domingo, 11 de agosto de 2019

O FN FAL quase foi o Fuzil de Batalha da América

  


Do blog War is Boring, 5 de outubro de 2014.
Tradução Filipe do A. Monteiro.

A ARMA BELGA ERA MUITO BOA APESAR DISSO
Fuzileiro Naval dos Estados Unidos com um SLR L1A1 britânico, durante 
um exercício de treinamento como parte da Operação Escudo do Deserto na 
Guerra do Golfo, 5 de dezembro de 1990
Ele poderia ter sido o fuzil de batalha principal dos Estados Unidos. Em vez disso, tornou-se "o braço direito do mundo livre."
Nomeie uma guerra, revolução ou revolta durante a Guerra Fria que envolveu a Comunidade Britânica, nações da Europa Ocidental ou seus aliados e você encontrou o FAL da Fabrique Nationale nas mãos dos soldados lutando nas batalhas.
Não admira que o FAL ganhou seu apelido e se tornou um símbolo da luta contra o comunismo.
Começando imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, a FN produziu dois milhões de cópias do Fusil Automatique Léger— ou Fuzil Automático Leve. Mais de 90 nações adotaram a arma. Por um período, o FAL era até mesmo o fuzil oficial da maioria dos países da OTAN.
Um dos exemplos mais famosos da onipresença da FAL foi durante a Guerra das Falklands em 1982. O exército argentino levou a versão totalmente automática do FAL. As tropas britânicas tinham a versão semi-automática L1A1 Self-Loading Rifle ("Fuzil Auto-Carregável"). Depois de capturar tropas argentinas, a infantaria britânica e os fuzileiros navais britânicos freqüentemente andaram até a pilha de armas argentinas e recuperaram os FALs totalmente automáticos.
Na Argentina, milhares de FALs sofreram reconstruções em arsenais em 2010, um sinal claro de que o país continuará a usar a arma.
Ou considere a Guerra dos Seis Dias, de 1967. Um equívoco comum é que a Uzi de nove milímetros era a arma favorita da Força de Defesa de Israel. Na verdade, soldados israelenses carregaram mais FALs do que Uzis quando enfrentaram forças egípcias, jordanianas e sírias.
De muitas maneiras, foi a resposta do Ocidente ao Kalashnikov, apesar de ter disparado a munição mais pesada de 7,62x51 milímetros OTAN em vez da munição intermediária de 7,62x39 milímetros do AK-47.
Como o FAL viu a luz do dia é uma história que combina as realidades táticas que emergiram da Segunda Guerra Mundial e a política de quem lideraria quem durante a Guerra Fria.
SLR 1A1
O sucesso do inovador fuzil de assalto Sturmgewehr 44, da Alemanha, convenceu os oficiais de material bélico e os projetistas de armas de que a era do fuzil de batalha de ação rápida estava morta e ultrapassada. Cartuchos mais leves em fuzis de assalto com seletor de tiro capturaram a imaginação dos projetistas de armas.
Apenas os Estados Unidos adotaram um fuzil de batalha semi-automático de grosso calibre, o bem-estimado M1 Garand .30–06, arma que o General George Patton chamou de “o maior implemento de batalha já inventado”. Mas o futuro era um que disparava em fogo totalmente automático e o Garand não.
Mas a outra questão era: qual calibre? Enquanto os projetistas de armas de ambos os lados do Atlântico brincavam com protótipos de fuzis de batalha, os britânicos testaram uma munição de sete milímetros no novo FAL… e gostaram.
Nos Estados Unidos, o Exército queria continuar com a munição de calibre .30, afirmando categoricamente que nenhum outro cartucho poderia se manter no campo de batalha.
Com a formação da nova aliança da Otan em 1949, generais e planejadores civis falaram da necessidade de padronizar equipamentos, armas e suprimentos.
Rifles: An Illustrated History of their Impact.
"O objetivo louvável foi um que esteve muito nas mentes de muitos pensadores militares voltados para o futuro por um longo tempo", escreve David Westwood, autor de Rifles: An Illustrated History of their Impact (Fuzis: Uma História Ilustrada do Seu Impacto, sem tradução para o português). "Porque a experiência mostrou que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha lutavam frequentemente lado a lado, e a comunalidade seria em benefício de todos, incluindo os soldados em campanha".
Uma coisa era certa. Os britânicos ficaram impressionados com o FAL. Eles consideraram a arma de fogo superior aos concorrentes porque era fácil de manter, desmontar e limpar. Ele se remontava sem ferramentas especiais e era uma arma de fogo com seletor de tiro - mas disparava a munição mais leve.
Os generais americanos "turrões" não aceitariam nada além de uma arma calibre .30, insistindo na superioridade de um protótipo chamado T25, um precursor do M14 que não era nada mais que um Garand embelezado.
Logo, houve uma “Batalha das Balas” que chegou até a Casa Branca e a 10 Downing Street. O presidente Harry Truman e o primeiro-ministro Winston Churchill realizaram uma mini-conferência, onde dizem os rumores, eles conseguiriam um quid pro quo - os EUA adotariam o FAL como seu principal fuzil de batalha se a Grã-Bretanha apoiasse a OTAN adotando a munição de 7,62x51 milímetros.
A OTAN adotou a munição. No entanto, os EUA renegaram, desenvolveram o M14 - que disparava o cartucho de 7,62 milímetros da OTAN - e o adotaram como o fuzil principal das forças armadas americanas. No final, não importava para a FN porque os países da OTAN, incluindo a Grã-Bretanha, começaram a abocanhar o FAL calibrado na munição da OTAN.
Muitos consideram essa combinação de arma e cartucho o emparelhamento quintessencial do fuzil de batalha e bala durante o século XX - o FAL entrou em produção em 1953 e a FN continuou a produzir o fuzil até 1988. O M-14 caiu no esquecimento como o fuzil de batalha principal dos EUA dentro de alguns anos, substituído pelo M-16.
The FN FAL Battle Rifle
“Independentemente da atividade política que ocorreu antes de sua adoção, o 7,62x51 milímetros da OTAN revelou-se um excelente e poderoso cartucho militar”, escreve Robert Cashner, autor de The FN FAL Battle Rifle.“Com milhões de FALs fabricados e distribuídos internacionalmente, o fuzil desempenhou um papel importante em tornar o 7,62x51 milímetros da OTAN o sucesso que foi.”
O FAL também provou ser um sucesso no Vietnã nas mãos de tropas australianas. Mais de 60.000 Aussies serviram na Guerra do Vietnã de 1962 a 1972, incluindo o 1º Batalhão, Regimento Real Australiano (1RAR). Os australianos frequentemente enfrentavam vietcongues bem equipados que carregavam AK-47 novos fornecidos pelos chineses comunistas e países do bloco oriental.
Apesar do seu peso e tamanho - o FAL é um dos mais longos fuzis de batalha do século XX - as tropas do 1RAR da Austrália consideraram sua arma adequada para a guerra na selva.
A poderosa munição da OTAN poderia perfurar a folhagem espessa. Foi também uma arma muito mais confiável do que a versão inicial do M-16 que as forças dos EUA carregavam. O FAL raramente travou ou sofreu incidentes de tiro - problemas que atormentaram o M-16 durante anos.

