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segunda-feira, 6 de março de 2023

GALERIA: Força-Tarefa Sombra no exercício Escudo Bolivariano

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 6 de março de 2023.

Operadores venezuelanos da nova "Fuerza de Tarea Sombra" (Força-Tarefa Sombra) durante o XII Curso Especial de Treinamento Tático em Contraterrorismo, na quinta-feira, 4 de março de 2021. Os operadores estão armados com as novas carabinas bullpup chinesas QBZ-97B. Armamento chinês está começando a aparecer em quantidade na Venezuela, entre os vários modelos QBZ, essa manobra apresentou o fuzil sniper anti-mateiral NBR13/SG-50.

Essas atividades fizeram parte do exercício militar Escudo Bolivariano "Supremo Comandante Hugo Rafael Chávez Frías", do Comando Operacional Estratégico da Força Armada Nacional Bolivariana (Comando Estratégico Operacional de la Fuerza Armada Nacional Bolivariana, CEOFANB), e ocorreram em Barinas, na Venezuela.

Insígnia do Exercício Escudo Bolivariano
"Supremo Comandante Hugo Rafael Chávez Frías".

O evento foi o ponto culminante do XI Curso Especial de Treinamento Tático em Contraterrorismo (XI Curso de Entrenamiento Táctico Especial en Contraterrorismo) e do início do curso XII da mesma especialidade. Foram realizados exercícios militares, segundo a FANB, com a intenção de aumentar a prontidão operacional, e de combater e expulsar ameaças externas de grupos terroristas dentro do território nacional.

A manobra foi divulgada pelo CEOFANB através da sua conta oficial da rede social Twitter @Libertad020 (hoje suspensa), onde afirmava: “Foi realizada uma demonstração, onde foi utilizada a Força-Tarefa Sombra, composta por várias equipes cuja missão era reconhecimento, localização, busca e neutralização de grupos terroristas que ameaçam a paz e a tranquilidade em um território”.

Uma das novidades foi o início do Curso Básico Piloto RPAS X  de drones, chamado assim para Remotely-piloted aircraft system (Sistema de aeronave remotamente pilotada). O Batalhão de Drones (Batallón de Drones) do CEOFANB é uma unidade recém-criada e faz parte da Força-Tarefa Sombra. O batalhão realizou uma demonstração com drones (Veículo aéreo não-tripulado, VANT) controlados por um posto de comando móvel dotado de computadores. Durante o exercício, o batalhão manobrou com um drone não-identificado dotado de câmeras de alta tecnologia. A insígnia desse batalhão é um drone com uma caveira.

Operador do VANT com a insígnia do batalhão.

O VANT.

O posto de comando do VANT.

No que diz respeito aos equipamentos pessoais, destacam-se capacete com estroboscópio de infravermelhos, visão noturna monocular, óculos de proteção e conjunto de comunicações; coletes, joelheiras, cotoveleiras e luvas táticas com proteção balística. Além disso, o uniforme e o capacete carregam fitas refletoras infravermelhas para identificação amigo-inimigo.

Operador com a metralhadora Minimi,
notar as fitas refletoras.

Operador com Minimi e cintas de munição.

O Twitter oficial do CEOFANB também postou as típicas palavras de ordem do regime:

¡Chávez vive, la Patria sigue!
¡Independencia y patria socialista!
¡¡El sol de Venezuela nace en el Esequibo!
¡Por ahora y por siempre!
¡VENCEREMOS!

O Almirante-em-Chefe Remigio Ceballos Ichaso (centro) assistindo ao exercício.

O Comandante Operacional Estratégico da FANB, A/J Remigio Ceballos Ichaso, afirmou:

“A FANB possui uma Força Tarefa de Combate ao Terrorismo totalmente testada, seus combatentes são altamente qualificados e treinados para combater ameaças presentes e futuras, de caráter nacional e transnacional. Integrar é Vencer!”

Da mesma forma, destacou que a dignidade é a força da Força Armada Nacional Bolivariana, "não aceitamos interferência estrangeira de ninguém, não aceitaremos que qualquer potência estrangeira venha impor sua política, nunca a aceitaremos", enfatizou.

O almirante falando com as tropas.

O exercício incluiu a tomada de uma estrutura abrigando "terroristas". Durante o assalto, os comandos da Força-Tarefa Sombra apresentaram um armamento de origens variadas, como é comum na Venezuela.

Os fuzis prevalentes na FANB são o AK-103 de fabricação russa e o fuzil FN FAL belga que deveria ter sido substituído pelo fuzil Kalashnikov, o qual deveria ser produzido pela CAVIM. Além desses, os venezuelanos têm uma miríade de outros fuzis exóticos de estoques díspares da família M16 e M4, M14, Steyr AUG e FN FNC. Nos últimos anos, houve uma crescente incorporação dos fuzis MPi-KM-72 e MPi-KMS-72, o AK47 de fabricação alemã-oriental que andou aparecendo nas mãos da FAES. Há também um punhado de fuzis comprados para avaliação como o FAMAS F1 e G2, o Vektor R4/R5 e Vektor CR-21, além de outros modelos; alguns deles fabricados sob licença. Algumas forças de segurança venezuelanas foram vistas até mesmo com fuzis AR-15 comprados no mercado civil dos Estados Unidos.

