quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

HECKLER & KOCH G3. Conheça o Fuzil de Batalha G-3 (e ele é uma lenda por um bom motivo)

Heckler & Koch G3

Por Kyle Mizokami, The National Interest, 08 de dezembro de 2019.
Tradução Filipe do A. Monteiro
Adaptação de Carlos Junior.

FICHA TÉCNICA
Tipo: Fuzil de assalto.
Miras: dioptro rotativo com marca para 100 e 400 metros.
Peso: 4,5 kg (vazio).
Sistema de operação: Blowback com retardo.
Calibre:7,62x51 mm.
Capacidade: 20 tiros.
Comprimento Total: 102 cm.
Comprimento do Cano: 17,72 pol.
Velocidade na Boca do Cano: 790 m/seg*.
Cadência de tiro: 600 tiros/ min.
 * Dependendo da munição haverá variação como qualquer calibre.
UM CLÁSSICO DA GUERRA FRIA?
No final da década de 1950, a Bundeswehr, as forças armadas da Alemanha Ocidental, precisava de um novo fuzil de infantaria. Em parte esforço prático e em parte esforço de mudança de marca, a adoção do fuzil de batalha G3 foi um estabelecimento simbólico do Exército da Alemanha Ocidental como uma força militar independente. O fuzil robusto e encorpado de 7,62 milímetros serviria por quase quarenta anos, primeiro na fronteira da Cortina de Ferro e depois como o primeiro fuzil de uma Alemanha reunificada.
As forças armadas da Alemanha Ocidental foram fundadas em 1955, dez anos após a derrota da Alemanha nazista. O colapso da aliança de tempo de guerra entre os Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética dividiu a Alemanha em dois estados, a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental, separadas por linhas ideológicas. O grande número de forças convencionais soviéticas na Europa Oriental, particularmente na Alemanha Oriental, não pôde ser efetivamente combatido sem alguma forma de remilitarização da Alemanha Ocidental, e uma vez estabelecida a Bundeswehr (Forças armadas unificadas da Alemanha ocidental) rapidamente evoluiu para se tornar a espinha dorsal do plano de defesa da OTAN.
Os primeiros HK G3 usavam coronha e guarda mão em madeira, algo relativamente comum entre na décadas de 50.
O exército da Alemanha Ocidental era originalmente suprido com excedentes de armas portáteis americanas, incluindo o fuzil M-1 Garand. O desdobramento soviético do fuzil AK-47 foi um desenvolvimento alarmante, soando sinais de alerta em uma OTAN que havia negligenciado amplamente as armas portáteis após a Segunda Guerra Mundial. O AK-47 era calibrado em 7,62x39 milímetros, capaz de fogo totalmente automático e alimentada por um carregador tipo cofre de trinta tiros. Uma unidade do Exército Vermelho equipada com o AK-47 poderia gerar muito mais poder de fogo do que uma equipada com o M-1 Garand. Em caso de guerra, o exército de Bonn - e a maior parte da infantaria da OTAN, inclusive - seria superado em poder de fogo em nível de pequena unidade.
As autoridades da Alemanha Ocidental lançaram seus olhos para a Espanha, onde o fuzil espanhol CETME era uma grande promessa. Ironicamente, o CETME havia sido desenvolvido por engenheiros alemães trabalhando na França e na Espanha após a guerra, engenheiros que haviam desenvolvido o fuzil de assalto Sturmgewehr-45 (StG-45) em tempo de guerra. O CETME se assemelhava e usava muitos dos recursos do StG-45, incluindo um sistema operacional de retardo  projetado para reduzir o recuo. A arma espanhola foi calibrada em 7,62 milímetros, na época rapidamente se tornando o calibre padrão dos fuzis da OTAN, e utilizava um carregador destacável de vinte tiros.
O fuzil StG-45(M) / Gerät 06.
A Alemanha Ocidental adotou o CETME como o G3 1959. O G3 era barato de fabricar, sendo em grande parte feito de chapa e plástico estampados, mas era barato e durável. Embora maior que o AK-47 e usando um carregador de munição menor, a munição de 7,62 milímetros do G3 era teoricamente mais poderosa e tinha um alcance maior. O G3 poderia disparar granadas de fuzil do cano sem modificação, aumentando o poder de fogo de uma unidade de infantaria. O G3 foi colocado em campo com unidades panzergrenadier (infantaria mecanizada), de montanha e reservistas.
