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segunda-feira, 30 de agosto de 2021

GALERIA: Acantonamento de repouso do RMLE em Aube

Granadeiros do RMLE praticam o lançamento de granadas-de-mão no acampamento de Dampierre, julho de 1917.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 29 de agosto de 2021.

Imagens do Regimento de Marcha da Legião Estrangeira (Régiment de Marche de la Legion, RMLE) em descanso e recuperação  em Dampierre, no departamento de Aube, na região de Champagne-Ardennes, em julho de 1917. O RMLE, recém condecorado com a Médaille Militaire, desfilaria orgulhosamente no Champs Élysées no 14 de julho.

A matéria foi fotografada por Winckelsen Charles para o ECPAD e contém:
  1. Os quartos de descanso do RMLE em Dampierre, em Aube.
  2. Exercícios de lançamento de granadas de mão;
  3. Uma equipe de metralhadores atrás de sua peça;
  4. Uma seção de granadeiros em treinamento;
  5. O Tenente-Coronel Rollet, comandante do regimento, e seu estado-maior.


Legionários do RMLE durante uma sessão de esportes e recreação no campo de Dampierre.

Pausa para o almoço ("déjeuner").

Em março de 1917, os alemães retraíram para um grande saliente entre Arras e Soissons, e a fatídica Ofensiva Nivelle de abril caiu sobre essas novas defesas recém preparadas da Linha Siegfried (Siegfriedstellung, o nome alemão para a Linha Hindenburg). Na manhã de 17 de abril, o RMLE atacou as ruínas de Auberive no Vale de Suippes durante a Batalha de Moronvilliers, no flanco direito da ofensiva do Chemin des Dames.

Assaltos em 1917 eram sofisticados, com intensa e detalhada preparação de artilharia, cada batalhão possuindo uma companhia de metralhadoras e cada pelotão tendo dois grupos de combate com equipes de metralhadoras leves portáteis e granadeiros. Os homens eram treinados em táticas de pequenas unidades  que coordenavam o fogo e movimento com equipes interdependentes se cobrindo mutuamente, formando grupos de fuzileiros-granadeiros (Grenadier-voltigeur/Granadeiro-volteador), granadeiros de mão, fuzileiros-metralhadores armados com o FM Chauchat e dois municiadores. Eles abririam brechas nas linhas inimigas, isolando posições duras e infiltrando as companhias o mais profundamente possível na retaguarda inimiga.

Agarrando-se de cratera em cratera através de lama profunda por três dias e três noites, os legionários tomaram linha de trincheiras principal em Auberive, e o combate continuou até 22 de abril; o regimento usou 50.000 granadas nestes cinco dias de combate. O lendário Adjudant-Chef Mader, alemão, foi condecorado com a Legião de Honra por ter atacado e repelido a maior parte de uma companhia de infantaria saxônica e ter tomado uma bateria de seis peças de artilharia, comandando apenas dez legionários em combate corpo-a-corpo.

Uma equipe de metralhadores do RMLE treinando em torno de sua arma, uma metralhadora Hotchkiss.

Grenadier-voltigeurs do Régiment de Marche da Legião Estrangeira (RMLE) em treinamento no campo de Dampierre. Um deles está prestes a disparar uma granada V.B (Vivien-Bessière) usando o lança-granadas "tromblom" (bacamarte) montado em seu fuzil Lebel modelo 1886/93.

Os franceses pretendiam um ataque estrategicamente decisivo ao romper as defesas alemãs na frente de Aisne em 48 horas, com baixas estimadas em cerca de 10.000 homens. Um ataque preliminar seria feito pelo Terceiro Exército francês em St. Quentin e pelos britânicos em Arras, para capturar terreno elevado e desviar as reservas alemãs das frentes francesas em Aisne e em Champagne (esta incluindo o Corpo Expedicionário Russo). A ofensiva principal seria lançada pelos franceses no cume do Chemin des Dames, com um ataque subsidiário do Quarto Exército. O estágio final da ofensiva era seguir o encontro dos exércitos britânico e francês, tendo rompido as linhas alemãs, e então a perseguição dos exércitos alemães derrotados em direção à fronteira alemã. Em abril de 1917, os planos eram bem conhecidos do Exército Imperial Alemão, que fez extensos preparativos defensivos, adicionando fortificações à frente do Aisne e reforçando o 7º Exército (General der Infanterie Max von Boehn) com divisões liberadas pelo retraimento para a Linha Siegried/Hindenburg na Operação Alberich, de fevereiro a março de 1917.

Tanto Siegried quanto Alberich sendo personagens da Saga dos Nibelungos (Das Nibelungenlied), um poema épico medieval alemão. Sua representação mais famosa é a ópera O Anél do Nibelungo (Der Ring des Nibelungen) do compositor alemão Richard Wagner.

