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domingo, 12 de janeiro de 2020

A França planeja manter presença militar no Iraque como parte de uma missão da OTAN


Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex360, 11 de janeiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 12 de janeiro de 2020.

Após a votação, apenas por deputados xiitas, de uma resolução exigindo a saída das "forças estrangeiras" do Iraque, o primeiro-ministro iraquiano [que renunciou] Adel Abdel Mahdi pediu a Washington que enviasse uma delegação para o Iraque afim de organizar a retirada das tropas americanas atualmente desdobradas em seu país.

Esta resolução, não-vinculativa, foi adotada em 5 de janeiro, dois dias depois de um ataque americano que foi fatal para o General Qassem Soleimani, o chefe de operações externas da Guarda Revolucionária Iraniana e para Abu Mehdi al-Mouhandis, número dois de Hachd al-Chaabi, uma aliança de milícias xiitas pró-Teerã.

Durante uma conversa por telefone, Abdel Mahdi realmente "solicitou que representantes fossem enviados ao Iraque para estabelecer os mecanismos necessários à implementação da decisão do Parlamento, com vistas a uma retirada segura das tropas no Iraque", afirmou o gabinete do primeiro-ministro do Iraque em 10 de janeiro.

Somente a diplomacia americana anunciou sua intenção de não dar seguimento a ela. "Nesse momento, qualquer delegação no Iraque seria responsável por discutir a melhor maneira de reconfirmar nossa parceria estratégica, não por discutir a retirada de tropas", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Morgan Ortagus. "Nossa presença militar no Iraque visa continuar a luta contra o EI [Estado Islâmico] e, como disse o secretário de Estado, estamos determinados a proteger os americanos, os iraquianos e nossos parceiros de coalizão", ela então argumentou.

E acrescentou, sem mais detalhes, que Washington queria ter uma "discussão" com o governo iraquiano "não apenas sobre segurança, mas também sobre nossa parceria financeira, econômica e diplomática" porque "queremos ser um amigo e parceiro de um Iraque soberano, próspero e estável."

Obviamente, uma retirada do Iraque das forças americanas significaria o fim da coalizão anti-jihadista liderada pelos Estados Unidos [Operação Inherent Resolve]. Após os recentes acontecimentos no Iraque, as atividades iraquianas foram interrompidas, tendo sido suspenso o acompanhamento das forças iraquianas.

Quanto ao componente aéreo, ele é reduzido à porção mínima. Pelo menos se julgarmos pelo último relatório sobre as operações do Estado Maior das Forças Armadas [EMA] francesas. Entre os dias 3 e 9 de janeiro, os 11 Rafales envolvidos na Operação Chammal, da Jordânia e Emirados Árabes Unidos, fizeram apenas 14 operações aéreas. Ou uma atividade ainda mais reduzida em 25% em relação a dezembro.

Seja como for, para a Ministra das Forças Armadas francesas, Florence Parly, é "importante que os Estados Unidos continuem apoiando os esforços, como vêm fazendo há vários anos, na luta contra o terrorismo. "

"A luta contra o Daesh [EI ou Estado Islâmico] deve continuar", argumentou a ministra, nas ondas da France Inter, em 11 de janeiro. "Às vezes ouvimos alguns comentaristas dizerem que "a luta contra o Daesh acabou" [...]. Na realidade, todos sabemos, e a situação no Levante o demonstra, que esta organização terrorista continua [...] a ter os meios para agir de forma subterrânea e clandestina. E é por isso que a situação no Iraque é tão preocupante. E se continuar a deteriorar-se por proxies* ou potências estrangeiras interpostas, bem, isso deixará o campo aberto para o Daesh", explicou Parly.

*Nota do Tradutor: Agentes intermediários.

Quanto aos 200 militares franceses presentes no Iraque [incluindo 160 nas Forças-Tarefas Monsabert e Narvik, que treinam os soldados iraquianos, nota da redação], o ministro justificou sua manutenção por “solidariedade” entre aliados. "Quando um aliado é atacado, a resposta não consiste em ir embora", disse ela, referindo-se aos recentes ataques iranianos contra bases iraquianas que abrigam forças da coalizão, incluindo americanos.

Florence Parly, Ministra das Forças Armadas Francesas.

De qualquer forma, a estrutura e o objetivo da missão dos militares franceses em solo iraquiano podem evoluir. "Isso faz parte do pensamento que tivemos nos últimos dias", disse Parly. "A França está realmente muito presente no Iraque, para acompanhar as forças iraquianas em seu aumento de competência porque sua tarefa é complicada", com um país "confrontado por sérias dificuldades" e "eventos recentes que poderiam criar divisões que seriam extremamente prejudiciais à paz na região”, continuou ela.

Entre os caminhos sendo exploradas, Parly sugeriu que manter militares franceses no Iraque poderia ser feito como parte de uma missão da OTAN. De qualquer forma, ela levantou esse ponto em uma conversa com Jens Stoltenberg, secretário geral da Aliança Atlântica, em 10 de janeiro.

“Nós provavelmente podemos fazer mais e melhor. Uma missão da OTAN está presente no Iraque, com a mesma tarefa [de acompanhar as forças iraquianas, nota da edição]. Eu acho que esse é um dos caminhos pelos quais devemos ser ainda mais ativos ", disse a ministra.

Como lembrete, em outubro de 2018, a OTAN estabeleceu uma missão de treinamento para o benefício das forças iraquianas. Reportando-se ao Comando Aliado das Forças Conjuntas de Nápoles [JFCNP], esta NMI [NATO Mission in Iraq, Missão da OTAN no Iraque], solicitada por Bagdá, tem 500 treinadores, conselheiros e pessoal de apoio. Sua atividade foi temporariamente suspensa após o ataque americano contra o General Soleimani.

Em seu discurso após os ataques iranianos contra duas bases iraquianas que abrigam as forças da coalizão em 8 de janeiro, o presidente Trump pediu à Otan que se envolvesse mais no Oriente Médio, uma região que não é mais tão estrategicamente importante para os Estados Unidos depois que estes ganharam sua independência energética.

Posteriormente, Stoltenberg disse que concordou que a OTAN poderia "contribuir mais para a estabilidade" do Oriente Médio... Antes de especificar mais tarde o que ele quis dizer com isso.

"Eu acredito firmemente que a melhor maneira de combater o terrorismo internacional nem sempre é enviar tropas da OTAN para operações de combate em larga escala", disse o ex-primeiro-ministro norueguês a repórteres, 9 de janeiro. "Às vezes é isso que precisamos fazer, mas a melhor maneira é permitir que as forças locais lutem contra o terrorismo elas mesmas. [...] É exatamente isso que estamos fazendo no Afeganistão, é o que estamos fazendo no Iraque e, é claro, podemos examinar se podemos fazer mais nesse tipo de atividade”,  continuou ele.

"Também podemos fazer outras coisas", disse Stoltenberg, sem querer "especular" mais. “Estamos analisando opções diferentes. Isso requer um processo de tomada de decisão real na OTAN" e seus 29 estados-membros", e devemos discuti-lo com os países da região", enfatizou.