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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

IMI Magal: carabina .30M1 de volta ao jogo


Por Ronaldo Olive, The Firearm Blog, 16 de outubro de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 6 de dezembro de 2020.

Embora nunca tenham sido um item oficial das Forças de Defesa de Israel, as carabinas M1 feitas nos EUA foram uma visão muito comum em todo o país por décadas. Amplamente distribuídas entre as forças policiais e unidades da Guarda de Fronteira/Guarda Civil, essas armas da Segunda Guerra Mundial também encontraram seu caminho para realizar tarefas de segurança em kibutzim* e outros assentamentos, tornando-se até mesmo uma presença frequente nas mãos de guias turísticos particulares. As razões por trás dessa popularidade foram muitas, incluindo o fato de que elas foram aparentemente fornecidas pelo governo dos Estados Unidos a baixo ou nenhum custo; eram armas confiáveis; e o cartucho .30M1 (ou 7,62x33mm), para o qual foram calibrados se mostrarem atraentes para uso em cenários urbanos imposição da lei de curta distância.

Renault R35 preservado onde foi atingido, próximo dos protões da Degania Alef. Ele foi destruído por um tiro de PIAT no alto da torre, com o buraco visível na foto.

*Nota do Tradutor: Kibutzim é plural de kibutz. Um kibutz é uma forma de coletividade comunitária israelita, que foi tradicionalmente baseada na agricultura. Os kibutzim começaram como comunidades utópicas, uma combinação de socialismo e sionismo. Hoje, a agricultura foi parcialmente suplantada por outros ramos econômicos, incluindo fábricas industriais e empresas de alta tecnologia. Nas últimas décadas, alguns kibutzim foram privatizados e mudanças foram feitas no estilo de vida comunitário. Um membro de um kibutz é chamado de kibutznik (plural kibbutznikim ou kibbutzniks). O primeiro kibutz, estabelecido em 1909, foi a Degania, posteriormente Degania Alef, com um kibutz gêmeo Degania Bet. As duis Deganias são famosas por repelirem os ataques sírios com tanques franceses Renault R35 na Batalha do Vale Kinarot (15–21 de maio de 1948) durante a Guerra de Independência (1948-49). O famoso general israelense Moshe Dayan nasceu no Degania Alef em 20 de maio de 1915 e participou da batalha em 1948, comandando todas as forças israelenses nas Deganias. O primeiros dos Renault R35 sírios destruídos permanece na Degania Alef como monumento.

Com isso em mente, a IMI - Israel Military Industries (agora, IWI - Israel Weapon Industries Ltd.) decidiu, em meados da década de 1990, usar esta munição, bastante disponível e apreciada, para um derivado semi-automático do Fuzil de Assalto Micro Galil 5,56x45mm, também conhecido como MAR. As mudanças necessárias no design interno foram adicionadas ao Galil operado a gás (este, em essência, amplamente baseado no AK), incluindo não apenas um novo cano de 230mm (cinco ranhuras, à direita, taxa de torção de 1:20), mas um número de alterações no ferrolho/conjunto do ferrolho e mudanças dimensionais no sistema de gás para lidar com as pressões mais baixas (em comparação com a munição 5,56x45mm) geradas pelo cartucho .30M1. Embora o carregador da Carabina M1 original de 30 tiros pudesse ser usado, a IMI também oferecia uma unidade de 27 tiros totalmente compatível que mantinha o ferrolho aberto após o último tiro disparado.

O MAR de tiro seletivo 5.56x45mm que serviu de base para a carabina Magal .30M1 semi-automática.

Uma Carabina M1 com carregador mais curto de 15 tiros (2,6kg carregado) e um Magal da Polícia Militar do Pará com carregador de 27 tiros fornecido de fábrica (3,6kg carregado).

Fora isso, as mudanças foram principalmente no departamento estético/ergonômico. O receptor superior usinado todo em aço e cada parte do mecanismo de disparo foram alojados dentro de uma parte inferior de polímero de uma peça, que incluía a empunhadura de pistola, guarda-mato de tamanho completo, compartimento do carregador e guarda-mão, este apresentando um orifício abaixo do cano para o adição de uma lanterna. Para que conste, um Magal totalmente desmontado compreende 72 peças, sendo os procedimentos de desmontagem de primeiro escalão semelhantes àqueles da família Galil.

