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sexta-feira, 27 de março de 2020

O Legionário romano, este atleta desconhecido

Centurião Lucius Vorenus, série Roma.

Do site Theatrum Belli, 25 de abril de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 22 de julho de 2019.

Pela força de seus exércitos, Roma havia conquistado um vasto império cujos limites se estendiam por toda a bacia mediterrânea. Neste período da história, onde o destino das batalhas era decidido por meio do combate corpo-a-corpo, o soldado romano pôde mostrar sua superioridade sobre seus oponentes graças a uma preparação intensiva com o objetivo de desenvolver suas qualidades físicas, táticas e psicológicas. A preparação de atletas modernos parece pouco diferente em princípio daquele dos lutadores da antiguidade (1), e os dados atuais da fisiologia podem explicar as regras empíricas que foram estabelecidas naquela época para guiar a vida cotidiana do legionário romano.

(1) A palavra atleta vem do grego athlon (atleta, aquele que combate).

O retrato típico do legionário romano

Após a reforma de Marius (107 a.C.), o sistema de serviço obrigatório foi substituído pelo alistamento voluntário. O exército havia se tornado uma profissão paga por um soldo, amputado é verdade pelo custo da comida, roupas e equipamentos fornecidos pelo Estado, mas aumentada pelo butim tirado do inimigo. O engajamento foi aberto a cidadãos de 18 a 21 anos, excepcionalmente 30 anos em tempos de crise (2), na condição de que não se tenha observado uma vida muito descontrolada sobre o plano moral e físico, de apresentar uma boa conformação geral, uma boa saúde, uma boa visão e se aproximar do tamanho ideal de 1,78 metros (3). De fato, uma altura elevada não era uma necessidade absoluta (4). Cumpridos estes critérios, o jovem engajado, tendo pronunciado o “sacramentum” que o ligava aos seus líderes e a Roma, pôde entrar no exército para uma carreira de vinte anos.

(2) LE BOHEC Y. – L’armée romaine, Picard, Paris, 1989.
(3) CONNOLY P. – Vingt ans dans la légion, Historia, 1987, 489, 49-52.
(4) CÉSAR. – De bello gallico, II, 30 (Os gauleses ironizavam o pequeno tamanho dos soldados romanos).

Com um armamento defensivo que consistia em armadura, capacete e escudo e de um armamento ofensivo compreendendo espada, adaga e lança, o legionário também carregava sua bagagem (sarcinae) representado por suas provisões de boca – do trigo em particular – utensílios de cozinha, tais como a panela-marmita, o espeto, do material de abate e equipamentos de terraplenagem:machado, serra, pá, todo o conjunto pesando junto com o armamento, segundo os autores, entre 35 e 45kg (5). Daí o nome de mula de Mário que havia sido dado a esses soldados durante a campanha contra os cimbros e os teutões na Provença (102 a.C.). Para conseguir andar com tal fardo, ficou claro que os candidatos tinham um treinamento rigoroso que desenvolvia não apenas a destreza, mas também a resistência e o vigor. César aumentou a velocidade de suas tropas reduzindo a carga transportada para vinte quilos, o que lhe permitiu escolher com mais frequência os campos de confrontação (6-7).

(5) HARMAND J. – L’armée et le soldat à Rome de 107 à 50 avant notre ère, Picard, Paris, 1967, 162.
(6) PLUTARCO. – Caius Marius, XXII.
(7) CLERC M. – La bataille d’Aix. Etudes critiques sur la campagne de Caius Marius en Provence, Fontemoine, Paris, 1906, 28.

As atividades do legionário


O legionário primeiro aprendia a marchar longas distâncias. A cada dez dias ele efetuava um teste de marcha de trinta quilômetros com equipamentos de campanha. Ele também praticava exercícios atléticos como correr, saltar, arremessar dardos ou simplesmente pedras, além de outras atividades como a luta, a natação e até equitação (8). Para a preparação de combate, o recém engajado se dedicava duas vezes por dia ao manejo das armas com um escudo de vime e uma espada de madeira. Ele também arremessava dardos pesados. Finalmente integrado em um grupo de combate, ele se exercitava para lutar com armas estampadas. Mais tarde, ele aprendia o uso de máquinas de guerra e as manobras táticas da legião.

(8) O estribo seria usado apenas a partir do século VII.

