quinta-feira, 5 de setembro de 2019

EMBRAER E-99 A longa visão do sistema de defesa aéreo brasileiro.


FICHA TÉCNICA
Velocidade de cruzeiro: 800  km/h
Velocidade máxima: 832 km/h
Autonomia: 8 horas
Teto operacional: 9144 mts.
Alcance: 2666 km.
Empuxo: 2 motores Turbofan Allison/ Rolls-Royce AE-3007 A1P que produzem 3782 kgf cada um.
Radar e sistemas de missão: Radar Ericsson PS-890 Erieye com 350 km de alcance para um alvo do tamanho de um caça.
DIMENSÕES
Comprimento: 28,45 m
Envergadura: 20,04 m
Altura: 6,72 m
Peso: 11750 kg; (vazio) ; Máximo de decolagem 24000 kg

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior
As Forças Aéreas Brasileira e a Força Aérea do Chile são as únicas forças do continente sul americano a operarem aeronaves de alerta aéreo antecipado, as famosas aeronaves "AEW" de (Airborne Early Warning). Para o leitor que acompanha os trabalhos apresentados nesta pagina, vai lembrar que já abordamos outras aeronaves desse tipo aqui, como os aviões norte americanos Boeing E-3B/C Sentry (AWACS), Grumman E-2 Hawkeye, o Boeing 737 AEW&C Wedgtail e o russo Beriev A50 Mainstay. Como se pode observar, aeronaves desenvolvidas por grandes potências econômicas e militares mundiais.
O Brasil, dentro do contexto do programa de defesa da Amazônia (SIVAM), iniciado em 1990, decidiu que um dos componentes deste complexo sistema seria executado por um radar aerotransportado, aqui no caso, uma aeronave AEW. Na época, o avião que se tinha em mente usar para essa missão, era o avião comercial Embraer EMB-120 Brasília, uma aeronave com relativo bom sucesso no mercado mundial, com mais de 300 unidades fabricadas e operadas por diversas companhias aéreas para voos regionais. No entanto, as modificação necessárias para que o Brasilia pudesse ser operado como uma plataforma AEW se mostraram excessivamente pesadas, inviabilizando o uso desta aeronave, o que forçou a FAB a escolher outra aeronave. Aqui entra o modelo ERJ-145LR da Embraer que é a versão de alcance estendido do extremamente bem sucedido jato regional da fabricante brasileira. O modelo caiu como uma luva para este programa e o resultado desse desenvolvimento foram duas aeronaves, um chamado de EMB-145RS (para sensoreamento remoto) e o EMB-145AEW&C, que for rebatizado posteriormente como E-99.
Sua entrada em serviço na FAB se deu em julho de 2002 e mudou, radicalmente, a forma como a defesa aérea do Brasil passou a ser executada.
O E-99, em primeiro plano, seguido pelo seu
irmão de sensoriamento remoto R-99.

O E-99 recebeu grandes modificações para poder operar na missão de alerta aéreo antecipado e comando. A capacidade de combustível foi incrementada em 2405 litros e a aeronave faz uso de dois motores Rolls Royce/ Allison AE-3007 A1P, que produzem 3782 kgf de empuxo cada um. Esses motores possuem sua operação controlada por sistema FADEC (Full Authority Digital Engine Controls) que faz o gerenciamento de seu funcionamento visando a maior eficiência e segurança. Soma-se, ainda, o uso de uma asa com winglets, que otimiza aerodinamicamente a aeronave, reduzindo seu arrasto e reduzindo o vórtice  criado nas pontas das asas resultando em uma economia de combustível na ordem de 20% . O alcance do E-99 é de 2666 km, e sua autonomia de voo é 8 horas (devido a sua missão, a aeronave voa em baixíssima velocidade, em voo cabrado e por isso consegue permanecer em voo por tanto tempo). É interessante observar que a Força aérea Brasileira não solicitou a instalação de um sistema de reabastecimento aéreo nesse modelo de aeronave, porém, a índia, um dos operadores do modelo, possui uma lança para reabastecimento aéreo.

