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terça-feira, 15 de setembro de 2020

O M60 Patton dos EUA é um matador confiável, mas sua velha blindagem é vulnerável

Carros M-60A3 próximos a Giessen, na Alemanha, 22 de janeiro de 1985.

Por Sébastien Roblin, The National Interest, 6 de setembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 15 de setembro de 2020.

Até que ponto você pode ensopar um tanque da década de 1960?

O M60 Patton foi o esteio da frota de tanques americana nas décadas de 1960 e 1970, antes de ser substituído pelo tanque M1 Abrams atualmente em serviço. No entanto, mais de cinco mil Pattons permanecem em serviço nos exércitos de dezenove países. No início deste ano, a Raytheon revelou sua atualização do Pacote de Extensão de Vida Útil (Service-Life Extension Package, SLEP), apresentando um novo motor, sistema de controle de fogo e canhão de 120mm.

Carros M60A3 das 5ª e 20ª Brigadas Blindadas na fronteira com a Síria, abrindo fogo contra posições dos YPG, 2016.

Este M60 SLEP está competindo com uma atualização de três níveis pré-existente oferecida pela Israeli Military Industries para seu M60 Sabra. Sabras no serviço turco, denominado M60T, estão ativos no campo de batalha do norte da Síria hoje, enquanto Pattons de modelo mais antigo estão lutando em ambos os lados da guerra no Iêmen.

Os novos Pattons são mais rápidos e mortais - mas eles são durões o suficiente para o campo de batalha moderno?

O Tanque de batalha da Guerra Fria da América

M60A3 nas ruas de Langgöns, na Alemanha, durante a REFORGER '85.

O M60 traça sua ancestralidade desde o tanque pesado M26 Pershing, algumas dezenas dos quais entraram em ação no final da Segunda Guerra Mundial. O Pershing evoluiu para uma série de tanques Patton armados com canhões de 90 mm, incluindo o M46, M47 e M48. O M60, lançado em 1960, foi o último: um lutador robusto de perfil alto projetado para superar o onipresente tanque soviético T-54 em virtude de sua blindagem mais pesada e longo canhão M68 de 105mm.

Os M60 de 50 toneladas foram desdobrados na Europa, caso a Terceira Guerra Mundial estourasse, e não viram ação na Guerra do Vietnã, exceto por algumas variantes de construção de pontes e engenharia. Em vez disso, os tanques M48 enfrentaram os PT-76 e T-54 norte-vietnamitas em um pequeno número de confrontos, e até lutaram contra tanques de fabricação sueca na República Dominicana.

Um tanque M60 israelense destruído entre os destroços de outro blindado após um contra-ataque israelense no Sinai durante a Guerra do Yom Kippur, 1973.

Foi no Oriente Médio que o M60 Patton mostrou pela primeira vez seu valor. Durante a Guerra do Yom Kippur, os M60 israelenses cavalgaram ao resgate da Sétima e da 188ª Brigadas Blindadas nas Colinas de Golã*, quebrando a espinha de um ataque sírio com mais de 3 mil tanques. No entanto, na frente sul, os mísseis anti-carro AT-3 devastaram os M60 contra-atacando a cabeça de ponte egípcia no canal de Suez. O perfil alto do Patton tornava-o um alvo fácil, enquanto seu sistema hidráulico montado frontalmente era propenso a explodir em chamas quando a blindagem era penetrada. No entanto, os israelenses gostavam tanto do Patton que o mantiveram em serviço até 2014, transformando-o em várias gerações de tanques Mag'ach.

*Nota do Tradutor: Os blindados dessas duas brigadas eram, na verdade, Centurions Sho't e Shermans M50/51, por serem mais adaptados para o terreno montanhoso. Os Pattons lutaram apenas no Sinai.

O Patton passou por algumas atualizações ao longo de sua vida útil. A variante vanguardista M60A2 “Starship” usava um canhão de 155mm que podia disparar mísseis anti-carro Shillelagh; foi rapidamente eliminado devido a limitações técnicas incapacitantes. A versão final, o M60A3 TTS, veio com sistemas de controle de fogo aprimorados e mira térmica que o tornou um combatente noturno eficaz. Alguns Pattons do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA foram até equipados com blindagens reativas-explosivas.

No entanto, na década de 1980, a União Soviética exportou um grande número de tanques T-72, que se igualavam ou superavam o Patton em blindagem e poder de fogo. Enquanto isso, os Estados Unidos introduziram o tanque M1 Abrams, que se revelou um decisivo salto tecnológico tanto em poder de fogo (uma vez que recebeu um canhão de 120mm) quanto em proteção, graças à sua blindagem composta.

Carros de Combate M60A1 RISE Passive da Companhia B, 8º Batalhão de Tanques da 2ª Divisão de Fuzileiros Navais avançando no Kuwait na manhã de 23 de fevereiro de 1991, navegando por um campo minado.
A unidade eventualmente entrou em contato com as trincheiras iraquianas, casamatas e tanques T-55 em posição "hull-down".

Os últimos M60 americanos foram operados pelo Corpo de Fuzileiros Navais e, finalmente, viram combate pesado na Guerra do Golfo de 1991 no Kuwait, destruindo cerca de 100 tanques iraquianos pela perda de um único Patton. No entanto, isso refletiu o treinamento e as táticas desiguais dos lados opostos mais do que qualquer outra coisa, e logo depois o Patton foi retirado de serviço nos Estados Unidos.

No entanto, os M60 continuam sendo o tanque de batalha principal em serviço mais numeroso em muitos países hoje, incluindo Egito (1.700), Turquia (932), Taiwan (450), Arábia Saudita (450), Marrocos (427), Tailândia (178) e Bahrein (180).

Soldados egípcios em frente dum tanque de batalha principal M60 da 3ª Brigada Blindada, 4ª Divisão Blindada "Cavaleiros do Egito", durante uma demonstração para dignitários visitantes, durante a Operação Escudo do Deserto, 1º de dezembro de 1990.

O que foi aprimorado nos M60 SLEP e Sabra?

A atualização SLEP da Raytheon se concentra em maior poder de fogo e mobilidade.

Tanque M60 SLEP com blindagem de ripas na torre.

Primeiro, ele substitui o antigo canhão M68 pelo potente canhão M256 de 120mm usado no tanque Abrams. Isso transformará o Patton de um tanque que lutaria contra um T-72 da década de 1980 em um que pode penetrar a maioria dos tanques modernos. Além disso, para realmente acertar o alvo, o M60 SLEP tem um novo sistema de mira digital retirado do M1A1D para substituir a tecnologia obsoleta do Patton. Os computadores modernos de mira tornaram viável a pontaria de tanques em movimento, então essa é uma grande vantagem. Finalmente, o sistema hidráulico de rotação da torre foi substituído por um elétrico, aumentando a velocidade de rotação e reduzindo o problema de “explodir em chamas” ao ser atingido.

Em segundo lugar, a Raytheon substituiu o motor a diesel de 750 cavalos por um novo motor de 950 cavalos. Isso é bom, porque o M60 básico se arrasta a 30 milhas por hora (48km/h), enquanto velocidades máximas acima de 40 milhas por hora (64km/h) são típicas para tanques ocidentais modernos.

Agora, o protótipo filmado no vídeo promocional da Raytheon também tem muitos recursos que eles não anunciam: blindagem de ripas, que pode ser eficaz para desviar ogivas de carga oca em rojões, painéis de blindagem adicionais e uma unidade de energia auxiliar e ventiladores de refrigeração na parte traseira. Parece que esses não são recursos padrão da atualização SLEP.

Para efeito de comparação, a atualização do Sabra II israelense também possui um canhão de 120mm de desempenho comparável emparelhado com um novo computador de mira, bem como um motor superior de mil cavalos de potência que aumenta a velocidade para 34 milhas por hora. Ao contrário do SLEP, o Sabra também reforçou a blindagem, dando à torre um formato angular. Isso inclui o acréscimo de blindagem reativa-explosiva - isto é, tijolos de explosivos que detonam prematuramente mísseis e projéteis - bem como placas de blindagem aplicadas.

Um tanque Mag’ach 7C semelhante equipado com blindagem de aplique supostamente sobreviveu a dezoito ataques de mísseis AT-3 Sagger do Hezbollah sem ser penetrado. No entanto, o Sagger remonta à década de 1960 e os mísseis atuais têm um poder de penetração muito maior.

Quão úteis são essas atualizações?

Os motores mais potentes ajudarão o Patton a acompanhar outras unidades mecanizadas no campo de batalha. No entanto, mesmo com a atualização, a relação potência/peso do M60 não é estelar.

Com o canhão de 120mm e o novo sistema de controle de fogo, o M60 pode acertar e destruir a maioria dos tanques em uso hoje em médio e longo alcance. Os operadores do M60 provavelmente não terão os avançados cartuchos de urânio empobrecido M829E3 e E4 projetados para contornar os mais sofisticados sistemas de blindagem reativa, mas poucos tanques operacionais se beneficiam deles até agora. Portanto, o M60 SLEP pode ser um caçador de tanques decente.

