segunda-feira, 4 de julho de 2022

Carteira de reservista do Exército Brasileiro no Estado Novo

Carteira de reservista de Manoel do Amaral Monteiro,
outubro de 1941.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 4 de julho de 2022.

Carteira de reservista do meu tio-avó Manoel do Amaral Monteiro, conhecido como "Tio Iô-Iô" por ser filho de fazendeiro. Os escravos chamavam o "sinhozinho" de "iô-iô". O Tio Iô-Iô era, como a maioria dos brasileiros do sexo masculino, um reservista de segunda linha; ou seja, um civil dispensado sem ter servido e mantido na reserva de segunda linha até os 45 anos.

O Tio Iô-Iô nasceu na Velha República, após o Exército Imperial derrubar a monarquia em um golpde-de-estado. Da década de 1890 até a Revolução de 1930, o Exército Brasileiro fez uma ávida busca por consolidação e identidade, conforme estudado pelo agora saudoso professor Frank. D. McCann no livro Soldados da Pátria: História do Exército Brasileiro 1889-1937.

Uniformes do Exército Brasileiro na República Velha,
por José Washt Rodrigues.

Em outubro de 1941, data da dispensa, o Exército Brasileiro já havia se elevado de uma força pequena e ineficiente, numa organização poderosa que sustentava o regime ditatorial então em voga - o Estado Novo. Nascido primeiro da Revolução de 1930 que interrompeu o ciclo do governo de oligarcas da política do Café com Leite, e depois com o golpe-de-estado de 1937, o Estado Novo foi marcado pela propaganda nacionalista e militarizada.

O Exército Brasileiro aumentou de tamanho e adquiriu sofisticação de forma exponencial, enfrentou revoltas regionais, venceu as forças públicas estaduais na luta por poder político, ocorreu a criação da revista A Defesa Nacional. No ano seguinte, de 1942, o Brasil entraria em guerra contra o Eixo e o Exército Brasileiro iria até mesmo cruzar o Oceano Atlântico e lutar na Europa.

Capa de couro verde da carteira de reservista.

Certidão de Nascimento.

Tio Iô-Iô não participaria de nenhum desses marcos históricos, mas como todos os brasileiros do sexo masculino, ele teve de se apresentar à disposição do exército. Isto, por si só, demonstra o imenso trabalho da organização corporativa em se impor como uma força política nacional; obra de homens como Góis Monteiro, e que seria impensável apenas décadas antes. Em 1910, a mera ideia que o Exército Brasileiro poderia impor o recrutamento obrigatório (conscrição) já seria visto como um sonho absurdo. A transformação e consolidação do Exército Brasileiro na República Velha foi um dos marcos históricos do Brasil.

Como disse Góes Monteiro, tratou-se de pôr fim à política "no" exército e impor a política "do" exército; como de fato ocorreu. O Exército tornou-se o braço fiador do novo regime, encabeçado por Getúlio Vargas, e guiou o Brasil em sua nova fase de desenvolvimento.

Uniforme do Exército Brasileiro em 1941,
ainda com a influência francesa.

Bibliografia recomendada:

Soldados da Pátria:
História do Exército Brasileiro 1889-1937.
Frank D. McCann.

Leitura recomendada:


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