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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

YAKOVLEV YAK-130 MITTEN - Formando os futuros pilotos da Rússia

     
YAK-130 Mitten























FICHA TÉCNICA 
Velocidade de cruzeiro: Mach 0,75 (887 km/h);
Velocidade máxima: Mach 0,90 (1050 km/h);
Razão de subida: 3900 m/min.
Potência: 0,68
Carga de asa: 56,6 lb/ft²
Fator de carga: +8/-3 Gs
Taxa de giro: 14º/seg (sustentada)
Razão de rolamento: *220º/s
Alcance: 1600 km
Empuxo: Dois motores Klimov AI-222-25, sem pós combustor, que produzem 2500 kgf de potência cada.
DIMENSÕES
Comprimento: 11,49m
Envergadura: 9,72m
Altura: 4,76 m
Peso: 4600 kg (Vazio)
ARMAMENTO
Ar Ar: Míssil AIM 9 Sidewinder, R-73, R-550 Magic.
Ar Terra: Bombas FAB M62, Míssil KH-25ML Bomba guiada a laser  KAB-500KR , GSH-23 de 23 mm, também em casulo externo, lançadores de foguetes B-8M1 e B-13. Total de cargas externas: 3000 kg.

OBS: O símbolo * significa que o dado é estimado pelo autor.

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior
Para os leitores mais antigos deste blog, logo perceberão a similaridade do avião que tratarei neste artigo com modelo M-346 Master da empresa Leonardo, italiana. 
Uma joint venture entre a empresa russa Yakovlev e a italiana Aermacchi (atualmente Leonardo), começou o desenvolvimento do modelo YAK-130 em 1993, sendo que o primeiro voo deste modelo ocorreu em 1996. Com a parceria desfeita no final de 1999, a Aermacchi desenvolveu o resto do projeto sozinha, criando o M-346, já descrito neste site, enquanto que a Yakovlev, russa, levou até o fim o desenvolvimento de seu YAK-130.
Esse desenvolvimento final separado, entre as duas aeronaves, acabou fazendo com que tivessem desempenho final, também, diferentes. O modelo italiano acabou sendo uma aeronave com uma leve maior potência, devido ao uso de motores mais potentes. Na prática, essa vantagem do italiano é muito pequena, pois ela só  permite uma velocidade máxima um pouco mais rápida que a do avião russo.
Foram encomendadas 116 unidades do YAK-130 pela força aérea russa, com o objetivo de substituir os antigos aviões de treinamento Aero Vodochody L-39 Albatros. Além da Rússia, as outras nações que já encomendaram o YAK-130 foram a Argélia, Bangladesh, Bielorrússia, Laos, Mianmar, Irã e Vietnam.
Uma vez que o projeto do M-346 (a esquerda) se iniciou como uma joint venture entre italianos e russos para o programa YAK-130 (a direita), aqui podemos verificar as similaridades externas entre as duas aeronaves.

O YAK-130 está propulsado por dois motores Klimov AI-222-25, sem pós combustor, que produzem 2500 kgf de potência cada. Com essa propulsão, pequeno YAK-130, possui uma relação empuxo/ peso de 0,68 e atinge uma velocidade máxima de 1050 km/h. Essa potência é considerada baixa, quando comparada aos caças de combate de primeira linha, mas adequada para uma aeronave de treinamento e ataque leve descompromissada como este avião. É interessante notar que o YAK-130 foi projetado para operar
No campo de manobrabilidade, o YAK-130 acaba chamando a atenção pelo bom desempenho conseguindo puxar curvas de até 8 Gs e manter uma curva sustentada de 14º/seg.
O YAK-130 é uma aeronave pequena, mas ágil. Além disso, a Yakovlev fez a lição de casa, disponibilizando uma capacidade de combate crível, que torna essa aeronave viável para combate em teatros de operação de baixa ou média intensidade e não só um treinador para novos pilotos em formação.

O sistema de controle de voo FBW (Fly By Wire) com redundância quadrupla (há 3 sistemas reservas fora o principal) permite ao YAK-130 simular o comportamento de voo de muitos modelos de caças de 4º  geração, como o MIG-29, Su-27 Flanker, F-16, Mirage 2000 ou Rafale, por exemplo, bastando escolher o modelo de avião a ser simulado, no controle de voo dentro da cabine.
O painel de controle conta com três displays multifunção, como na maioria dos aviões de combate de 4º geração, e conta, ainda, com a integração de um capacete HMD/ HMS onde os dados de navegação e do alvo são mostrados, na própria lente do capacete, complementando o visor de navegação e mira acima da cabeça HUD, também disponível no painel. Essa característica facilita, ainda mais, a adaptação dos novos pilotos as aeronaves de combate que pilotarão de forma definitiva em suas carreiras.
Há um sistema de alerta de falhas que informa o piloto através de uma voz gravada, sobre a natureza da falha da aeronave. Este sistema, de origem russa, é fornecido pela AA.S Popov GZA. O YAK-130 usa o barramento padrão de dados MIL STD 1553, ocidental, para facilitar a substituição e integração de sistemas de diversas origens, dando flexibilidade ao cliente que queira sistemas diferentes dos fornecidos pelos russos.
O Cockpit do piloto do YAK-130 tem o painel de controle com a configuração clássica encontrada em aeronaves de combate de 4º geração como Eurofighter Typhoon, Rafale, ou Super Hornet

Aqui, o painel do copiloto, posicionado atrás do piloto. 