No entanto, a maioria dos tanques no campo de batalha atualmente não está lutando contra outros tanques. Eles estão trocando tiros com a infantaria insurgente - um número crescente dos quais está carregando mísseis guiados anti-carro de longo alcance modernos como o Kornet, bem como rojões de curto alcance mais difundidos. As melhores dessas armas provaram ser eficazes mesmo contra tanques modernos como o M1 e o Merkava.

T-72B1 venezuelano com blindagem de aplique.

O Patton é consideravelmente mais vulnerável que o M1 ou Merkava - e até mesmo que o mais antigo T-72! A antiquada blindagem frontal de aço fundido do Patton é avaliada como equivalente a 253mm de Blindagem Enrijecida Laminada (Rolled Hardened Armor, RHA), a medida padrão da eficácia da blindagem de tanques. Os tanques modernos usam blindagem composta que é drasticamente mais eficaz para o mesmo peso, especialmente contra ogivas de carga oca. Um M1A2 moderno é avaliado como equivalente a cerca de 800mm versos de granadas de tanques e 1300mm versos rojões de carga oca.

Soldado russo disparando um ATGM Kornet na região de Moscou, 2017.

Em contraste, os projéteis sabot de 120mm dos anos 90 podiam perfurar o equivalente a cerca de 700mm RHA, e o míssil anti-carro AT-17 Kornet pode penetrar 1300mm.

O Patton também é mais fácil de acertar por causa do seu perfil alto, e mais propenso a explodir em chamas quando penetrado porque a munição do canhão principal não é guardada separadamente, como no Abrams.

O M60 SLEP não apresenta blindagem aprimorada. O Sabra atualizado tem - e já sabemos como os Pattons blindados se saíram contra os mísseis guiados antitanque graças à Turquia.

Em 21 de abril deste ano, um M60T turco em Bashiqueh, Iraque, foi atingido por um míssil anti-carro Kornet de carga tandem do ISIS, danificando o veículo, mas não a tripulação. No entanto, o tanque parece ter sido colocado fora de operação.

Em agosto deste ano, os M60A3 e M60T turcos cruzaram a fronteira em apoio aos rebeldes aliados como parte da Operação Escudo do Eufrates, primeiro expulsando o ISIS da cidade de Jarablus sem luta e depois atacando as milícias curdas. Os combatentes curdos nocautearam vários M60 com mísseis de longo alcance, causando as primeiras baixas turcas na intervenção.

M60 turco destruído por um ATGM Kornet nas cercanias de Mosul, no Iraque, 2016.

Os tanques turcos M60T Sabra eventualmente redirecionaram seu poder de fogo contra cidades controladas pelo ISIS - e infelizmente, foram sujeitos a uma série de ataques bem-sucedidos por mísseis Kornet. Nos vídeos postados online, dois dos três Pattons destruídos explodiram em chamas.

No segundo incidente, apenas um dos tripulantes sobreviveu. Até agora, acredita-se que pelo menos onze Pattons turcos foram destruídos na Síria.

A situação é ainda pior no Iêmen, onde os Pattons são operados tanto por unidades do Exército que apoiam os rebeldes Houthi quanto pela Arábia Saudita. Mais de 22 Pattons destruídos foram registrados no conflito.

Tenha em mente que mesmo os Sabras com blindagem superior estão sofrendo perdas, e a atualização SLEP não apresenta melhorias de capacidade de sobrevivência além da remoção do sistema hidráulico da torre. A proteção da blindagem do Patton provaria ser ainda mais inadequada contra os Sabot perfurantes disparados de canhões de tanque, que são mais difíceis de se proteger.

Carros M60 Patton turcos na cidade de Qirata, na Síria.

A Raytheon está oferecendo uma atualização para o Patton que o torna um matador (de tanques), mas não um sobrevivente. No entanto, a tendência na guerra moderna favorece fortemente manter os próprios soldados vivos. Mesmo o novo tanque T-14 da Rússia, com sua torre não-tripulada e sistemas defensivos sofisticados, reflete essa prioridade.

O Patton pode seguir em frente com segurança e contribuir com seu pesado poder de fogo para o campo de batalha - mas em uma era em que minimizar as baixas e negar vitórias de propaganda para o outro lado é importante, sua antiquada proteção blindada permanecerá uma deficiência.

Sobre o autor:

Sébastien Roblin é mestre em Resolução de Conflitos pela Universidade de Georgetown e atuou como instrutor universitário do Corpo de Paz na China. Ele também trabalhou em educação, edição e reassentamento de refugiados na França e nos Estados Unidos. Atualmente, ele escreve sobre segurança e história militar para o site War Is Boring.

Bibliografia recomendada:

BATTLEGROUND:
The Greatest Tank Duels in History,
Steven J. Zaloga.

TANKS:
100 Years of Evolution,
Richard Ogorkiewicz.

Leitura recomendada:

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