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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Esse fuzil militar dos anos 70 realmente veio com um abridor de garrafas embutido (sério!)


Por Jon Guttman, Military Times, 15 de fevereiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 20 de fevereiro de 2020.

Enfrentando ameaças de todos os lados, o Estado de Israel teve que se defender desde o início e teve que estabelecer sua própria indústria de armas para compensar as incertezas de depender de fornecedores estrangeiros.

Foi nessas circunstâncias hostis que as Indústrias Militares de Israel (IMI), mais tarde renomeadas Indústrias de Armas de Israel, produziram duas armas de fogo icônicas, a submetralhadora Uzi e a família de fuzis Galil. Enquanto a Uzi é conhecida pela compacidade de seu poder de fogo, o Galil é amplamente considerado a arma longa mais confiável do mundo, construída para um exército que não pode arcar com falhas em campanha.

Um soldado israelense pendura seu fuzil de assalto Galil na porta traseira de uma peça de artilharia auto-propulsada de 155mm, enquanto uma bateria de obuseiros pesados de Israel é desdobrada em 11 de agosto de 2003 nos campos do Kibutz Yiftah na fronteira entre Israel e Líbano.

A despeito de seus impressionantes sucessos táticos na Guerra dos Seis Dias de junho de 1967, as Forças de Defesa de Israel encontraram espaço para melhorias, começando com seu esteio de infantaria, o Fabrique Nationale Fusil Automatique Léger, a arma longa produzida pela Bélgica da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Embora o FN FAL fosse bom, era necessário cuidado para evitar obstruções devido à areia e poeira endêmicas em todo o Oriente Médio.

IMI Romat, o FAL israelense.

A IMI começou a trabalhar em um projeto local com a ajuda de Yisrael Balashnikov (sem relação com Mikhail Kalashnikov) e Yaacov Lior. De fato, os engenheiros da IMI ficaram impressionados com a confiabilidade do fuzil AK-47 de Kalashnikov, do qual os israelenses haviam capturado grandes números durante a breve guerra, mas, no coração de seu novo projeto, eles se voltaram para a caixa da culatra melhorada que os finlandeses incorporaram em sua cópia melhorada do AK-47, o Valmet Rk 62 (na verdade, o primeiro lote de produção de fuzis IMI usava caixas da culatra de fuzis RK 62 importados antes de obter o item produzido em casa).

Valmet Rk 62.

Embora tenha sido projetado para funcionar de maneira semelhante ao AK-47 com um sistema de pistão acionado a gás e um ferrolho com dois terminais de trancamento, o projeto israelense diferia mais fundamentalmente em sua construção. Embora o protótipo tenha uma caixa da culatra de chapa de aço estampado e rebitada, os engenheiros a abandonaram em favor do forjamento fresado pesado para essa e para a maioria dos outros componentes, com a maioria das superfícies metálicas externas fosfatadas para resistirem à corrosão e com um revestimento de esmalte preto.

Desmontagem em primeiro escalão do Galil AR.

As exceções incluíam a empunhadura de plástico de alto impacto e a proteção do guarda-mão, enquanto o alumínio era usado para a coronha esquelética tubular, com base naquelas do FN FAL, que se dobravam ordenadamente no lado direito da caixa da culatra.

Testada contra uma variedade de projetos estrangeiros em 1972, a arma da IMI se mostrou superior em praticamente todos os aspectos e ainda é considerada o fuzil mais confiável do tipo. Naquele momento, Balashnikov havia mudado seu sobrenome para algo menos russo e mais hebraico, Yisrael Galili, e, consequentemente, sua ideia foi batizada de fuzil Galil.

Um fuzileiro naval americano testa um fuzil israelense Galil ARM durante um tiro de familiarização com armas estrangeiras. (Foto do USMC)

Em 1973, Galili recebeu o Prêmio de Defesa de Israel por sua criação.

A produção começou com três versões: o padrão fuzil-metralhador (automatic rifle machine gunARM), um fuzil automático (automatic rifleAR) para tropas de apoio e polícia militar, e um fuzil automático curto (short automatic rifleSAR) para tripulações de veículos, estado-maior e tropas especializadas. O ARM foi distinguido por sua alça de transporte e um bipé que poderia ser girado contra uma extensão adjacente para servir como cortador de arame. Em resposta à tendência do pessoal da IDF de abrir garrafas no lábio frontal dos carregadores de munição, eventualmente dobrando-os, o Galil também incorporou uma extensão sob a proteção frontal que servia como abridor de garrafas.