Embora, em, sua versão de treinamento básico, o avião não esteja equipado com um radar, o YAK-130 pode ser equipado com um pequeno radar, caso o cliente assim queira. Embora haja mais de um tipo de radar disponível, graças ao projeto que previu facilidade na instalação de diversos equipamentos, o radar sugerido é o OSA desenvolvido pela NIIP Zhukovsky. Este pequeno radar possui um alcance máximo de 85 km contra alvos do tamanho de caças convencionais (5m2 de RCS), e pode rastrear 8 alvos simultaneamente e engajar 4 deles ao mesmo tempo. 
No entanto, outra configuração do YAK-130 pode ser equipado com um sistema ótico laser SOLT-25, para designação de alvos a laser, montado no lugar do radar. este sistema tem alcance aproximado de 9,5 km e é empregado, também, em aeronaves de ataque Sukhoi Su-25 Frogfoot, bastante usadas na guerra de invasão da Rússia contra a Ucrânia, pelos dois lados do conflito. 
O YAK-130 está equipado com um sistema de iscas, tipo Chaff e Flare, para despistar mísseis guiados a radar e a infravermelho, respectivamente. Um sistema de guerra eletrônica baseado em um interferidor de radares (Jammer) além de um sistema de alerta de radar (RWR), também está disponível para esta aeronave.
Na ponta desse YAK-130, está instalado o sistema ótico SOLT-25, para designação de alvos a laser, que direciona bombas e mísseis com sensores para esse tipo de radiação.

O armamento do YAK-130 fica distribuído por 8 pontos fixos de cargas externas espalhadas no avião, sendo 4 em cada asa  Ao todo, este pequeno avião pode transportar até 3000 kg de armamentos ou tanques de combustível externos. Basicamente, a grande maioria do armamento empregada pelo YAK-130 é voltada a missões ar solo. A força aérea russa equipou seus exemplares com o míssil KH-25ML (AS-10 Karen), que possui um alcance máximo de 10 km e seu sistema de guiagem é por sensor passivo a laser. Este míssil pode penetrar até 1 metro de concreto, sendo eficaz contra alvos reforçados. A bomba  guiada a laser KAB-500KR também está disponível para o YAK-130. 
Bombas de queda livre da família FAB M62 dos modelos de 100, 250, 500 kg com ogivas fragmentação são, também usadas. O YAK-130 usa casulos de foguetes não guiados B-8M1 e B-13 além de pod com um canhão duplo GSH-23 de 23 mm montado em uma posição sob o centro da fuselagem.
Aliás, o barramento MIL STD 1553 usado no YAK-130 permite a fácil integração de armamento ocidental como o míssil ar solo norte americano AGM-65 Maverick, o míssil ar ar AIM-9 Sidewinder e o míssil ar ar francês Magic de curto alcance. O míssil ar ar russo R-73, guiado por infravermelho já está integrado ao modelo em operação na força aérea russa e em operadores estrangeiros.
Nessa configuração de carga, o pequeno jato de LIFT, pode executar uma missão de apoio aéreo aproximado, e com seus mísseis R-73, nos cabides externos das asas, se defender de alguma aeronave inimiga que tente intercepta-lo.

Como se pode ver, o YAK-130 representa uma interessante solução, tanto para o treinamento de pilotos novatos, quanto para a necessidade de uma aeronave de combate leve de apoio que tenha baixo custo de aquisição e operação, capaz de, com a estratégia correta, multiplicar a força de combate das aeronaves de primeira linha em caso de guerra, principalmente, em se tratando de conflitos de baixa e média intensidade.
A Força Aérea da Rússia possui pouco mais de 115 exemplares do YAK-130.

 

 

 

                   

                    

sábado, 18 de maio de 2024

KAI KF-21 BORAMAE - A gênese do que pode se tornar o primeira caça de 5º geração sul coreano.

 

FICHA TECNICA 
Velocidade de cruzeiro: Mach 0.9 (1111 km/h)
Velocidade máxima: Mach 1.80 (2220 km/h)
Razão de subida: 15240 m/min (estimado).
Potência: 1,1.
Carga de asa: 78,33 lb/ft².
Fator de carga: 8,5 Gs (estimado).
Taxa de giro instantânea: 21º/s (estimado).
Razão de rolamento: *250º/s (estimado).
Teto de Serviço: 16000 m.
Alcance: 2800km.
Alcance do radar: Hanwha Systems KF21AESA - 130 km contra alvos de 1m2 de RCS (estimado).
Empuxo: 2 motores General Electric F414-GE-400K, com 9790 kgf de empuxo máximo, cada um.
DIMENSÕES
Comprimento: 16,9 m.
Envergadura: 12,2 m.
Altura: 4,7 m.
Peso vazio: 11800 kg.
Combustível Interno: 17000 lb
ARMAMENTO
Ar Ar: Míssil de curto alcance IRIS-T, Míssil de longo alcance Meteor, Míssil de médio alcance AIM-120C/D Amraam, AIM9X Sidewinder.
Ar Terra: Míssil de cruzeiro Taurus KEPD 350, Míssil AGM-65 Maverick, Míssil Brimstone, Bombas de queda livre da família MK, Bombas de fragmentação CBU-87, CBU-97, WCMD, Bombas guiadas por GPS da família JDAM, Bomba planadora KGGB.
Interno: 1 canhão General Electric M-61A2 Vulcan  em calibre 20 mm.

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior
A Força Aérea da Coréia do Sul (ROKAF) possui uma grande responsabilidade sobre suas costas: A defesa de um espaço aéreo de um país que, tecnicamente, se encontra em guerra com a Coreia do Norte desde os anos 50 do século passado, uma vez que nunca foi assinado um tratado de paz. Por isso, sua força aérea é tratada com bastante atenção pelas autoridades politicas do país que investem grandes quantias de dinheiro para que a capacidade da aviação de combate do país tenha uma quantidade grande de caças e que estes sejam aeronaves de boa capacidade. No entanto parte de sua capacidade de combate aéreo já tem uma idade avançada. São 19 caças bombardeiros pesados F-4E Phanton II, e 80 caças F-5E Tiger II. Para substituir esses velhos caças, a Coreia poderia encomendar mais caças F-15K e KF-16 (O F-16 fabricado sob licença por eles) ou partir para investir em um desenvolvimento próprio de uma nova aeronave de combate que tivesse recursos mais modernos.
Durante os estudos para encontrar a configuração aerodinâmica que atendesse melhor os requisitos de desempenho que a Força Aérea da Coreia do Sul solicitou, muitos desenhos foram considerados, incluindo a configuração com canards ativos como nesse desenho conceitual.

A opção escolhida foi partir para um desenvolvimento do zero de um caça leve bimotor que tivesse desenho furtivo, mas que inicialmente, em seu primeiro lote transportaria suas cargas de armas externamente, mas com previsão para mudanças nos segundos lotes para a implementação de um compartimento de armas interno, que tornará esse projeto seu primeiro avião de 5º geração quando estiver pronto. O projeto desta aeronave foi chamado de KF-X, e quando o protótipo foi apresentado em 2021, recebeu o nome de KF-21 Boramae. A Coreia do Sul assinou um contrato com a Indonésia que deveria arcar com 20%  do custo de desenvolvimento do projeto, sendo que no entanto, o país deixou de pagar os valores contratados colocando em duvida o futuro da participação da Indonésia no programa. Problemas com espionagem industrial também pesam atualmente na polemica participação da Indonésia no desenvolvimento do KF-21.

O KF-21 Boramae teve sua apresentação publica em 9 de abril de 2021.

O KF-21, em seu primeiro lote, conforme informei anteriormente, transporta suas armas externamente, o que o torna mais fácil de ser detectado pelos radares inimigos. Por isso, ele ainda é considerado uma aeronave de 4,5 geração. Os lotes futuros terão capacidade de transportar armas internamente e isso o tornará um caça furtivo de 5º geração.
Ao todo foram construídos 6 protótipos, sendo que destes, dois são bipostos, porém com capacidade de combate total. O programa de testes de voo está indo perfeitamente bem e sem intercorrências graves, o que mostra um alto grau de competência dos engenheiros da KAI no desenvolvimento do seu novo caça.
Momento do primeiro voo do KF-21 numero 1 em 19 de julho de 2022.

Uma qualidade que considero importante em qualquer caça moderno, é a sua relação empuxo peso. Uma aeronave que tenha uma relação em que o empuxo de seus motor seja próximo do peso da aeronave em condição de combate, ou ainda, melhor, que supere esse valor, vai resultar em um caça que pode manobrar de forma agressiva perdendo menos energia em manobras de combate aéreo ou se recuperando rapidamente, depois de uma manobra de alto G. E é nesse ponto que o projeto do KF-21 surpreendeu positivamente. Quando configurado para missão de combate ar ar, sua relação empuxo peso é 1,1. Isso é melhor do que consegue um caça SAAB JAS-39E Gripen (nosso F-39), e ainda melhor do que o caça F-35 consegue. Para se chegar a esse desempenho, a KAI conseguiu fabricar uma aeronave relativamente leve, e instalou dois confiáveis motores General Electric F-414-GE-400K (uma versão do motor usado no F/A-18E Super Hornet e no nosso F-39 Gripen E). Esses motores, que serão fabricados sob licença pela empresa sul coreana  Hanwha Aerospace, entregam 9790 kgf de empuxo com os pós combustores ligados.
Embora muitos dados oficiais de desempenho ainda não tenham se tornado publico, é notório que o KF-21 é um avião que manobra bem, de forma ágil e que acelera bem também.

Embora a aeronave seja uma novidade e ainda esteja em testes de desenvolvimento, alguns vídeos do KF-21 em voo e executando manobras, já deixou claro que ele é um avião bem ágil o que é uma característica positiva. O que não se sabe, ainda, pois não foi informado, é sua capacidade estrutural para suportar as forças G. Não se sabe qual é o limite G para manobras instantâneas e sustentadas. 
Outro interessante dado é que mesmo sendo um avião com uma boa relação empuxo peso, sua aerodinâmica não foi muito colaborativa para alta velocidade máxima. Isso parece estar se tornando um padrão em novos projetos de aeronaves de combate. O KF-21 atinge a velocidade máxima de mach 1,8 em alta altitude, o que representa cerca de 2220 km/h. Isso é um pouco mais rápido do que consegue entregar um F-35. 
Sua capacidade de transporte de combustível internamente é de 17000 lb, o que permite a aeronave ter um alcance de cerca de 1000 km. Se instalar os tanques externos, esse desempenho aumenta para 2800 km. 
Nessa foto podemos ver um equipamento (rampa de estabilização de rotação) que é empregado para testes de voo em altos ângulos de ataque.

A Coréia do Sul, havia solicitado aos Estados Unidos, uma série de tecnologias chaves para o projeto do KF-21. A maioria delas foi liberadas pelas autoridades norte americanas. Nesse ponto, o leitor mais atento terá percebido que eu escrevi "maioria".  Sim, meus amigos, os Estados Unidos não aceitaram fornecer 4 das tecnologias pedidas, e isso foi um problema sério para o andamento do desenvolvimento do KF-21. As tecnologias negadas foram: O radar AESA, sistema de rastreamento passivo infravermelho (IRST), pod de mira eletro-óptica (EO TGP) e tecnologia de interferência de radiofrequência (RF jammer). Como você, leitor, pode imaginar, essas são, justamente as tecnologias que a Coreia do Sul não tinha e com a recusa dos norte americanos de liberarem, geraram atrasos no programa.
Algumas tecnologias criticas que foram solicitadas pelos sul coreanos aos Estados Unidos para o projeto KF-X (agora KF-21) e que foram negadas, atrasaram bastante o desenvolvimento da aeronave.

Por isso, o radar precisou ser desenvolvido do zero através dos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento da empresa Hanwha Systems, porém com suporte da empresa israelense Elta Systems, que já é conhecida no mercado internacional como uma espécie de "plano B" para quando uma nação não consegue adquirir dos fornecedores tradicionais, tecnologia de sensores como radares aerotransportados. Na minha pesquisa para escrever esta matéria, não encontrei uma designação do modelo de radar que foi desenvolvido para o KF-21, por isso, vou me referir a ele como KF21 AESA. Como se pode notar pela nomenclatura que usei, trata-se de um modelo de varredura eletrônica ativa, como os mais modernos encontrados nos caças de 4º e 5º geração em serviço atualmente. As especificações do desempenho deste radar também não foram divulgadas ainda, mas a julgar pelos padrões encontrados em outras aeronaves de mesma categoria, posso estimar que tenha capacidade de engajamento de alvos múltiplos, algo como, pelo menos 6 alvos simultaneamente, capacidade de interferir nos sensores inimigos, através de redirecionamento de sinais (jammer ativo), e que tenha um alcance de detecção na casa dos 120 a 140 km no modo ar ar.
Rara foto do radar  Hanwha Systems KF21 AESA

