Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 6 de março de 2023.
Operadores venezuelanos da nova "Fuerza de Tarea Sombra" (Força-Tarefa Sombra) durante o XII Curso Especial de Treinamento Tático em Contraterrorismo, na quinta-feira, 4 de março de 2021. Os operadores estão armados com as novas carabinas bullpup chinesas QBZ-97B. Armamento chinês está começando a aparecer em quantidade na Venezuela, entre os vários modelos QBZ, essa manobra apresentou o fuzil sniper anti-mateiral NBR13/SG-50.
Essas atividades fizeram parte do exercício militar Escudo Bolivariano "Supremo Comandante Hugo Rafael Chávez Frías", do Comando Operacional Estratégico da Força Armada Nacional Bolivariana (Comando Estratégico Operacional de la Fuerza Armada Nacional Bolivariana, CEOFANB), e ocorreram em Barinas, na Venezuela.
|
Insígnia do Exercício Escudo Bolivariano "Supremo Comandante Hugo Rafael Chávez Frías".
|
O evento foi o ponto culminante do XI Curso Especial de Treinamento Tático em Contraterrorismo (XI Curso de Entrenamiento Táctico Especial en Contraterrorismo) e do início do curso XII da mesma especialidade. Foram realizados exercícios militares, segundo a FANB, com a intenção de aumentar a prontidão operacional, e de combater e expulsar ameaças externas de grupos terroristas dentro do território nacional.
A manobra foi divulgada pelo CEOFANB através da sua conta oficial da rede social Twitter @Libertad020 (hoje suspensa), onde afirmava: “Foi realizada uma demonstração, onde foi utilizada a Força-Tarefa Sombra, composta por várias equipes cuja missão era reconhecimento, localização, busca e neutralização de grupos terroristas que ameaçam a paz e a tranquilidade em um território”.
Uma das novidades foi o início do Curso Básico Piloto RPAS X de drones, chamado assim para Remotely-piloted aircraft system (Sistema de aeronave remotamente pilotada). O Batalhão de Drones (Batallón de Drones) do CEOFANB é uma unidade recém-criada e faz parte da Força-Tarefa Sombra. O batalhão realizou uma demonstração com drones (Veículo aéreo não-tripulado, VANT) controlados por um posto de comando móvel dotado de computadores. Durante o exercício, o batalhão manobrou com um drone não-identificado dotado de câmeras de alta tecnologia. A insígnia desse batalhão é um drone com uma caveira.
|
Operador do VANT com a insígnia do batalhão. |
|
O VANT. |
|
O posto de comando do VANT. |
No que diz respeito aos equipamentos pessoais, destacam-se capacete com estroboscópio de infravermelhos, visão noturna monocular, óculos de proteção e conjunto de comunicações; coletes, joelheiras, cotoveleiras e luvas táticas com proteção balística. Além disso, o uniforme e o capacete carregam fitas refletoras infravermelhas para identificação amigo-inimigo.
|
Operador com a metralhadora Minimi, notar as fitas refletoras. |
|
Operador com Minimi e cintas de munição.
|
O Twitter oficial do CEOFANB também postou as típicas palavras de ordem do regime:
¡Chávez vive, la Patria sigue!
¡Independencia y patria socialista!
¡¡El sol de Venezuela nace en el Esequibo!
¡Por ahora y por siempre!
|
O Almirante-em-Chefe Remigio Ceballos Ichaso (centro) assistindo ao exercício. |
O Comandante Operacional Estratégico da FANB, A/J Remigio Ceballos Ichaso, afirmou:
“A FANB possui uma Força Tarefa de Combate ao Terrorismo totalmente testada, seus combatentes são altamente qualificados e treinados para combater ameaças presentes e futuras, de caráter nacional e transnacional. Integrar é Vencer!”
Da mesma forma, destacou que a dignidade é a força da Força Armada Nacional Bolivariana, "não aceitamos interferência estrangeira de ninguém, não aceitaremos que qualquer potência estrangeira venha impor sua política, nunca a aceitaremos", enfatizou.
|
O almirante falando com as tropas. |
O exercício incluiu a tomada de uma estrutura abrigando "terroristas". Durante o assalto, os comandos da Força-Tarefa Sombra apresentaram um armamento de origens variadas, como é comum na Venezuela.