Galil ARM.

Outro toque previdente foi a alavanca de manejo, projetando-se verticalmente da área superior da caixa da culatra, de modo a ser acessível a ambos atiradores destros ou canhotos.

A massa de mira em forma de L do Galil poderia ser invertida aplicando-se tanto para o combate corpo-a-corpo quanto de 0 a 300 metros ou em um cenário de longo alcance de 300 a 500 metros. O poste frontal estava coberto e podia ser ajustado para vento e elevação zero. Nas batalhas noturnas, a alça de mira e a massa de mira tinham cápsulas de trítio calibradas para 100 metros.

Galil AR.

Originalmente construído para usar a munição da OTAN de 5,56x45mm, o Galil também foi construído para balas de 7,62x51mm, as quais foram alojadas em carregadores arredondados e curvos de 35 ou 50 tiros. Além dos ARMs e SARs de 7,62mm, o Galil desenvolveu um fuzil sniper de 7,62mm especializado, estritamente semi-automático, com mira telescópica e um carregador de 25 tiros. Embora mais pesados que muitos contemporâneos - de 8,7 libras para o SAR de 5,56mm a 14 libras para o fuzil sniper de 7,62mm - os soldados israelenses aceitaram esse fardo por sua sólida estabilidade, excelente precisão e confiabilidade em todos os tipos de ambientes problemáticos.

Mas as armas perfeitas não saem baratas nem rapidamente da linha de montagem, e isso provou ser o calcanhar de Aquiles que impediu o Galil de se tornar o esteio do exército para o qual foi concebido.

A produção havia acabado de começar quando a Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão) de 1973 ocorreu, interrompendo a expedição de Galils. O ARM foi declarado o fuzil de serviço padrão das IDF depois, mas em 1975 o Programa de Ajuda Militar dos Estados Unidos começou a exportar o primeiro lote dos 60.000 fuzis de assalto M16A1 para os israelenses - gratuitamente.

Kaibiles guatemaltecos com o Galil AR.

Com os piores defeitos originais do M16 da Guerra do Vietnã corrigidos, o M16A1 ofereceu uma arma eficaz e mais leve, cujos números e disponibilidade condenaram o Galil ARM à marginalidade até 2000, quando o desenvolvimento do fuzil de assalto IWI Tavor 5.56x45mm se tornou o fuzil padrão das IDF.

Em retrospecto, pode-se considerar a carreira truncada do Galil a consequência de começar sendo muito bom para o seu próprio bem. Em uma nota mais irônica, no entanto, embora nunca tenha alcançado seu objetivo original como arma longa principal das IDF, o Galil e as muitas variantes derivadas dele chegaram a 25 outros exércitos e numerosas forças policiais em todo o mundo. Muitos ainda estão em uso e ainda são populares entre seus usuários.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

FN FAL: “O Braço Direito do Mundo Livre”


Por Chris Eger, Guns.com, 3 de março de 2014.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 29 de agosto de 2019.

[O blog já tratou sobre o FAL aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.]

Durante a Guerra Fria, o mundo foi dividido em OTAN, Pacto de Varsóvia e alguns neutros. Enquanto os EUA escolheram foi de M14/M16 e os soviéticos escolheram o humilde AK, o resto do mundo foi por outro caminho - o FN FAL.

O FN FAL armou a maior parte do mundo ocidental e seus aliados durante a era da Guerra Fria.

Por quê

No final da década de 1940, os países aliados ocidentais no pacto militar da OTAN estavam indo às compras atrás de um novo e moderno fuzil de batalha. Com os soviéticos e seus companheiros do bloco oriental armados com o SKS e o AK-47 com seletores de tiro, fuzis de ferrolho Enfields, Mausers e MAS da OTAN foram totalmente ultrapassados.

Fuzil MAS-36 sendo disparado por um soldado alemão no final da Segunda Guerra Mundial.

