Um combatente muçulmano xiita das Saraya al-Salam (Companhias de Paz) na linha de frente de Jurf al-Sakhr ao sul de Bagdá em 18 de agosto de 2014. (AFP) |
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 30 de junho de 2021.
As Companhias de Paz (árabe: سرايا السلام, Sarāyā as-Salām), frequentemente mal traduzidas como Brigadas de Paz na mídia americana, são um grupo armado iraquiano ligado à comunidade xiita do Iraque. Eles são um renascimento de 2014 do Exército Mahdi (جيش المهدي Jaysh al-Mahdī) que foi criado pelo clérigo xiita iraquiano Muqtada al-Sadr em junho de 2003 e dissolvido em 2008. Apoiadas pelo Irã, as Companhias de Paz foram recriadas em 2014.
O Exército Mahdi alcançou proeminência internacional em 4 de abril de 2004, quando liderou o primeiro grande confronto armado da comunidade xiita contra as forças dos Estados Unidos e seus aliados no Iraque. O confronto tratou-se de um levante que se seguiu à proibição do jornal de al-Sadr e sua subsequente tentativa de prisão, que durou até uma trégua em 6 de junho. A trégua foi seguida por medidas para desmantelar o grupo e transformar o movimento de al-Sadr em um partido político para participar nas eleições de 2005; Muqtada al-Sadr ordenou que os combatentes do Exército Mahdi cessassem as hostilidades, a menos que fossem atacados primeiro. A trégua foi quebrada em agosto de 2004 após ações provocativas do Exército Mahdi, com novas hostilidades surgindo. O grupo foi dissolvido em 2008, após uma repressão das forças de segurança iraquianas.
No auge, a popularidade do Exército Mahdi era forte o suficiente para influenciar o governo local, a polícia e a cooperação com os sunitas iraquianos e seus apoiadores. O grupo era popular entre as forças policiais iraquianas; além de ser acusado de operar esquadrões da morte. Suas batalhas mais notáveis nesse período foram a Batalha de Karbala em 2007 e o Cerco de Basrah em 2008. Um dos seus membros mais célebres é Abu Azrael, "O Anjo da Morte".
Moqtada al-Sadr (centro) ao lado do clérigo Ali Khamenei e do General Qassem Soleimani, Teerã, 2019. |
As Companhias de Paz estavam armadas com uma variedade de armas leves, incluindo dispositivos explosivos improvisados (improvised explosive devices, IEDs). Muitos dos IEDs usados durante os ataques às Forças de Segurança e Forças de Coalizão do Iraque usaram sensores infravermelhos como gatilhos, uma técnica amplamente usada pelo IRA na Irlanda do Norte no início a meados da década de 1990.
O grupo foi re-mobilizado em 2014 para lutar contra o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) e ainda estava ativo em 2016; participando na recaptura de Jurf al-Sakhr (Operação Ashura, 24–26 de outubro de 2014) e na Segunda Batalha de Tikrit (2 de março a 17 de abril de 2015).
Bibliografia recomendada:
PERFIL: Abu Azrael, "O Anjo da Morte", 18 de fevereiro de 2020.
ISIS no Iraque: enfraquecido porém ágil, 20 de maio de 2021.
O segredo dos [in]sucessos árabes, 4 de maio de 2021.
GALERIA: Caçada ao Estado Islâmico no Iraque, 19 de novembro de 2020.
GALERIA: Os fuzis AK-74M da Síria, 29 de agosto de 2020.
COMENTÁRIO: 36 anos depois, a Guerra Irã-Iraque ainda é relevante, 24 de maio de 2020.
Líder do ISIS no Sinai foi morto em confronto com forças egípcias, 25 de março de 2021.
COMENTÁRIO: Contra o Daesh, a estranha vitória, 11 de setembro de 2020.