Uma novidade é o crescente aparecimento das carabinas QBZ-97A chinesas, um fuzil de assalto bullpup projetado e fabricado pela Norinco. Este armamento entrou em serviço em 2018 e é usado exclusivamente por unidades de forças especiais como a 99ª Brigada de Forças Especiais “G/J Félix Antonio Velásquez” do Exército, a 8ª Brigada de Comandos do Mar "Generalíssimo Francisco de Miranda" da Marinha, o Grupo de Ação de Comandos da Guarda Nacional (GNB) e agora a Força-Tarefa Sombra do CEOFANB.

A tropa com óculos táticos e bullpups chineses.

Os fuzis QBZ-97B estão todos equipados com miras holográficas.

Operador com um fuzil Colt/AR usando a mira de ponto vermelho
StrikeFire II, da empresa Vortex Optics, que foi adquirida no mercado civil americano.

Equipe de assalto avançando sob a proteção de um transporte blindado BTR-80 russo.

Durante a manobra outros armamentos foram vistos, além dos armamentos mais comuns como a metralhadora FN MAG e o onipresente lança-granadas Milkor MGL Mk. 1 de 40mm, alémde alguns modelos novos chineses e russos. O lançador de granada auto-explosiva RPG-26 russo, equivalente ao AT4 ocidental, foi uma dessas novidades. A sua versão em uso na Venezuela é o RShG-2.

O RShG-2 (Реактивная Штурмовая Граната, Reaktivnaya Shturmovaya Granata / granada de assalto com propulsão por foguete) é uma variante do RPG-26 com ogiva termobárica, de origem soviética e fabricado pela NPO Bazalt. O RShG-2 é mais pesado que o RPG-26 com 3,5kg e tem um alcance de tiro direto reduzido de 115 metros. Destina-se a ser usado contra infantaria e estruturas, em vez de veículos blindados. Seu apelido é Aglen-2 (Аглень-2).

Lança-granadas Milkor MGL Mk. 1.

Disparo do RPG-26.

Outra arma que chamou a atenção foi o fuzil anti-material chinês Norinco NBR13/NSG-50. Este fuzil sniper pesado é calibrado em .50 no cartucho 12,7x108mm, a resposta soviética ao alemão 13,2x92mm SR (Mauser 13,2mm TuF) e ao americano 12,7×99mm (.50 BMG). Seguindo a doutrina russo-soviética, a Venezuela aumentou seus atiradores de elite exponencialmente com a aquisição de mais de mil fuzis semiautomáticos SVD Dragunov. Os francotiradores (franco-atiradores, nome de preferência dos países hispânicos) também têm à sua disposição o fuzil ferrolhado CAVIM Catatumbo em 7,62x51mm de fabricação venezuelana.

"Francotiradores",
dupla sniper de atirador e observador com o CAVIM Catatumbo e o NBR13.

Fuzil pesado Norinco NBR13.

A Força-Tarefa Sombra é classificada como uma força contraterrorista, e é provável que seja empregada contra os renegados das FARC em Apure, conhecidos na Venezuela como os TANCOL.

Bibliografia recomendada:

Spec Ops:
Case Studies in Special Operations Warfare:
Theory and Practice,
Comandante William H. McRaven.

Leitura recomendada:

segunda-feira, 25 de julho de 2022

Engenharia Tcheca: O CZ BREN 2 no GIGN


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 25 de julho de 2022.

Em 2017, o Grupo de Intervenção da Gendarmaria Nacional (Groupe d’Intervention de la Gendarmerie Nationale, GIGN) selecionou um novo fuzil de assalto: o BREN 2 da empresa CZ, Ceska Zbrojovka. O grupo fez um pedido inicial de 68 unidades no calibre 7,62x39mm russo/soviético. Em um futuro próximo, estão previstas compras adicionais com o objetivo de substituir a maioria dos HK 416 atualmente em serviço.

O CZ 805 BREN é um fuzil de assalto modular operado a gás projetado e fabricado pela Česká zbrojovka Uherský Brod. O desenho modular permite que os usuários alterem o calibre da arma para cartuchos intermediários de 5,56x45mm OTAN ou 7,62x39mm por troca rápida de cano com tubos de gás, bloco de culatra, compartimento do carregador e carregador.

Portrait d’un ops (Retrato de um operacional).
Pintura em aquarela mostrando um ops do GIGN com o BREN 2.

CZ BREN 2 de perfil.

A decisão foi uma escolha balística pelos "super gendarmes", fruto de uma reflexão que começou em 2015, após os ataques dos irmãos Kouachi e Coulibaly, ocorridos em Paris no mês de janeiro. Os terroristas atacaram equipados com coletes à prova de balas, e as armas calibradas em 9mm e 5,56mm das unidades de intervenção da gendarmaria e da polícia francesas careciam de poder de parada. A equipe operacional do GIGN identificou assim a necessidade de uma nova arma com calibre balístico intermediário, em complemento das armas já existentes. O calibre 7,62x51mm do padrão da OTAN - e o mesmo do FAL - tem as características adequadas, mas armas desse calibre foram consideradas muito pesadas e volumosas para um combate eficaz em ambiente confinado; a especialização do GIGN.