Os americanos e britânicos estavam testando rapidamente novos rifles na época, mas a gigante belga de armas FN - mal se recuperando da guerra e da ocupação nazista de suas próprias fábricas - procurou seu laborioso mestre de armas, Dieudonné Saive, para ver o que ele poderia sugerir.

Projeto

Dieudonné Joseph Saive era o Chef de Service da FN (chefe de projeto de armas) por quase duas décadas. Quando o gênio das armas de fogo John Moses Browning morreu, deixando sua pistola de 9mm bifilar incompleta, Saive a terminou, criando a famosa Browning Hi-Power. Além dessa conquista, ele tinha uma parte na pistola Baby Browning e no fuzil FN-49. Foi essa última arma, um fuzil semi-automático operado a gás, que Saive usou como base para o novo fuzil de combate com seletor de tiro da FN.

O inventor do fuzil FAL, Dieudonné Saive.

Tomando a operação a gás básica, com o bloco da culatra basculante, do seu FN-49, ele o modificou para se tornar capaz de disparar seletivamente até 700 tiros por minuto. Ao contrário dos velhos fuzis de ação de ferrolho das Guerras Mundiais que carregavam no máximo de 5 a 10 disparos, a nova arma da FN seria alimentada por carregadores tipo cofre destacáveis que podiam conter 20 cartuchos de maneira confiável. Um cano de 21 polegadas (533mm) dava à arma um comprimento total de 43 polegadas (109mm).

Protótipo do FAL no calibre .280/30, apresentado em 1947.

Embora isso possa parecer longo em comparação com os fuzis de hoje, deve-se lembrar que o típico fuzil Mauser, que a nova arma estaria substituindo, também tinha 43 polegadas. O peso chegou a 9,48 libras (4,3kg), descarregado, em grande parte devido à armação de madeira da arma e à caixa da culatra fresada (em vez da caixa da culatra estampada encontrada no AK47).

Fuzil FAL, visão explodida do desenho.

Pronto para produção em 1953, a FN chamou seu novo fuzil de Fusil Automatique Léger (francês para "Fuzil Automático Leve"). Obviamente, isso foi simplificado como FAL.

Fuzil FAL comum.

Fuzil Para-FAL. Notar a coronha esquelética rebatível.

Sistema de mira de um fuzil FN FAL.

Uso

A FN encontrou o tipo de sucesso com o FAL com a qual empresas de armas apenas sonham. Entre 1953-1988, eles fabricaram mais de 2 milhões dessas armas para clientes em todo o mundo. Isso incluiu remessas para a Alemanha, Colômbia, Chile, Irlanda, a Holanda e outros. Ao todo, seria usado por forças armadas ou forças policiais em algo como 90 países. Isso incluía não apenas o modelo padrão FAL 50.0, mas também a arma automática do grupo de combate de 13 libras (6kg) FALO* (com um cano pesado e um carregador de 30 tiros), o FAL 50.61 de coronha dobrável, e o modelo “Paraquedista” 50.62/63 com coronha dobrável e cano de 17 polegadas (436mm). Originalmente construído em torno do Kurz intermediário de 7,92×33mm, o fuzil de grande calibre era predominantemente calibrado no 7,62×51mm OTAN.

*Nota do Tradutor: Fusil Automatique Lourd (FALO), conhecido no Brasil como FAP (Fuzil Automático Pesado).

Soldados do 7º Regimento Real Australiano marcham através de Sydney com FALs, 1968.

Gurcas britânicos armados de Kukris e fuzis FAL L1A1.

Além das armas fabricadas pela FN, vários países fizeram suas próprias sob licença. Um grande mercado para armas feitas sob licença desse projeto belga foi o Brasil (Imbel) e a Argentina (FM), que fabricaram centenas de milhares dessas armas. Israel foi outro dos primeiros fabricantes do FAL, usando-o para finalmente substituir os fuzis Mauser e Enfield da época da Segunda Guerra Mundial e aumentar a produção da submetralhadora UZI fabricada localmente. O problema era que o FAL estava propenso a travamentos nas condições do deserto, o que falhou em impressionar os israelenses.

Exército britânico na Irlanda do Norte com FALs L1A1.

FAL L1A1 em Belfast, 1981.

O FALO de 13 libras é uma versão de arma de apoio do grupo de combate do FN-FAL.

Esse fato era mais conhecido pelos britânicos, que desde o início criaram seus próprios FALs semi-automáticos licenciados (fabricados pela Enfield e apelidados de L1A1) com recortes de areia no conjunto do ferrolho, pois eles eram conhecidos por estarem envolvidos em climas desérticos de tempos em tempos. Isso provou ser útil para as operadores britânicas do SAS em Omã, Áden e outros lugares em que nunca estiveram oficialmente nas décadas de 1960 e 70. Seguindo a liderança da Grã-Bretanha, a Austrália, o Canadá*, a África do Sul e a Índia fizeram a licença do FAL em suas próprias versões semi-automáticas. Essas armas viram combate nas Falklands (onde soldados britânicos armados com FALs lutaram contra soldados argentinos - armados com FALs).

*Nota do Tradutor: O Canadá adotou o FAL antes da Grã-Bretanha, em 1954, o primeiro país do mundo a adotá-lo; antes mesmo da própria Bélgica.

Fuzis L1A1 vistos aqui nas Falklands com tropas britânicas.

Fuzis FN FAL FMP com tropas do exército argentino nas Falklands, 1982.

Treinamento de infantaria do Exército da Rodésia com seus FN FALs.
Observe a empunhadura para a frente.

A Rodésia usou o FAL em sua versão semi-automática britânica/sul-africana*, pintada distintamente na chamada tinta de cocô de bebê. Hoje, essa série de manchas verdes e amarelas é muito popular entre os colecionadores, que geralmente a recriam em versões de construção doméstica. Essas armas foram a arma icônica dos 15 anos da Guerra de Mato (Bush War) naquele país.

*Nota do Tradutor: A Rodésia utilizou FALs métricos da Alemanha Ocidental e o R1 sul-africano.

Mesmo pequenos países então chamados neutros, sem cortejar inimigos, adotaram o FAL, pois certamente parecia uma boa idéia na época. Isso incluía a pequena Áustria (que o produziu localmente pela Steyr como StG58*), Costa Rica, República Dominicana e Nepal. Isso deixou o mundo não-comunista do Himalaia aos Alpes e aos Andes, todos guardados pelo fuzil de batalha da FN.

*Nota do Tradutor: O StG58 austríaco é considerado a melhor versão do FAL. Uma curiosidade é a ausência de baioneta, apenas com o uso do bocal de granada.

FAL na Rodésia.
Reencenador finlandês com a camuflagem “cocô de bebê”.

O FAL ainda aparece frequentemente em "pontos quentes" militares, como visto por este exemplo enferrujado recentemente fotografado na Libéria.

O capitão do exército dos EUA, William Summer, interroga um cavalo de aparência suspeita no Iraque com um FAL em pronto emprego, 2007.

Soldados nepaleses usando fuzis FN FAL e smartphones em 2010.

FAL na Serra Leoa, 2011.

Colecionabilidade

O FG42 comparado ao G3, à esquerda, e ao FN FAL, à direita.

O chocalho da morte do FAL foi soado pela adoção pela OTAN da munição de 5,56mm como padrão depois de 1964. Primeiro, os EUA, depois a França e a Alemanha começaram a selecionar armas mais leves e controláveis, como o M16, FAMAS e HK33, todos em 5,56 para substituir os fuzis de batalha de 7,62mm dos anos 50 e 60.*

*Nota do Tradutor: A OTAN só adotou realmente o 5,56mm como padrão nos anos 1980. O primeiro país a adotar o 5,56mm como padrão foi a França em 1978 com o FAMAS.

Um por um, o Mundo Livre mudou para armas de menor calibre. Por volta de 1989, até a FN entrou na dança e projetou o FNC de 5,56mm para substituir o FAL em sua linha de montagem.

O ator Dennis Hopper era um ávido proprietário do FAL como visto aqui com seu FAL G em Taos, Novo México, 1970.

Hoje, o FAL ainda está em serviço muito difundido em todo o mundo, mas isso ocorre com forças armadas menores, como o Camboja, Togo e Suriname*. Até membros da OTAN como a Turquia e a Grécia, há muito conhecidos por manter equipamento militar por gerações, mudaram para o 5,56.

