quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Considerações sobre a contra-insurgência romana

O chamado sarcófago “Grande Ludovisi”, com cena de batalha entre soldados romanos e germânicos.
(Wikimedia Commons)

Por Lawrence Tritle e Jason Warren, Task&Purpose, 13 de novembro de 2018.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 11 de fevereiro de 2020.

Nota do editor: Esta é a conclusão deprimente de um capítulo sobre os romanos de um novo livro, The Many Faces of War (As Muitas Faces da Guerra).


Qual é a relevância do Modo Romano Imperial de Guerra e de Contra-Insurgência para os Estados Unidos da América hoje? Apesar de possuir um exército conhecido por sua habilidade em batalhas decisivas, os romanos enfrentaram cerca de 120 casos de insurgência entre 31 aC e 190 dC.

Incapazes de obterem força esmagadora em todos os lugares, os romanos desenvolveram uma abordagem sofisticada para resolver essas insurgências. Embora os historiadores muitas vezes tenham focado no papel do exército romano na contra-insurgência, os romanos tiveram sucesso porque a administração imperial e outros desenvolveram laços sociais, culturais e econômicos mutuamente benéficos de longo prazo com seus súditos. Tácito nos diz que Agrícola trouxe vida e maneiras urbanas para a Grã-Bretanha e incentivou o aprendizado do latim (Agrícola, 72-3). Para copiar uma frase bem conhecida dos anos 60, trata-se de "ganhar corações e mentes", mas também é estabelecer relacionamentos que levam as pessoas para o seu lado. David Kilcullen em Counterinsurgency (2010: 152) oferece uma explicação convincente chamada “teoria do controle competitivo”: a saber:

em conflitos irregulares, o ator armado local que uma determinada população considera como mais capaz de estabelecer um sistema normativo para controle resiliente e de amplo espectro sobre a violência, a atividade econômica e a segurança humana é o que mais provavelmente prevalecerá dentro da área residencial de uma população.

Enquanto a preocupação de Kilcullen é combater os insurgentes, o argumento básico permanece: simplesmente, quem faz um trabalho melhor no estabelecimento de um sistema resiliente de controle que traz ordem e segurança acaba conquistando o apoio das pessoas e vencendo a competição pelo governo. Foi isso que os romanos fizeram e com grande sucesso. É preciso lembrar apenas as centenas de milhares de provinciais que se alistaram no serviço militar como auxiliares com o objetivo de se tornar um cidadão romano.


Os romanos também sempre consideraram o impacto das comunicações estratégicas em sua imagem e asseguraram habilmente que suas ações fossem divulgadas com elites sociais para dissuadir potenciais insurgentes. Militarmente, os romanos desenvolveram uma resposta doutrinária a uma insurgência que incluiu uma reação ofensiva imediata com forças imediatamente disponíveis que às vezes podiam ser bem-sucedidas. Embora preferissem grandes batalhas que favorecessem seus pontos fortes, os romanos também podiam realizar campanhas de pequenos engajamentos. No entanto, eles também descobriram que as operações de contra-insurgência [para limpar, manter, construir] freqüentemente demoram muito tempo, exigem uma estrutura de força adequada e sustentada, e devem ser possibilitadas pelos aliados locais.

Quanto à estrutura da força, a Roma Imperial descobriu que a combinação de cidadãos de infantaria pesada em legiões possibilitadas por auxiliares não-cidadãos mais leves e mais móveis, e ocasionalmente forças navais, era suficiente para os dois extremos do espectro do conflito. Além disso, à medida que o Império crescia, os romanos empregavam não-cidadãos de maneira mais eficaz e em maior número, especialmente para segurança sobre grandes áreas, apesar do motim ocasional. O Império também enfrentou desafios de sabor contemporâneo: falta de coordenação interinstitucional, líderes incompetentes, lealdades divididas de povos indígenas e inimigos adaptativos. Finalmente, os romanos perceberam que vencer a paz com uma "abordagem do governo inteiro" provou ser mais bem-sucedido do que apenas vencer batalhas.

Título original "Até os romanos eram melhores em contra-insurgência do que nós".

Bibliografia recomendada:

The Roman Army:
The Greatest War Machine of the Ancient World.
Chris McNab.

Guerra Irregular:
Terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história.
Alessandro Visacro.

Leitura recomendada:


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