Com ou sem bagagem, o legionário percorria distâncias consideráveis para monitorar o território e as fronteiras do Império. Dois passos de marcha foram adotados: o passo curto e o passo longo, mais rápido, destinados aos percursos feitos nas estradas. O legionário normalmente viajaria cerca de 25km por dia, mas ele poderia percorrer, durante as marchas forçadas, distâncias notavelmente superiores. Podemos notar as 25 milhas, sendo 37km, constantemente cruzadas pelas legiões de Crasso, os 45km que faria o exército de César na terra dos suessiões ou ainda a grande marche de 74 km, realizada sem bagagem em 24 horas, com um descanso de 3 horas (9-10). No final do percurso, restava ainda aos legionários estabelecer o entrincheiramento do acampamento provisório ou acampamento de marcha, para passar a noite, com a escavação de valas e construção de paliçadas, trabalho para o qual devem ser adicionadas as várias tarefas (água, madeira, cozinha etc.) específica para qualquer exército em campanha.

(9) CÉSAR. – op. cit., V, 46-47.
(10) CÉSAR. – op. cit., VII, 39-41.

A guerra, função principal do legionário para "garantir a proteção dos cidadãos romanos, terras aráveis e, o que não é o menos importante para a mentalidade dos antigos, o templo"(11). Se ele está sitiando ou lutando em campo aberto, a força física do legionário era constantemente solicitada.

(11) LE BOHEC Y. – op. cit., 14-15.

Desde o início do cerco, o exército isolaria o inimigo com uma parede dobrada por uma vala (circunvalação) para evitar qualquer contra-ataque eficaz. Então o exército preparava o ataque construindo uma torre de madeira (turris), mais alta que a muralha da cidade sitiada (12), equipada com engenhos balísticos. Esta torre era então levada para perto do cercado graças à construção de um terraço (agger). Outras manobras eram planejadas no momento do assalto, manobras das catapultas, balistas, do aríete (aries), da tartaruga, etc. Quando a cidade sitiada era forçada, começavam então combates corpo-a-corpo.

(12) CÉSAR. – op. cit. Il, 3.

Estando fora da guerra, os legionários construíam estradas, pontes e até cidades (Timgad). Essas atividades não eram apenas de interesse econômico, elas tinham a vantagem de melhorar as condições físicas e, em particular, de aumentar a força muscular "em virtude do princípio de que o manejo da pedra fortalece o corpo" (13). O canal Fos foi escavado pelas tropas de Marius, provavelmente para facilitar o acesso do porto de Arles ao mar, mas especialmente para manter os legionários em boa forma, aguardando, por vários meses, a chegada dos cimbros e teutões.

(13) LE BOHEC Y. – op. cit.116.

Ilustração de Angus McBride no livro Roman Legionary 58 BC–AD 69, da Osprey Publishing.

A avaliação dos gastos energéticos do legionário

Os dados atuais de ergonomia podem ser usados para avaliar a energia gasta por um soldado.

No caso de um legionário: marchar por 5 horas com uma carga de vinte quilogramas: 3000kcal; instalação de acampamento com uma hora de terraplenagem ou derrubada de árvores: 400kcal; tarefas diversas: 250kcal. Além desses diferentes gastos de energia, devemos adicionar o gasto incompressível representado pelo metabolismo basal, sendo 1600 Kcal. Adicionando esses valores diferentes chegamos a um total de 5250kcal.

Outra estimativa: a marcha forçada de 74km, realizada pelos legionários de César, em 24 horas, sem bagagem, com um descanso de 3 horas, corresponde a uma despesa individual de mais de 6000kcal.

Quanto aos trabalhos de interesse coletivo, na ausência de dados quantitativos, podemos estimar que eles devem corresponder ao trabalho realizado pelos escavadores ou pedreiros no início do nosso século antes de qualquer mecanização, trabalho cujo gasto energético foi avaliado entre 4000 e 5000kcal por dia (27).

(27) SCHERRER J. – Précis de Physiologie du Travail, Masson, Paris, 1981.

Hoje em dia, apenas atletas, recrutas militares e alguns trabalhadores manuais podem reivindicar um gasto energético superior à 4000kcal por dia.