Para detecção passiva, o KF-21 usa um sensor de buscar e rastreio por infravermelho IRST desenvolvido pela mesma empresa Hanwha Systems que desenvolveu o radar. Porém, para o IRST a Hanwha recebeu ajuda da Leonardo que forneceu a tecnologia para o seu buscador Skyward, também usado pelo caça SAAB JAS-39 Gripen E que a Força Aérea Brasileira está recebendo atualmente. A versão instalada no KF-21 foi designada Skyward-K. Este sistema permite fazer a busca de alvos aéreos de forma passiva, não emitindo assinatura e podendo ser um recurso muito útil contra aeronaves inimigas que usem tecnologia de invisibilidade ao radar. O dado de alcance desse equipamento, também é numa informação classificada. Porém, dados de modelos análogos, como o Pirate, usado no Typhoon e também desenvolvido pela Leonardo, pode se estimar que o alcance esteja na casa dos 40 a 50 km contra o alvo vindo de frente e cerca de 60 a 70 km contra o alvo visto por trás (as saídas de gases do motor ampliam significativamente a assinatura para este tipo de sensor).
O caça recebeu uma suíte de guerra eletrônica com capacidade de bloquear sinais de RF. Porém os dados relacionados aos demais recursos, naturalmente, é informação também classificada.
Um fato interessante sobre o KF-21 é que já tinha uma versão biplace (foto) projetada. Cada vez menos caças de primeira linha tem recebido uma versão biplace. O F-22 e o F-35 dos Estados Unidos, e o Su-57 da Rússia não tem uma versão biplace.

O arsenal que o KF-21 vai empregar, inicialmente já é bastante variado. O avião conta com 10 estações para cargas externas. São 6 estações fixas nas asas e mais 4 pontos semi-embutidos para mísseis de médio e longo alcance sob a fuselagem.
Para missões de combate ar ar, o KF-21 está equipado com o míssil de curto alcance europeu Iris-T, cujo alcance máximo está em 25 km. O Iris-T é um míssil de 4º geração que opera com seu sensor de busca infravermelha integrado ao capacete HMD do piloto e que pode ser apontado com o movimento do capacete e engajar alvos em alto ângulo fora da visada (90º). O sensor de busca infravermelha somado ao  sistema  de propulsão com vetoração de empuxo, permite ao míssil executar manobras violentas para executar uma curva violenta e correr atrás de seu alvo. Na pratica, trocando em "miúdos", o míssil pode ser lançado contra uma aeronave inimiga que esteja voando ao lado do KF-21 nas posições 3 e 9 horas.
O míssil Iris-T é o armamento de auto defesa padrão que a Coreia do Sul escolheu para ser o armamento padrão do KF-21. 

Para combate além do alcance visual (BVR), o KF-21 usa o moderno míssil Meteor, de longo alcance. Trata-se do míssil mais avançado do mercado no momento. Guiado por radar ativo, permite que o caça  lance o míssil contra um inimigo e, imediatamente, já saia de sua posição para buscar novos alvos ou retornar a base. O Meteor tem alcance estimado em cerca de 200 km. Além desses armamentos europeus, os mísseis norte americanos de médio alcance AIM-120 e o de curto alcance  AIM-9X, também poderão ser empregados no KF-21.
O lote inicial do KF-21 não transporta armas internamente. Os aviões estão sendo entregues com pontos de fixação semi-embutidos para mísseis Meteor (e AIM-120 Amraam) sob a fuselagem e com 6 estações fixas sob as asas

Para missões de ataque conta alvos de superfície, o míssil de cruzeiro Taurus KEPD 350 será usado para destruir alvos de alto valor e reforçados. Este míssil tem alcance aproximadamente de 500 km, transportando uma ogiva penetradora de dois estágios com 480 kg. Seu sistema de guiagem se dá por um complexo sistema que envolve INS, GPS, banco de dados de imagens do terreno e radar altímetro.
Para ataques contra alvos táticos de campo de batalha o míssil norte americano AGM-65 Maverick, amplamente empregado pela força aérea sul coreana em seus F-16, também será empregado pelo KF-21.O Maverick possui versões guiadas por sensor eletro ótico, infravermelho e a laser. Seu alcance está na faixa dos 22 km.
Para as missões antinavio, o míssil AGM-84 Harpoon foi integrado ao KF-21. O míssil, já em uso por outros modelos de caças da aviação de combate sul coreana, possui alcance de 140 km, com guiagem por radar ativo na fase final do engajamento.
Outros armamentos ar superfície estão planejados para serem integrados ao controle de fogo do KF-21. São eles o míssil Brimstone, que pode substituir os Mavericks no futuro. Também o novo míssil SPEAR 3, que pode operar como uma munição vagante e com alcance de 140 km, muito provavelmente será integrado ao caça sul coreano.
As bombas da família MK de queda livre, assim como bombas guiadas da família JDAM e as bombas de fragmentação CBU-87 e 97 estão integradas no modelo. Por ultimo, o KF-21 conta com um armamento orgânico na forma de um canhão de 6 canos rotativos M-61A2 em calibre 20 mm, fabricado pala General Electric e que é amplamente empregado por todos os caças dos Estados Unidos, com exceção do F-35.
Essa ilustração mostra uma configuração para missão de ataque usando duas bombas GBU-32 JDAM, dois mísseis Iris-T na ponta das asas, quatro mísseis Meteor de longo alcance e dois tanques de combustível externos.

O KF-21 foi projetado para entregar um desempenho comparável ao de um caça F-16, no entanto, com tecnologia desenvolvida localmente e com aplicação de soluções de redução de assinatura radar e que, no futuro, terá capacidade de transportar armas internamente, se tornando uma legitima aeronave de 5º geração. A Coreia do Sul vive em constante tensão com seu vizinho comunista, a Coreia do Norte e tem tensões com a China também. Essa situação obrigou o país a investir pesado em tecnologia de defesa, o que resultou em uma das mais completas e bem preparadas forças armadas do mundo.
O KF-21 é o resultado de investimento em pesquisa e desenvolvimento, e de muita coragem da indústria do país em buscar maior autonomia para se defender em um ambiente tão hostil no qual está a Coreia do Sul. O KF-21 terá bom apelo comercial se conseguir ser oferecido com preços menores do que caças como Rafale ou o F-35 tem apresentado. Isso poderá trazer a Coreia do Sul para o disputado mercado de caças de primeira linha dominado por norte americanos, russos e europeus.
As duas versões do KF-21 (monoplace e biplace) voando em formação.

