terça-feira, 11 de janeiro de 2022

VALMET M-76. Um herdeiro direto do AK-47, mas com uma boa dose de qualidade melhorada.

FICHA TÉCNICA
Tipo: Fuzil de assalto.
Miras: Alça e massa em aço, com sistema peep sight.
Peso (vazio): Rk.62: 3,9 kg; M-76F: 3,6 kg 
Sistema de operação: A gás com trancamento rotativo do ferrolho.
Calibre: Rk;62:  7,62x39 mm; M-76F: 5,56x45 mm.
Capacidade: 30 munições.
Comprimento Total: 94 cm (coronha estendida) e 71 cm (coronha rebatida)
Comprimento do Cano: 16 polegadas.
Velocidade na Boca do Cano: 715 m/seg (7,62X39 mm) 940 m/seg (5,56X45 mm)
Cadência de tiro: 700 tiros/ min.

Por Carlos Junior
A Finlândia é um dos países do norte europeu que é lembrado pelo extremo frio e por ser a casa de uma das empresas mais importantes da história da telefonia móvel nos anos 90 e inicio dos anos 2000, a Nokia. O que a maioria das pessoas não sabem é que sua indústria também tem reconhecimento de alta qualidade em outros segmentos, como tratores e armas de fogo, este ultimo, o segmento que interessa ao leitor do WARFARE.
No início da década de 60 do século passado, a Finlândia produziu um fuzil derivado diretamente do AK-47 chamado Rk.60 através da então fabrica de armas Valmet (posteriormente essa empresa repassaria suas atividades bélicas para a SAKO). Naquela época, dado à aproximação geográfica e alguns elementos históricos, a Finlândia tinha um relacionamento bom com os soviéticos, e por isso, foi natural sua atenção recair sobre o famigerado projeto de Mikhail Kalashnikov. 
Algumas modificações foram inseridas para nesses lotes iniciais, como a ausência de partes de madeira (o AK-47 tinha coronha e guarda mão nesse material), de forma que no modelo finlandês, a coronha era metálica com formato tubular, enquanto que o guarda mão (telha para alguns) e a empunhadura foram produzidos em plástico de alta resistência. Não havia um guarda mato protegendo o gatilho, o que, inicialmente era entendido como melhor para o emprego com luvas grossas, usadas pelos soldados daquele exército. Outro ponto foi que a massa da mira estava montada acima do tubo de gás e encapsulada, diferentemente do AK, cuja massa da mira fica sobre a parte final do cano. 
No que tange a parte mecânica, o Rk.60 era uma copia exata do AK-47.
Uma rara foto de boa qualidade de um exemplar das primeiras versões do fuzil Valmet, aqui um Rk.60.

Esses protótipos iniciais, ao passar pelos testes do Exército Finlandês, não foram aprovados e precisaram a passar por modificações que foram indicadas pelos militares que o testaram. Assim, a arma recebeu, de volta, um guarda mato para o gatilho, e um guarda mão redesenhado, sendo esta versão nomeada de Rk.62 e adotada oficialmente no exército finlandês. Diversas versões foram sendo desenvolvidas, sendo porém, que a versão que este artigo foca é o modelo M-76F, projetado para o mercado externo, principalmente tendo em vista clientes militares ocidentais e civis (versão semiautomática). Para isso, a Valmet redimensionou os componentes internos para a operação da munição 5,56X45 mm. 
O Valmet Rk.62 em uma das versões iniciais, já com as modificações pedidas pelo Exército Finlandês, como guarda mato presente e o guarda mão com desenho modificado para uma melhor "pega".

É interessante notar que, para aquelas pessoas já familiarizadas com o mundo das armas de fogo e que já são "sócios" do WARFARE Blog, o desenho do M-76 lembra fortemente, o desenho de um modelo já descrito aqui no site; o IMI Galil. Modelo desenvolvido em Israel com excelente qualidade também. Para conhecer mais clique no link no nome da arma em azul.
A armação do M-76 é fabricado em aço estampado, com acabamento parkerizado, (oxidado fosco), o que a torna muito robusta, pelo lado positivo, e mais pesada que outras armas, elencando um ponto negativo. O peso do M-76F (versão com coronha dobrável em aço) com o carregador vazio, é de 3,6 kg. A titulo de comparação, uma carabina M-4 padrão, pesa nas mesmas condições 3 kg. Alguns podem pensar que "ah, só 600 gramas de diferenças não são nada!", E ai eu convido você a perguntar se essa diferença tem ou não, importância para um infante em combate transportando seus mantimentos, munições e seu fuzil. Certamente que você vai ficar chocado com a rapidez com que será dada a resposta.
O M-76F tem um desenho muito semelhante ao fuzil israelense Galil. No entanto, o modelo finlandês é tido como de qualidade um pouco maior ainda.

