quinta-feira, 7 de outubro de 2021

LIVRO: Death Traps - discutindo a sobrevivência do M4 Sherman


Resenha do livro Death Traps: The Survival of an American Armored Division in World War II (Armadilhas Mortais: a sobrevivência de uma divisão blindada americana na Segunda Guerra Mundial, 2003), de Belton Y. Cooper, pelo Tenente-Coronel Dr. Robert Forczyk.

Este livro é o maior ataque à reputação do tanque M4 Sherman na cultura popular.

Uma acusação falha [1 estrela]


Death Traps, um livro de memórias mal escrito por Belton Y. Cooper promete muito, mas oferece pouco. Cooper serviu como tenente de material bélico na 3ª Divisão Blindada (3AD), atuando como oficial de ligação entre os Comandos de Combate (Combat Commands) e o Batalhão de Manutenção da Divisão. Uma das primeiras regras para escrever memórias é focar em eventos dos quais o autor tem experiência direta; em vez disso, Cooper está constantemente discutindo eventos de alto nível ou distantes dos quais ele não foi testemunha. Conseqüentemente, o livro está repleto de erros e falsidades. Além disso, o autor coloca seu principal esforço em uma acusação simplificada demais do tanque americano Sherman como uma "armadilha mortal" que atrasou a vitória final na Segunda Guerra Mundial.

Coluna de tanques M4 Sherman, jipes e caminhões americanos cruzando o riacho Mühl, em Neufeld, norte de Linz, na Alemanha, 1945.

A acusação de Cooper da inferioridade do tanque Sherman em comparação com os tanques alemães Panther e Tiger mais pesados ignora muitos fatos importantes. Primeiro, o Sherman foi projetado para produção em massa e isso permitiu que os Aliados desfrutassem de uma superioridade de 4-1 em números. Em segundo lugar, menos de 50% dos blindados alemães na França em 1944 eram Tigres ou Panthers. Terceiro, se os tanques alemães eram tão mortais quanto Cooper afirma, por que os alemães perderam 1.500 tanques na Normandia contra cerca de 1.700 tanques aliados? De fato, Cooper afirma que a 3AD perdeu 648 Shermans na guerra, mas a divisão afirmou ter destruído 1.023 tanques alemães. Claramente, não havia grande proporção de mortes a favor dos alemães, e os Aliados podiam se dar ao luxo de trocar tanque por tanque. Finalmente, se o Sherman era uma "armadilha mortal", por que o Exército dos EUA o usou mais tarde na Coréia ou os israelenses o usaram na Guerra de 1967?

Um tanque Sherman M4A1 do RBCEO avança dentro de uma coluna e aponta sua arma de 75mm em seu setor de tiro. Ao fundo o canhão de outro Sherman também pode ser visto. Eles são sobrevoados por um avião "Toucan" (Tucano, a forma como os franceses chamavam o Junker 52 de origem alemã), preparando-se para lançar paraquedistas.

Há um grande número de erros neste livro, começando com a afirmação ridícula de Cooper de que o General Patton foi o responsável por atrasar o programa de tanques pesados ​​M-26. Cooper afirma que Patton estava em uma demonstração de tanque em Tidworth Downs em janeiro de 1944 e que, "Patton... insistiu que deveríamos diminuir a produção do tanque pesado M26 e nos concentrar no M4... Este acabou sendo uma das decisões mais desastrosas da Segunda Guerra Mundial, e seu efeito sobre a batalha que se aproximava pela Europa Ocidental foi catastrófico". Na verdade, Patton esteve em Argel e na Itália durante a maior parte de janeiro de 1944, apenas chegando de volta à Escócia em 26 de janeiro. Na verdade, foi o General McNair do Comando das Forças Terrestres (Ground Forces Command), nos Estados Unidos, que atrasou o programa do M-26. Cooper vê o M-26 como a panacéia para todas as deficiências do Exército dos EUA e até afirma que a ofensiva americana em novembro de 1944 "teria tido sucesso se tivéssemos o Pershing" e o avanço americano resultante poderia ter evitado a ofensiva das Ardenas e "a guerra poderia ter terminado cinco meses antes". Isso é pura bobagem e ignora os problemas logísticos e climáticos que condenaram aquela ofensiva.