Então, o GIGN decidiu avaliar fuzis de assalto no calibre 7,62x39mm e começou os testes em 2015 com uma variedade de outras armas. A oferta da CZ só foi feita na fase final do programa de avaliação. E ao longo de 2016, o fuzil foi testado em diversas situações e foi considerado um dos mais indicados no painel de fuzis testados pelo GIGN.






O CZ BREN 2 foi desenvolvido a partir do fuzil CZ 805 BREN S1 para competir no programa Arma de Infantaria Futura (Arme d'Infanterie Future, AIF) do Exército Francês (que viu a seleção do fuzil HK 416). No entanto, o industrial CZ não pôde participar do processo devido à sua chegada tardia ao mercado. O desenvolvimento do BREN 2, no entanto, foi realizado e a arma foi mantida em sua versão de 5,56 mm pelo exército tcheco, que a usará como um fuzil de assalto padrão em vez do CZ 805.

A versão do GIGN do CZ BREN 2.

O GIGN solicitou algumas modificações para seus próprios fuzis, em particular uma nova manga no quebra-chamas projetada para ser equipada com um redutor de som. Alguns fuzis adquiridos pelo GIGN também incluem uma modificação no sistema de regulagem de gás permitindo o disparo subsônico. A versão BREN 2 de 7,62 x 39 mm selecionada pelo GIGN é um fuzil de assalto compacto com um cano de nove polegadas (22,8cm). Inclui um guarda-mão com trilhos Picatinny que permite a instalação de vários acessórios, sistemas de auxílio à mira e elementos telescópicos dobráveis. A arma é totalmente ambidestra e, apesar de seu cano curto, mantém a precisão total até um alcance prático de 400m, confirmado durante os testes do GIGN.


Operadores do GIGN com fuzis de assalto HK-416 e CZ BREN 2,
setembro de 2021.

Coluna de assalto com escudo, março de 2022.

Coluna de assalto com cachorro, março de 2022.

O operador da direita porta o CZ BREN 2.


Tudo isso lembra, do ponto de vista do calibre 7,62x39mm e dos silenciadores, a escolha tática comparável utilizada essencialmente pelas Spetnaz do FSB do Grupo Alpha, encarregado do contraterrorismo interno.

A Tchecoslováquia teve a distinção de ser o único membro do Pacto de Varsóvia cujo exército não emitiu um fuzil baseado no AK-47 soviético. Ao contrário, eles desenvolveram o Sa Vz. 58 (Samopal vzor 58, fuzil modelo 58) no final da década de 1950 e embora disparasse o mesmo cartucho de 7,62x39mm e parecesse externamente semelhante, seu sistema operacional e recursos eram dramaticamente diferentes. Foi eficaz na época em que foi introduzido, mas na década seguinte tornou-se obsoleto e difícil de modificar.

O industrial CZ tentou destacar sua pistola automática CZ P-10 no GIGN, mas sem sucesso. A empresa também ofereceu seu fuzil BREN 2 no calibre 7,62x39mm ao Comando de Operações Especiais (Commandement des Opérations Spéciales, COS), argumentando que equipar as forças especiais com tal fuzil permitiria uma interoperabilidade mais fácil em campanha com as forças locais, na África ou no Oriente Médio. Apesar de ambos serem teatros de operações comuns aos franceses, o COS não se interessou.


Bibliografia recomendada:

GIGN:
Nous étions les premiers.
Christian Prouteau e Jean-Luc Riva.

Leitura recomendada:

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Vocês conhecem o Ken: A viúva de um SEAL de Granada conta sua história

Por Bill Salisbury, San Diego Reader, 4 de outubro de 1990.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 22 de julho de 2022.

Lee Ellen Butcher é a viúva de Ken Butcher. Ken era um SEAL da Marinha perdido no mar durante a invasão de Granada. Ken e eu servimos junto com a Equipe Onze de Demolição Subaquática na Base Anfíbia em Coronado. antes de Ken se voluntariar para o SEAL Team Six (Equipe SEAL Seis) na Costa Leste. Entrevistei Lee Butcher em San Diego dois anos após a morte de Ken:

Conheci Ken durante uma festa da equipe nos apartamentos Oakwood em Coronado. Nós conversamos sobre o meu trabalho, principalmente. Eu tinha dois empregos na época. Durante o dia eu fazia shows com leões-marinhos e baleias belugas no Sea World, à noite eu era o que acho que você chamaria de sereia no aquário do Reef Lounge em Mission Valley.

Quando contei a Ken sobre ser uma sereia, ele riu e me disse que era um homem-rã. Ele disse que se uma sereia beijasse um homem-rã, ele se transformaria em um belo príncipe. Eu disse que acho que você confundiu seus contos de fadas, mas eu o beijei mesmo assim.

(Ela ri uma risada fácil e natural. Ela é uma garota bonita com cabelos curtos e escuros e olhos arregalados que olham diretamente para você. Ela tem o corpo esbelto de um atleta.)

Seal Team Six em Granada.
"Não havia nada da Six dizendo que a missão era tal e tal."