Original: https://medium.com/war-is-boring/the-fn-fal-was-almost-americas-battle-rifle-5186bdbda998



3 comentários:

  1. Uau, que reportagem magnífica sobre o desenvolvimento de um fuzil. A parte mais interessante foi aquela referente sobre a confiabilidade do fuzil em combate: eu sabia que o AK-47 sempre foi mais robusto em combate, embora menos preciso em atingir o alvo à grande distância. Porém ficar sabendo que o M-16A perdia em qualidade para o belga FAL me surpreendeu mesmo.
    À propósito, esta arma ainda é utilizada pelas nossas forças armadas ou já foi totalmente substituída?

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  2. O FAL é empregado pelas forças armadas brasileiras sim. Porém, está sendo, aos poucos, substituída pelo fuzil Imbel IA-2 em calibre 5,56 mm e em breve, pela versão em 7,62 mm do mesmo fuzil. O M-16 teve problemas no começo de seu serviço operacional por problemas de qualidade da munição e por algumas fragilidades. Porém, a arma foi sendo desenvolvida e hoje estamos na 4º geração do M-16 que pé, sem duvidas, um fuzil mecanicamente superior ao FAL.Há uma matéria sobre o M-16 neste blog. O endereço do link é: https://www.warfareblog.com.br/2018/08/fuzil-ar-15-m-16-o-classico-rifle-dos.html

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