Cooper discute continuamente eventos que não testemunhou e, de fato, apenas cerca de um terço do livro cobre suas próprias experiências. Em vez de discutir as operações de manutenção em detalhes, Cooper opina sobre tudo, desde U-boats, foguetes V-2, bombardeios estratégicos e a conspiração de 20 de julho. Ele afirma falsamente que "os britânicos haviam adquirido um modelo da máquina de decodificação enigma alemã e o estavam usando para decodificar mensagens alemãs". Cooper escreve: "só em 25 de julho, na noite anterior à descoberta de Saint-Lo, Rommel foi capaz de garantir a liberação das divisões panzer em reserva na área de Pas de Calais". Na verdade, Rommel foi ferido em 17 de julho e internado em 25 de julho. Em outro capítulo, Cooper escreve que "os britânicos bombardearam a cidade [Darmstadt] durante um ataque noturno em fevereiro" e "mais de 40.000 morreram neste inferno". Na verdade, a RAF bombardeou Darmstadt em 11 de setembro de 1944, matando cerca de 12.000. Dresden foi bombardeada em 13 de fevereiro de 1945, matando cerca de 40.000. Obviamente, o autor confundiu cidades e ataques.

Panzer Lehr na Normandia, 1944.

Mesmo quando Cooper está lidando com questões mais próximas de sua própria experiência, ele tende a exagerar ou fornecer informações incorretas. Ele descreve o VII Corpo de Exército como um "corpo blindado", mas não era. A descrição de Cooper de um contra-ataque da divisão alemã Panzer Lehr é totalmente imprecisa; ele afirma que, "11 de julho se tornou um dos mais críticos na batalha da Normandia. Os alemães lançaram um contra-ataque massivo ao longo da rodovia Saint-Lo-Saint Jean de Daye..." Na verdade, uma divisão alemã abaixo do efetivo atacou três divisões americanas. Os americanos perderam apenas 100 baixas, enquanto os alemães sofreram 25% de perdas de blindados. A história oficial chama esse ataque de "um fracasso funesto e caro". Cooper escreveu que, "O Comando de Combate A... apresentou uma defesa incrível nas proximidades de Saint Jean de Daye...", mas na verdade era o CCB, já que o CCA estava na reserva. Em outra ocasião, Cooper afirma que sua unidade recebeu o 60.000º Sherman produzido, mas os registros oficiais indicam que apenas 49.234 de todos os modelos foram construídos. Cooper afirma que a 3ª Divisão Blindada tinha 17.000 soldados, mas a força autorizada era de cerca de 14.500. Esse cara não consegue se lembrar de nada corretamente?

A descrição de Cooper da morte de MGN Rose é virtualmente plagiada da história oficial e uma série de artigos na revista ARMOR na década passada revelam que Rose corria riscos extremos. Lendo "Death Traps", os não iniciados podem realmente acreditar que o Exército dos EUA foi duramente derrotado na Europa. Cooper ainda afirma que, conforme a 3ª Divisão Blindada se aproximava do rio Elba nos últimos dias da guerra, "com nossa divisão espalhada e oposta por três novas divisões, nossa situação era crítica". Se a situação de alguém era crítica em abril de 1945, era a da Alemanha. Na verdade, a 3ª Divisão Blindada tinha uma fraqueza-chave não observada por Cooper, ou seja, a falta de infantaria. A divisão tinha uma proporção pobre de 2:1 entre tanques e infantaria, e essa deficiência freqüentemente exigia que a 3AD pegasse emprestado um RCT de infantaria de outras unidades. Embora o tão difamado tanque Sherman estivesse longe de ser perfeito, ele fez o trabalho para o qual foi projetado, um fato que não foi percebido por este autor.

Tenente-Coronel Dr. Robert Forczyk é PhD em Relações Internacionais e Segurança Nacional pela Universidade de Maryland e possui uma sólida experiência na história militar européia e asiática. Ele se aposentou como tenente-coronel das Reservas do Exército dos EUA, tendo servido 18 anos como oficial de blindados nas 2ª e 4ª divisões de infantaria dos EUA e como oficial de inteligência na 29ª Divisão de Infantaria (Leve). O Dr. Forczyk é atualmente consultor em Washington, DC.

Bibliografia recomendada:

ARMORED THUNDERBOLT:
The U.S. Army Sherman in World War II.
Steven Zaloga.

Leitura recomendada:

Análise alemã sobre o carros de combate aliados8 de agosto de 2020.


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