segunda-feira, 1 de setembro de 2025

A história de um mercenário cubano recrutado pela Rússia


Do site 14ymedio, 6 de julho de 2025.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 1º de setembro de 2025.

"Minha vida acabou", diz um mercenário cubano recrutado pela Rússia, que conseguiu escapar da guerra.

Francisco García pagou quase US$ 13.000 a um traficante para levá-lo para a Grécia, onde sobrevive nas ruas.

Havana/Francisco García foi esclarecido de que "retornaria a Cuba em um caixão ou como um herói". O homem de 37 anos entendeu que o atraente anúncio online que um amigo lhe mostrara meses antes, oferecendo 204.000 rublos (US$ 2.594) por mês e um passaporte russo para consertar prédios danificados pelos bombardeios ucranianos, era uma mentira. Ele havia sido recrutado como mercenário. "Minha vida acabou", disse ele ao jornal britânico Daily Mail.

García testemunhou a morte de dezenas de cubanos em combate, "russos que se suicidaram" porque não suportavam a guerra. No entanto, os mercenários "não tinham permissão para demonstrar medo"; não podiam sentir dor ou compaixão. "Pediram que fôssemos como robôs no campo de batalha."

García, que escapou em outubro passado e atualmente sobrevive nas ruas da Grécia, é um dos mais de 20 mil cubanos recrutados pela Rússia desde o início da guerra, em fevereiro de 2022. Um homem que "lutou em uma guerra" que não tem nada a ver com ele. Dados da inteligência ucraniana mostram que há quase 7 mil cubanos atualmente no campo de batalha, com pouco ou nenhum treinamento.

Desde que desembarcou do avião que o levou de Havana ao Aeroporto Internacional de Sheremetyevo, a presença de um cubano em uniforme militar, apoiado por soldados russos que os forçaram a entrar em caminhões do exército, o encheu de medo. "Não nos deram comida nem água. Depois de uma longa viagem, chegamos a uma escola de esportes abandonada, vigiada por policiais armados", contou ao mesmo veículo.

García confirmou o mesmo modus operandi que outros cubanos seguiram. Uma vez em Moscou, receberam contratos em russo e, em meio a gritos e ameaças, foram forçados a se alistar como mercenários.

García foi forçado a carregar armas pesadas, incluindo um fuzil de assalto, um lançador de foguetes portátil e quatro granadas. / La Tijera

Entregaram-lhe um fuzil de assalto. "Foi a primeira vez que segurei uma arma", disse o homem, assombrado pelas palavras do presidente russo Vladimir Putin: "Traidores jamais serão esquecidos". O cubano insiste que não matou ninguém, mas reconhece: "Não sei se feri alguém porque atirei em pânico, mas isso sempre me vem à mente".

Depois de 30 dias ao lado de outros cubanos e pessoas da Ásia e da África, ele foi lançado na linha de frente da guerra sem nenhum aviso porque "a Rússia estava perdendo muitos soldados todos os dias". García foi forçado a portar armamento pesado, entre eles um fuzil de assalto, um lança-foguetes portátil e quatro granadas.

Rapidamente, ele percebeu que a guerra "não era um jogo" e que sua missão, daquele momento em diante, era sobreviver. "Havia 90 cubanos como eu no início, porém mais da metade morreu em combate", disse ele.

Em combate, ele testemunhou a capacidade destrutiva dos drones kamikaze, que "nós, cubanos, nem sabíamos o que eram" e que "causavam muitos danos, muito mais do que o combate corpo a corpo".

Os mercenários, disse García, são abandonados pelos russos quando caem feridos na frente de batalha.

Em certa ocasião, enquanto estava na linha de frente, ele foi atingido por balas, deixando uma cicatriz no seu bíceps direito. "Corri para me proteger, mas me atingiram. Parecia que eu tinha sido atingido por um martelo gigante, mas não senti muita dor por causa da descarga de adrenalina e da pressa de tentar salvar minha vida." García estava em choque, e rapidamente aplicaram um torniquete e injetaram morfina para aliviar a dor.

Depois de um ano na brigada de artilharia russa em Rostov, Donetsk e Soledar, García recebeu uma medalha e um certificado em homenagem ao seu serviço. / La Tijera

O segundo ferimento ocorreu quando "uma bomba atingiu um prédio perto de mim. Ainda consigo ouvir o estrondo. Alguns fragmentos de metal da explosão atingiram meu braço esquerdo e ambas as pernas, e um cheiro tóxico saiu".

Após um ano na brigada de artilharia russa em Rostov, Donetsk e Soledar, o cubano recebeu uma medalha e um certificado em homenagem aos seus serviços. Ele também recebeu dois meses de licença em outubro de 2024. Foi esse o momento que ele aproveitou para escapar. Ele contatou um traficante que, por 1 milhão de rublos (12.715 dólares), garantiu que o levaria "em segurança para a Grécia".

García contava com o dinheiro que recebera por seus serviços, já que não tinha permissão para enviá-lo para a ilha. Sua viagem ocorreu em aeroportos, entre voos por seis países, da Bielorrússia ao Azerbaijão, depois aos Emirados Árabes Unidos e ao Egito, antes de finalmente chegar a Atenas, disse ele ao Daily Mail.

"Passei por tantas dificuldades e ninguém me ajuda. Durmo nas ruas e luto para sobreviver. Gostaria de poder voltar à minha vida simples em Cuba, mas não posso", lamenta.

Nota do Tradutor:

Anverso da Medalha Pela Coragem.

A medalha que o mercenário cubano recebeu é a Medalha "Pela Coragem" (em russo: Медаль «За отвагу»; romanizado: Medal' «Za otvagu»). Esta medalha foi criada na época da União Soviética, em 1938, e recriada pela Federação Russa em 1994. Ela é concedida por coragem demonstrada em combate.

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