Ken costumava me visitar durante os shows no Sea World. Ele chegava cedo e ficava o dia todo, assistindo a todos os shows. Às vezes fazíamos até oito shows, que eram demais para nós e para os animais. Mas Ken não parecia se importar; passamos minhas férias juntos.

Ken sempre quis entrar no tanque, mas não podíamos deixá-lo. Ele se dava muito bem com as meninas. Ele gostava de toda a atenção, e ele era, você sabe, meio pequeno para um homem-rã, então as garotas achavam que ele era muito fofo. Ken tinha um corpo forte, mas não era um cara musculoso.

Éramos um grupo apertado. Eu não gostava de fazer todos os shows por salários baixos, mas tínhamos muita camaradagem.

Ken e eu não praticamos mergulho esportivo juntos; mas tínhamos um Zodiac e costumávamos esquiar o tempo todo. Adoramos a água. Nós teríamos mergulhado, mas depois de trabalhar o dia todo no Sea World, eu não tinha muita vontade de mergulhar nos meus dias de folga também não gostava do frio; mas o frio nunca incomodou Ken. Ele era uma pequena bola de fogo normal.

Ken Butcher.
"Eu ouço a voz dele às vezes. Quero dizer, recebo um telefonema de alguém que soa como ele."

Onde você aprendeu a mergulhar?

Em Keys. Eu sou de Chicago, então adoro clima quente e águas claras. Fiquei um bom tempo em Keys. Eu era instrutor de mergulho em Key Largo antes de vir para San Diego.

Ken também não praticava muito mergulho esportivo em San Diego. Ele mergulhava o tempo todo na UDT Onze e gostava mais de paraquedismo. Essa é uma das razões pelas quais ele se ofereceu para o SEAL Team Six. Mas ele gostava da Equipe Onze, especialmente das viagens que faziam para Kwajalein, no Pacífico Sul.

Onde eles saltaram de paraquedas no oceano para recuperar os cones do nariz dos mísseis?

Sim, os mísseis que eles dispararam daquela base da Força Aérea ao norte. Ele foi a Kwajalein algumas vezes. Oh Deus! Lembro-me da primeira vez. Eu o encontrei no aeroporto quando ele voltou. Ele estava tão animado. Ele me trazia todo tipo de coisa – camisetas, cestas de vime, conchas – ele sempre me trazia conchas. Deixe-me mostrar-lhe as conchas. Elas estão nos banheiros.

(Ela os dispôs em prateleiras de vidro, e elas são lindas: pervincas escarlates, búzios maculados, o que parece ser um raro micro búzio, búzios de vários tamanhos e cores. Uma mitra com cores rodopiantes como um sundae de caramelo.)

Eu sei. Por que Ken deixou a Onze e foi para a Seis?

Você conhece o Ken. Sempre se voluntariando para tudo. Ele estava na equipe de salto, e a Six precisava dos melhores saltadores. Além disso, ele amava seu oficial de pelotão na Onze, Bill Davis; e Bill estava indo para a Six, então Ken foi com ele. Ele realmente respeitava Davis, e não se sentia assim com todos os seus oficiais, especialmente alguns que ele tinha na Six.

Ele teve que ser recomendado para a Six – eles só pegavam os melhores. Ele ficou animado quando eles o aceitaram. Ele me disse. “Nós vamos ser os melhores! Vai ser como nas antigas Equipes.''

Eu disse: “Bem, se é isso que você quer, vá em frente”.

Nós nos casamos no Natal de 1980, pouco antes dele ir para a Costa Leste, onde a Six foi comissionada em Little Creek, na Virgínia, antes de irem para Dam Neck. Ken era dono de pranchas, o que o deixava orgulhoso. Tem a placa dele na parede.

Eu não voltei com ele imediatamente. Eu estava indo para o San Diego City College e queria terminar o ano. Juntei-me a ele em junho. Eu não gostava de Virgínia. Chovia o tempo todo. Eu gosto de clima quente e seco. Mas morávamos em Virginia Beach, então pelo menos estávamos perto do oceano.

Eu não consegui ver Ken muito. Eles tinham ido embora quando cheguei em junho; e nos primeiros dois anos em que estive lá, quase nunca o vi. Mas quando o vi, fiquei feliz por estar lá.

Quando ele foi embora, não soube me dizer para onde ia nem quando voltaria... claro!

(Ela ri, mas agora é diferente – dura, sem humor.)

Acho que não foi tão ruim quanto um cruzeiro WESTPAC, que durou tanto tempo e eles não podiam ligar. Quero dizer, quando eles estão em um WESTPAC, você escreve uma carta para eles e um mês depois você recebe uma de volta. A SEAL Six não era tão ruim. Ele não tinha ido tanto tempo de uma só vez, e ele normalmente podia ligar.

Seal Team 4 executando o reconhecimento da praia perto do Aeroporto de Pearlis, em Granada.
Aquarela sobre papel de Mike Leahy, 1982.

Você era próxima das esposas e namoradas dos outros homens na Seis?

Nem toda a Equipe. A Equipe não socializava muito; além disso, todo mundo foi embora em momentos diferentes. Não era como "Ok, todos nós vamos fazer essa missão e depois todos voltaremos juntos". Todos estavam fazendo coisas diferentes; então muito raramente, talvez algumas vezes por ano, nos reunimos como uma equipe. Mas as esposas da tripulaçãozinha do barco de Ken eram muito unidas, porque não tínhamos nada em comum com ninguém em Virginia Beach.