Os ataques franco-britânicos foram taticamente bem-sucedidos; o Terceiro Exército francês do Grupo de Exércitos do Norte (Groupe d'armées du NordGAN) capturou as defesas alemãs a oeste da Linha Hindenburg perto de St. Quentin de 1 a 4 de abril, antes que novos ataques fossem repelidos. A principal ofensiva francesa no Aisne começou em 16 de abril e também alcançou considerável sucesso tático, mas a tentativa de forçar uma batalha estrategicamente decisiva contra os alemães foi um fracasso caro e em 25 de abril a ofensiva principal foi suspensa. O fracasso da estratégia do General Nivelle e o alto número de baixas francesas levaram a motins (com as unidades decididas a defenderem suas posições, mas se recusando a executar novos ataques) e à demissão de Nivelle, sua substituição por Pétain e a adoção de uma estratégia defensiva pelos franceses, enquanto seus exércitos se recuperavam e eram rearmados.

Lavando roupa suja.

Durante seus exercícios, os legionários do RMLE montaram seu ponto de abastecimento no centro de um curral na região de Dampierre. Podemos ver ao fundo a cozinha móvel dos legionários.

Banda de música do RMLE.

O Tenente-Coronel Rollet, comandando o Regimento de Marcha da Legião Estrangeira (RMLE), cercado por seu estado-maior. À direita, o capelão católico Gas condecorado com a Legião de Honra e a Croix de Guerre.

O RMLE foi mandado para Mailly, na Champanha, para descanso e recuperação em maio. No dia 30, o comando passou do Ten-Cel Duriez para o lendário Tenente-Coronel Paul Rollet, um veterano das companhias montadas no Norte da África, que viveria para se tornar o primeiro Inspetor-Geral da Legião Estrangeira, e reverenciado por todos como "O Pai da Legião". No Dia da Bastilha, 14 de julho de 1917, Rollet liderou uma guarda-de-honra em Paris, onde o presidente Raymond Poincaré condecorou a bandeira do Regimento de Marcha da Legião Estrangeira com a fourragère (cordão) da Médaille Militaire. Na época esta honraria era única; concedida principalmente pelo desempenho em combate do RMLE, mas também em parte em gratidão pela lealdade inabalável demonstrado pelos legionários em um momento onde unidades francesas se amotinaram.

Em 20 a 21 de agosto de 1917, em Cumières na frente de Verdun, o RMLE assinalou um sucesso notável ao avançar bem à frente do cronograma, resistiu a contra-ataques e pesada estrafagem aérea no terreno conquistado, e então aproveitaram o sucesso passando novamente para a ofensiva em um curto prazo tomando a Cota 265. Os legionários mantiveram a posição até serem substituídos em de setembro, tomando 680 prisioneiros e 14 peças de artilharia pela perda de 53 mortos e 271 feridos ou desaparecidos - baixas leves para o padrão da Frente Ocidental.

O General Philippe Pétain passou o regimento em revista enquanto este descansava nas cercanias de Vaucouleurs em 27 de setembro. Ele disse ao RMLE que por sua sexta citação ele teve que inventar uma nova condecoração para eles - a fourragère vermelha da Légion d'Honneur (Legião de Honra). - em reconhecimento à sua conduta em Verdun. Pétain anunciou estar feliz em continuar criando novas condecorações para os legionários enquanto eles continuassem vencendo batalhas. O cordão vermelho foi oficialmente usado a partir de 3 novembro de 1917.

Guarda-de-honra do Regimento de Marcha da Legião Estrangeira desfilando em Paris no 14 de julho de 1917, o Dia da Bastilha.
O oficial de uniforme claro é ninguém menos que o Tenente-Coronel Paul Rollet, "O Pai da Legião", e o porta-bandeira à esquerda é o Ajudante-Chefe Max Mader, o praça mais condecorado da Legião.

Os registros da Legião mostram que 42.883 homens serviram na Frente Ocidental nos Regimentos de Marcha do 1er RE e 2e RE e no RMLE entre 1914 e novembro de 1918, sendo 6.239 franceses e 36.644 estrangeiros (de uma centena de países). Destes, 5.172 morreram em combate e 25 mil feridos e desaparecidos (esta última categoria escondendo ainda mais mortos em ação); dos oficiais, 115 morreram em combate e cerca de 500 foram feridos. Estas baixas representam 70% do efetivo total empregado na Frente Ocidental.

Em novembro de 1918, o Regimento de Marcha da Legião Estrangeira era o segundo regimento mais condecorado do Exército Francês.

Bibliografia recomendada:

French Foreign Legion 1914-45.
Martin Windrow e Mike Chappell.

La Légion Étrangère au combat 1914-1918.

Leitura recomendada: