sábado, 26 de dezembro de 2020

VÍDEO: Veterano descreve matar um inimigo com uma baioneta

Visão dramatizada de um combate corpo-a-corpo entre franceses e alemães em uma trincheira.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de dezembro de 2002.

Stefan Westmann, um cabo da 29ª Divisão de Infantaria Alemã na Primeira Guerra Mundial, descreve o ato de matar um soldado francês (também um cabo) com uma baioneta. Ele está se lembrando dos eventos de um ataque em 1915 por sua unidade, o Infanterie Regiment Nr. 113, contra as posições francesas ao sul do Canal d’Aire em La Bassée, França. Filmado em 1963.

Stephen Kurt Westmann, um berlinense nascido em 1893 e que morreu em 1964, escreveu suas memórias com o título "Surgeon with the Kaiser’s Army" (Cirurgião com o Exército do Kaiser), que foram reimpressas em 2015.

Transcrição:

"Um dia, recebemos ordens para assaltar uma posição francesa. Entramos, e meus camaradas caíram à direita e à esquerda de mim. Mas então fui confrontado por um cabo francês. Ele com a baioneta em punho e eu com a minha baioneta em punho. Por um momento, senti o medo da morte. E em uma fração de segundo percebi que ele estava atrás da minha vida exatamente como eu estava atrás da dele. Eu fui mais rápido do que ele. Aparei seu fuzil fora do caminho e trespassei minha baioneta em seu peito. Ele caiu, colocou a mão no lugar onde eu o havia atingido, e então estoquei novamente. O sangue saiu da sua boca e ele morreu.

Eu me senti fisicamente doente. Quase vomitei. Meus joelhos tremiam e eu estava, francamente, com vergonha de mim mesmo. Meus camaradas - eu era cabo naquela época - não se incomodaram absolutamente com o que acontecera. Um deles se gabou de ter matado um poilu [apelido do soldado francês] com a coronha do seu fuzil. Outro estrangulou um capitão, um capitão francês. Um terceiro havia atingido alguém na cabeça com sua pá. E eles eram homens comuns como eu. Um deles era condutor de bonde, outro um viajante comercial, dois eram estudantes, os demais eram trabalhadores agrícolas. Pessoas comuns que nunca pensariam em fazer mal a ninguém. Como é que eles eram tão cruéis?

Lembrei então que nos diziam que o bom soldado mata sem pensar no adversário como ser humano. No momento em que ele vê nele um semelhante, ele não é mais um bom soldado. Mas eu tinha, na minha frente, o... homem morto, o soldado francês morto... e como eu gostaria que ele tivesse levantado a mão. Eu teria apertado a mão dele e seríamos melhores amigos, porque ele não era nada, como eu, mais que um pobre menino que teve que lutar, que teve que avançar com as armas mais cruéis contra um homem que não tinha nada contra ele pessoalmente, que apenas vestia o uniforme de outra nação, que falava outra língua, mas um homem que tinha pai e mãe, e talvez uma família, e assim eu senti.

Acordei de noite às vezes, encharcado de suor, porque via os olhos do meu adversário caído, do inimigo, e eu tentava me convencer, o que teria acontecido comigo se eu não tivesse sido mais rápido que ele? O que teria acontecido comigo se eu não tivesse enfiado minha baioneta primeiro em sua barriga?

O que era isso que nós, soldados, nos apunhalávamos, estrangulávamos uns aos outros, nos atacávamos como cães loucos? O que era isso que nós, que não tínhamos nada contra eles pessoalmente, lutávamos com eles até o fim e a morte? Éramos pessoas civilizadas, afinal. Mas eu senti que a cultura da qual tanto nos gabávamos é apenas um verniz muito fino o qual soltou-se no momento em que entramos em contato com coisas cruéis como a guerra real.

Atirar um no outro à distância, lançar bombas, é algo impessoal. Mas ver o branco nos olhos um do outro e depois correr com uma baioneta contra um homem, era contra a minha concepção e contra o meu sentimento interior.

Mais alguma coisa?"

O entrevistador responde "Isso foi lindo" e diz "corta" para o câmera.

Bibliografia recomendada:

Surgeon with the Kaiser's Army.
Stephan Kurt Westmann.

Leitura recomendada:

PINTURA: Ataque à baioneta, 191523 de fevereiro de 2020.

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