O primeiro capitão de Ken, o cara que fundou a Six [Richard Marcinko], era ótimo com as esposas. Ele nos reunia muito e conversava conosco, ouvia nossos problemas e nos ajudava com a Marinha.

Quando a Six se mudou para sua nova área em Dam Neck, o capitão teve uma casa aberta para esposas, filhos e parentes próximos – mas sem namoradas. Ele nos mostrou os prédios, os equipamentos, como os caras faziam as coisas. Ele nos mostrou onde eles trabalhavam e guardavam suas coisas nessas gaiolas.

Eles tinham uma sala de informática e o que parecia ser uma sala de aula com mesas alinhadas, você sabe, provavelmente uma sala onde eles discutiam o que iam fazer.

E eles tinham alguns quartos que não podíamos entrar. Percebi que eles tinham pequenos perfuradores de cartão, e pensei, hmmm, melhor pegar meu perfurador de cartão... deve ser algo bom neste.

E eles nos mostraram as armas, das quais eu não sei nada. Eu olhava para eles e dizia "Deus! Eu nem quero tocar!". Essas coisas pareciam, você sabe, realmente desagradáveis.

Então o primeiro capitão manteve contato com as esposas enquanto seus maridos estavam fora?

Sim, ele realmente manteve. Então ele saiu, e um novo capitão veio para a Six que não fez nada por nós. Ele nem se apresentou para mim quando estava me contando sobre Ken estar morto. Eu disse: "Quem é você?" Depois que ele me disse que era o capitão, eu disse: "Bem, isso é muito legal. Qual é o seu nome?"

Ele não se apresentou, o que é lamentável, porque eu disse a Ken, agora que o velho capitão se foi. Eu nem vou saber quem... se você morrer, quem vai me dizer? Eu nem sei... porque não tinha reunião de esposas, ele nem se apresentou nem nada.

O Governador-Geral Sir Paul Scoon,
o homem que pediu pela intervenção americana em Granada.

Você sabia que Ken estava indo para Granada?

Não! Eu só sabia que algo grande estava acontecendo porque eles ligaram para ele três vezes em uma semana, e ele tinha que ir todas as vezes. Ele dizia "eu tenho que ir". Eu dizia "É isso? Você sabe, uma dessas vezes vai ser a coisa real."

Então naquele sábado. Não posso nem dizer a data, não me lembro, exceto que tínhamos o dia todo planejado. Ia ser ótimo. Mas na sexta à noite eles o chamaram de novo, e eu pensei, está tudo bem, eles estão apenas sincronizando o tempo, acelerando e tal. Fiquei aliviada quando ele voltou depois de duas horas.

Então eles o chamaram novamente no sábado de manhã, e ele não havia retornado à tarde. Liguei para minha amiga e disse que vamos tomar algumas bebidas. Ela disse para deixar um bilhete para Ken, mas eu disse: "Ele se foi!" Mas depois eu descobri que eles estavam sentados lá esperando; uma das outras esposas foi pegar o carro e viu Ken.

Eu pensei, caramba! Eu deveria ter apenas dirigido até lá, talvez com alguma desculpa, apenas dirigido até lá para ver se eu poderia encontrá-lo. Eu gostaria de ter feito isso. Sabe, eu teria dito a ele... eu teria falado com ele pelo menos. Então, de qualquer forma, acho que foi nesse domingo que eles fizeram isso.

Então eu comecei a ouvir e assistir as notícias. Cara, eu realmente assisti as notícias! Eu tinha a CNN 25 horas por dia.

Minha amiga, Cookie, pensou que eles tinham ido proteger o presidente, porque ela ouviu falar de uma ameaça à sua vida. Eu disse: "Não, não é isso. Acho que eles estão no Caribe, porque ouvi que um porta-aviões foi desviado do Mediterrâneo. O Independence está indo para o Caribe, para as ilhas do sul, em vez de aliviar o Nunitz no Med [Mediterrâneo]."

Eu disse a Cookie: "A Marinha redirecionou o Independence para esta pequena ilha onde há uma evacuação em andamento. É onde eles estão". Então, na quarta-feira, descobri no noticiário que invadimos a pequena ilha de Granada. Eu nunca tinha ouvido falar de Granada!

Você conversou com alguma das outras esposas ou namoradas?

Não, apenas Cookie. Ela é minha única... você sabe, o resto deles eu realmente não falei muito. Ela e eu ainda esperávamos que talvez eles estivessem na Geórgia e voltassem para casa amanhã. Mas eu pensei, não, eles estariam em casa agora. Porque toda noite você chega em casa, você espera ver o carro, e o carro nunca estava lá.

Você estava trabalhando?

Sim, e eu estava indo para a escola, Old Dominion, mas você começa a procurar o carro a cada dia que eles vão embora. Cara, você realmente procura aquele carro e assiste as notícias. E você... eu sempre penso no pior... você sabe... você se prepara para o pior.