Os fuzis prevalentes na FANB são o AK-103 de fabricação russa e o fuzil FN FAL belga que deveria ter sido substituído pelo fuzil Kalashnikov, o qual deveria ser produzido pela CAVIM. Além desses, os venezuelanos têm uma miríade de outros fuzis exóticos de estoques díspares da família M16 e M4, M14, Steyr AUG e FN FNC. Nos últimos anos, houve uma crescente incorporação dos fuzis MPi-KM-72 e MPi-KMS-72, o AK47 de fabricação alemã-oriental que andou aparecendo nas mãos da FAES. Há também um punhado de fuzis comprados para avaliação como o FAMAS F1 e G2, o Vektor R4/R5 e Vektor CR-21, além de outros modelos; alguns deles fabricados sob licença. Algumas forças de segurança venezuelanas foram vistas até mesmo com fuzis AR-15 comprados no mercado civil dos Estados Unidos.
Uma novidade é o crescente aparecimento das carabinas QBZ-97A chinesas, um fuzil de assalto bullpup projetado e fabricado pela Norinco. Este armamento entrou em serviço em 2018 e é usado exclusivamente por unidades de forças especiais como a 99ª Brigada de Forças Especiais “G/J Félix Antonio Velásquez” do Exército, a 8ª Brigada de Comandos do Mar "Generalíssimo Francisco de Miranda" da Marinha, o Grupo de Ação de Comandos da Guarda Nacional (GNB) e agora a Força-Tarefa Sombra do CEOFANB.
|
A tropa com óculos táticos e bullpups chineses. |
|
Os fuzis QBZ-97B estão todos equipados com miras holográficas. |
|
Operador com um fuzil Colt/AR usando a mira de ponto vermelho StrikeFire II, da empresa Vortex Optics, que foi adquirida no mercado civil americano. |
|
Equipe de assalto avançando sob a proteção de um transporte blindado BTR-80 russo. |
Durante a manobra outros armamentos foram vistos, além dos armamentos mais comuns como a metralhadora FN MAG e o onipresente lança-granadas Milkor MGL Mk. 1 de 40mm, alémde alguns modelos novos chineses e russos. O lançador de granada auto-explosiva RPG-26 russo, equivalente ao AT4 ocidental, foi uma dessas novidades. A sua versão em uso na Venezuela é o RShG-2.
O RShG-2 (Реактивная Штурмовая Граната, Reaktivnaya Shturmovaya Granata / granada de assalto com propulsão por foguete) é uma variante do RPG-26 com ogiva termobárica, de origem soviética e fabricado pela NPO Bazalt. O RShG-2 é mais pesado que o RPG-26 com 3,5kg e tem um alcance de tiro direto reduzido de 115 metros. Destina-se a ser usado contra infantaria e estruturas, em vez de veículos blindados. Seu apelido é Aglen-2 (Аглень-2).
|
Lança-granadas Milkor MGL Mk. 1. |
|
Disparo do RPG-26.
|
Outra arma que chamou a atenção foi o fuzil anti-material chinês Norinco NBR13/NSG-50. Este fuzil sniper pesado é calibrado em .50 no cartucho 12,7x108mm, a resposta soviética ao alemão 13,2x92mm SR (Mauser 13,2mm TuF) e ao americano 12,7×99mm (.50 BMG). Seguindo a doutrina russo-soviética, a Venezuela aumentou seus atiradores de elite exponencialmente com a aquisição de mais de mil fuzis semiautomáticos SVD Dragunov. Os francotiradores (franco-atiradores, nome de preferência dos países hispânicos) também têm à sua disposição o fuzil ferrolhado CAVIM Catatumbo em 7,62x51mm de fabricação venezuelana.
|
"Francotiradores", dupla sniper de atirador e observador com o CAVIM Catatumbo e o NBR13. |
|
Fuzil pesado Norinco NBR13.
|
A Força-Tarefa Sombra é classificada como uma força contraterrorista, e é provável que seja empregada contra os renegados das FARC em Apure, conhecidos na Venezuela como os TANCOL.
Bibliografia recomendada:
|
Spec Ops: Case Studies in Special Operations Warfare: Theory and Practice, Comandante William H. McRaven. |
Leitura recomendada: