terça-feira, 31 de março de 2020

FOTO: Partisans italianas em Castelluccio


Mulheres partigiani italianas em Castelluccio, na Itália, fazendo manutenção de armamento enquanto aguardam sua vez de participar em uma patrulha com o 5º Exército Americano em 11 de fevereiro de 1944.

Bibliografia recomendada:

World War II Partisan Warfare in Italy.
Pier Paolo Battistelli e Piero Crociani.

Leitura recomendada:

FOTO: Prisioneiros alemães na Itália26 de março de 2020.

FOTO: Cemitério alemão na Itália8 de abril de 2020.

GALERIA: Reencenação do salto no Passo de Mitla


Em 29 de outubro de 1956, o 890º Batalhão Paraquedista israelense iniciou a Operação Kadesh saltando 241km dentro do Sinai egípcio, tomando posições no Passo de Mitla ao amanhecer.

Em 29 de outubro de 2016, 60 anos após a Operação Kadesh, o 890º Batalhão Paraquedista  reencenou o salto mitológico na cultura militar israelense. Os paraquedistas saltaram com o moderno pára-quedas T-11 "Cegonha".

Paraquedistas do 890º Batalhão Paraquedista em tocas no Passo de Mitla, movimento inicial da Operação Kadesh, em 29 de outubro de 1956.
(Foto de Avraham Vered para o jornal do exército Ba'machane)

Versão colorizada.

Aguardando o amanhecer.

Equipados e prontos.

Embarcando.

Chuva de velame n'aurora.

O velame quadrado do T-11.

Aterrissagem mais suave que usando o T-10.

Jovens paraquedistas com um veterano do salto no Passo de Mitla em 1956.

Leitura recomendada:

59 anos após o último uso em combate, por que os paraquedistas de Israel precisam de novos pára-quedas?

Pára-quedistas das FDI a bordo de um C-130 Hércules, equipado com bolsa de equipamentos e prontos para serem enganchados a uma linha estática no avião, em 17 de janeiro de 2012. (Crédito da foto: Unidade Porta-Voz das FDI)

Por Mitch Ginsburg, The Times of Israel, 19 de janeiro de 2015.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 31 de março de 2020.

[Nota do Tradutor: A relevância desse artigo é a discussão sobre o perigo de estendidos tempos de paz, quando o governo civil começa a ver as capacidades operacionais dos seus militares meramente como gastos inúteis sem contraparte política.]

A IDF está lançando o Stork (Cegonha), um pára-quedas fabricado nos EUA que é mais seguro, pode suportar mais peso e permite uma aterrissagem mais suave. Mas quem salta de aviões na guerra moderna, afinal?

Após mais de cinco décadas de serviço e apenas um chamado para combater, o exército israelense decidiu, em meio a restrições orçamentárias, substituir os paraquedas antigos por um novo modelo fabricado nos EUA.


O novo formato quadrado do T-11.

O T-11, conhecido como Stork (Cegonha) em Israel, não é dirigível, como seu antecessor, mas sua cobertura quadrada permite suportar mais peso ao mesmo tempo em que oferece um pouso mais suave - um recurso que, centenas de milhares de paraquedistas israelenses podem atestar, foi extremamente carente no modelo anterior. Foi usado pela primeira vez em um curso de treinamento no início deste mês [janeiro de 2015] e servirá à Brigada Paraquedista a partir da classe de novembro de 2014 em diante.


Os pára-quedistas da Força Aérea do Bangladesh saltam de uma aeronave C-130 HÉrcules da Força Aérea dos EUA sobre o Bangladesh durante o exercício Cope South 14, em 10 de novembro de 2013, com pára-quedas T-10.

"Nosso objetivo é saltar de pára-quedas uma grande força de tropas, rapidamente, em uma determinada área", disse o comandante da escola de salto das FDI, Major Elad Grossman, à revista semanal do exército Ba’machane na semana passada. "E o novo pára-quedas Stork permite que isso aconteça no menor espaço de tempo e com o maior grau de sigilo."



O novo pára-quedas tem muitas vantagens sobre o modelo anterior Tzabar. Ele pode ser lançado a partir de um avião em movimento a uma velocidade maior, o que significa que o volumoso avião de carga Hércules usado para essas missões - um alvo fácil para os modernos mísseis antiaéreos - passará menos tempo sobre o solo inimigo. Ele também vem com um pára-quedas reserva que pode ser aberto com qualquer uma das duas mãos - o Tzabar era apenas para a mão direita, o que apresentava um problema no caso de, digamos, um braço quebrado - e que se abre longe do corpo, reduzindo as chances de emaranhamento com o pára-quedas principal. E há um controle deslizante embutido que evita que os cabos se torçam sob o velame, um problema comum no modelo antigo.



E, no entanto, cerca de 59 anos após o último lançamento em combate de tropas das FDI em paraquedas, há poucas provas de que paraquedistas sejam necessários no campo de batalha moderno.

Saltando de volta no tempo

A primeira pessoa a compreender as tropas modernas no ar, Benjamin Franklin, foi inspirada por uma ascensão de balão de ar quente em 1783. Ele considerou a invenção uma "nova reviravolta nos assuntos humanos", que poderia "convencer os soberanos da loucura das guerras". Seu raciocínio, escrito em uma carta de 1784, era que 5.000 balões, carregando dois homens cada, custariam menos de cinco navios e devastariam um inimigo.

“Onde está o príncipe que pode se dar ao luxo de cobrir seu país com tropas para sua defesa, para que dez mil homens descendo das nuvens não possam, em muitos lugares, fazer uma série infinita de estragos antes que uma força possa ser reunida para repeli-los?" ele se perguntou*.

*NT: A bibliografia de língua inglesa, especialmente a americana, gosta de mencionar esta carta de Bejamin Franklin como a primeira idéia sobre o uso de paraquedistas, mas outros já haviam pensado a respeito, como o czar russo Pedro, o Grande (1682-1725) que escreveu sobre o seu sonho de um "corpo voador... uma força constituída de tal forma que poderia agir sem sobrecarga em todas as direções... e mandar de volta informações confiáveis das atividades inimigas... à disposição do general, seja para isolar o inimigo, privá-lo de passagem, atacar sua retaguarda ou cair sobre seu território e criar uma distração." O pára-quedas moderno foi inventado décadas depois por Louis-Sébastien Lenormand na França, que fez o primeiro salto público registrado em 1783, o mesmo ano que Franklin assistiu a ascensão de um balão e um ano antes da sua carta. Os russos foram pioneiros na criação de formações paraquedistas, influenciando os franceses e alemães em 1934, e sendo os primeiros a saltarem em combate na Finlândia em 1939.



Cerca de 156 anos depois, em abril de 1940, as tropas alemãs Fallschirmjäger testaram a teoria, saltando de pára-quedas na Dinamarca e na Noruega e, mais tarde, na Holanda. Os Aliados retribuíram com uma série de assaltos paraquedistas. Os resultados foram mistos. A novidade desapareceu junto com o elemento surpresa; o preço do sangue costumava ser alto.

O empreendimento sionista, no entanto, conquanto o genocídio na Europa atingiu seu estágio final e febril, enviou 39 de seus melhores homens e mulheres para serem treinados e aerotransportados pelos britânicos para a Europa ocupada pelos nazistas.


Hannah Senesh vestindo um uniforme do exército húngaro como uma fantasia do Purim.

Desses, 26 foram desdobrados, geralmente em suas terras natais; sete foram descobertos e mortos, por execução ou em campos de extermínio. O mais proeminente entre eles, pelo menos na morte, foi Hannah Senesh, que foi torturada e morta pela Gestapo na Hungria, mas cuja lenda desempenhou um papel enorme na formação da luta e no etos literário sionista.


Em junho de 1948, apenas um mês após a Declaração de Independência de Israel e em meio a uma guerra em andamento, as recém-formadas FDI, impressionadas com o heroísmo dos paraquedistas da Segunda Guerra Mundial e talvez deliberadamente ignorantes dos resultados mistos, enviaram um lote de 50 paraquedistas à Tchecoslováquia; eles foram treinados lá, com pilotos israelenses, e depois levados de avião para uma base aérea israelense, Tel Nof, onde foram lançados do céu.


