Do site Insight Crime, 30 de março de 2021.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 19 de setembro de 2022.
Uma série recente de operações militares venezuelanas no estado de Apure expôs mais uma vez a complexa relação entre o governo venezuelano e os grupos insurgentes da Colômbia acampados nas regiões fronteiriças do país – e mais confrontos armados devem ser esperados.
O último conflito começou na madrugada de 21 de março, quando membros da Força Armada Nacional Bolivariana (Fuerza Armada Nacional Bolivariana – FANB) realizaram uma operação militar contra militantes colombianos no município de José Antonio Páez, região fronteiriça de Apure.
De acordo com um comunicado oficial do Ministério da Defesa venezuelano, a operação Escudo Bolivariano 2021 teria resultado na captura de 32 membros de um grupo armado irregular, na destruição de 6 campos, na apreensão de importantes materiais de guerra e na morte de um dos líderes do grupo, conhecidos como “Nando”.
Segundo o departamento de defesa, que disse que o país teria "tolerância zero" para essas estruturas criminosas na Venezuela, dois soldados também morreram nos confrontos.
Embora o exército venezuelano não tenha identificado o grupo armado irregular envolvido, a mídia regional e os moradores locais disseram que os combates na região estão relacionados à perseguição do Estado a ex-membros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia – FARC ), o grupo guerrilheiro que se desmobilizou em 2016 após a assinatura de um acordo de paz.
Líderes da Décima Frente em Apure durante uma transmissão televisiva lançada em 4 de setembro de 2019. |
Os ex-combatentes das FARC na região pertencem à 10ª Frente, liderada por Jorge Eliécer Jiménez, conhecido como “Jerónimo” ou “Arturo”, que coordena diversas operações criminosas na fronteira entre Apure e o departamento colombiano de Arauca.
Após a operação militar, os combatentes da 10ª Frente não hesitaram em retaliar. Na noite de 23 de março, um grupo deles lançou explosivos na sede do Serviço Nacional Integrado de Administração Aduaneira e Tributária da Venezuela (SENIAT), no setor La Victoria do estado de Apure. O ataque foi acompanhado por mensagens gravadas e panfletos da facção dissidente anunciando futuros ataques.
Análise do Insight Crime
Esta não é a primeira vez que o exército venezuelano dispara contra guerrilheiros colombianos e outros criminosos no país. Vários confrontos armados entre eles refletem uma relação marcada por ganhos e perdas criminais, ressaltando que os confrontos armados provavelmente continuarão.
O Exército de Libertação Nacional (Ejército de Liberación Nacional – ELN), o antigo grupo rebelde colombiano, e os dissidentes das FARC entraram em conflito armado com as forças armadas da Venezuela.
Por exemplo, a prisão em novembro de 2018 do comandante do ELN, Luis Felipe Ortega Bernal, conhecido como “Garganta”, resultou na morte de quatro membros da Guarda Nacional Bolivariana (Guardia Nacional Bolivariana – GNB). De acordo com investigadores locais que conversaram com a InSight Crime, o confronto no município de Puerto Ayacucho, no estado do Amazonas, foi produto de um desacordo econômico entre os dois lados.
Dois anos depois, em dezembro de 2020, Garganta recuperou sua liberdade e continuou coordenando operações ilegais.
Os militares da Venezuela também foram atrás dos ex-FARC antes do recente confronto. Em setembro de 2020, unidades militares atacaram três acampamentos pertencentes à 10ª Frente nos setores Três Esquinas, Mata de Bambú e Las Palmitas de José Antonio Páez. Apesar desses ataques, a presença da facção não foi alterada.
Da mesma forma, a FANB foi mobilizada no final de janeiro como parte da Operação JIWI 2021 para expulsar as estruturas dissidentes das FARC presentes em Apure e Amazonas. Segundo a jornalista local Sebastiana Barráez, os confrontos estavam relacionados a interesses particulares do ELN e de outra estrutura dissidente das FARC, a Segunda Marquetalia, que administra negócios ilícitos nessas regiões.
As relações entre os vários grupos insurgentes colombianos e o governo venezuelano tornaram-se cada vez mais complexas. Embora o governo insista que não tolerará esses grupos em solo venezuelano, a presença de militantes colombianos acampados na Venezuela, bem como de empresas ligadas a eles, contradiz essa afirmação.
Em algumas regiões estratégicas da Venezuela, o ELN e os ex-FARC criaram consórcios criminosos com o Estado venezuelano em torno do controle da mineração ilegal e do tráfico transnacional de drogas.
Milicianos Bolivarianos em ação de presença anti-guerrilheira em Apure, 13 de fevereiro de 2022. Os milicianos estão armados com fuzis FAL. |
Além disso, os vários grupos insurgentes e criminosos na região fronteiriça venezuelana também entraram em conflito. A Segunda Marquetalia e o ELN, por exemplo, entraram em confronto com células ex-FARC da 10ª Frente, razão pela qual compartilham o interesse em expulsar essa facção dissidente da área de fronteira.
No momento, a única coisa concreta que essas operações militares conseguiram foi uma crise humanitária. Segundo dados do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da Colômbia (OCHA), mais de 4.741 pessoas foram deslocadas pelas balas e bombas que choveram sobre Apure.
Bibliografia recomendada:
GUERRA IRREGULAR: Terrorismo, guerrilha e movimentos de resistência ao longo da história, Alessandro Visaco. |
Leitura recomendada:
Biden tira o grupo terrorista marxista FARC da lista de terroristas e abre caminho para o Castrochavismo na Colômbia, 3 de julho de 2022.
A crise sem fim da Venezuela, 2 de outubro de 2021.
Venezuela: “A Democracia Sequestrada”, 2 de fevereiro de 2022.
Nicolás Maduro permite que mineradores destruam florestas da Venezuela, 18 de abril de 2022.
Militares da Venezuela: principais questões a saber, 4 de setembro de 2021.
O regime da Venezuela enche seus bolsos com dinheiro do narcotráfico, 24 de fevereiro de 2021.
GALERIA: Operação anti-drogas na Venezuela, 20 de dezembro de 2021.
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