Meus arquivos antigos me dizem que um lote inicial de cerca de 1.000 dessas carabinas IMI foram entregues a agências policiais para uso nos conflitos israelense-palestinos de 1999-2000, mas muitos relatos negativos do seu uso em serviço começaram a voltar, incluindo falhas operacionais atribuídas ao cano muito curto que produziu pressão de gás insuficiente (piorou quando os acessórios de controle de distúrbios foram fixados ao cano) e superaquecimento do cano durante o fogo contínuo. Foi relatado que o fabricante planejou uma produção inicial de 4.000 armas, mas eu me pergunto se isso jamais chegou a ser concluído.

Duas carabinas Magal nas mãos de agentes da polícia israelense, por volta de 2000, além de uma arma do tipo M4 ao lado.

Com a coronha dobrada para a direita, o Magal tem 485mm de comprimento (740mm, comprimento total). A arma vista ao lado com a coronha estendida é equipada com um acessório adicional no cano para uso com munições anti-motim.

No entanto, o Magal também foi promovido no exterior. Que eu saiba, o único pedido de exportação confirmado veio da PMPA - Polícia Militar do Pará (Polícia Militar do Estado do Pará), que recebeu 555 exemplares em 2001 ou mais. Observe que o Magal já havia sido testado, aprovado e certificado (ReTEx No.1711/00. 8 de novembro de 2000) pelo Exército Brasileiro antes de sua adoção pelo PMPA. Este escriba teve a sorte de ter sido convidado para ir à cidade de Belém, capital do Estado do Pará, para um rápido encontro prático com a carabina israelense naquela época. Ah, sim: o Magal ainda é visto em uso ocasional hoje pelos policiais militares daquele estado da região da Amazônia.

O autor com um Magal do PMPA durante visita a Belém, no início dos anos 2000. A arma está equipada com uma mira reflexiva iluminada Meprolight MEPRO 21, dia e noite, na montagem Picattiny dianteira, além de uma lanterna no orifício do guarda-mão. Não me lembro da mira ter sido, de fato, adotada por aquela polícia militar.

A alavanca de manejo do lado direito é, no entanto, facilmente manipulada com a mão esquerda. O guarda-mato de mão inteira e o retém do carregador pressionável para frente são evidentes.

A alavanca seletora de tiro tipo AK na posição “Segura”.

O seletor duplicado no lado esquerdo, acima da empunhadura de pistola, agora está definido para “Fogo”.

A alça de mira com abertura em forma de L tem configurações para 150 (aqui) e 250 metros, com orelhas de proteção resistentes.

A massa de mira, igualmente bem protegida, possui uma pequena inserção de trítio para ajudar em situações de pouca luz.

Algumas centenas de cartuchos de ponta macia revestidos disparados sem interrupções em Belém me deram uma boa impressão geral sobre o Magal, não obstante os problemas relatados no texto.

A missão final da pouco conhecida carabina IMI Magal nas mãos de um agente da Polícia Militar do Pará. Ele é integrante da unidade de Motopatrulhamento (Patrulhamento de Motocicleta), um dos primeiros usuários locais da arma israelense.

FICHA TÉCNICA
Tipo: Carabina.
Miras: Alça tipo peep sight com regulagem para 150 e 250 metros.
Peso: 2,78 kg.
Sistema de operação: A gás com trancamento rotativo do ferrolho.
Calibre: .30 M1.
Capacidade: 15, 27 ou 30 munições.
Comprimento Total: 73 cm (coronha estendida)
Comprimento do Cano: 9 polegadas.
Velocidade na Boca do Cano: 600 m/seg
Cadência de tiro: Semi Automático.

Autor: Ronaldo Olive "Kid"

Ronaldo Olive é um escritor brasileiro de longa data (começando na década de 1960) sobre assuntos de aviação, forças armadas, imposição da lei e armas, com artigos publicados em periódicos locais e internacionais (Reino Unido, Suíça e EUA). Sua vasta experiência o tornou um palestrante convidado frequente e instrutor nas forças armadas e policiais do Brasil.

Bibliografia recomendada:

The M1 Carbine.
Leroy Thompson.

Leitura recomendada:

terça-feira, 21 de abril de 2020

Tentativas da Argentina de um fuzil indígena

Este exemplar em particular de um fuzil argentino com mira telescópica mostrado em uma foto publicitária tem a alavanca de manejo no lado esquerdo e, quase imperceptível, uma alça de transporte do FAL dobrada para baixo.

Por Ronaldo Olive, Small Arms Defense Journal, 8 de maio de 2015.

Tradução Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 21 de abril de 2020.

[Nota do Tradutor: A palavra "indígena", aqui, se refere a produzir localmente.]