Paraquedistas do 890º Batalhão Paraquedista em tocas no Passo de Mitla, movimento inicial da Operação Kadesh, em 29 de outubro de 1956. (Foto de Avraham Vered para o jornal do exército Ba'machane, colorizada)

Os dias de glória, no entanto, ficaram sob o comando de Ariel Sharon, culminando em um salto de 29 de outubro de 1956, durante a suave escuridão da noite, quando 395 paraquedistas foram lançados nas profundezas do deserto do Sinai, a cerca de 150 milhas (241km) dentro do território egípcio.

Desde então, os paraquedistas conseguiram libertar o Muro das Lamentações e a Cidade Velha de Jerusalém (1967) e lideraram o contra-ataque através do Canal de Suez (1973) e avançaram para o norte, pela rota montanhosa, para chegar a Beirute pela primeira vez durante a Guerra do Líbano (1982). Mas nem a brigada conscrita nem suas brigadas de reserva foram convocadas novamente para saltar de pára-quedas atrás das linhas inimigas, e muitos acreditam que nunca serão.



"Em termos operacionais, a manobra aérea de flanqueamento - o salto sobre o inimigo - é feita hoje de helicóptero, que é mais rápido e flexível", disse o Brig. General (reformado) Uzi Eilam, que ingressou no primeiro batalhão de paraquedistas, o 890º, em 1954, serviu na Guerra de Suez em 1956 no batalhão de Motta Gur, que não saltou, e passou a chefiar a Comissão Israelense de Energia Atômica e o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Defesa.

"Em termos de moral, continua sendo importante", acrescentou. "Essa é uma das maneiras pelas quais a brigada atrai indivíduos de qualidade".


Equipamento paraquedista israelense sendo lançado sobre o deserto do Negev em 28 de junho de 2007. (Unidade Porta-Voz das FDI)

O Coronel (reformado) Gabi Siboni, ex-chefe da unidade de reconhecimento da Brigada Golani e amigo próximo do chefe de Estado-Maior do Estado-Maior Geral, General Gadi Eisenkot, também da Brigada Golani, recusou-se a deixar explícita sua opinião a respeito do investimento em paraquedistas nos dias de hoje, mas sua intenção era clara.

"Como um Golanchik* comum", disse o chefe do programa de assuntos militares e estratégicos do grupo de pesquisa INSS, "você pode imaginar o que penso de todo o aparato paraquedista".

*NT: Veterano da Brigada Golani.

Tradição, tradição!

A capacidade militar dos paraquedistas como unidade aeroterrestre sempre foi a de entregar grandes forças, se necessário, muito atrás das linhas inimigas. Durante a Guerra do Golfo de 1991, quando as tropas de Saddam Hussein dispararam mísseis contra Israel do oeste do Iraque, Israel contemplou o lançamento de paraquedistas na região, revelou o Tenente-General Dan Shomron em um artigo da revista Israel Air Force de 1999. Ele não deu detalhes, dizendo que os planos podem ser necessários no futuro.

Mas a principal razão pela qual essa opção não foi exercida, além dos compromissos óbvios com a força aliada, era a mesma de sempre: as tropas são facilmente identificadas na chegada, os aviões são suscetíveis a mísseis terra-ar e as tropas só podem saltar com suprimentos limitados, necessitando de um vôo de re-suprimento, e não são protegidas por blindados ou artilharia.


O Tenente-General Benny Gantz, comandante-em-chefe das FDI, na porta de um avião durante um exercício da Brigada Paraquedista, de 8 de novembro de 2012 (Unidade Porta-Voz das FDI/ Flash 90)

Hoje, mais do que nunca, existe uma aeronave capaz de substituir o paraquedista. O V-22 Osprey decola e pousa como um helicóptero - verticalmente - e pode voar, inclinando seus rotores, tão longe e tão rápido quanto um avião de carga*, que tem um alcance que excede em muito um helicóptero tradicional.

*NT: É questionável que o Osprey ultrapasse aviões de carga em termos de alcance e capacidade de carga. O V22 Osprey custa quase o dobro do Sikorsky CH-53E Super Stallion com capacidade de carga inferior, e incapaz de carregar material pesado. O C-130 Hércules tem uma capacidade de carga de 19,000kg, como 92 passageiros ou 64 paraquedistas totalmente equipados, enquanto o Osprey carrega apenas 24 homens. 

Em 2013, os EUA liberaram a venda de seis Ospreys para Israel, o primeiro para um país estrangeiro, por aproximadamente US$ 400 milhões em dinheiro da ajuda. Em outubro de 2014, o Ministro da Defesa Moshe Ya'alon teria decidido cancelar o contrato ainda não assinado.

O exército não respondeu a uma solicitação de estimativa do custo anual total da execução de seu curso de treinamento paraquedista - pára-quedas, instrutores, dobradores de pára-quedas, base e, principalmente, tempo de vôo envolvido.

“Operacionalmente, as chances de usar paraquedistas diminuem a cada ano que passa”, disse o Major-General Yoram Yair à publicação da IAF. Mas certas coisas, disse ele, têm o "valor agregado" da tradição e carregam a marca da excelência, o que ajuda o exército a manter sua hierarquia de unidades.

NT: Salto do 2e REP, da Legião Estrangeira Francesa no aeroporto de Tombuctu no Mali em 2013.




A razão central para continuar o treinamento paraquedista, no entanto, pode não estar relacionada apenas a preocupações, tradição ou prestígio orçamentários. Um coronel da IAF, não identificado no artigo, afirmou que um jovem soldado colocado à porta aberta de um avião e instruído a pular no vento frio fica com uma impressão duradoura.

“Estou nas FDI há quase 30 anos e lutei em várias guerras”, disse ele, “e não sei de nada parecido com a ordem de levantar e carregar contra o inimigo como a situação à porta do avião, quando dizem 'salte!' e você salta para fora.”

Original: https://www.timesofisrael.com/59-years-after-last-combat-use-why-do-israels-paratroopers-need-new-chutes/

NT: Outro exemplo de salto moderno, com 90 paraquedistas do 2e REP saltando no Passo de Salvador, no Níger, e destruindo armazéns escondidos de armamento dos jihadistas.


FOTO: Reservista Israelense de 77 anos em Gaza

Nahum 'Nahche' Gilboa, 77 anos, é o mais antigo reservista de combate que já serviu nas IDF. (Imagem do Canal 2 israelense em 2014)

Muitos israelenses contribuem, de vez em quando, alguns dias de serviço de reserva junto às Forças de Defesa de Israel (FDI) até os 40 anos. Nahum “Nahche” Gilboa dedicou seu tempo durante a Operação Protective Edge (Operação Cunha de Proteção, em hebraico Miv'tza Tzuk Eitan, literalmente Operação Penhasco Forte), como o mais antigo soldado de combate na história de Israel - aos 77 anos de idade em 2014.

Tendo servido como reservista na Operação Kadesh de 1956 na Península do Sinai, Gilboa vestiu o uniforme verde da IDF na Brigada de Paraquedistas em 2014 durante o conflito de 7 semanas em Gaza (8 de julho – 26 de agosto de 2014). Ele já atuava então nas FDI de Israel há 59 anos.

Gilboa, um fazendeiro de Lachish, uma comunidade perto de Kiryat Gat, disse gostar de passar tempo com os soldados mais jovens, e que o serviço de reserva - e o trabalho duro na fazenda - o ajudavam a manter-se jovem. A sua família não questionava sua atitude e Gilboa disse que "é parte de quem eu sou".

Leitura recomendada:



FOTO: Desfile israelense, 6 de março de 2020.


FOTO: Guerrilheira Mascarada

Guerrilheira zapatista do Ejército Zapatista de Liberación Nacional (EZLN), México.

Bibliografia recomendada:

Guerra Irregular:
Terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história.
Alessandro Visacro.

Leitura recomendada:



PINTURA: Mulheres na Grande Marcha6 de março de 2020.


segunda-feira, 30 de março de 2020

FOTO: Legionários em La Valbonne

Foto muito rara de legionários do 11e REI durante uma inspeção no Campo de La Valbonne, no leste da França, em novembro de 1939.
(Foreign Legion Info)

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 30 de março de 2020.

Com a declaração de guerra à Alemanha em 3 de setembro de 1939, a França recebeu cerca de 6 mil voluntários estrangeiros "pour la durée", ou seja, pela duração da guerra; a maioria europeus orientais fugidos do comunismo soviético e espanhóis republicados internados no insalubre campo de Bacarès, nos Pirineus.

A Legião Estrangeira Francesa continuou guarnecendo o Norte da África, o Levante (Líbano e Síria) e a Indochina (Tonquim, Anam, Cochinchina, Laos e Camboja), mas providenciou quadros e efetivos da ativa e reserva para a formação de novas unidades. Aquelas formadas na França metropolitana foram o 11e REI (11ème Régiment Étranger d'Infanterie, 1º de novembro de 1939), o 12e REI (fevereiro de 1940), o Grupo de Reconhecimento Divisional 97 (Groupe de Reconnaissance Divisionnaire 97, fevereiro de 1940), e os Regimentos de Marcha de Voluntários Estrangeiros (Régiments de Marche de Volontaires Étrangers, RMVE) que receberam a maioria dos 6 mil voluntários pela duração da guerra; divididos em 21e RMVE, 22e RMVE (ambos formados em outubro de 1940) e 23e RMVE (maio de 1940).

Bibliografia recomendada:

French Foreign Legion 1914-45.
Martin Windrow e Mike Chappell
.

Leitura recomendada:



O Fuzil FN49 - Uma Breve Visão Geral

Fuzileiros navais do Brasil armados com fuzis FN49 na República Dominicana, 1965. Óleo sobre tela de Álvaro Martins.

Por Marc Cammack, Ammoland, 13 de janeiro de 2016.

Tradutor Filipe do A. Monteiro, 30 de março de 2020.

Durante o século XX, a Fabrique Nationale (FN) produziu muitas armas lendárias, como a pistola High Power 9mm, a metralhadora MAG 58, e o FN FAL.

Após a Segunda Guerra Mundial, a FN produziu outro fuzil menos conhecido, o fuzil semi-automático FN49. O FN49 não viu o mesmo nível de uso de combate que os fuzis de batalha automáticos similares, como o M1 Garand, o SVT40 ou o G43.


No entanto, a arma ajudou a abrir o caminho para o famoso fuzil de batalha FN FAL de 7,62mm, e o FN49 foi usado em outros conflitos, tais como a Guerra da Coréia. O fuzil também foi adotado por vários* países logo após a Segunda Guerra Mundial, e hoje os fuzis FN49 sobreviventes se tornaram um item de coleção estimado.

*Nota do Tradutor: A autor americano deveria ter usado a palavra "alguns", pois apenas um punhado de países adotou o FN49, a saber:  Argentina, Bélgica, Brasil, Colômbia, Congo Belga (Zaire e República Democrática do Congo), Egito, Indonésia, Luxemburgo e Venezuela (primeiro utilizador).

Guerrilheira Karen no Mianmar (Birmânia).
O FN FAL foi usado em todo mundo.

O projetista do FN49, foi um belga chamado Dieudonné Saive. Após a morte de John Moses Browning, Saive terminou o projeto da pistola Hi Power de 9mm. Mais tarde, ele também projetou o famoso fuzil FN FAL, que equiparia muitas nações ocidentais durante a Guerra Fria. Saive começou a trabalhar em fuzis semi-automáticos no início dos anos 30. Seus primeiros fuzis de carregamento automático eram operados por recuo, mas ele projetou um fuzil operado a gás em 1936. O desenvolvimento posterior desse fuzil a gás foi interrompido em 1940, quando os nazistas invadiram a Bélgica.

Protótipos de 1927-37.

Saive conseguiu escapar da Bélgica para a Inglaterra no verão de 1941. Na Inglaterra, ele desenvolveu seu projeto para um fuzil semi-automático. Saive foi posteriormente ao Canadá em 1943 para ajudar na produção da pistola Hi Power na empresa John Inglis. O projeto do fuzil em que Saive trabalhou na Inglaterra serviu de base para o fuzil semi-automático FN49* do pós-guerra, adotado pela Bélgica em 1949.

Dieudonné Saive com o desenho do FAL.