*Nota do Tradutor: O Brasil e a Argentina ainda mantêm o FAL, sendo que a Argentina o atualizou e não manifesta o desejo de substituí-lo.

No entanto, 60 anos de serviço ao redor do mundo e uma silhueta inconfundível deram ao FAL um legado duradouro. Com a possível exceção do fuzil M14/M1A, o FAL é talvez o fuzil de batalha em 7,62x51mm mais desejado nos EUA hoje. Isso faz com que os colecionadores se apressem atrás tanto dos kits de peças e como das próprias versões originais de fábrica da arma.

Kits de peças

Kit de peças do FAL. Os armeiros de casa devem estar cientes de que as peças vêm em variedades de milímetros e polegadas.

A melhor aposta para muitos possíveis viciados no FAL é montar uma arma a partir de um kit de peças. Nesse caso, você simplesmente pega uma nova caixa da culatra semi-automática e monta legalmente sua própria arma em torno dela, no estilo Frankenstein, usando peças separadas vendidas por distribuidores.

Ao comprar os diferentes kits de peças, escolha padrões métricos ou em polegadas e atenha-se a eles ao adquirir peças. Se a última frase o deixa intrigado, lembre-se de que o FN FAL e seus variantes foram feitas tanto pelos países que usaram milímetros e centímetros (Bélgica, Brasil, Áustria) quanto pelos países que usaram polegadas (Grã-Bretanha, Austrália, Canadá etc.), então esteja ciente , você pode encontrar peças de ambos, mas elas não são necessariamente intercambiáveis.

Kit da arma DSA SA58.

É claro que, como a maioria dos variantes do FAL era métrico e muitos modelos de "polegada", como as armas australianas, foram destruídos em vez de vendidos como excedentes, as versões métricas continuarão sendo mais comuns no mercado de excedentes. Além disso, como a Imbel ainda está fabricando e exportando caixas da culatra métricos do FAL, isso pareceria o caminho lógico para os armeiros iniciantes.

FAL de propriedade civil.

Mas não importa o que você monte, consulte as seções de referência do fórum da web FAL Files antes de começar a fazer compras. Ao fazê-lo, você encontrará kits atualmente variando de US$ 400 a US$ 700. Isso, quando você adiciona o preço de uma caixa da culatra a ele, pode ou não valer a pena para você.

Armas prontas


FALs!

Se você não quer brincar de montar o seu próprio fuzil, ainda existem muitas opções para os interessados. A Century fez o que chamou de fuzil R1A1 a partir de caixas de kits de peças que muitas vezes deixavam peças em polegadas e métricas na mesma arma. Estes, como você pode imaginar, são o degrau mais baixo da cadeia alimentar semi-automática legal do FAL nos Estados Unidos e geralmente podem ser comprados por US$ 800. Outras armas fabricadas com novas caixas da culatra, mas utilizando uma mistura de peças antigas (geralmente métricas) incluem o DSA StG58 e o FN Paraquedista da Imbel/Enterprise. Qualquer um desses começa em US$ 1000 e sobe rapidamente a partir daí.

Marca do R1A1 da Century Arms.
Os FALs com marcação da FN em qualquer versão são o item mais quente.

No início dos anos 60, foram importados para os EUA cerca de 1.800 fuzis semi-automáticos FAL da série FN G da Bélgica. Essas armas são extremamente caras, geralmente mais de US$ 5.000, mas são o mais perto possível da coisa real sem um carimbo de imposto. Isso ocorre porque essas armas foram construídas com caixas da culatra de FALs com seletores de tiro regulares, apenas sem a alavanca de manejo verdadeira para acionar a arma na terceira posição.*

*Nota do Tradutor: Nos eventos internacionais, o tiro de fuzil é feito em três posições: Deitado, de Pé e Ajoelhado, sempre nessa ordem. Portanto, primeira posição, segunda posição e terceira posição.

Então, é claro, existem FALs verdadeiros registrados na NFA de Classe III que são capazes de disparar legalmente em fogo totalmente automático. Como acontece com qualquer metralhadora transferível, eles valem amplamente qualquer valor que alguém queira pagar por eles. No entanto, esteja preparado para um ponto de partida nesses itens em torno de US$ 10.000.

De qualquer maneira, o velho Dieudonné fez um bom trabalho para a FN.

Bônus:

O tradutor (centro) com um FAP no Capão do Leão/RS em janeiro de 2008.

Bibliografia recomendada:

The FN FAL Battle Rifle,
Bob Cashner.

Leitura recomendada:


domingo, 5 de janeiro de 2020

Fuzis de treinamento FAL do Brasil

O autor, Ronaldo Olive.

Por Ronaldo Olive, The Firearm Blog, 28 de março de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 30 de dezembro de 2019.

A idéia está longe de ser nova: ter uma pistola de menor calibre para substituir a pistola real para treinamento inicial, de modo que você possa obter reduções substanciais de custos no processo. Simples assim. A fórmula alcançou graus variados de sucesso (ou falta dele) em diferentes países ao longo dos anos e também foi experimentada - ainda que brevemente - no Brasil há trinta anos ou mais.

O Rossi EB-79/FAC

O fuzil de ar comprimido Rossi EB-79/FAC de calibre 4,5mm (.177) foi projetado para se parecer com e manusear como um FAL 7,62x51mm.

O uso de um fuzil de ar comprimido para o treinamento inicial de recrutas parecia atraente o suficiente para um país com orçamentos de defesa muito limitados, pois permitiria o uso de estandes de tiro interno com total segurança e evitaria viagens de tropas que consumiam tempo e combustível para estandes distantes. No Brasil, algumas unidades do Exército já estavam experimentando, no início dos anos 70 - puramente em uma base individual - com fuzis de ar comprimido comerciais padrão para ensinar aos novos recrutas procedimentos básicos de mira e tiro. A idéia então se tornou um interesse oficial, e o DMB - Departamento de Material Bélico - emitiu especificações em 1979 para uma arma de uso padrão desse tipo.

O resultado foi o EB-79/FAC (Fuzil de Ar Comprimido), que foi exaustivamente testado em 1981, entrou em serviço no ano seguinte e foi produzido por algum tempo pela Amadeo Rossi S/A Metalúrgica e Munições em São Leopoldo, RS. Calibrada para pelotas de 4,5mm (.177) e usando uma armação de polímero, foi feito para se parecer com e manusear como um FAL 7,62x51mm, o fuzil padrão do Exército Brasileiro. Ele ainda possuía um carregador fixo, alça de transporte e quebra-chama falso similar. O comprimento total (1100mm) e o peso (4,6kg) eram praticamente os mesmos do fuzil real. Eles estavam em uso limitado por alguns anos, principalmente com os chamados "Tiros de Guerra", unidades de treinamento de recrutamento de meio período em cidades menores, sem unidades maiores do Exército disponíveis. 

Curiosamente (mas esperado em um local com tantas restrições de armas de fogo como o Brasil), as vendas deste fuzil de ar no mercado comercial foram proibidas, pois foram classificadas como “ítens de uso militar”!

O IMBEL “Falbina”

Sendo uma fabricante de fuzis FAL estabelecida há muito tempo, a Fábrica de Itajubá da IMBEL não encontrou problemas em lançar uma versão de treinamento dedicada, no calibre .22LR.

Como fabricante licenciada de fuzis FAL de longa data, a IMBEL - Indústria de Material Bélico do Brasil - decidiu fazer uma versão de treinamento .22LR dessa arma no início dos anos 80, sendo o trabalho de responsabilidade de sua Fábrica de Itajubá, no estado de Minas Gerais. Em vez de oferecer um kit de conversão para o fuzil M964 padrão, a designação local do FAL, a empresa optou por fabricar o fuzil no calibre menor. Operando, é claro, por ação convencional de recuo por gases, um carregador de 20 tiros que se encaixa para cima em um falso carregador de FAL não-removível. As alças de manejo eram tanto do tipo maçaneta (lado direito, atrás da janela de ejeção) ou da variante dobrável (lado esquerdo). Também foram encontradas variações no registro de segurança, na frente do guarda-mato (estilo Garand, bloqueando o gatilho quando puxado para trás) ou duplicada daquela da arma original, ou seja, no lado esquerdo, logo acima do gatilho.

Vistas mais próximas de um dos protótipos “Falbina”, com a placa inferior do pequeno carregador de 20 tiros projetando-se levemente do falso carregador de FAL não-removível, e o retém de segurança tipo Garand dentro do guarda-mato. A figura abaixo também mostra o pequeno seletor de tiro destinado ao uso dos instrutores.

Uma característica particularmente incomum era um registro de segurança adicional no lado esquerdo da culatra, destinado a ser usado pelo instrutor: uma das posições travava o mecanismo de disparo após cada tiro, o fuzil disparava novamente somente depois que o instrutor ajustasse a alavanca de acordo, enquanto uma posição alternativa permitia o fogo semi-automático normal. Nenhum modo totalmente automático, presente nos FALs do Exército Brasileiro, estava disponível.

O fuzil de treinamento IMBEL desmontado em primeiro escalão. Observe o ferrolho pequeno e a mola recuperadora para sua operação de recuo por gases, bem como o compartimento do carregador .22LR vindo da culatra.

Alguns protótipos com pequenas variações (formato da alavanca de manejo, segurança aplicada) foram concluídos e avaliados por unidades do Exército para possível adoção, mas o programa não avançou muito. Felizmente, o autor teve a sorte de ter tido chances de disparar o não-oficialmente chamado “Falbina” (uma mistura de FAL e Carabina) na fábrica em 1982 e 1983.

 O carregador de 20 tiros em .22LR sendo inserido no falso carregador de FAL fixo. Um exame mais detalhado da foto mostrará que este exemplo do fuzil de treinamento IMBEL, como aquele da imagem anterior, não está equipado com o retém de segurança do gatilho no estilo Garand, e que a alavanca de manejo no lado esquerdo da culatra (lado direito, no fuzil original) é do tipo dobrável.

Autor se divertindo com um “Falbina” na Fábrica de Itajubá no início dos anos 80.

O kit de conversão de percussão lateral da Brasarms

Componentes do kit (de cima para baixo): cano, esqueleto do conjunto do ferrolho, retém de segurança do gatilho e dois carregadores.

A mesma idéia de usar uma arma calibrada em .22LR, para dar aos recrutas instruções iniciais sobre os procedimentos de manuseio e disparo do FAL, surgiu novamente no Brasil em 1985-86, quando uma empresa do Rio de Janeiro, Brasarms Indústria e Comércio Ltda, criou um kit de conversão inteligente para fazer isso. A engenhoca foi criada por Olympio Vieira de Mello Filho, pai da submetralhadora Uru de 9x19mm (pretendo postar um artigo sobre essa controversa SMG em um futuro próximo). Após sua submissão aos testes oficiais de certificação do Exército Brasileiro no Campo de Provas da Marambaia, que incluiu um bem-sucedido programa de testes de precisão, confiabilidade e resistência de 5.000 cartuchos, eu também pude colocar minhas mãos nela para um teste pessoal avaliação.


A vista superior da estrutura leve do ferrolho mostra o percussor com sua mola, bem como a estrutura de suporte da mola recuperadora/haste guia na retaguarda. O mecanismo de segurança do retém do gatilho foi liberado por um golpe do seccionador (embaixo) preso ao ferrolho enquanto se movia para a frente, liberando o cão para disparar. Imagem inferior: a face do ferrolho.

O kit Brasarms consistia em um cano (540 mm de comprimento, 6 raias, torção de RH), conjunto do ferrolho e dois carregadores. A montagem era notavelmente direta, não demorando a alguém (inclusive eu) muito mais que um minuto, depois de algumas tentativas orientadas. Abra o FAL girando a alavanca de desmonte no sentido anti-horário e girando a coronha para baixo. Remova a tampa da culatra, retirando subsequentemente todo o conjunto do ferrolho e de operação de gás (ferrolho, conjunto do ferrolho, mola recuperadora e sua haste guia). Insira o cano reduzido no fuzil até o final, o qual foi recomendado ter sido levemente lubrificado antes. Conecte o seccionador de segurança à unidade do ferrolho e deslize esse conjunto na caixa da culatra. Coloque a tampa da culatra de volta na arma e feche o fuzil novamente.

Instalação do kit em um FAL de coronha fixa:
(1) cano de .22LR pronto para ser inserido no cano de 7,62x51mm;
(2) insira até o fundo do cano do FAL;
(3) o retém de segurança do gatilho (em cima) está preso ao lado esquerdo do esqueleto do ferrolho;
(4) conjunto do ferrolho com o seccionador no lugar;
(5) conjunto do ferrolho sendo inserido na extremidade traseira da culatra;
(6) conjunto do ferrolho no lugar dentro da culatra;
(7) a tampa da culatra deslizada de volta na arma, a qual pode ser fechada novamente.

Em vez de usar um suplemento para o carregador padrão do FAL, o kit brasileiro foi fornecido com duas unidades modificadas de fábrica. Uma réplica exata do carregador original, a unidade de treinamento também duplicou a capacidade de 20 tiros e foi adequadamente equilibrada para dar o mesmo peso carregada com munição .22LR como se tivesse um número igual de munição 7,62x51mm: 750 gramas. O preenchimento manual dos carregadores monofilares ficou um pouco difícil (pelo menos nos exemplos em mãos) após o 15º cartucho mais ou menos. O ejetor era integral ao carregador.

Essa vista do carregador do kit mostra claramente um pequeno cartucho .22LR no lábio de alimentação. A capacidade de vinte tiros duplicou àquela do original de 7.62x51mm.

Com o kit totalmente instalado, o fuzil obviamente foi operado por recuo de gases. Para compensar as diferentes características balísticas das munições, a alça de mira do FAL deve ser ajustada na faixa de 400 a 600 metros no modelo de deslizamento padrão ou a 250 metros na mira de abertura do Para-FAL, onde a precisão pode ser dominada com um grau de precisão excelente. Usando alvos de escala reduzida bullseye (1/5 ou 1/10) ou alvos táticos, engajamentos de longo alcance podem ser efetivamente simulados a distâncias tão curtas quanto, digamos, 10 ou 20 metros, para que instalações de treinamento em ambiente interno pudessem ser fácil e economicamente configuradas.

Como era de se esperar, um fuzil de 5kg disparando minúsculos cartuchos .22LR permaneceu firme durante todo o tempo. Sem coices no ombro e explosão da boca, você pode se concentrar em... apenas atingir alvos. Nós (eu e meu filho/fotógrafo Alexander) atiramos principalmente nos alvos táticos reduzidos de 1/10, o que correspondeu aproximadamente a disparos contra alvos do tamanho de homens a 100-200 metros. A precisão era excelente e, além de um ou outro voador, os acertos na zona de matança eram a regra para disparos do ombro. Com o fuzil levemente apoiado, nós poderíamos até “brincar de sniper” e começar a acertar “apenas cabeças”. Considerando que as miras de ferro de combate do FAL não são boas para disparos de precisão, os resultados foram mais do que satisfatórios.

Os fuzis convertidos também dispararam muito bem em cadências taxas de tiro automáticas cíclicas na faixa de 700 tiros por minuto. Como a falta de recuo e subida da boca não era representativa da realidade do FAL em 7,62x51mm, a prática do rock and roll não deve ser considerada realmente instrutiva, mas nos divertiu muito!


Alexander Olive disparando um Para-FAL convertido em fogo automático da cintura e (foto inferior) o pai fazendo o mesmo, com a coronha dobrada. O fuzil de grande calibre seria totalmente incontrolável neste caso.

E havia uma diferença de funcionamento específica entre os fuzis originais e os modificados: o ferrolho do .22LR permaneceu fechado após o último cartucho ser disparado, enquanto no FAL de 7,62x51mm há um pino (montado na caixa da culatra à direita do ejetor) para segurar o ferrolho na posição à retaguarda quando o carregador estiver vazio. Duplicar os diferentes componentes do carregador responsáveis por isso mostrou-se desnecessariamente complicado, então a empresa Brasarms abandonou o recurso. Infelizmente, o interesse local e estrangeiro em um FAL convertido em percussão lateral não foi tão grande quanto o esperado. Então...

Bibliografia recomendada:

The FN FAL Battle Rifle,
Bob Cashner.

Leitura recomendada:




T48: O FAL Americano, 3 de julho de 2020.

Um breve comentário sobre o FN FAL, 21 de fevereiro de 2020.

Tiro em Cobertura Rodesiano, 15 de abril de 2020.