Da virada do século XIX para o XX, a Argentina, como muitos países do mundo, era equipada principalmente com fuzis Mauser de ação de ferrolho adquiridos diretamente da DWM (Deutsche Waffen und Munitionsfabriken), começando com o M1891 (cerca de 180.000 unidades) e seguido pelo M1909 (cerca de 130.000 unidades compradas no período de 1909-1911), todos calibrados em 7,65x53mm, a chamada munição Mauser argentina. O Arsenal Estebán de Luca local (também conhecido como Fábrica de Fusiles de Buenos Aires) começou a produzir peças de reposição para os fuzis, incluindo canos, em 1915. Entre 1947 e 1959, mais ou menos, as Fabricaciones Militares estatais produziram localmente cerca de 20.000 carabinas mais curtas (cano de 556mm), variantes de Engenharia/Cavalaria do fuzil padrão (com cano de 740mm) em sua Fábrica Militar de Armas Portáteis “Domingo Matheu”, em Rosário, província de Santa Fé. Para constar, os diferentes modelos Mauser permaneceram em uso no exército argentino até serem substituídos gradualmente pelo FN FAL 7,62x51mm à partir de meados de 1957. Após a entrega dos lotes iniciais fabricados na Bélgica, a fabricação local na Fábrica Domingo Matheu começou em 1959, quando 500 exemplares foram concluídos, mas a produção chegaria a cerca de 10.000 unidades por ano. Estima-se que 120.000 fuzis FAL tenham sido fabricados na Argentina antes que a produção finalmente parasse em meados da década de 90.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, quando o M1 Garand americano, a série SVT soviética e o G43 e StG44 alemães mostraram a nova forma e a nova moda do fuzil do soldado de infantaria, o Exército Argentino achou que também era hora de seguir o exemplo, se possível, envolvendo fabricantes locais. Como o país não possuía o conhecimento técnico básico envolvendo o projeto e a produção de armas semi-automáticas, era necessária inspiração externa. Esta veio na forma do fuzil alemão StG 44, que de alguma forma chegou ao país sul-americano em cerca de 1947. Usando um processo de engenharia reversa, funcionários do CITEFA - Instituto de Investigaciones Científicas y Técnicas de las Fuerzas Armadas (Instituto de Pesquisas Científicas e Técnicas das Forças Armadas), em parceria com aqueles da Fábrica Militar de Armas Portáteis “Domingo Matheu”, produziram seu clone local do Sturmgeweher, que recebeu a designação CAM 1. Ao mesmo tempo, a Fábrica Militar de Cartuchos “San Lorenzo” do Exército, também na província de Santa Fé, preparou-se para a produção da munição de 7,92x33mm usada no fuzil, e alguns lotes de teste chegaram para uso no número desconhecido de protótipos CAM 1 que eventualmente emergiram da Fábrica Domingo Matheu. Por razões desconhecidas, no entanto, os planos para a fabricação em larga escala do fuzil terminaram gradualmente em 1953-54.

Fotografia rara do fuzil CAM 1 argentino, o clone de engenharia reversa do fuzil de assalto alemão StG 44, fabricado pela FMAP-DM em Rosário, província de Santa Fé. A munição de 7,92x33mm vista no carregador destacável de 30 tiros foi produzida localmente pela Fábrica Militar de Cartuchos “San Lorenzo”, também em Santa Fé.

Outra tentativa também datada do início da década de 1950 aparentemente veio da Marinha Argentina com o suporte técnico relatado da H.A.F.D.A.S.A. - Hispano Argentina Fábrica de Automóbiles S.A., um pequeno fabricante de submetralhadoras e carabinas semiautomáticas de calibre de pistola baseado em Buenos Aires. Isso acabou se materializando na forma de um fuzil M1 Garand modificado no calibre 7,65x53mm, do qual pelo menos um protótipo foi concluído pela Fábrica Militar de Armas Portáteis "Domingo Matheu" em 1953. As características externas mais notáveis do que era simplesmente chamado de Fusil Semiautomático (Fuzil Semi-automático) eram um elaborado guarda-mão de alumínio, com com aberturas de ventilação verticais no comprimento e contornos revisadas e aberturas mais finas para a coronha.

Também é relatado que a Força Aérea Argentina já havia brincado com a idéia de um programa de fabricação local do fuzil semi-automático M1941 de Melvin Johnson, alguma menção ao chamado M1947 (uma carabina semi-automática derivada da metralhadora M1941) para a Argentina surgindo ocasionalmente. Demoraria cerca de duas décadas para uma nova tentativa em direção a um projeto de fuzil indígena começar naquele país sul-americano.