A alimentação do legionário

O trigo constituía o alimento básico do mundo romano e, devido à sua importância, uma lei frumentária que regulamentava a distribuição gratuita, ou barata, que era feita ao povo. As colheitas, colocadas sob a proteção de Robigus (14), teria sido insuficiente se os territórios conquistados, e em particular a Gália e o Egito, não tivessem contribuído para abastecer os celeiros de Roma. A intendência proporcionou aos soldados trigo em grão, às vezes moído ou assado, carne fresca, salgada ou seca, azeite de oliva, sal e vinho de baixa qualidade que misturado com água formava uma bebida chamada posca, bebida ácida, sialagogo, que poderia melhorar o mau gosto eventual da água potável. Na primeira metade do século 1 aC J.-C, o legionário romano consumia entre 1000 e 1500 g por dia de alimento feito à base de trigo (15) na forma de papas grossas (puls) (16), de torta, pão ou biscoito. A importância do consumo frumentário foi da mesma ordem um século depois, uma vez que cada soldado absorvia ainda no ano um terço de tonelada de trigo, isto é, entre 900 e 1000g de trigo por dia ou ainda, do ponto de vista energético, entre 3000 e 3300kcal por dia. Davies fixou para o mesmo período o consumo diário de pão em 1350g (2 libras) sendo ainda o equivalente de 3240kcal (17).

(14) ROBIGUS foi a divindade protetora das colheitas contra bolor e seca, ele era homenageado nos festivais de Robiglia (25 de abril).
(15) HARMAND S. – op. cit. 183-184 t nota 265.
(16) De acordo com Plínio, os romanos eram chamados de comedores de mingau.
(17) DAVIES R.W. – The roman military diet. Britannia, II, 1971, 122-123.


Dautry e Maisani (18) especificam que a ração matinal (prandium) para o soldado, sob a República, compreendia 850g de trigo, 100g de bacon, 30g de queijo e 1/2 litros de vinho, o que corresponde a quase 3500kcal ao qual serão adicionados àqueles da ração da noite (cenà).

(18) DAUTRY J., MAISANI O. – Guide romain antique (apresentado por G. HACQUARD), Hachette, Paris, p. 66.

Davies acrescenta aos 1350g de pão, 900g de carne, o que parece excessivo, 70ml de óleo e 1 litro de vinho, sendo uma contribuição global de mais de 5000Kcal para o dia.

Em termos de qualidade, essa ração correspondeu a 78% de carboidratos, 14% de proteínas e 10% de lipídios. Ela estava desequilibrada com os dados dietéticos atuais, que estimam que observa 55% de carboidratos, 15% de proteína e 30% de gordura (19). Deve-se acrescentar que essa ração alimentar, caracterizada por uma alta proporção de carboidratos (78%) de origem frumentária, apresentava as seguintes vantagens: a presença de açúcares lentos; muito energéticos; digeríveis; assegurando o lastro intestinal; restaurando as reservas de glicogênio do organismo (20-21).

(19) CREFF A. et BÉRARD L. – Manuel pratique de l’alimentation du sportif, Masson, Paris, 1980.
(20) "Quando se quiser construir um exército, você tem que começar pela sua barriga..., o pão faz o soldado", Frederico II da Prússia (1712-1785).
(21) Bem antes do trabalho de Appert (1749-1841), o problema da conservação dos alimentos se apresentava o tempo todo. Para os romanos, diferentes processos eram utilizados:
- frutas e legumes foram preservados por secagem ao sol (figos, uvas, ameixas, peras), por maceração em vinhos cozidos, ou em vinagre ou na salmoura (repolho, azeitona).
- a carne, especialmente carne de porco, era salgada ou defumada, e aves cozidas mantidas em banha.
- peixe, atum, cavalinha, sardinha e anchova eram comidos em salga (ver RODOCANACHI E., “Les romains en voyage” , Historia, 1979, 332, 26-37) ou ainda na forma de garo comparável hoje em dia a nuoc-mâm.

Além disso, o legionário poderia acrescentar a esta ração básica suplementos na forma de produtos conservados, tais como frutas secas ou carnes curadas, e na forma de produtos frescos: vegetais, frutas ou mesmo carne, onde a análise dos ossos encontrados nos depósitos dos acampamentos estabelecidos na Inglaterra ou na Alemanha (22) revela a variedade. Contando não apenas animais de criação (porco, vaca, carneiro, cabra), mas também animais selvagens (javalis, veados, gamos, alces, ursos e até mesmo lobo, raposa, castor, lontra). Estes suplementos podem, por um lado, tender a reequilibrar os lipídios, que desempenham um papel fundamental no exercício muscular de longa duração e no transporte de vitaminas lipossolúveis e, por outro lado, fornecem as vitaminas do complexo B envolvidas na eficiência do trabalho muscular.