Teste de reabastecimento em voo do KF-21 recebendo combustível de um Airbus A330 MRTT da Força Aérea da Coreia do Sul.

É visível a semelhança do desenho do KF-21 com o F-22 Raptor americano quando visto de alguns ângulos.
           





                  

sábado, 24 de julho de 2021

A seção de infantaria como uma prioridade estratégica nacional

Legionários do 2e REP na cordilheira do Adrar des Ifoghas, no Mali, em 2013.

Pelo Ten-Cel Michel Goya, La Voie de l'Épée, fevereiro de 2015.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 24 de julho de 2021.

Quando examinamos a lista dos 400 soldados "mortos pela a França" em operações por cinquenta anos, vemos que são quase exclusivamente infantaria e sapadores. Na grande maioria dos casos, estes homens foram mortos em combates de amplitude muito limitada por outros “combatentes desembarcados”, sempre irregulares, por disparos de armas leves ou por artefatos explosivos. Essas lutas agora também podem acontecer na França metropolitana.

Notamos também que esses micro-combates têm um impacto estratégico muito maior do que antes na história, com uma assimetria de efeito muito forte dependendo se os soldados franceses tombem neles ou não. No primeiro caso, essas lutas aparecem na mídia na França continental, o que não é necessariamente o caso no segundo. E tão logo essas perdas sejam "importantes", que em termos modernos começa em dois, elas inevitavelmente suscitam questionamentos sobre a eficácia e o andamento da operação em curso, o que nunca deixa de embaraçar em nível político.

Sniper francês do 35e RI com o FR F2.

Pode-se questionar essa hipersensibilidade midiática-política, na maioria das vezes em descompasso com o sentimento de uma opinião pública francesa em geral muito mais resiliente, sem falar na visão do inimigo. Notaremos apenas que isso induz uma relutância em se engajar no terreno, em contato, embora esta ainda seja a única maneira de in fine obter a decisão e a vitória.

A conclusão desta contradição entre a necessidade estratégica de engajamento dos combatentes no terreno (inclusive no território metropolitano), as perdas que isso induz e o constrangimento, também no nível estratégico, que essas próprias perdas causam deveria logicamente fazer desses combatentes desembarcados uma prioridade da defesa nacional. Mas isso está longe de ser o caso.

Panzergrenadiers modernos e antigos.

Desde o fim da Guerra Fria, tivemos total superioridade no ar e sobre os mares, a capacidade de combate de pequenas células táticas terrestres, embora essenciais, quase não mudou nas últimas décadas. Uma patrulha de caças Rafale não arriscaria nada contra dois Focke-Wulf 190 alemães de 1945, uma fragata Aquitaine seria capaz de afundar qualquer cruzador da Kriegsmarine, não é de todo óbvio, entretanto, que uma seção de infantaria francesa certamente conseguiria ganhar de uma seção de panzergrenadiers alemães a partir de 1944. Teríamos alcançado o mesmo desempenho em terra que no céu ou no mar, uma seção de infantaria francesa não teria sido destruída e outra fixada no vale de Uzbin por combatentes rebeldes, certamente se beneficiando da surpresa e superioridade numérica, mas equipado com armas da década de 1960.

Para obter uma superioridade equivalente no combate terrestre, pode-se optar por uma abordagem “pesada” com aumento dos meios engajados, veículos blindados - apoios pesados - proteção individual, no nível mínimo do subgrupamento. Isso obviamente reduz o risco de fracasso e de perdas, mas ao custo de grande dependência de bases e estradas para manobra ou apoio logístico. Essa dependência leva a perdas indiretas por IED ou projéteis, longo planejamento e aumento de custos. Acima de tudo, em um contexto de recursos reduzidos, se for necessário engajar pelo menos um subgrupamento com apoios externos, isso reduz a capacidade de manobra geral francesa a algumas dezenas de peões táticos.

Isso reduz o risco de fracasso ao custo de baixa eficiência. Ao contrário, podemos optar por uma abordagem “ágil” e dar vida aos setores diretamente no terreno e em meio à população. Na verdade, essa abordagem leve é ​​sem dúvida eficaz, conforme evidenciado pelo sucesso do CAP e do contingente australiano no Vietnã ou, mais recentemente, das forças especiais americanas em 2001 no Afeganistão. E o Exército dos EUA em Bagdá em 2007. No entanto, devemos aceitar travar muitas pequenas batalhas e, portanto, inevitavelmente aceitar o risco de perdas.

Reduzir o medo político dessa abordagem ágil significa reduzir o risco de "cisnes negros" e, portanto, aumentar a capacidade de seções isoladas. Quando pudermos engajar em poucas horas quantas seções de infantaria quisermos em qualquer ambiente e contexto, com uma superioridade indiscutível sobre qualquer inimigo local, multiplicaremos de uma só vez a capacidade estratégica francesa.

Militantes da Frente de Libertação da Somália Ocidental brandindo armas obsoletas durante a Guerra do Ogaden, 1977.

Podemos estabelecer como objetivo de estudo que uma seção de infantaria francesa projetada no solo tem, com seus únicos meios, ao mesmo tempo uma altíssima probabilidade de derrotar com perdas muito reduzidas um inimigo irregular equipado com armas leves ex-soviéticas dum volume equivalente ou para resistir face a um inimigo três a quatro vezes superior em número, pelo menos até a chegada de reforços em terra e/ou meios de apoio. O todo deve ser obtido com um investimento financeiro reduzido, digamos 1% da Lei de Programação Militar (para 80% das perdas, lembremo-lo).

Obter tal aumento de produtividade tática supõe jogar com os quatro fatores de qualquer organização - equipamentos, métodos, estruturas e sua cultura (modos de ver as coisas) - lembrando que a modificação de um desses fatores interage com os outros e nem sempre de forma positiva.