Dimensões e carimbo da espoleta do cartucho argentino de 7,92x33mm fabricado pela FMC-SL para o fuzil de assalto CAM 1.

Em 1975, o Estado Mayor General del Ejército (Estado-Maior Geral do Exército) enviou à FMAP-DM os requisitos técnicos preliminares para um FAA (Fusil de Asalto Argentino) de 5,56x45mm. A responsabilidade do projeto foi atribuída a uma equipe chefiada por Enrique Chichizola e, em 1977, os parâmetros básicos do chamado "Proyeto Código 10.0187" foram definidos. Em meados de 1979, após cerca de sete meses de trabalho real de construção, o primeiro dos cinco protótipos de teste foi concluído.

Com inúmeras modificações ditadas pelo programa de teste inicial e por alterações consecutivas nos requisitos oficiais, um lote de pré-produção de aproximadamente 50 unidades foi concluído na Fábrica Domingo Matheu; as armas foram entregues posteriormente para avaliação e teste de campo real pelas unidades do Exército, com ênfase nas chamadas unidades "especiais", como tropas paraquedistas, comandos e de montanha. Isso ocorreu no período 1982-1983. Depois de ser chamada de FAA, a arma foi posteriormente denominada FAA 81 e, finalmente, FARA 83 (Fusil de Asalto República Argentina 1983). Estima-se que, no total, apenas algumas centenas de exemplos do fuzil tenham sido concluídos antes do cancelamento do programa pelo governo do presidente Carlos Menen, em meados da década de 1980, devido à falta de fundos disponíveis.

Enrique Chichizola chefiou a equipe de projeto que criou o fuzil FAA/FAA 81/FARA 83. Ele é visto aqui segurando um dos protótipos na FMAP-DM em fevereiro de 1990.

Ao longo do seu período evolutivo, as modificações aplicadas ao fuzil de assalto argentino resultaram em inúmeras alterações nas especificações técnicas. Basicamente, era uma arma de fogo seletivo (cerca de 700-750 tiros por minuto no modo automático) e era operada a gás com uma configuração bastante convencional de conjunto do ferrolho com êmbolo/ haste/ ferrolho, o trancamento da culatra sendo fornecido por um ferrolho rotativo de dois olhais. O cano de 452mm de comprimento (seis ranhuras à direita, passo 1:9 polegadas) era adequado tanto à munição M193 comum da época quanto ao novo cartucho SS109 que estava entrando no mercado militar. A alimentação era fornecida por carregadores patenteados de 30 tiros fabricados em aço, mas foi planejado substituí-los pelos modelos AR-15/M16 para futuras armas de produção em larga escala.

O corpo do fuzil era feito principalmente de estampas de aço, as caixas da culatra superior e inferior articulando-se uma na outra a cerca da metade do comprimento. O primeiro protótipo tinha uma coronha dobrável de madeira, mas posteriormente deu lugar a uma unidade sintética com um pequeno compartimento interno que abrigava material de limpeza. No entanto, a maioria das armas fabricadas para o programa de avaliação das tropas foi equipada com uma coronha de metal tubular baseado no usado no fuzil Para-FAL, além da adição de um descanso plástico para a bochechas no qual o kit de limpeza foi acomodado.

Um FARA 83 parcialmente desmontado para manutenção em primeiro escalão. O guarda-mão de plástico incorporou uma jaqueta de metal perfurada para ventilação externa do cano e isolamento térmico.

As especificações finais do FARA 83 são as seguintes: comprimento total, 1.000mm; comprimento com a coronha dobrada, 745mm; altura sobre o carregador, 260mm; peso com carregador vazio, 4,16kg; peso com carregador cheio, 4,52kg; peso do bipé dobrável opcional, 0,4kg.

Como um post-scritum, em 1989-90, a Fábrica Militar de Armas Portáteis “Domingo Matheu” fez outra tentativa de dar ao Exército Argentino um fuzil 5,56x45mm. Este assumiu a forma de um fuzil Para-FAL de 7,62x51mm modificado, com cano trocado para a nova munição e alimentado por carregadores de plástico Steyr AUG de 30 tiros. Embora isso funcionasse adequadamente, o programa não amadureceu o suficiente para entrar em produção. Talvez porque o fuzil resultante fosse muito pesado para o calibre envolvido.

Protótipo Número 00015 ostentando um guarda-mão cilíndrico de plástico e a alavanca de manejo do lado direito. O bipé de metal dobrável dobrava como cortador de arame, adicionando cerca de 400 gramas ao peso da arma.