Como dito anteriormente, mecanicamente, o fuzil finlandês é idêntico ao AK-47, sendo assim, operado através da captação de gases do disparo em um orifício dentro do cano da arma que leva para um tubo de gás acima, que move um pistão para a parte de trás, empurrando o ferrolho rotativo com dois ressaltos para travamento para trás, o que arma o percursor, ejeta a capsula deflagrada no disparo enquanto que uma mola recuperadora devolve o ferrolho a sua posição original, quando ele captura uma munição do carregador e insere dentro da câmara do fuzil. É o sistema mais amplamente encontrado em fuzis de assalto (ou carabinas semiautomáticas em calibres mais potentes, e que difere apenas por alguns detalhes de uma arma para outra).
Devido ao calibre de natural baixo recuo (principalmente quando comparado como o 7,62 mm), somando ao maior peso da arma, se tem uma administração do recuo do disparo fácil e dócil, permitindo controle até mesmo em rajadas.
Nessa foto podemos ver o Rk-62 desmontado. A única diferença visual entre este modelo e o M-76 é o carregador.

Uma coisa que é bastante interessante a respeito do M-76 é que, mesmo sendo uma arma derivada do AK-47, arma de excelente confiabilidade, mas que possui uma precisão inferior quando comparado com a encontrada em um M-16, o M-76 entrega uma precisão superior ao do próprio fuzil americano. Esse resultado é conseguido pela extrema boa qualidade fabril dos canos da Valmet (atualmente SAKO). Claro que não existe almoço grátis e por isso, esse padrão de qualidade tem um preço que acompanha o seu maior desempenho. Assim, o M-76 foi vendido no mercado norte americano por valores que equivaliam a duas vezes o valor médio de um AR-15 (médio porque há muitos fabricantes com diversas qualidades do AR-15 naquele mercado).
O M-76 é, provavelmente, o melhor descendente da plataforma Kalashnikov.

O M-76 é um armamento de projeto da década de 60/70. especificamente esse produto não recebeu o banho de modernizações que o Rk.62 recebeu para poder se manter uma arma competitiva para os militares finlandeses. Assim, não há trilhos ou sistemas de acoplamento de acessórios que vemos em muitos fuzis (até mesmo em AKs modernos). A alça da mira do M-76 (e de todos os modelos Valmet), foi reposicionada para a parte posterior da caixa da culatra do fuzil, diferindo da família Kalashnikov que tem esse dispositivo bem acima da janela de ejeção, e que é uma peculiaridade do AK. A alça é de aço e tem um circulo, no mais tradicional sistema "peep sight", como encontrado em armas ocidentais como o FAL, o G-3 e mesmo nos M-16.
A tecla de seleção de regime de fogo é igual ao do AK, com simples marcações de pontos, sendo um ponto para informar se tratar de regime de tiro semiautomático; 3 pontos para regime totalmente automático e sem ponto que reflete ser a posição de segurança, gatilho travado.
O quebra chamas, também tem sua personalidade própria, se afastando dos padrões soviéticos. Ele tem um desenho tripartido simples, sem nenhuma sofisticação da engenharia, mas que é funcional e entrega o que se espera dele que é a não liberação dos indesejáveis de flashes dos disparos que poderiam entregar a posição do operador em um tiroteio, principalmente em ambiente com menos luz.
O nível de precisão conseguido com os disparos com o M-76 superam o que se observa com o uso dos fuzis da plataforma AR.

O M-76 não é mais fabricado desde 1994 e sua manutenção é fornecida para o exército finlandês pela SAKO. É interessante observar que as forças de defesa finlandesas tem empregado o excelente FN SCAR L MK16, em calibre 5,56X45 mm em suas forças especiais, dando uma perspectiva do que pode ser o futuro substituto da família Rk.62 da Valmet nos próximos anos, uma vez que embora seja um Estado Neutro, dentro da politica internacional, é clara a aproximação dos finlandeses com o ocidente, principalmente os membros europeus da OTAN.


 

                      

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