1.

Os elementos que se seguem constituem um primeiro esboço e um convite à apresentação de contribuições com vista a uma formalização mais precisa e exitosa. São fruto das experiências que pude realizar em quatro regimentos diferentes e das reflexões de suboficiais e cadetes da 54ª promoção da Escola Militar de Armas Combinadas (École Militaire Interarmes).

Formações de GC no Vietnã do exército e fuzileiros navais americanos e dos ANZACs.
(Arte de Peter Dennis / Vietnam Infantry Tactics)


Em termos de estrutura do grupo de combate, todo o retorno de experiência dos exércitos estrangeiros é consenso sobre o grupo no terreno de nove homens, composto por um chefe de grupo e de duas equipes de 4 (e em 2 binômios). Abaixo, o grupo é muito penalizado pelas perdas, além (o grupo dos fuzileiros navais tem 13 homens), tende a se dividir. Entre as tropas que combatem temos o grupo mais leve e frágil. Mais dois homens no terreno, no entanto, aumentariam a eficiência geral não em 28% (mais dois homens em comparação com sete), mas em quase 40%. Um grande investimento seria que um dos nove homens também fosse um enfermeiro altamente qualificado.

O adensamento do escalão da equipe milita pelo seu comando por um cabo-chefe e até por um sargento. O comando do grupo pode ser exercido por um sargento-chefe. Uma gestão mais experiente seria um investimento com um retorno muito alto.

No nível da seção, experimentei, de 1993 a 1999, uma nova organização da seção com um grupo de apoio de fogo, reagrupando as armas atirando a 600m, e três grupos de assalto equipados simplesmente com FAMAS. O interesse era rentabilizar a utilização das armas "600", utilizando-as no 2º escalão da seção e não no contato imediato do inimigo onde são de pouca utilidade, obtendo-se assim um efeito de massa mas também de combinação (tiros precisos de FR F2, tiro de saturação de Minimi, tiro indireto de LGI).

Metralhadora Minimi com o sistema FÉLIN de tiro de esquina.

O combate desta nova estrutura foi inspirado nos métodos alemães do final de 1918 e da Segunda Guerra Mundial baseados na capacidade de neutralização do grupo de fogo e de detecção-fixação dos grupos de assalto, destruição ou repulsão. por um ou por outro, dependendo do caso. A superioridade de tal estrutura sobre a estrutura do INF 202 foi demonstrada em virtualmente todos os exercícios nos quais o confrontei.

Dentro do envelope regulatório, só é possível formar dois grupos de assalto de 9. Idealmente, um terceiro seria necessário. O aumento de efetivos pode ser compensado por uma redução no grupo de fogo.

Nesse sistema de prioridade "anti-pessoal", o grupo Eryx não existe mais. As peças são relegadas ao setor de apoio da companhia.

2.

Outra maneira, muito simples e novamente amplamente testada com sucesso, consiste em simplificar muito a carga de trabalho mental do chefe do grupo, substituindo as doze listas de verificação diferentes que ele deve conhecer e aplicar a cada caso (DPIF, FFH, MOICP, PMSPCP , HCODF, GDNOF, ODF, IDDOF, PMS, SMEPP, etc.) por apenas uma.

Além da sua memorização ocupar grande parte da instrução em detrimento de outras coisas, essas ordens "recitadas ao pé da letra" têm a grande falha de desacelerar consideravelmente o grupo. Um experimento mostrou que se esses métodos forem estritamente aplicados em um enfrentamento com o inimigo, leva entre 1:30min  e 2min para que o grupo em contato dispare seu primeiro tiro. É claro que em um combate real, mesmo em um exercício um tanto realista, todos esses procedimentos explodem. Na melhor das hipóteses, o sargento usa procedimentos simplificados de sua invenção, na pior, paródias de ordens (em outras palavras, gritos variados).

Soldados de infantaria dos regimentos The Cameron Highlanders of Ottawa (Duke of Edimburgh's Own) e Governor General’s Foot Guards participam de uma instrução de fogo e movimento com tiro real em Petawawa, no Canadá, de 21 a 23 de outubro de 2016.

Para remediar este defeito e inspirando-me nos métodos usados ​​em veículos blindados, experimentei (durante quinze anos) a substituição de todos os quadros de ordem por um quadro de ordem universal denominado: OPAC, para Objetivo (alcançar, ver ou atirar), Posição (se não for óbvio e principalmente pelo uso do princípio "período + distância"), Ação (o que fazemos ou o que faz o objetivo?).

Este sistema vocal foi duplicado por um sistema de gestos (era possível fazer exercícios inteiros sem dizer uma palavra) e também implicou uma redefinição do papel dos líderes de equipe, autônomos na escolha de sua manobra (o que aliviou novamente o chefe  do grupo). Um pedido OPAC era parecido com este:
  • Chefe do grupo: “Alfa! Bravo!" (o chefe do grupo chama seus líderes de equipe pelo nome ou um código);
  • Chefe da equipe 1: "Alfa!" (= "Estou pronto para receber a ordem");
  • Chefe do grupo: “aqui (mostra a zona a ser ocupada) (Posição-Objetivo); em apoio repouso voltado para a rua (Ação) (mostra a área a ser monitorada)”;
  • Chefe de equipe: "Alfa!"(= Eu entendi, eu executo a missão e coloco cada um dos meus homens com uma ordem OPAC);
  • Chefe do grupo: “Bravo! "
  • Chefe da equipe 2: "Bravo!"
  • Chefe do grupo: “A encruzilhada (O), meio-dia, 100 (P), para a frente! (AC)"
  • Chefe da equipe 2: "Bravo! "(= Entendi, estou cumprindo a missão escolhendo uma formação (linha ou coluna) e um modo de movimento (caminhar-lance-apoio mútuo).
Este sistema possibilitou uma adaptação rápida a todas as situações, mesmo as mais confusas, sem perder tempo a tentar recordar o quadro regulamentar, proporcionou um significativo ganho de tempo para reflexão do chefe do grupo, facilita a substituição do chefe do grupo por um chefe de equipe e o chefe de equipe por um granadeiro-volteador porque os procedimentos eram os mesmos.

