quarta-feira, 25 de março de 2020

Por que Moçambique está terceirizando a contra-insurgência para a Rússia


Por Andrew McGregor, The Jamestown Foundation, 29 de outubro de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 24 de março de 2020.

O relacionamento histórico

Uma nova ofensiva do governo na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é a mais recente tentativa de eliminar insurgentes islâmicos sombrios em uma região cujas reservas de energia inexploradas podem reverter os infortúnios econômicos do país e os danos infligidos por décadas de guerra civil e repetidas insurgências (Agência de Informação de Moçambique, 21 de outubro). Sem sucesso nesses esforços nos últimos dois anos, agora há relatos de que Moçambique recorreu à Rússia para obter ajuda militar (ver EDM, 15 de outubro). Mas por que a Rússia, e o que Moscou esperaria em troca?

Avião de transporte russo Antonov 124 em Nacala, Moçambique, em setembro de 2019.

A chegada do explorador português Vasco da Gama em 1498 iniciou uma colonização secular de um vasto trato do sudeste da África que passou a ser conhecido como Moçambique. A resistência moderna aos portugueses começou com a formação da Frente Nacional de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em 1962. O primeiro ataque da FRELIMO a um posto português ocorreu em Cabo Delgado em 1964. As facções marxista-leninistas pró-soviéticas consolidaram seu controle da FRELIMO no final dos anos 60, como uma onda de mortes e assassinatos misteriosos, eliminou os líderes nacionalistas. Isso permitiu o surgimento do linha-dura marxista-leninista Samora Machel como comandante militar da FRELIMO.

Um soldado moçambicano em uma cidade no norte de Moçambique afetada pela insurgência em andamento.

Em 1972, a FRELIMO estava sendo abastecida com armas de Moscou e Pequim. Isso permitiu que Lisboa justificasse sua campanha contra os guerrilheiros, insistindo que eles eram controlados pela União Soviética. O marxismo era, de muitas maneiras, inadequado para Moçambique; a educação das populações nativas nunca foi um ponto forte do colonialismo português e, com o trabalho mais qualificado sendo realizado pelos colonizadores portugueses, simplesmente não havia classe operária a mobilizar*. Assim, o novo estado socialista que emergiu com independência em 1975 foi deixado aberto à oposição armada antimarxista da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), apoiada pelos estados ferozmente anticomunistas da Rodésia e da África do Sul. O fraco desempenho da FRELIMO contra a RENAMO mais tarde levou a uma grande intervenção militar do marxista Zimbábue (antiga Rodésia) para salvar o regime da FRELIMO.

*Nota do Tradutor: Já nos anos 60 os moçambicanos eram treinados pelos chineses maoístas que pregavam a mobilização dos camponeses como o elemento principal revolucionário, e baseavam sua estratégia na guerra de mobilização popular, a mesma instrução que a FRELIMO passava para o ZANLA operando na antiga Rodésia.

Estátua de Vasco da Gama na praça em frente ao antigo Palácio dos Capitães-Generais, na Ilha de Moçambique, uma pequena ilha de coral na entrada da Baía de Mossuril, na costa de Nampula.

A partida por atacado dos portugueses após a independência deixou a FRELIMO desesperada por assistência externa. A independência também trouxe uma mudança importante na abordagem militar da FRELIMO. Já não travando uma guerra de guerrilha, a FRELIMO precisava de armas pesadas, sistemas de defesa aérea e treinamento em táticas convencionais para evitar incursões dos militares rodesianos e sul-africanos. Incapaz de obter esse apoio da República Popular da China, o partido procurou fontes soviéticas, cubanas e da Alemanha Oriental, com milhares de conselheiros militares chegando para treinar o exército moçambicano e fornecer segurança ao presidente. As armas soviéticas, incluindo 24 caças a jato MiG 17 da época da Guerra da Coréia, pilotados por cubanos, tendiam a ser material soviético ultrapassado, para grande decepção dos líderes da FRELIMO. Isso encorajou um ceticismo persistente na liderança da FRELIMO em relação à profundidade do compromisso soviético com um Moçambique socialista.

Desembarque de um dos três helicópteros russos em Nacala, em setembro de 2019.

Em março de 1977, Machel assinou um Tratado de Amizade de 20 anos com a União Soviética. Como parte de sua luta da Guerra Fria com o Ocidente, os soviéticos encaravam Moçambique como um ativo estratégico importante, com portos de água quente e fácil acesso ao litoral leste da África e ao Oceano Índico. No entanto, a FRELIMO trabalhou duro para evitar cortar todos os laços com o Ocidente. Como explicou um dos principais membros da FRELIMO (marxista de linha-dura Marcelino dos Santos): “Não lutamos por quinze anos para nos libertar para nos tornar o peão de mais uma potência estrangeira” (Allen Isaacman e Barbara Isaacman, Moçambique: Do Colonialismo à Revolução, 1900-1982, Hampshire, Inglaterra, 1983, p. 171).

