob fogo de rara intensidade, os SS sofreram pesadas perdas. Após várias horas de combate indeciso – durante as quais perdeu seis tanques – Meyer decidiu recuar.

Por sua vez, os generais do Grupo de Exércitos B não perderam a esperança de lançar uma grande ofensiva blindada contra a cabeça de ponte aliada. No dia 9 de junho, à tarde, o general Geyr von Schweppenburg, comandante-em-chefe dos panzers da Frente Ocidental, comunicou a Meyer o plano da operação: um ataque concertado colocará em ação, no dia 10 de junho, às 23h, as três grandes divisões blindadas que trabalham arduamente na linha de frente a noroeste de Caen: a 21ª Divisão Panzer, forçada à defensiva ao norte de Caen, a divisão Panzer-Lehr, que acaba de entrar na briga ao sul de Bayeux, finalmente, a Hitlerjugend, no centro do sistema.

Esta grande contra-ofensiva nunca acontecerá! Impotentes face aos bombardeamentos maciços das aeronaves Aliadas, com o seu flanco esquerdo - no setor Villers-Bocage - pressionado, as forças alemãs em breve não terão outro recurso senão lutar desesperadamente nas suas posições. Nos dias que se seguiram, os canadenses ganharam terreno lentamente, apesar da feroz resistência apresentada contra eles pela Jovem Guarda.

Em 16 de junho, o quartel-general da Hitlerjugend, localizado 27 quilômetros a sudoeste de Caen, foi submerso por um dilúvio de granadas. Fritz Witt, comandante da divisão, foi morto instantaneamente junto com vários outros oficiais. Por ordem do chefe do 1º Corpo do Exército SS, Panzermeyer o substituirá.

As várias unidades da divisão SS estão agora dispersas a norte e a oeste de Caen: duramente atingidas por duas semanas de combates, começam a ficar sem combustível e munições, porque os comboios alemães, bombardeados impiedosamente durante as horas do dia pela aviação Aliada, chegavam cada vez mais raramente à frente.

Ao norte de Caen, os veículos blindados da Hitlerjugend terão de vir em auxílio de várias unidades que desistiram sob a pressão dos canadenses: uma delas, a 16ª Felddivision da Luftwaffe, foi particularmente danificada.

O aeródromo de Carpiquet, objetivo prioritário dos Aliados, é controlado por uma bateria Flak SS, elementos do 1º batalhão do 26º regimento de granadeiros blindados SS e cerca de quinze panzers. Estas escassas forças enfrentarão em breve vários regimentos.

A 3ª Divisão Canadense lançou seu ataque à vila e ao campo de aviação de Carpiquet em 4 de julho. A primeira onda de atacantes é dizimada por uma violenta barragem de artilharia. Na própria aldeia, combates ferozes opuseram três batalhões, de mil homens cada, contra cerca de cinquenta granadeiros da Hitlerjugend. No final do dia, os canadenses assumiram o controle da vila e do extremo norte do campo de aviação, mas os alemães ainda controlavam o extremo sul.

Entre 4 e 9 de julho, a divisão SS constituiu a pedra angular do sistema de defesa estabelecido a noroeste de Caen pelos alemães contra o avanço do 1º Corpo Britânico. Na noite do dia 7, meio milhar de bombardeiros aliados atacaram a cidade da Normandia, já devastada e meio destruída. No dia seguinte, começa o ataque final.

Sujeitos ao fogo contínuo, os defensores tiveram que ceder terreno, abandonando uma após a outra as aldeias dos subúrbios de Caen. Num sobressalto final, Panzermeyer tentou impedir que os canadenses tomassem Buron, ao norte de Carpiquet: Liderando ele próprio uma dúzia de tanques Panther e algumas seções de granadeiros, ele conseguiu libertar os SS que estavam cercados ali - antes de recuar diante da onda de blindados inimigos.

Granadeiro com as runas SS visíveis na gola.

Nessa época, a divisão SS Hitlerjugend era uma sombra do que era. Ao final de um mês de combates, o efetivo de suas unidades de infantaria estava reduzido ao de um batalhão, contando apenas com 65 dos 150 panzers com os quais foi inicialmente equipada. Desde o Dia D, os jovens lobos do Führer perderam dois terços dos seus camaradas devido ao fogo (20% foram mortos e 40% estão feridos ou desaparecidos), mas os adolescentes do 6 de junho tornaram-se veteranos experientes.

A batalha de Caen foi um verdadeiro inferno para os homens da divisão Hitlerjugend, como evidenciam estas linhas muito líricas escritas na época pelo correspondente de guerra do jornal SS Leitheft:

"Milhares de tanques e aviões, apoiados por fogo pesado de baterias de artilharia, afogaram-nos sob um dilúvio de bombas e granadas. A cada explosão, a terra subia com o estrondo de um trovão. A cidade nada mais era do que um inferno de fogo e aço. Mas a esperança é o melhor suporte para a coragem. Cobertos de sangue e terra, ofegantes e correndo para a batalha, ou entrincheirados nos seus abrigos inexpugnáveis, estes jovens soldados detiveram o avanço dos anglo-americanos."

Ilustração dos combates na cidade de Caen.

Após a queda de Caen, continuaram as batalhas sangrentas entre os alemães e os britânicos pelo controle da Colina 112, uma posição-chave a sudoeste da cidade, perdida e reocupada pelos veículos blindados da Hitlerjugend e outras unidades no final do mês de junho.

O granadeiro blindado Zimmer, um simples soldado raso, descreveu em seu diário o ataque final lançado pelos britânicos em 10 de julho:

"Das 6h30 às 8h, disparos de metralhadora pesada novamente. Em seguida, os Tommies atacam – infantaria e tanques, em massa. Combatemos o maior tempo possível, mas a nossa posição rapidamente se torna insustentável. Enquanto os últimos defensores tentavam libertar-se, percebemos que estávamos cercados."

Em 11 de julho, a divisão Hitlerjugend foi retirada do front e enviada para a região de Potigny, 30 quilômetros ao norte de Falaise, para ser reconstituída e descansar um pouco.

A partir de 18 de julho, porém, a Jovem Guarda foi chamada de volta à linha de frente: após uma pausa, os Aliados retomaram a ofensiva. Lançando a Operação Goodwood, os britânicos tentaram romper as posições alemãs ao sul de Caen.

Não colocando mais em linha cerca de cinquenta veículos blindados, a divisão Hitlerjugend está agora dividida em duas unidades de assalto, Kampfgruppe Krause e Kampfgruppe Waldmüller. Durante as três semanas que se seguiram, os jovens gatos selvagens do Führer continuariam a constituir a ponta de lança da defesa alemã no oeste da Normandia.

No entanto, todo o sistema alemão começou a entrar em colapso sob os golpes aliados. Em 25 de julho, como parte da Operação Cobra, o 1º Exército Americano do General Bradley fez um avanço decisivo no flanco esquerdo da Wehrmacht a partir de Saint-Lô. Em 30 de julho, o Segundo Exército Britânico sob o comando do Tenente-General Sir Miles Dempsey derrubou o Sétimo Exército Alemão durante a Operação Bluecoat.

A divisão Hitlerjugend bloqueou o norte de Falaise quando, em 7 de agosto, o 1º Exército Canadense lançou a Operação Totalise, com o objetivo de romper as linhas de defesa alemãs ao sul de Caen. Este ataque será realizado com meios impressionantes: mais de seiscentos tanques, contra os quais a Hitlerjugend só poderá opor cerca de cinquenta veículos blindados de vários tipos.

A tenacidade e a combatividade dos jovens SS da divisão, sob as ordens de um líder como Panzermeyer, levarão a melhor sobre os primeiros ataques aliados. A ofensiva foi, no entanto, precedida por um ataque aéreo massivo, que fez com que duas divisões de infantaria da Wehrmacht desistissem. Panzermeyer viu, ao amanhecer, centenas de soldados de infantaria, vítimas de um terror indescritível, fugindo pelo campo em direção ao sul. “Diante dos meus olhos”, escreveu ele, “os soldados em pânico da 89ª Divisão de Infantaria fugiram em desordem indescritível ao longo da estrada Caen-Falaise. Percebi que algo precisava ser feito para que esses homens voltassem ao front e retomassem a luta. Acendi um charuto e, parado no meio da estrada, perguntei em voz alta se me iam deixar sozinho para combater o inimigo. Vendo-se assim desafiados por um comandante de divisão, pararam e, após um momento de hesitação, retornaram às suas posições."

A obstinação dos soldados da Hitlerjugend e o poder de fogo dos seus canhões antitanque 75 e 88 fizeram com que os canadenses avançassem apenas cinco quilômetros nas primeiras 24 horas.

Os Aliados logo lançaram ondas de bombardeiros pesados ​​sobre as posições da Hitlerjugend, ao redor da vila de Cintheaux, mas os soldados e os blindados tiveram tempo de se proteger.

Durante dois dias, de 14 a 16 de agosto, Panzermeyer manteve a Colina 159 a nordeste de Falaise, contra duas divisões canadenses, com apenas 500 homens. Continuamente bombardeada por baterias de artilharia e aeronaves de apoio inimigas, a colina logo se tornou nada mais do que um imenso inferno e a posição tornou-se insustentável. Meyer então recuou com seus homens ao sul do curso do rio Ante. No estágio da batalha, a divisão Hitlerjugend contava apenas com algumas centenas de soldados e 15 tanques.

Entrando em Falaise em 16 de agosto, a 2ª Divisão Canadense terá que lutar casa a casa antes de assumir o controle total da cidade. Cerca de sessenta soldados da Hitlerjugend resistiram durante três dias nos edifícios de uma escola: apenas quatro deles sobreviveram ao ataque final e foram feitos prisioneiros.

Com a captura de Falaise, apenas vinte quilômetros separavam as forças anglo-canadenses das forças americanas: estas últimas, depois de terem rompido o dispositivo do Grupo de Exércitos B por um movimento de foice no sudoeste da Normandia, regressaram para o norte, prendendo, em um vasto bolsão ao redor de Argentan, nada menos que 19 divisões alemãs.

Os últimos elementos da Hitlerjugend recebem ordens de manter a frente norte do bolsão a todo custo, a fim de permitir que o maior número possível de unidades da Wehrmacht escapem da armadilha antes que seja tarde demais. Quase metade deles conseguiu – graças ao heroísmo dos últimos soldados da divisão de Panzermeyer, que mantiveram aberto o estreito corredor ao sul de Falaise por mais dois dias. O comandante conseguiu cruzar o rio Dives com duzentos homens na manhã de 20 de agosto, pouco antes de os Aliados unirem forças.

Soldados canadenses com um prisioneiros adolescente da Hitlerjugend próximo a Falaise.