*NT: Em 1943, Saive estava de volta ao trabalho em seu fuzil experimental, agora em 7,92×57mm Mauser. No final daquele ano, a Royal Small Arms Factory, Enfield encomendou 50 protótipos designados "EXP-1" e às vezes referidos como "SLEM-1" ou "Self-Loading Experimental Model" (Modelo Experimental de Carregamento Automático). Com base em testes com esses protótipos, a Enfield encomendou 2.000 fuzis para testes de tropa, mas um problema de última hora com a moderação da pressão do gás (bem como o iminente fim da Segunda Guerra Mundial) levou ao cancelamento desta encomenda. Apesar disso, Saive, que havia retornado a Liège logo após sua libertação em setembro de 1944, continuou o trabalho no fuzil, e finalizou o projeto do FN-49 em 1947.

Diorama mostrando soldados luxemburgueses defendendo uma casamata na Coréia, Museu Nacional de História Militar de Luxemburgo.

Voluntários belgas na Coréia.
O FN49 é visível no centro da foto.

O exército belga foi o maior usuário do fuzil FN49. Esses fuzis foram marcados como "ABL" para o Exército Belga. Esses modelos belgas foram criadas para facilitar a conversão para seletor de tiro. O Congo Belga também teve um total de 2.795 fuzis FN49 com seletor de tiro e em .30-06. Esses fuzis tinham um brasão de leão na caixa da culatra para distingüi-los dos fuzis do Exército Belga. Em 1960, o FN FAL substituiu o FN49 na Bélgica e no Congo como um fuzil de infantaria padrão.

Desmontagem em primeiro escalão do FN49


Fuzileiros navais brasileiros em exercício de montanha e contra-guerrilha na República Dominicana, 1965.

Fuzileiros navais brasileiros, com o FN49, em exercício de guerra de montanha e contra-guerrilha da FIP na República Dominicana, 1965.

A Bélgica não foi o primeiro país a adotar o FN49. A Venezuela encomendou 4.000 fuzis FN49 em 7mm Mauser em 1948. Eles fizeram um segundo pedido de 4.000 em 1951, totalizando 8.000 fuzis. Esses fuzis foram marcados com o brasão venezuelano e possuíam um quebra-chama único. A Marinha do Brasil usou um total de 11.001 fuzis FN49 em .30-06 e um fuzil em 7,62mm OTAN. Esses fuzis foram marcados com o brasão brasileiro na parte superior da caixa da culatra e também foram marcados com uma âncora no lado esquerdo da mesma.

FN49 venezuelano em 7mm.

Soldado venezuelano ajoelhado com um FN49, no centro da foto, durante o golpe militar de 1958.

Brasão venezuelano.

FN49 argentino com carregador destacável.

FN49 com o brasão da Armada da República Argentina (ARA).


Outros países da América do Sul usaram o FN49, como a Argentina. A Marinha Argentina encomendou um total de 5.537 fuzis em 7,65mm Argentino. Muitas dessas armas foram posteriormente convertidas para o 7,62mm OTAN e equipadas com um carregador destacável de tipo cofre de 20 tiros. Os fuzis da Marinha Argentina são marcados com o brasão da Argentina e da ARA na caixa da culatra. 1.000 fuzis em .30-06 foram produzidos para a Colômbia e esses fuzis foram marcados com o brasão colombiano na caixa da culatra.

Armação argentina modificada para carregador destacável, feita pela Metalúrgica Centro (antiga Fábrica de Armas Halcón).

Armação padrão com o carregador fixo servindo de depósito.

O Egito foi o segundo maior usuário do FN49, com cerca de 37.602 fuzis em 8mm Mauser sendo comprados ao longo de dois anos. As armas egípcias costumavam ter um disco de latão no lado direito da coronha. As miras traseiras também foram marcadas em árabe e as caixas da culatra foram marcadas com uma águia ou a coroa egípcia. O Luxemburgo também encomendou o FN49. Estes foram calibrados em .30-06 e marcados AL na caixa da culatra, significando Exército do Luxemburgo. Um total de 6.003 fuzis FN49 foram fabricados para o Luxemburgo. A Indonésia foi outro comprador do FN49 e encomendou cerca de 16.100 em .30-06. Esses fuzis foram marcados com as letras ADRI na caixa da culatra e uma águia [NT: A Marinha Indonésia marcou as letras ALRI].