Fidel Castro e Samora Machel se encontram em 1980.
Fidel era chamado de herói do pan-africanismo socialista.

Em 1980, Moçambique abriu uma embaixada em Moscou, apenas a segunda embaixada de Moçambique em um país não-africano (Lisboa sendo a primeira). No mesmo ano, Machel decretou que todos os oficiais da FRELIMO deviam ser comunistas. Após um ousado ataque sul-africano a uma base do Congresso Nacional Africano nos arredores de Maputo, em janeiro de 1981, os navios de guerra soviéticos chegaram aos portos moçambicanos de Maputo e Beira com um aviso de represálias por novos ataques (CSM, 24 de fevereiro de 1981). No entanto, Moçambique permaneceu cauteloso em se comprometer com o apoio total aos objetivos da política externa soviética. A pressão soviética para estabelecer uma nova base naval no arquipélago de Bazaruto, em Moçambique, foi firmemente rejeitada.

Foto emblemática da intervenção cubana na África: soldados cubanos e angolanos na Batalha de Cuito Cuanavale, 1988.

Em meados da década de 1980, as relações com Cuba estavam em declínio e as intenções soviéticas eram vistas com maior suspeita, em parte devido às intrigas soviéticas em Angola (outra ex-colônia portuguesa) e à morte de Machel em uma aeronave Tupolov pilotada pelos soviéticos em outubro de 1986 (CSIS Africa Notes, 28 de dezembro de 1987). Enfrentando pressões financeiras em outros lugares, os soviéticos começaram a se afastar de seu caro compromisso com a FRELIMO, mesmo quando o Reino Unido e os Estados Unidos entraram com apoio militar e econômico na guerra contra a RENAMO.


Tripulação cubana na Batalha de Cuito Cuanavale, em 1988; a maior batalha de tanques na África após a Segunda Guerra Mundial.

Atualmente liderada por Ossufo Momade, a RENAMO encerrou sua longa insurgência assinando um Acordo de Paz e Reconciliação Nacional em Maputo em agosto de 2019 (Clubofmozambique.com, 21 de agosto de 2019), embora o movimento ainda não tenha renunciado a todas as armas, conforme exigido no acordo. Embora isso tenha trazido uma pausa bem-vinda à aparentemente interminável guerra interna de Moçambique, uma nova e mais misteriosa insurgência estava surgindo no norte do país simultaneamente com a descoberta de enormes depósitos de gás natural na região pouco conhecida.


Tenente Milagros Katrina Soto (centro) e outras integrantes do Regimento Feminino de Artilharia Anti-Aérea do exército cubano em Angola.

A maioria da minoria muçulmana de Moçambique vive em Cabo Delgado, especialmente entre o povo Makua e a cultura suaíli da costa. O sufismo moderado, ao invés do salafismo radical, é a linha dominante do culto islâmico. Os portugueses fizeram do catolicismo romano a religião oficial da colônia, mas, durante a guerra de independência (1964–1974), Portugal se acomodou mais ao Islã para impedir que os muçulmanos se alinhassem aos rebeldes seculares. O estado marxista pós-independência era menos complacente - Machel sempre usava seus sapatos ao entrar em uma mesquita e certa vez informou a uma reunião de muçulmanos que "Deus é um porco" (Allen Isaacman e Barbara Isaacman, Moçambique: Do Colonialismo à Revolução, 1900–1982 , Hampshire, Inglaterra, 1983, p. 50). Os muçulmanos foram cada vez mais tratados como cidadãos de segunda classe, e a Frente anti-FRELIMO Cabo Delgado lançou uma insurgência de curta duração e de baixa intensidade logo após a independência.

Ilustração "Comerciantes de escravos vingando suas perdas", de 1874, mostrando comerciantes de escravos árabes-suaílis e seus cativos africano no rio Rovuma, em Moçambique. O comerciante está matando um escravo não agüentava mais andar.

A tranquila pobreza de Cabo Delgado foi interrompida pela descoberta offshore de vastos campos de gás natural pela empresa de energia norte-americana Anadarko em 2010. Outras explorações revelaram o que poderia ser a terceira maior reserva de gás natural do mundo (Eia.gov, maio de 2018). A riqueza recém-descoberta atraiu novos insurgentes, e um grupo anteriormente desconhecido que se dizia islâmico lançou seu primeiro ataque a civis na região em outubro de 2017, matando 40 pessoas (Daily Maverick, 27 de outubro de 2017).

Esse novo grupo terrorista se autodenominava Ahlu Sunna wa'l-Jama'a (ASJ, também conhecido como Ansar al-Sunna), embora seja popularmente conhecido como "al-Shabaab", apesar de não ter aparente ligação com o movimento islâmico somali de mesmo nome. Desde então, o grupo realizou várias atrocidades contra a população civil. Em um caso recente, a responsabilidade foi assumida pela organização do Estado Islâmico (Sábado, 29 de setembro de 2019).