Quinta de manhã, Cookie me ligou, o que achei estranho, e ela parecia muito deprimida e disse: "O que você está fazendo?" e eu disse: "Vou para a escola e depois trabalhar", e ela disse: "Ah, tudo bem". E eu pensei, isso é muito estranho.

Então, quando eles me chamaram para fora da aula, eu sabia. Eu pensei, só há uma razão para eles me chamarem pra fora da aula. Mas pensei, talvez eu esteja errado; talvez ele esteja apenas ferido. Aí eu pensei, não, se ele estivesse muito ferido, eles não viriam à escola para me dizer - eles apenas ligariam como fizeram quando ele quebrou os dois tornozelos.

Então eu vi Cookie e o capitão, e eu sabia que o pior tinha acontecido.

Prisioneiros cubanos sentam-se dentro de uma área de contenção, guardada por membros de uma força de paz do Caribe Oriental, durante a Operação Urgent Fury.

O que eles te falaram sobre isso?

Eles, bem, depois que eu parei de chorar, o capitão veio e disse que Ken fez um trabalho muito bom e que eu devia estar muito orgulhosa dele. A missão foi cumprida, você sabe, que ele não seria declarado morto até meia-noite por causa da exposição. Veja, quatro dias naquela temperatura da água, perdidos no mar. E eu disse: "Quem é você?" E ele se apresentou, e eu fui. "Você deveria ter me conhecido antes." Você sabe, talvez ele não falasse, e provavelmente ainda não fala com as esposas, mas... Então, de qualquer maneira:... levou-me. Eu diria que um ano antes... bem, tentei chegar a Granada umas cinco vezes, porque queria ver onde ele morreu Mas não consegui chegar a Granada porque ainda estavam com algum tipo de problema lá embaixo , então eu cheguei nesta ilha perto de Granada onde eu poderia olhar para ela. Granada é uma ilha muito pequena.

Eles já lhe contaram mais sobre como ele morreu além de que ele se afogou?

O presidente escreveu, e Lehman, o Secretário da Marinha, escreveu cartas de condolências, mas não havia nada da Six dizendo que a missão era tal e tal. Mas eles disseram que foi bem sucedida, o que de fato foi, em geral, se a missão era tirar os americanos da ilha e tomá-la. Eles poderiam ter perdido muito mais. Quando os amigos de Ken me contaram o que aconteceu, pensei: Deus, que sorte que eles não perderam mais de quatro, do jeito que fizeram.

Como eles fizeram isso?

Não fez muito bem, acho que eles fizeram muito desleixado. Você sabe o que eu estou dizendo? O que ouvi foi que eles tinham a Força Aérea lançando-os de um C-130, embora fossem da Marinha; eles tinham os Fuzileiros Navais, eles tinham o Exército. Havia muita comunicação errada e inteligência errada. Não consegui todos os detalhes.

Um dos caras com quem falei que deu o salto está fora da Marinha agora. Ele disse que teve sorte por ter sobrevivido, que alguém o resgatou, o puxou para cima. Ele disse que eles usavam muito equipamento, eles simplesmente se sobrecarregaram. Eu pensei, "Deus, agora essa é a coisa mais estúpida que eu já ouvi". Ele disse: "Quando nós saltamos, eu comecei a me livrar de tudo, e eu ainda estava sobrecarregado". Se você pudesse encontrá-lo, ele lhe contaria os detalhes — especialmente se você lhe desse algumas cervejas. De qualquer forma, ele está fora da Marinha, então ninguém pode machucá-lo.

O extremo sudoeste de Granada, com a capital de St. Georges.
A pista e a localização da Universidade de St. George ficam no extremo sul da cidade. Ao norte está Grand Anse Beach e ao leste está Lance aux Epines.
(Google Earth)

Outra coisa que ouvi foi que eles pensaram que estavam fazendo um salto diurno. Eles estavam pensando: "Ei, é de manhã, vamos". Mas os figurões em Washington DC. estavam... tenho certeza, eles estavam tentando descobrir o que estavam fazendo; e quando eles entenderam, os coitados estavam sentados lá, e o sol tinha se posto. Eles não estavam preparados para um salto noturno.

Ainda não sei por que esses caras carregavam suas armas e toda aquela munição. Mas os caras que morreram, como Ken, eu sei que eles são do tipo que não quereriam desistir da sua arma ou munição, seja o como for. Se fosse eu, teria pensado: "Ei! Se eu me afogar, essa coisa não vai me fazer bem". Não sei por que não colocaram essas coisas no barco. Por que usar todo essa tralha?

E você sabe, eles têm aqueles coletes minúsculos. Eles não podiam segurar uma pessoa, muito menos uma arma e munição. Os civis têm esses compensadores de flutuação horrendos, e você coloca todo essa porcariada, e nem os BCs o seguram.

Os franceses ainda têm um BC com uma pequena garrafa de ar que você pode respirar. De fato, os SEALs têm uma jaqueta maior que usamos com os rebreathers Draeger.

Sim... Eu não posso imaginar, quero dizer, Eu não sei os detalhes, se eles tinham roupas de mergulho ou algo assim, mas você pode imaginar quanto pesa uma arma e munição. E se eles usaram esses coletes, eles poderiam muito bem não estar usando nada. Você fica na água e nada aconteceria. Já fiz mergulho o suficiente para saber que não é preciso muito peso para te afundar, e é preciso muito ar para te segurar. Você teria que ter uma jangada de borracha ao seu redor para segurar todas essas coisas. Só não sei porque não colocaram tudo no barco.