Brasão indonésio ADRI.

Brasão da Marinha Indonésia, ALRI.

Brasão luxemburguês.

FN49 sniper luxemburguês


As variações de atiradores de elite do FN49 foram feitas para a Bélgica, o Egito e o Luxemburgo. A Bélgica tinha um total de 262 fuzis de precisão FN49. O número de fuzis de precisão usados por Luxemburgo também foi pequeno. Os fuzis de precisão da Bélgica e Luxemburgo exibiam montagens Echo e lunetas OIP de 4x de potência. O Egito usou um número maior de fuzis de precisão FN49, e essas armas diferiam de suas contrapartes européias. Eles foram equipados com e lunetas MeOpta 2,5x de potência tchecos e montagens de fabricação tcheca.

Brasão real egípcio do tempo do Rei Faruk.

Paras franceses do 2e RPC (Régiment de Parachutistes Coloniaux), que saltaram no Porto Said, inspecionam um fuzil SKS capturado dos egípcios, 1956.

Prisioneiros egípcios feitos pelo 2e RPC no Porto Said, novembro de 1956.

FN Sniper egípcio


O FN49 foi rapidamente substituído pelo famoso FN FAL 7,62mm em muitos países. Apesar disso, o FN49 viu uso limitado de combate em vários* conflitos. O Batalhão de Voluntários Belgas lutou na Guerra da Coréia e foi equipado inicialmente com fuzis britânicos nº 4 Enfield .303, mas seria reequipado com os fuzis FN49 em 1952. Os fuzis FN49 também foram usadas no Congo após a independência do país em 1960. As tropas egípcias usaram a arma durante a crise de Suez de 1956 também. Tropas venezuelanas usaram o FN49, ao lado de fuzis FN Mauser e FAL, durante o golpe-de-estado venezuelano de 1958.

Sentinela fuzileiro naval observando a Av. George Washington em um posto de controle em São Domingos, 1965. Ele tem a baioneta do FN49.

*NT: Novamente, o autor americano devia ter usado a palavra "alguns". Além desses mencionados, os Fuzileiros Navais (FN) brasileiros usaram o FN49 em ação contra os constitucionalistas na República Dominicana. A primeira missão operativa da Cia FN (BRASIL) foi ocupar, no amanhecer de 7 de junho de 1965, o limite leste da ZIS (Zona Internacional de Segurança) fazendo face à zona rebelde, barrando duas vias principais - a Avenida George Washington e a Avenida Independência.

Embarque do Escalão Marítimo do FAIBRÁS no Soares Dutra, porto de Haina, 1966. Dois FN49 são visíveis.

Nos Estados Unidos, os fuzis FN49 sobreviventes estão em alta demanda no mercado de colecionadores. Eles são muito mais incomuns do que outros fuzis contemporâneos como o M1 Garand, devido ao seu baixo número de produção. Os fuzis da Venezuela e do Luxemburgo são muito procurados devido, em parte, ao fato de serem frequentemente encontrados em excelentes condições ou em condições novas.

Os fuzis egípcios são os fuzis FN49 mais comuns nos EUA e são frequentemente encontrados com coronhas substitutas. Os FN49 do exército belga são raros nos Estados Unidos, pois foram configurados para serem facilmente convertidos com seletor de tiro e, portanto, são proibidos de importar.

Sobre o autor:

Marc Cammack coleciona armas de fogo desde os 14 anos de idade. Seus interesses são principalmente armas de fogo excedentes militares do final do século XIX até os anos 50. Ele os estudou em profundidade e atualmente é voluntário em dois museus locais, fornecendo informações precisas sobre suas armas de fogo. Ele se formou na Universidade do Maine com um diploma de bacharel em história. Ele estuda a história européia e americana moderna desde os 9 anos de idade e pratica o tiro desde os 11 anos. Atualmente, ele mora nos arredores de Bangor, Maine.

Bônus: Turma do tradutor na Marambaia com o FN49 (chamado de FS) em novembro de 2007.

1º Pelotão, 1ª Companhia "Fantasma".