Empréstimos ocultos e bases navais
(4 de novembro de 2019, tradução em 25 de março de 2020)

Petroleiro entrando no porto de Nacala, Moçambique.

No coração do relacionamento revigorado de Moçambique com Moscou (ver EDM, 29 de outubro), está um escândalo financeiro que quase arruinou o país. Especificamente, elementos corruptos do governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE, agência de inteligência de Moçambique) secretamente conseguiram US$ 2 bilhões em empréstimos de bancos comerciais estrangeiros para três empresas estatais empresas sem aprovação parlamentar em 2013-2014. Garantidos pelo governo, foram concedidos empréstimos do Banco VTB e do Credit Suisse da Rússia para o EMATUM, Proindicus e o Mozambique Asset Management (Gestão de Ativos do Moçambique, MAM). O escândalo minou severamente o crescimento da moeda e do PIB de Moçambique, bem como resultou na imposição de novas condições estritas a mais assistência do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Também desencorajou novos investimentos estrangeiros, enquanto Maputo lutava para encontrar até US$ 2 bilhões para financiar sua participação no desenvolvimento de reservas do LNG em Cabo Delgado (Macauhub.com.mo, 18 de outubro). O VTB Bank de Moscou está exigindo o pagamento de seu empréstimo (mais de US$ 500 milhões) até o final do ano (Clubofmozambique.com, 9 de setembro de 2019).

Erik Prince, atual chefe do Frontier Resource Group, Lancaster Six Group e fundador da antiga Blackwater.

Como as forças de segurança do estado de Moçambique - as Forças de Defesa e Segurança (FDS) - provaram ser incapazes de lidar com os terroristas de armas leves no norte, Maputo começou a procurar alternativas militares. Inicialmente, a empresa de segurança privada Lancaster Six Group (L6G) de Erik Prince, sediada em Dubai, estava em concorrência com a empresa militar privada Wagner (PMC) da Rússia e a International Special Tasks, Training, Equipment and Protection International (STTEP) do sul-africano Eeben Barlow por contratos de segurança em Cabo Delgado, com Prince prometendo eliminar os terroristas em três meses em troca de uma parcela das receitas de petróleo e gás natural (Issafrica.org, 20 de novembro de 2018; Macauhub.com.mo, 18 de outubro de 2019). Prince também indicou estar interessado em formar parcerias ou fazer investimentos nas três empresas estatais envolvidas no escândalo de empréstimos ocultos em negócios que devem levar a operações de segurança marítima na bacia do Rovuma, rica em gás (Deutsche Welle - Português Para África, 4 de junho de 2019).

Sergei Lavrov e o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, apertam as mãos durante uma reunião em Maputo, em 7 de março de 2018.

Em 20 de agosto, a Rússia perdôou 95% da dívida de Moçambique com a Federação Russa durante um fórum de negócios russo-moçambicano. Embora o fórum tenha incentivado o crescimento contínuo do comércio bilateral, alguns empresários moçambicanos expressaram preocupação com as conseqüências de lidar com a Rússia, enquanto esta permanece sob sanções ocidentais pela anexação da Criméia (Agência de Informação de Moçambique, 22 de agosto de 2019). O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, também incentivou o Gazprombank da Rússia (especializado em financiar projetos de petróleo e gás) a ajudar a investir em projetos de gás natural líquido (LNG) na Bacia do Rovuma (Agência de Informação de Moçambique, 22 de agosto de 2019). A Rosneft, uma empresa pública de energia russa, possui três blocos de exploração licenciados em Moçambique e está buscando mais.

Prince e Barlow perderam na competição de segurança; no final de setembro de 2019, surgiram relatos de russos armados, possivelmente da PMC Wagner, chegando nas cidades do norte de Nacala e Nampula (ambos na província de Nampula, imediatamente ao sul de Cabo Delgado), supostamente acompanhados por drones e helicópteros (ver EDM, 15 de outubro de 2019) Os relatórios seguiram a admissão do Ministro de Relações Exteriores e Cooperação de Moçambique de que a Rússia estava fornecendo equipamento militar para uso em Cabo Delgado (Noticias ao Minuto, 5 de outubro de 2019). Outro relatório sugeria que os homens eram regulares russos, 160 em número, que pretendiam criar uma base de inteligência militar móvel (GRU) e uma base naval russa permanente (Observador, 28 de setembro de 2019). A embaixada russa em Maputo negou a presença de militares russos em Moçambique (Sapo 24, 3 de outubro de 2019).

Os presidentes de Moçambique e da Rússia, Filipe Nyusi e Vladimir Putin, em Moscou, em 22 de agosto de 2019.

O embaixador da Rússia na África do Sul, Ilya Rogachev, defendeu recentemente o uso de PMCs russos na África, alegando que os críticos vêem a Rússia "através de olhos coloniais", negligenciando a percepção de Moscou dos estados africanos como "parceiros iguais e não inferiores". Rogachev acrescentou que “as empresas militares privadas não são necessariamente ruins. Acho que depende dos objetivos atribuídos a essas empresas” (Daily Maverick, 17 de outubro de 2019).