Suspeito do oficial responsável. Ele era um oficial novo e não tinha muita experiência. E eu suspeito dele. Você sabe, Ken nunca falou sobre ele. Eles tiveram um ótimo oficial por dois anos ou mais, então ele saiu e eles pegaram esse cara novo. Ken nunca sequer mencionou o nome dele!

Fuzileiros navais americanos exibem retratos de Ho Chi Minh e Vladimir Ilyich Lenin que foram apreendidos no Aeroporto de Pearls durante a Operação Urgent Fury em Granada, 28 de outubro de 1983.

Você nunca o conheceu?

Nunca o conheci, e Ken nunca falou sobre ele. Ele nunca, nunca contou brincadeiras sobre ele, então eu sabia que Ken não gostava dele. Ken também nunca falou sobre o novo capitão. Ken gostava muito do velho capitão, e fiquei chateado quando ele foi embora. Eu disse: "Bem, algo vai acontecer, porque esse cara novo não sabe o que está fazendo, não conhece os caras". E então não foram nem dois meses e essa coisa aconteceu, e tudo o que eu disse se tornou realidade.

Eu tenho que suspeitar que o oficial encarregado teve algo a ver com o que aconteceu. Quer dizer, eu não tenho ideia do que, mas imagino que aquele cara tem muitos sentimentos de culpa e pensa, bem, eu poderia ter feito as coisas de forma diferente, sabe.

Quem foram os homens perdidos com Ken?

Lundberg, Morris e Shamberger. Shamberger era o chefe e tinha muita experiência; então, mesmo que o oficial tenha tomado decisões, você sabe... você não pode culpar o oficial porque o chefe sênior... a menos que o oficial não tenha ouvido o chefe sênior. Se eu conheço esses caras bem o suficiente, eles disseram. "Vamos em frente! Nós não nos importamos!" Então você realmente não pode colocar toda a culpa no oficial encarregado, porque mais do que provavelmente, todos eles discutiram o assunto de qualquer maneira.

Também ouvi que eles não obtiveram boas informações sobre o estado do mar.

Sim, eles erraram tudo. Tudo estava errado.

Você já ouviu falar que eles poderiam não ter que saltar - especialmente à noite - que era um teste para ver se eles poderiam se encontrar com um navio no mar?

Bem, o novo capitão me disse que eu deveria contar a todos que ele morreu em treinamento. Então liguei para a irmã dele em Long Island - não queria ligar para a mãe dele - e disse: "Tenho más notícias para você - é Ken". Ela foi. "O QUE!" Eu disse: "É Ken, você sabe, ele morreu." E ela disse, "O QUE! Ohhh, aqueles bastardos, eles o mataram!"

Eu disse que ele morreu em um acidente de treinamento. Ela diz: "Ele não morreu em Granada?" "Oh, não, ele não estava em Granada!" Eu disse: "Cary, nós temos que dizer às pessoas que ele foi morto no treinamento. Eles disseram que você tem que contar à mãe dele que ele morreu em treinamento."

"E então eu... você sabe que a família dele já sabia que ele devia estar em Granada. Eles sabiam que ele estava em Granada assim como eu. Alguém não treina por três anos e depois vai embora e morre treinando enquanto está tendo uma invasão?"

No dia seguinte, um cara da Marinha vai a Long Island para falar com eles, e a irmã de Ken lhe diz: "Você quer que eu acredite que meu irmão foi morto em treinamento? Eu não acredito que meu irmão foi morto em treinamento, e nós vamos ao jornal." Os Butchers ligaram para o jornal Newsday, bem enquanto o cara estava sentado lá. Eles disseram: "Vamos, temos uma história para você." Então aquele cara da Marinha foi embora e deve ter ligado para Washington DC. e disse: "A família Butcher estará no noticiário!" Então a Marinha imediatamente divulgou à imprensa que ele morreu em Granada.

Ah, foi ridículo! Toda essa coisa de sigilo no SEAL Team Six era simplesmente ridícula. Lembro-me de um SEAL que estava mancando em uma festa uma vez, e eu disse: "Oh, o que aconteceu com você?" Ele diz, "Eu não posso te dizer!" Eu disse: "Bem, não seria um pouco menos óbvio se você dissesse, eu me machuquei esquiando ou algo assim? Quer dizer, você não diz que eu não posso te dizer!"

Sempre foi assim. Você pergunta a alguém onde você está indo, e eles dizem: "Eu não posso te dizer!" Quero dizer, por que eles não podem simplesmente dizer que estamos indo para o norte, oeste, sul. As pessoas não se importam para onde você está indo. Eles não se importam como você se machuca. Eles perguntam por cortesia, não é como se eles estivessem se metendo na sua vida.

É loucura. Eu costumava dizer a eles: "Vocês estão sendo ridículos". Você sabe, eles eram tão jovens, e eles estavam sendo informados: "Você é elite! Você é ultra-secreto!" Então eles ficam brincando de espionagem, o que chama ainda mais a atenção.