Deste ângulo, podemos ver as "aletas" 
aerodinâmicas montadas na parte de baixo
da traseira do E-99 e as laminas verticais
montadas no estabilizador horizontal.
Em uma aeronave de alerta aéreo antecipado, os sensores e o recheio eletrônico são os elementos que representam a alma da aeronave. O principal sensor do E-99 é seu radar sueco Ericsson PS-890 Erieye. Trata-se de um radar de varredura eletrônica ativa (AESA) que mantem o escaneamento de ambos os lados da aeronave simultaneamente, cobrindo um alcance de, aproximadamente 350 km de cada lado da aeronave, considerando um alvo com 5m² de RCS (um caça MIG-29, por exemplo). Alvos maiores, como um avião de carga, podem ser detectados além desse limite. O sistema Erieye detecta até 300 contatos simultaneamente, qualificando a prioridade de 100 deles e gerenciando até 6 aeronaves interceptadoras. O radar mantem uma varredura de 300º , sendo 150º de cada lado.
Para identificar se os contatos do radar são hostis ou amigáveis, um dispositivo interrogador IFF (Identification, Friend or Foe) Mk-X da francesa Thales foi integrado ao radar Erieye.
O E-99 possui equipamento para poder cumprir missões de inteligencia de sinais  (Sigint) e interceptação de comunicações do inimigo, (Comint), o que lhe dá a capacidade de gravar dados dos sistemas de comunicação inimiga e classifica-las. Os dados coletados pelos sensores e sistemas do E-99 são enviados por um sistema de data link Seccos da Rohde & Schwars, que compartilha estes dados com outras aeronaves, e centros de tomada de decisão, em terra. Já, o sistema de GPS usado no E-99 é o Honeywell H746G que apresenta uma margem de erro inferior a 16 m.
Os 5 E-99 da FAB serão modernizados para
o Padrão E-99M. O primeiro exemplar já foi
entregue á força aérea.
A FAB tem, em andamento, um programa de modernização do E-99 para o padrão E-99M, cujas melhorias, embora não sendo de totalmente publicas (este tipo de informação é classificada), sabe-se que seu radar será a versão Erieye ER, a mesma usada no modelo Global Eye, passará a poder detectar alvos terrestres (atualmente ele lida apenas com alvos aéreos e navais). O alcance máximo do radar Erieye ER é bem maior que o do atual Erieye, da FAB, podendo detectar um alvo a mais de 700 km, o posicionando entre as aeronaves com maior capacidade de detecção do mundo. O sistema IFF será substituído também pelo modelo Thales TSC 2030, que atua na frequência 1090 +/- 0.5 MHz e modos 1, 2, 3/A, C, S nível 3, 4 Criptografado e 5 nível 2.
Os sistemas de inteligencia eletrônica (ELINT), Inteligencia de comunicações (COMINT) e Inteligência de sinais (SIGINT) será fornecido pela israelense Elbit, porém, não foram divulgado quais equipamentos foram adquiridos.
O E-99M terá um sistema de auto proteção que terá um RWR (Sistema de alerta de radar), e um sistema de lançamento de iscas tipo chaffs e flares, sendo, respectivamente, para despistar mísseis guiados por radar e mísseis guiados por infra vermelho.
Com uma frota de 5 aeronaves E-99, a FAB é o principal operador do modelo no mundo. A Grécia, México e Índia são operadores estrangeiros desta plataforma, porém, 

customizaram a configuração de seus sistemas eletrônicos para melhor adaptar-se aos requisitos operacionais de cada um. é previsto que todas as cinco aeronaves e-99 da FAB tenham sido convertidas em E-99M até 2022, coincidindo com a entrada em serviço dos novos caças F-39 Gripen E que a FAB adquiriu para ser seu braço armado a partir da próxima década.
Considerando o elevado custo desta aeronave, cerca de U$ 80 milhões de dólares por unidade, e a complexidade que é integrar esse tipo de equipamento dentro de um sistema de defesa aérea, é admirável que a Força Aérea Brasileira, sempre com restrições orçamentárias,  tenha conseguido implantar esse valiosíssimo recurso em sua frota de aeronaves, e que pode ser considerado, sem a menor duvida, como o mais moderno avião militar de toda a América do Sul, atualmente.




Agradecimento: Agradeço ao Pesquisador Sérgio Santana pelo apoio que deu durante a concepção deste artigo.






3 comentários:

  1. Ótima matéria. Até que as coisas não estão tão ruins assim para a FAB e, com esse processo de modernização mais a chegada dos Gripens, vão ficar pelo menos um pouco melhores. Só lamento que nossos líderes militares não tenham optado pela instalação de uma lança de reabastecimento no E-99M, o que seria muito importante em um país com as dimensões do Brasil.

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    1. Obrigado Regis. Eu também lamentei a ausência desse recurso no modelo modernizado.
      Abraço

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