Fuzileiro-metralhador e granadeiro-volteador durante combate urbano no Mali.

Nos experimentos realizados, o método OPAC deu ao grupo de combate um ciclo OODA (observação-orientação-decisão-ação) muito mais rápido do que o de um grupo INF202. De fato, em uma combate de encontro, ele venceu quase que sistematicamente (em 80% dos casos) o grupo INF 202. A propósito, demorei duas horas, relógio na mão, para ensinar todos esses métodos para um grupo de conscritos melanésios, mal saídos da escola, e para transformá-los em um grupo de combate manobrando mais rápido e melhor do que todos os grupos "antigos".

Note-se que todas as propostas anteriores, que, mais uma vez, comprovaram a sua capacidade de desenvolver as capacidades da seção, não têm custo financeiro. Elas podem até representar uma fonte de economia, pois as habilidades associadas requerem menos tempo de aprendizagem do que os métodos regulamentares.

3.

O grupo de apoio seria mais poderoso e eficaz se:
  • Os FR F2 foram substituídos pelos modernos fuzis HK 417 com luneta Schmidt & Bender adaptada (e não a luneta do FR F2 em fuzis HK 417 como era feito no Afeganistão).
  • Os Minimi eram no calibre 7,62mm, uma munição mais potente e robusta (não desvia tão facilmente em um obstáculo) e dissuasiva que o 5,56mm.
  • Os LGI, em última análise, ineficazes (mesmo que apenas pelos problemas de coordenação que ocasiona com as aeronaves) por lança-foguetes de 89mm com munição anti-pessoal.

Soldado norueguês com o HK 417 e luneta Schmidt & Bender.

Luneta Schmidt & Bender 5-22x50.

Nos grupos de assalto, o sistema FÉLIN permitiu aumentar de forma muito significativa, através dos seus auxiliares de pontaria (mira Eotech, lunetas IL e IR), o alcance e a precisão do tiro do FAMAS, especialmente à noite. O novo cano do FAMAS permite que qualquer tipo de cartucho seja disparado com igual precisão. A visão remota às vezes é útil em combate em localidade, mas não é necessariamente útil equipar todos com ela. A substituição do FAMAS por um fuzil de assalto moderno compatível com o sistema FÉLIN permite que se considere ainda mais poder de fogo.

O carregador do FAMAS, frágil e limitado a 25 tiros, deveria na verdade ter sido substituído há muito tempo por um carregador de pelo menos 30 tiros. Este carregador poderia ser vantajosamente substituído por um carregador de plástico transparente (muitos soldados aproveitam os intervalos para substituir o carregador aberto por um carregador completo para ter certeza de não ficar "seco" no próximo tiro; a zona de combate está, portanto, cheia de carregadores meio cheios). Reduzindo assim a fonte de muitos incidentes de tiro.

A função de lança-granadas sob a arma tornaria permitiria muito mais precisão do que com uma granada de fuzil, mas também marcar posições inimigas para apoio aéreo muito rapidamente.

Seção de infantaria francesa com o sistema FÉLIN.

Na dupla dotação, pode-se substituir vantajosamente a baioneta, pouco útil, por uma arma de porte (como o FN Five seveN 5.7mm por exemplo) permitindo enfrentar os incidentes de tiro e mais prático em combate em localidade, com munições que permitam realizar tiros sem arriscar danos colaterais. Certificando-se também de que o grupo de combate tenha granadas de efeito especial (flash, atordoamento, etc.).

As conexões dentro do grupo são muito mais garantidas com a rede de informações do soldado de infantaria (réseau d'information du fantassinRIF), com fones de ouvido osteofônicos, do que com o sistema PRI, que não é muito discreto e pouco prático. O chefe do grupo também deve estar equipado com o sistema 328.

A interface homem-máquina (interface homme-machine, IHM), um tablet de situação tática, complexo de usar e muito demorado, se for útil para o chefe de seção, na verdade não é usado pelos chefes de grupo. A digitalização em nível de grupo está se revelando uma ideia ruim (e cara). Apenas os chefes de grupo e o chefes de seção realmente precisam de um GPS. Um laser infravermelho seria muito útil para designar alvos ou guiar tiros.


Em termos de proteção, o capacete pesado do tipo FÉLIN é eficaz e deve ser generalizado, com uma lâmpada IR do tipo Guardian e um suporte de montagem para a ótica noturna, mas também uma lâmpada auxiliar (branca, IR, vermelha). Os coletes de proteção, por outro lado, são muito volumosos. Como agora parece inconcebível lutar sem colete de proteção, sua redução de peso e ergonomia devem ser a prioridade. Já existem modelos HPC (Hard Plate Carrier / Porta-Placas Pesadas) com placas de proteção de última geração, mais leves e que permitem o transporte de oito carregadores.

Também é necessário repensar bolsas e roupas (e seu processo de aquisição). Substituir as bolsas F1/2/3 ou TTA por equipamentos úteis, como bolsas de montanha de grande capacidade ou bolsas camelback BFM 500.

4.

E então há o ambiente. A melhor maneira de aumentar significativamente as habilidades táticas coletivas ainda é manter a estabilidade das seções. No final dos anos 1970, o general americano Don Starry assistiu a uma demonstração de tiro de uma unidade israelense (da reserva) de tanques. Espantado com a eficiência do tiro de uma das tripulações, ele perguntou quantos obuses eles eram permitidos disparar por ano para serem tão bons. Os tanquistas responderam que seis a oito eram suficientes porque estavam juntos no mesmo tanque há quinze anos. Homens mantidos juntos em unidades estáveis ​​por anos eventualmente criam obrigações mútuas e habilidades relacionadas. De minha parte, em onze anos vivendo em companhia da infantaria, tive a sensação de um recomeço eterno devido à insuficiência crônica de pessoal e à instabilidade das seções. Em três anos liderando uma seção do 21º Regimento de Infantaria de Fuzileiros Navais (21e Régiment d’infanterie de marine, 21e RIMa), comandei sessenta e três homens diferentes para uma força média de trinta. Esta mobilidade é tanto mais prejudicial quanto os equipamentos individuais são cada vez mais personalizados e sempre fixos. Talvez devêssemos considerar mutações com equipamentos de combate.


Esforçamo-nos para ter seções com pessoal completo (removendo aqueles que estão em reciclagem, por exemplo); desacelerar o sistema de transferência de quadros, herdado dos dias do serviço nacional obrigatório, para manter quadros e soldados juntos por mais tempo; parar de ter uma estrutura de seção diferente para cada missão e veremos em um único golpe as habilidades da nossa infantaria aumentando sem grande despesa.

Existem outros caminhos, tanto culturais (desenvolver uma verdadeira cultura de treinamento permanente até o nível mais baixo, em todos os momentos e em todos os lugares) e organizacionais, ao afrouxar o controle dos regulamentos acumulados ao longo do tempo em matérias de segurança, ao eliminar certas missões pouco úteis, ou devolvendo os veículos táticos nos regimentos (o que significa ter resolvido o problema de sua manutenção). Em geral, tudo o que possa contribuir para a estabilidade das unidades, para a facilitação do dia a dia e para a retenção, contribui indiretamente para a elevação do nível operacional.

Ataque da infantaria francesa na Frente Ocidental, 1916-18.
Moderna, interarmas e flexível.
(Arte de Giuseppe Rava / French Poilu 1914-18)

A seção de infantaria francesa tomou sua forma moderna nos anos 1916-1918. Ela é então equipada com seis fuzis-metralhadores e quatro a seis lança-granadas e seus volteadores já podem ser equipados com fuzis semi-automáticos, alguns com luneta. Esta diferenciação induz uma interdependência dos homens que aumenta a resistência psicológica superior àquela dos homens-baionetas alinhados de 1914. Acima de tudo, ela pode manobrar de outra forma que não em linha a um passo de intervalo graças aos seus grupos de combate autônomos. O salto qualitativo em poucos anos é enorme.

A infantaria então congelou, renovando o armamento muito tarde, com exceção do excelente FM 24/29. Apesar do equipamento americano, a seção francesa subsequentemente não teve superioridade material sobre seus adversários até a guerra da Argélia. Nesta guerra de infantaria, a França está adquirindo uma nova geração francesa de armamentos individuais (submetralhadora MAT 49, fuzil semi-automático MAS 49-56, fuzil-metralhador AA52) que equipa principalmente os regimentos paraquedistas. Estas estão na origem de um novo “sistema de infantaria” que associa a mobilidade (com não mais de 20kg de equipamento), a procura do combate corpo-a-corpo e a estreita associação com os meios de terceira dimensão para o transporte e apoio de fogo. A infantaria de assalto francesa era então a melhor do mundo, infligindo perdas em média vinte vezes maiores que as suas. Esta também funciona porque aceitava-se o preço do sangue. Entre cem e duzentos homens são mortos em cada regimento paraquedista durante a Guerra da Argélia.

Paras do 1er RCP saltam de um helicóptero durante a Guerra da Argélia.

A terceira ruptura veio na década de 1980. Primeiro, houve a adoção do FAMAS, que foi mais um tapa-buraco do que uma revolução, já que fomos os últimos a nos equiparmos com um fuzil de assalto (no final dos anos 1970 somos forçados a comprar fuzis SIG 540 para não sermos ridicularizados no Líbano ou no Chade). O verdadeiro esforço está no armamento antitanque, com a adoção de modernos lança-foguetes até o terrível RAC 112 e principalmente o lançador de mísseis Eryx, em tese o combate da seção ainda está organizado. O problema é que essa arma chega aos regimentos após o desaparecimento da ameaça que deveria conter. Mais de 600 milhões de euros são, portanto, gastos em um sistema que, em última análise, é de pouca utilidade.

Com as difíceis operações da década de 1990, a infantaria adotou uma série de equipamentos de proteção (capacetes, coletes à prova de balas) e alguns armamentos (VAB com canhão de 20mm, fuzil Mac Millan, etc.), depois uma série de meios optrônicos e de transmissão, ao menos para se distinguir da competição de "unidades em marcha" de outras armas. O acúmulo dessas improvisações é muito útil, mas também resulta em sobrecarga e inconsistências. O colete à prova de balas, por exemplo, projetado para uma missão de sentinela estática é muito volumoso em uma missão de assalto. O programa FÉLIN, distribuído ao longo de vinte anos, visa racionalizar tudo isso, agregando as contribuições das novas tecnologias de informação. No entanto, isso não resolve o problema fundamental da carga do soldado de infantaria.

Carga de baioneta de uma companhia francesa durante as grandes manobras de 1913.

Quando fazemos um balanço, percebemos que o desenvolvimento da seção de infantaria raramente foi uma prioridade, embora tenha sido de longe o "sistema tático" mais procurado e mais importante nas guerras francesas por cem anos. Essa falta de interesse pode ser explicada em primeiro lugar por um certo desprezo por aqueles que parecem ser os mais simples dos soldados. A seção de 1918 poderia ter existido já em 1914 porque todos os armamentos já existiam pelo menos no estado de protótipos. Não foi esse o caso porque se considerou que o soldado francês desperdiçaria as munições se equipado com armas automáticas. Em seguida, foram necessários três anos de guerra para admitir que um sargento pudesse tomar decisões táticas. Não é certo que esta subestimação, senão este desprezo com profundas raízes históricas, tenha desaparecido por completo.

Depois do desprezo humano, devemos adicionar o desprezo industrial. Quanto vale essa montagem de pequenas armas e equipamentos contra um tanque de guerra, um caça-bombardeiro ou um porta-aviões? Como essas pequenas e dispersas indústrias pesam contra os gigantes da aviação ou da construção naval? Elas têm pelo menos um jornal diário para defender seus interesses e os de seus amigos? Os lucros obtidos nas costas da infantaria são, em última análise, bastante baixos.

Na verdade, só se interessa pela infantaria quando os infantes diminuem em número.


Bibliografia recomendada:

A Infantaria Ataca.
Erwin Rommel.

Leitura recomendada:





Tiro em Cobertura Rodesiano15 de abril de 2020.