(22) DAVIES R.W. – op. cit., 126-127.

Deve-ser notar finalmente que os legionários beberam a água que havia sido usada para temperar as armas, a fim de atrair a força e o vigor atribuídos ao Deus Marte (23). Embora seja mais uma crença do que dietética, deve ser lembrado que os corredores de fundo de hoje podem apresentar anemia por deficiência de ferro (24) corrigido pela ingestão de ferro hemínico de origem animal, melhor absorvido (15 à 20%) que o ferro de origem vegetal (1 à 9%).

(23) DIETECOM 90. – «“Une santé de fer”, CIV, 11, rue Lafayette, 75009 Paris.
(24) CREFF A., WAYSFELD B., D’ACREMONT MF., CLAPIN A., LE LEUC’H C. – Approche nutritionnelle de l’anémie du sportif, Médecine du Sport, 1988, 5, 269-274.

O saldo energético

É claro que existe um equilíbrio energético entre as ingestões dietéticas e os esforços físicos do legionário. Mas os caprichos da guerra nem sempre garantiam esse equilíbrio. Assim, Júlio César declara que o exército, no cerco de Avaricum (25), sofria de uma grande escassez por falta de trigo e não escapou da fome apenas pela graça de algum gado. O papel da intendência era, portanto, primordial para os legionários em campanha e a distribuição individual de vários dias de víveres apresentava vantagens a esse respeito, mas acrescentava uma carga suplementar aos soldados já pesadamente equipados.

(25) CÉSAR. – op. cit., VII, 17.

Stolle (26) estima que os soldados podiam transportar 16 dias de víveres, sendo uma carga de 14,369kg, com 6,254kg de biscoito, 3,411kg de pão, 1,704kg de trigo, 1,910kg de carne, 0,436kg de queijo, 0,327kg de sal e 0,327kg de vinho. De fato, esta carga, que pode parecer excessiva do ponto de vista do peso, representa apenas 2650kcal aproximadamente por dia, portanto insuficiente para cobrir os gastos diários. Duas observações seriam feitas sobre este assunto:

1. Experimentos em meio militar mostraram que uma sub-alimentação transitória com 1900kcal por dia durante 15 dias não afeta o desempenho das tropas (27). O legionário romano poderia muito bem conservar seu valor combativo depois de haver recebido uma alimentação hipocalórica por alguns dias, e sem entrar nas discussões que a hipótese de Stolle levantou, não há objeção importante a refutar, se considerarmos apenas trocas de energia.

2. Se, por outro lado, calculamos o peso do alimento transportado para permitir um fornecimento energético suficiente, a carga deve, durante 15 dias, atingir um peso entre 22 e 27kg, antes de diminuir de 1,5 para 1,8kg por dia, dependendo do tamanho da ração cotidiana.

(26) HARMAND J. – op. cit., 191.
(27) SCHERRER J. – Précis de Physiologie du Travail, Masson, Paris, 1981.

Os dados da medicina militar

O esporte nos exércitos permite na maioria dos casos melhorar o consumo máximo de oxigênio, que é de 46ml/min/kg em média para jovens de 20 anos, e de atingir 50ml/min/kg, o que corresponde à aptidão de combate (28-29-30).

(28) Chamamos "consumo máximo de oxigênio ou ainda V02 max", a quantidade de oxigênio consumida por unidade de tempo durante o esforço máximo. É expresso em litros por minuto ou reduzido ao peso do sujeito em mililitros de oxigênio consumido por minuto e por quilograma de peso corporal.
(29) JONES L. N., MARKRIDES L., HITCHCOCK C , CHYPCHART T., M e CARTNEY N. – “Normal standard for an incrémental progressive cycle ergometer test”. Am. Rev. Respir. Dis., 1985, 131, 700-708.
(30) DUGUET J., MOLINIE J. – “Organisation des activités physiques et du sport dans les armées”, Médecine du Sport, 1989, 4, 183-188.


Deve-se enfatizar que os esforços necessários para alcançar essa melhoria, que em última análise é modesta, devem ser considerados excessivos para alguns, uma vez que se registra um grande número de fraturas por fadiga, o que é usualmente observado em atletas com patologia de sobre-treino.

Por outro lado, para outros, os resultados obtidos podem ser excelentes. Após um treinamento para-comando de 3 meses, a V02 max (p<0,01) de 26 recrutas escolhidos aleatoriamente, que eram de 3,750 ± 0,580 1/min, durante a incorporação, aumentou para 4,200 ± 0,580 1/min, sendo um ganho de 12%, o qual reduziu o peso dos indivíduos corresponde aos valores da ordem de 63ml/min/kg, trazendo estes recrutas nas categorias de atletas de bom nível (31).

(31) PIRNAY F., DEROANNE R., MARÉCHAL R., SANABRIA S., TANCRE F., PETIT J.M. – Influence de trois mois d’instruction para-commando sur la tolérance à l’exercice musculaire, Médecine du Sport, 1976.1 : 4-10.

Em uma outra prova de 5 semanas, um treinamento do tipo comando foi realizado por 195 soldados voluntários altamente motivados. Durante uma semana excepcional incluindo todos os dias 1 hora de ginástica, 10km de corrida, 3km de natação, uma pista de obstáculos e uma corrida de remo (não especificada), a ração alimentar devia ser aumentada para 5.830kcal por dia (32).

(32) SMOAK B.L., JAMES P.N., FERGUSSON E.W., FACN P.D. – Changes in lipoprotein profiter during intensive military training. J Am. Coll. Nutr., 1990, 6 : 567-572.

Os dados da medicina esportiva

Os gastos de energia entre 4000 e 5000kcal por dia são comuns entre os atletas de alto nível. Nas corridas de ciclismo de 140 a 160km, o gasto energético diário é avaliado entre 4200 e 4700kcal (33).

(33) JUDE H., PORTE G. – Médecin du Cyclisme, Masson, Paris, 1983.

Um jogador de futebol profissional, jogando a 70% da sua capacidade máxima de trabalho (34), gasta, para uma V02 máxima de 70ml/min/kg, cerca de 4000kcal por dia.
Resultados comparáveis são observados nos principais esportes de equipe, como basquete, handball e rugby. Enfim, um maratonista, durante as 2h30 de corrida, fornece um trabalho equivalente a 2700kcal, o que corresponde a uma despesa diária de 5000kcal.

(34) FORNARIS E., WANKERSSCHAVER J., VANUXE M D., ZAKARIAN H., COMMANDR E F., VANUXEM P. – Football. Aspects énergétiques, Médecine du Sport, 1988,1: 32-36.


Pode-se estimar, com uma margem de erro aceitável, que um atleta de alto nível, treinando duas vezes por duas horas ao dia, consegue um gasto energético superior à 4000kcal.

Altas perdas calóricas são comuns em natação, mergulho, montanhismo ou em disciplinas muito exigentes, como remo ou triatlo, sem esquecer de corridas extremas, especialmente o Bordeaux-Paris no ciclismo, o Paris-Estrasburgo de caminhada ou ainda a Vassaloppet em esqui de fundo.

Conclusão

Enquanto um gasto energético de mais de 4.000kcal por dia era comum entre os legionários romanos, hoje em dia apenas atletas de alto nível, recrutas em treinamento e alguns trabalhadores manuais podem afirmar atingir esse nível. Com quase 2000 anos de diferença, além desse gasto calórico elevado, existem diferentes pontos de comparação entre o atleta moderno e o legionário.

- Ambos seguem uma intensa preparação para alcançar o objetivo final, isto é, a vitória, para alguns nos eventos esportivos, para os outros contra os inimigos de Roma;
- Ambos se envolvem em atividades destinadas a melhorar a força muscular, para os atletas com os exercícios de musculação, para os legionários com os trabalhos de força como o manuseio de materiais pesados.
- Enfim, ambos seguem dietas hipercalóricas com predominância de açúcares lentos para compensar o alto nível de gasto físico.

No entanto, neste último ponto, se a ingestão de energia é comparável, a dieta do legionário apresentou desequilíbrios em termos de qualidade, o expositor, mais ou menos a longo prazo, aos riscos de deficiência.

Émile FORNARIS e Marc AUBERT, HISTOIRE DES SCIENCES MÉDICALES – TOME XXXII – Nº 2 – 1998.