Embora Cabo Delgado esteja profundamente empobrecido, o crime organizado realiza operações lucrativas por lá, tráfico de heroína, madeira, animais selvagens e rubis (Globalinitiative.net, outubro de 2018; Enact Africa, 2 de julho de 2018). Por enquanto, ainda não está claro se os ataques terroristas na região estão mais intimamente ligados aos islamitas radicais do norte ou ao crime organizado usando o islamismo como disfarce. A intenção poderia ser criar insegurança suficiente para atrasar o desenvolvimento de um setor legítimo que pudesse ameaçar suas operações. Foi sugerido em outro lugar que a insurgência foi projetada para facilitar a entrada de empresas militares privadas na região e permitir a exploração dos recursos energéticos locais (Deutsche Welle - Português Para África, 13 de junho de 2018). Jornalistas locais que tentam investigar a violência enfrentaram intimidação, detenção e até tortura das forças de segurança do governo (Mg.co.za, 25 de abril de 2019).

Bandeira de Moçambique, o fuzil AK-47 cruzado com a enxada à frente do livro mostra a luta armada do campesinato sob o socialismo.

Moscou e Maputo assinaram um acordo simplificando a entrada de navios russos nos portos de Moçambique e um memorando sobre cooperação militar naval, em 4 de abril de 2019. O ministro da Defesa de Moçambique, Athanasio Salvador Mtumuke, observou que “nossa bandeira nacional representa o fuzil Kalashnikov, que simboliza as relações profundas entre nossos países na área militar...” (Sputnik Brasil, 5 de abril de 2018).

Alexander Surikov, embaixador de Moscou em Moçambique, enfatizou a disponibilidade das empresas de energia russas para desenvolverem reservas de gás natural no norte de Moçambique, acrescentando: “Nós fornecemos assistência [militar] a elas sem ameaçar seus vizinhos e sem sacudir o sabre, apenas fazemos o que nossos parceiros em Moçambique pedem” (TASS, 25 de outubro de 2019).

Moscou, sem dúvida, tem olhos no porto de Nacala, o porto mais profundo da África Austral, que fica a cerca de 320 quilômetros ao sul da Bacia do Rovuma. A cidade moçambicana de Palma, perto da fronteira com a Tanzânia, está programada para ser o principal porto da indústria LNG de Rovuma, mas é improvável que sirva a um objetivo duplo como base naval russa. Palma sofreu ataques dos insurgentes. Além disso, manifestações locais pedindo a interrupção do desenvolvimento relacionado à LNG até que a segurança seja estabelecida foram dispersadas por tiros da polícia (Agência de Informação de Moçambique, 14 de janeiro de 2019). O vizinho mais poderoso de Moçambique, a África do Sul, realizará exercícios navais conjuntos pela primeira vez com as marinhas da Rússia e da China em novembro.

A fragata chinesa Weifang na Cidade do Cabo, África do Sul, para as manobras conjuntas entre a África do Sul, a China e a Rússia, novembro de 2019.

Além do apoio militar, o governo da FRELIMO está buscando fortes aliados ao combater a insatisfação interna com a fraude eleitoral, o crime crescente, o terrorismo emergente, os desafios políticos internos e a corrupção desenfreada. Embora a Rússia possa se oferecer como solução para alguns desses problemas, a questão é se Maputo pode superar sua reticência tradicional de se envolver de todo o coração com as ambições regionais de Moscou. A pressão financeira e a atração de riquezas energéticas podem ser suficientes para permitir à Rússia estabelecer sua tão procurada base naval em Moçambique.


Leituras recomendadas:





domingo, 22 de março de 2020

NIMDA ACHZARIT - A couraça israelense na mobilidade da infantaria.

Nimda Achzarit




FICHA TÉCNICA 
Velocidade máxima: 55 Km/h.
Alcance máximo: 600 Km.
Motor: Detroit Diesel 8V-71 TTA com 650 hp de potência.
Peso: 44 Toneladas (pronto para combate)
Altura: 2 m.
Comprimento: 6,3 m.
Largura: 3,6 m
Tripulação: 3+7 soldados equipados.
Armamento: 1 Torre Rafael OWS (overhead weapon system )com uma metralhadora FN MAG em calibre 7,62x51 mm.
Trincheira: 2,7 m
Inclinação frontal: 60º
Inclinação lateral: 40º
Obstáculo vertical: 0,8 m
Passagem de vau: 1,4 m (com preparação: 4 m).

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior.
Como já mencionado em matéria anterior, a criatividade israelense é, sem a menor sombra de dúvidas, a chave do sucesso que seus produtos apresentam. A empresa israelense NIMDA, conhecida por desenvolver programas de modernização de diversos tipos de carros de combate como o M-41, M-60, T-55, PT-76, dentre outros, usou seu know how para fabricar uma viatura blindada de transporte de tropa que foi projetada pela Israeli Defence Forces Corps of Ordnance que tivesse como sua característica mais marcante, o nível de proteção blindada. os israelenses sempre tiveram que enfrentar ataques de diversas armas portáteis, sendo que a granada impulsionada por foguete, a famosa RPG, se mostrou uma pedra no sapato dos veículos de combate israelenses.
O veículo Achzarit foi a solução apresentada para dar ao infante das forças de defesa de Israel uma forma mais segura para operar em zonas conflagradas.
O carro de combate russo T-55, muito empregado pelos inimigos de Israel, foi base para o desenvolvimento do Achzarit.
O Achzarit  é baseado em carros de combate T-54 e T-55 que Israel capturou as centenas durantes suas muitas guerras com os países árabes. O uso de um MBT para ser a base de um veículo de transporte de tropa já permite concluir que o principal objetivo residia na necessidade de uma viatura que fosse pesadamente blindada.
A retirada da torre com seu canhão, todo o aparato para guardar granadas, liberou um bom espaço interno para acomodar 3 tripulantes e 7 soldados totalmente equipados. Por ser derivado do tanque T-55, a proteção básica é a mesma, suportando disparos de armas leves como fuzis 7,62x51 mm,  porém, com o uso de espaçadores e reforços de blindagem adicionais, o Achzarit é capaz de sobreviver a impactos direto de RPGs, e além disso há informação de que o quadrante frontal suporta um disparo de canhão de 125 mm. É interessante observar que 14 toneladas das 44 toneladas total do veículo, é apenas de blindagem extra.
O Achzarit tem cerca de 1/3 de seu peso em blindagens adicionais quando comparado ao tanque T-55.
Para sua autodefesa, o veículo recebeu uma torre OWS remotamente controlada que pode receber uma metralhadora de uso geral FN MAG em calibre 7,62 x 51 mm ou uma metralhadora pesada M-2HB calibre 12,7 x 99 mm (.50) É um armamento básico que não permite que o Achzatit possa participar ativamente do combate. Vale observar que o veículo não foi projetado para isso e sim para transportar de forma mais segura possível a tropa.
Nesta imagem, pode-se ver no topo da viatura Achzarit a torre remotamente controlada OWS. Ela pode receber uma metralhadora de 7,62 ou de 12,7 mm. Embora não tenha sido explicitado nos textos pesquisados, é provável que lançadores de granadas automáticos também possam ser instalados com alguma facilidade neste sistema de armas.
O motor russo V-55 empregado no T-55 original, naturalmente, foi substituído por um motor norte americano Detroit Diesel 8V-71TA turbodiesel que entrega 650 hp de potência para levar as pesadas 44 toneladas do Achzarit a velocidade de 55 km/h de velocidade máxima em estrada. Algumas alterações foram feitas na suspensão e no chassi do T-54 / T-55. A atualização da suspensão resultou em melhor mobilidade em terrenos acidentados. Ainda vale observar que, embora o Achzarit não seja um veículo anfíbio, se receber preparação, consegue transpor um rio com até 4 m de profundidade.
A autonomia é de 500 km nas condições de estrada e transportando 7 soldados equipados e 3 tripulantes. E falando em soldados, estes tem saída por uma compacta porta na traseira, ao lado direito da viatura. A tripulação é composta por comandante, artilheiro e motorista, sendo que o artilheiro e o motorista possuem periscópios enquanto que o comandante usa sua escotilha blindada para poder ter uma visão em 360 º com boa proteção.
Nesse desenho podemos ver a porta de saída traseira aberta.
Com um efetivo de 215 veículos, as forças de defesa de Israel são os únicos operadores do Achzarit. Isso pode ter como motivo diversas bases, sendo elas, preço (equipamento pesado tende a ter um valor maior), a base do veículo ser de um carro de combate russo; lobby de países produtores de veículos desta classe e que tem maior penetração no mercado mundial. Independente o motivo de este veículo não ter sido exportado ainda, o fato é que Israel pode se gabar de estar de posse de um dos mais bem protegidos blindados de transporte de infantaria do mundo. perfeito para o teatro de operações (TO) em que as forças de defesa de israel estão inseridas.













Dividendos da Diplomacia: Quem realmente controla o Grupo Wagner?


Por Alexander Rabin, National Security Program, 4 de outubro de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 22 de março de 2020.

Muitos esperavam que a relação diplomática entre a Federação Russa e os Estados Unidos se esvaísse quando forças americanas mataram centenas de russos assaltando um posto avançado americano na Síria no início de 2018. No entanto, o Kremlin se distanciou rapidamente dos corpos russos no distante campo de batalha sírio Esses russos lutaram em nome do presidente sírio Bashar al-Assad, mas não usavam uniformes das forças armadas sírias ou russas. Em vez disso, eles trabalhavam para o oligarca empreendedor Yevgeny Prigozhin e seu Grupo Wagner, uma companhia militar privada (PMC).

Prigozhin é uma figura familiar para os americanos. Dois meses antes de seus mercenários morrerem na Síria, o advogado especial Robert S. Mueller III o acusou de operar a Agência de Pesquisa na Internet, uma fazenda de trolls de desinformação que interferiu nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA. No entanto, os funcionários de Prigozhin incentivam os interesses da Rússia em uma nova era de guerra híbrida por meio de combate direto e manipulação online. Ao perseguir objetivos estratégicos russos sob uma bandeira privada, o Grupo Wagner fornece ao Kremlin um véu de negação plausível, reforçando a flexibilidade diplomática russa e minimizando a contagem oficial de baixas que poderiam condenar o envolvimento russo em conflitos domesticamente impopulares como a Guerra Civil Síria.

Quem é Prigozhin e o que é o Grupo Wagner?

Em uma foto de 2006, o presidente russo Vladimir Putin (à esquerda) recebe o presidente dos EUA George W. Bush em São Petersburgo, Rússia. O segunda à direita, de terno preto, é o empresário russo Yevgeny Prigozhin, conhecido como "chef de Putin".

O talento de Prigozhin para o lucro o levou a um caminho não-convencional para a confiança de Putin. Depois de cumprir nove anos de prisão em 1990, ele abriu barracas de cachorro-quente com seu padrasto. Quando a União Soviética se dobrou e o setor privado da Rússia cresceu, Prigozhin investiu na primeira cadeia de supermercados de São Petersburgo e finalmente abriu o restaurante de luxo New Island, onde serviu pessoalmente Putin. Prigozhin alavancou suas conexões importantes em contratos de restauração e construção de escolas públicas e militares de bilhões de dólares desde meados dos anos 2000, ganhando o apelido de "chef de Putin".

As profundas conexões do Grupo Wagner com os principais líderes políticos da Rússia distinguem a empresa de seus contemporâneos. A aparição dos contratados em pontos críticos geopolíticos ilustra uma estreita coordenação entre as aspirações comerciais de Prigozhin e a busca do interesse nacional pelo Kremlin. Prigozhin lucra prestando serviços nos países onde a Rússia está expandindo seu envolvimento, enquanto o estado mantém uma negação plausível ao utilizar as estruturas privadas de Prigozhin. No processo, Prigozhin acumula prestígio e capital político, abrindo caminho para futuros contratos lucrativos.

Desdobramento do Grupo Wagner, mostrando missões na Ucrânia, Venezuela, República Centro-Africana, Líbia, Síria, Madagascar e Sudão.

O Grupo Wagner ao redor do mundo

Contratados do Grupo Wagner na Ucrânia, 2014.

O Grupo Wagner apareceu pela primeira vez durante a anexação russa da Criméia, auxiliando unidades militares russas não-identificáveis, conhecidas como "homenzinhos verdes", na segurança do território sem derramamento de sangue e no desarmamento das instalações militares ucranianas. Os contratados lutaram ao lado de separatistas pró-russos na região do Donbas, na Ucrânia. O Grupo Wagner se manteve ocupado na autoproclamada República Popular do Donetsk (DPR) e na República Popular de Luhansk (LPR), supostamente abatendo um transporte aéreo militar ucraniano Il-76, assassinando líderes separatistas desonestos e participando da Batalha de Debaltseve (2015).


Logo após o apoio russo a Assad ter aumentado em 2015, as tropas do Grupo Wagner se tornaram um ativo crucial, como na Ucrânia, desempenhando papéis defensivos e ofensivos. Ao proteger as instalações militares e de energia, esses contratados reduziram a escassez de pessoal que impedia a capacidade de Assad de proteger instalações e montar ofensivas simultaneamente para recuperar território. O Grupo Wagner forneceu mão-de-obra ofensiva em batalhas como a Batalha de Palmira (2016), na qual forneceu a força de choque inicial para recuperar a cidade do Estado Islâmico.

No entanto, o caso da Síria difere das operações na Ucrânia por causa do claro incentivo monetário adicional de Prigozhin para o aumento da desdobramento do Grupo Wagner. Sua empresa Evro Polis assinou um contrato com a General Petroleum Corporation, estatal síria, em janeiro de 2018, concedendo à Evro Polis 25% da produção de quaisquer instalações petrolíferas retomadas para Assad. O assalto arriscado do Grupo Wagner ao posto avançado de Deir ez-Zor Conoco ocorreu apenas um mês após o acordo com a Evro Polis, e telefonemas interceptados pela inteligência dos EUA revelam que Prigozhin participou diretamente no planejamento do ataque.

Mercenários do Corpo Eslavônico na Síria, outubro de 2013. O Slavonic Corps Limited foi a primeira PMC "experimental" russa.

No entanto, o grau de comando que o Estado russo exerce sobre o Grupo Wagner na Síria permanece incerto. Enquanto algumas fontes próximas ao Ministério da Defesa afirmam que a ofensiva desastrosa do Grupo Wagner contra o posto avançado de Conoco surpreendeu os militares, outras alegam que o Kremlin provavelmente autorizou o ataque. Ainda assim, outros afirmam que o Grupo Wagner coordena dentro do Ministério da Defesa, mas o faz vagamente, o que poderia explicar o fracasso em garantir a aprovação de uma ofensiva específica.

Da mesma forma, à medida que a Rússia aumenta seu envolvimento na África, as operações do Grupo Wagner se expandem por todo o continente, onde protegem os investimentos de Prigozhin. No final de 2017, vídeos de contratados russos treinando tropas sudanesas circularam no Twitter, enquanto cerca de 300 contratados estavam no país. Na mesma época, a empresa M-Invest, a qual há rumores que Prigozhin possui, garantiu concessões de mineração ao governo sudanês. Os combatentes do Grupo Wagner agora guardam essas minas. Embora a M-Invest seja registrada como uma empresa de extração de recursos, também forneceu ao ex-presidente sudanês Omar al-Bashir, um líder amigo da Rússia que presidiu vários acordos comerciais bilaterais, com um plano para suprimir os protestos de Cartum no início de 2019. A empresa propôs campanhas de difamação e a adaptação como arma das mídias sociais remanescente da Agência de Pesquisa na Internet de Prigozhin.

Grupo Wagner na Síria.

O envolvimento russo na vizinha República Centro-Africana (RCA) também vincula apoio político a ganhos econômicos. A Rússia expulsou a França para obter uma exceção ao embargo de armas sobre a RCA das Nações Unidas em 2018, e os contratados Wagner entraram no país na mesma época, supostamente fornecendo segurança ao presidente Faustin-Archange Touadera. Enquanto a Rússia espera aparecer como uma fonte de estabilidade regional, essa ajuda não é gratuita; a RCA tem reservas abundantes de diamantes, petróleo, ouro e urânio, e o Ministério das Relações Exteriores da Rússia discutiu concessões de mineração com Touadera. Embora a Rússia tenha se encantado com Touadera, também se encontrou com grupos rebeldes da RCA, jogando em campo para obter acesso a território rico em recursos. A Lobaye Invest, uma subsidiária da M-Invest, já iniciou a extração de diamantes, e os contratados Wagner parecem novamente guardar as minas. Os dividendos inerentes ao papel de Prigozhin na geopolítica russa estão valendo a pena, e o Grupo Wagner fornece a força para defendê-los.

Notavelmente, três jornalistas russos que investigavam a presença do Grupo Wagner na RCA foram assassinados no verão de 2018. Os jornalistas mortos estavam rastreando o Grupo Wagner, mas na data de suas mortes, eles pretendiam filmar as minas de ouro de Ndassima, que Prigozhin planejava explorar. Os registros telefônicos mostram que o motorista dos jornalistas freqüentemente entrava em contato com um policial da RCA com laços estreitos com o Grupo Wagner, incluindo telefonemas no dia do assassinato.

Grupo Wagner na Síria.

Como o Grupo Wagner protegeu com sucesso os interesses russos e encheu os cofres de Prigozhin, o Kremlin confiou mais nos contratados. Em 2018, Moscou trabalhou duro para influenciar as eleições em Madagascar - e Prigozhin novamente forneceu os meios. O oligarca enviou consultores políticos, que apoiaram pró-russo Hery Rajaonarimampianina e outros candidatos, mas também desdobrou contratados Wagner para vigiar esses consultores. Prigozhin evidentemente identificou os recursos de Madagascar como outra fonte de lucro pessoal. Sob a presidência de Rajaonarimampianina, a empresa de mineração de cromita estatal de Madagascar, KRAOMA, entrou em uma controversa joint venture* com a Ferrum Mining, uma empresa russa ligada ao império comercial de Prigozhin. Sob um contrato de 2018, Ferrum recebeu fundos da Broker Expert, uma empresa aninhada em um sistema de contratos de empréstimo com juros entre muitas das empresas de Prigozhin, incluindo Concord Management and Consulting, M-Invest, M-Finance e Megaline. O caso de Madagascar apresenta outro vínculo por excelência das ambições russas e da manipulação política de Prigozhin.

*Nota do Tradutor: Uma joint venture é uma entidade comercial criada por duas ou mais partes, geralmente caracterizada por propriedade compartilhada, retornos e riscos compartilhados, e governança compartilhada.


Em novembro de 2018, surgiram evidências da parceria de Prigozhin com o Kremlin em outro local estratégico: a Líbia. Imagens notáveis mostram Prigozhin sentado entre importantes oficiais de defesa russos durante uma reunião com o pessoal do Exército Nacional da Líbia (LNA). Meses depois, materializaram-se relatórios de mercenários Wagner que apoiavam o LNA, cujo líder, marechal de campo Khalifa Haftar, o Kremlin apoiou silenciosamente, mas com firmeza. A Rússia demonstrou interesse nos recursos energéticos da Líbia, incluindo um acordo de venda de petróleo em 2017, e provavelmente buscará mais investimentos à medida que surgirem oportunidades para a resolução de conflitos na Líbia.

Contratados Wagner trabalhando com forças locais na Líbia.

O Kremlin, cada vez mais vendo o Grupo Wagner como um patrimônio diplomático, enviou contratados para a Venezuela no início de 2019. Quando o líder sitiado Nicolás Maduro começou a temer deserções de seu pessoal de segurança, o Grupo Wagner forneceu guardas. Essa medida reflete os investimentos de vários bilhões de dólares da gigante estatal russa Rosneft no petróleo venezuelano, bem como os enormes acordos de exportação de armas da Rússia.

Ligações entre o Grupo Wagner e o Estado russo

A estrutura de comando da Rússia para o Grupo Wagner permanece obscura, mas seu apoio se materializa em três formas: financiamento, equipamento e treinamento.

Prigozhin e o Grupo Wagner mantêm relações complicadas com o estado russo e outros governos. Os nós vermelhos representam empresas vinculadas ao império comercial de Prigozhin, enquanto os nós pretos representam entidades vinculadas aos governos estaduais.

A fonte dos fundos do Grupo Wagner permanece incerta, com apenas evidências anedóticas oferecendo insights. Aparentemente, Prigozhin desviou uma receita significativa de seus contratos de construção e catering* para estabelecer o Grupo Wagner. Os custos anuais da empresa, totalizando até US$ 150 milhões por volta de 2016 somente na Síria, exigem financiamento além da capacidade razoável dos negócios de logística de Prigozhin, mas essas empresas apresentam condutos ideais para canalizar fundos para o Grupo Wagner a partir do estado.

*NT: Catering é o serviço de fornecimento de refeições coletivas em locais remotos como hotéis, hospitais, aviões, navios de cruzeiro, locais de entretenimento, etc.

Enquanto conexões monetárias concretas permanecem ilusórias, Moscou claramente desempenha um papel crucial em armar o Grupo Wagner. O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) afirma que o Grupo Wagner recebe equipamentos como tanques, lançadores de foguetes Grad e veículos blindados sem custo. Imagens de contratados Wagner revelam que eles operam veículos normalmente reservados para as Forças Armadas russas, como o veículo todo-o-terreno da Vystrel. Vários contratados alegam que voaram para a Síria em aviões de transporte militar russo. Essas histórias estão alinhadas às alegações da SBU de que os contratos entre a M-Invest e as unidades de vôo do Ministério da Defesa indicam que Prigozhin aluga aeronaves militares para contratados.

Contratados do Grupo Wagner na região de Starobeshevo, no Donetsk, 2014.

O Estado - particularmente o Diretório Principal do Estado Maior General (GRU) - tem um papel importante no treinamento do Grupo Wagner. Os contratados treinam em um complexo do GRU em Molkino, uma vila no sudoeste da Rússia, e o SBU identificou mais de 25 oficiais russos que instruem os contratados Wagner em habilidades que variam de artilharia a engenharia de combate. O GRU geralmente dirige e apóia o grupo em combate, e as evidências disponíveis indicam uma coordenação estreita na Ucrânia. No LPR, o oficial do GRU Oleg Ivannikov ajudou a comandar o Grupo Wagner; telefonemas interceptados revelam operações coordenadas de Ivannikov com o comandante do Grupo Wagner e o ex-tenente-coronel do GRU Dmitry Utkin durante a Batalha de Debaltseve.

Fundindo buscas geopolíticas e empresas privadas

Por meio do Grupo Wagner, a Rússia oferece apoio militar ou estabilização política em troca de influência política, oportunidades de expansão geoestratégica ou concessões de recursos. O Grupo Wagner pode ser considerada uma empresa militar privada apenas na medida em que alimenta a riqueza de um indivíduo particular, mas a realidade de sua integração nas estruturas de comando russas o torna um animal totalmente diferente. Apesar da natureza ostensivamente privada do Grupo Wagner, Putin agradeceu aos contratados por seus serviços, premiando comandantes de alto escalão com honras militares estaduais de Utkin, construindo estátuas dos contratados Wagner na Síria e Donbas, e posando para fotografias com comandantes. Prigozhin não recebeu prêmios ou monumentos militares brilhantes, mas, ao desdobrar o Grupo Wagner em três continentes, Putin o agradeceu por facilitar a extensão global de seu alcance comercial.

A comunidade internacional deve se familiarizar com o nome de Prigozhin. Enquanto os líderes de países politicamente instáveis concordarem em trabalhar com Putin e oferecer fontes de lucro para Prigozhin, esse modelo de fusão de atividades geopolíticas e empresas privadas permanecerá.