O sistema de funcionamento do HK G3 é o de blowback com retardo por roletes. Esse sistema faz com que o ferrolho seja destravado no cano apenas quando os níveis de pressão da câmara atinjam um nível seguro, funcionando através de dois rolamentos de roletes, que ficam na ”cabeça” e no “corpo” do ferrolho. Assim, o fuzil G3 possui sua tecla de seleção de regime de fogo do lado esquerdo da arma com as posições "safe" (travada), semi automática e full (totalmente automático), sendo esta ultima posição, permitindo uma cadência de até 600 tiros por minuto.
HK G3A3
O sucesso do G3 estimulou várias sub-variedades e variantes. O G3A3 era a versão original de coronha fixa, enquanto o G3A4 incorporava uma coronha rebatível e era suprido para unidades aerotransportadas. Os fabricantes Heckler & Koch construíram uma versão baseada no cartucho de 5,56 milímetros preferido pelo exército dos EUA, o HK-33 (usado pela Força Aérea Brasileira até os dias de hoje)3, seguido por uma versão semelhante, o G-41, que apresentava uma capacidade de rajada de três tiros e aceitava carregadores padrão 5,56 milímetros da OTAN. Um dos derivados mais famosos do G3 foi a MP-5, uma submetralhadora de nove milímetros que se tornou popular entre os guardas de fronteira da Alemanha Ocidental, unidades antiterroristas, incluindo os Navy SEALS dos EUA. A MP-5 era basicamente o G3 reduzido para uma munição de calibre de pistola. No outro extremo do espectro de variantes estava o PSG-1, um fuzil sniper semi-automático, calibrado em 7,62 mm com um cano de 25,5 polegadas (64,8 cm).
Soldado alemão membro da ISAF (International Security Assistance Force) que opera no Afeganistão com um HK G3 customizado com uma coronha telescópica padrão M-4.
O G3 foi um sucesso no exterior, perdendo apenas para o seu primo, o fuzil de batalha FN FAL. Na Europa, o G-3 foi adotado pela Grécia, Suécia, Holanda, Noruega, Portugal e Turquia. O fuzil teve sucesso considerável no Oriente Médio, com usuários como Arábia Saudita, Paquistão, Iêmen do Norte e Emirados Árabes Unidos. O G3 foi produzido sob licença no Irã antes da queda do Xá e permaneceu em circulação no Exército Iraniano por muito tempo. O G3 era particularmente popular na África, com duas dezenas de países, incluindo Angola, Etiópia e Zaire, todos adotando o fuzil alemão ocidental.
O G3 serviu através da queda do Muro de Berlim, a dissolução do Pacto de Varsóvia e da União Soviética e a reunificação da Alemanha. Embora substituído pelo fuzil G-36 de 5,56 mm no final dos anos 90, alguns G3 permaneceram em serviço com a Bundeswehr nos anos 2000. Os G3A3, equipados com ópticos de alta potência, foram enviados ao Afeganistão como fuzis de atirador designado. Apesar da idade, os fuzis de 7,62 milímetros tinham alcance para atingir alvos além da capacidade do mais atual fuzil G-36.
Soldado norueguês treinando tiro deitado com seu HK G-3. Atualmente, o fuzil padrão do exército norueguês é o muito mais moderno HK-416, já descrito aqui no WARFARE.
O fuzil G3 foi, porventura, a arma ideal para as recém-estabelecidas forças armadas da Alemanha Ocidental. Como os fuzis alemães anteriores, era uma arma simples e direta, com uma reputação invejável de precisão e confiabilidade. O próprio G3 se transformou no símbolo de uma força armada que se distanciava de seu passado nacional, vigiando os limites da democracia.

Sobre o autor: Kyle Mizokami é um escritor de defesa e segurança nacional  sediado em San Francisco, que apareceu no Diplomat, Foreign Policy, War is Boring e Daily Beast. Em 2009, ele co-fundou o blog de defesa e segurança Japan Security Watch.

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