Eu costumava zombar deles: "Não diga às pessoas que é um segredo, porque então eles vão querer saber o segredo, idiota".

Militares da Força de Defesa do Caribe Oriental, armados com fuzis FN FAL, na Operação Urgent Fury (Fúria Urgente) em Granada, 1983.

Quantos anos Ken tinha quando morreu?

Vinte e seis. Ele era mais velho do que muitos deles. A maioria deles tinha cerca de 23 anos.

A mãe de Ken ainda mora em Long Island?

Sim, ela é viúva. Os Butchers são uma família grande e próxima. Depois que o pai de Ken morreu, Ken se tornou, você sabe, a figura paterna. Ele era o mais velho. No serviço memorial, a família Butcher ocupou quase toda a capela. As outras três famílias ocuparam meia fila, mas os Açougueiros... cara! Nós pegamos tudo.

Você já conseguiu ir até Granada?

Sim, fui com as duas irmãs de Ken e sua mãe. Estávamos no primeiro jato comercial a pousar em Granada após a invasão. Houve uma cerimônia no aeroporto.

A faculdade de medicina pagou nossa descida e nossa pequena estadia. A escola teve uma cerimônia porque eles tinham, tipo, 1.000 alunos na época da invasão, e esses alunos estavam escrevendo para casa, dizendo: "Mãe, eu tenho que sair daqui".

E os pais estavam, você sabe, pirando. Os pais têm uma associação e são todos pessoas muito ricas que estão enviando seus filhos para a faculdade de medicina. Esses pais ricos provavelmente começaram a escrever para seus congressistas sobre Granada.

A família de Ken é rica?

Não, mas como eu disse, eles são muito unidos, um grupo muito unido e solidário. Nós quatro que descemos para Granada rodamos por toda a ilha, que, como eu disse não é muito grande – tem apenas cerca de 13 milhas (21km) de comprimento.

Estávamos procurando por Ken. Veja, como eles nunca recuperaram seu corpo, sempre esperamos, bem...

Teve um pescador que disse que viu quatro caras em roupas de mergulho saindo da água, e dois dias depois ele viu quatro corpos sendo jogados na água. Gostaríamos de pensar que eles conseguiram, porque havia um barco esmagado na praia. Gostaríamos de pensar que os quatro entraram naquele barco, chegaram à costa, chegaram a algum lugar e foram capturados. E eles, você sabe, vão voltar.

Você acredita que Ken vai voltar?

Não, durante o primeiro ano, sim, eu acreditava. Mas então no ano passado... se ele fosse um prisioneiro, eu não acho que sua vida seria muito feliz agora. Dois anos de cativeiro? Eu preferiria que ele se afogasse, eu acho. Mas, ao mesmo tempo, tudo o que você quer é que ele volte. Porque não é como se eles tivessem te dado um corpo para que você pudesse olhar e dizer "Sim, ele está morto." Em vez disso, eles dizem que ele se afogou – não sabemos exatamente onde e não podemos dizer como ou qualquer coisa! Quando eles fazem isso, você tem uma tendência... você quer acreditar que ele ainda está vivo e que algum dia você o terá novamente.

Mas depois de dois anos... Então pensei, e se ele estiver vagando por aquela ilha com amnésia? Bem, depois que percorremos toda a ilha, eu disse: "De jeito nenhum ele está em Granada". Eles eram todos brancos, e Granada é, você sabe, toda negra. Eles realmente se destacariam.

Tenho certeza de que ele provavelmente se afogou, mas o fato de não o terem encontrado torna as coisas um pouco mais emocionantes. Quem sabe? Talvez um dia ele apareça. Eu ouço a voz dele às vezes. Quero dizer, vou receber um telefonema de alguém que soa como ele. Claro, a família fala sobre ele, mas... bem... ele se foi.

Fico feliz que você esteja escrevendo um livro sobre Granada. As pessoas precisam saber o que aconteceu, porque se não mudarem a forma como fazem as coisas, vai acontecer de novo.

Posto de controle americano próximo ao aeroporto de Point Salines, em Granada, durante a Operação Urgent Fury, 1983.
A placa diz "O Comunismo pára aqui".

Provavelmente vão.

Gostaria de lhe dar uma foto de Ken, mas não tenho muitas. Eu tenho toneladas de fotos, mas Ken tirou todas – ele é um aficionado por câmeras. Mas porque ele as tirou, ele não está nelas. Há mais alguma coisa que eu possa lhe dar?

Você poderia me dar uma concha?

Claro! Vou pegar uma no banheiro.

(Ela volta com um búzio delicado e salpicado. O búzio brilha em sua palma enquanto ela o estende para mim.)

Eu gostaria de escrever um livro também. Apenas uma breve história sobre Ken quando menino e eu como menina, como nos conhecemos, o que fazemos juntos e depois sua morte. O livro seria principalmente um assunto de família; não teria muito a ver com as equipes SEAL.

Bibliografia recomendada:

SEALs:
The US Navy's elite fighting force,
Mir Bahmanyar e Chris Osman.

Leitura recomendada:

Granada: Uma guerra que vencemos, 18 de julho de 2021.


FOTO: Soldados caribenhos, 21 de abril de 2020.