Desenhos comparativos do primeiro protótipo do FAA (em cima) com um modelo de desenvolvimento posterior. Alterações significativas serão encontradas na forma da caixa da culatra superior, na posição da alavanca de manejo (de 90 graus para a esquerda a 45 graus para a frente), na forma do guarda-mão, etc.

Leitura recomendada:


LAPA FA Modelo 03 Brasileiro9 de setembro de 2019.

Fuzis de treinamento FAL do Brasil5 de janeiro de 2020.



domingo, 5 de janeiro de 2020

Fuzis de treinamento FAL do Brasil

O autor, Ronaldo Olive.

Por Ronaldo Olive, The Firearm Blog, 28 de março de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 30 de dezembro de 2019.

A idéia está longe de ser nova: ter uma pistola de menor calibre para substituir a pistola real para treinamento inicial, de modo que você possa obter reduções substanciais de custos no processo. Simples assim. A fórmula alcançou graus variados de sucesso (ou falta dele) em diferentes países ao longo dos anos e também foi experimentada - ainda que brevemente - no Brasil há trinta anos ou mais.

O Rossi EB-79/FAC

O fuzil de ar comprimido Rossi EB-79/FAC de calibre 4,5mm (.177) foi projetado para se parecer com e manusear como um FAL 7,62x51mm.

O uso de um fuzil de ar comprimido para o treinamento inicial de recrutas parecia atraente o suficiente para um país com orçamentos de defesa muito limitados, pois permitiria o uso de estandes de tiro interno com total segurança e evitaria viagens de tropas que consumiam tempo e combustível para estandes distantes. No Brasil, algumas unidades do Exército já estavam experimentando, no início dos anos 70 - puramente em uma base individual - com fuzis de ar comprimido comerciais padrão para ensinar aos novos recrutas procedimentos básicos de mira e tiro. A idéia então se tornou um interesse oficial, e o DMB - Departamento de Material Bélico - emitiu especificações em 1979 para uma arma de uso padrão desse tipo.

O resultado foi o EB-79/FAC (Fuzil de Ar Comprimido), que foi exaustivamente testado em 1981, entrou em serviço no ano seguinte e foi produzido por algum tempo pela Amadeo Rossi S/A Metalúrgica e Munições em São Leopoldo, RS. Calibrada para pelotas de 4,5mm (.177) e usando uma armação de polímero, foi feito para se parecer com e manusear como um FAL 7,62x51mm, o fuzil padrão do Exército Brasileiro. Ele ainda possuía um carregador fixo, alça de transporte e quebra-chama falso similar. O comprimento total (1100mm) e o peso (4,6kg) eram praticamente os mesmos do fuzil real. Eles estavam em uso limitado por alguns anos, principalmente com os chamados "Tiros de Guerra", unidades de treinamento de recrutamento de meio período em cidades menores, sem unidades maiores do Exército disponíveis. 

Curiosamente (mas esperado em um local com tantas restrições de armas de fogo como o Brasil), as vendas deste fuzil de ar no mercado comercial foram proibidas, pois foram classificadas como “ítens de uso militar”!

O IMBEL “Falbina”

Sendo uma fabricante de fuzis FAL estabelecida há muito tempo, a Fábrica de Itajubá da IMBEL não encontrou problemas em lançar uma versão de treinamento dedicada, no calibre .22LR.

Como fabricante licenciada de fuzis FAL de longa data, a IMBEL - Indústria de Material Bélico do Brasil - decidiu fazer uma versão de treinamento .22LR dessa arma no início dos anos 80, sendo o trabalho de responsabilidade de sua Fábrica de Itajubá, no estado de Minas Gerais. Em vez de oferecer um kit de conversão para o fuzil M964 padrão, a designação local do FAL, a empresa optou por fabricar o fuzil no calibre menor. Operando, é claro, por ação convencional de recuo por gases, um carregador de 20 tiros que se encaixa para cima em um falso carregador de FAL não-removível. As alças de manejo eram tanto do tipo maçaneta (lado direito, atrás da janela de ejeção) ou da variante dobrável (lado esquerdo). Também foram encontradas variações no registro de segurança, na frente do guarda-mato (estilo Garand, bloqueando o gatilho quando puxado para trás) ou duplicada daquela da arma original, ou seja, no lado esquerdo, logo acima do gatilho.

Vistas mais próximas de um dos protótipos “Falbina”, com a placa inferior do pequeno carregador de 20 tiros projetando-se levemente do falso carregador de FAL não-removível, e o retém de segurança tipo Garand dentro do guarda-mato. A figura abaixo também mostra o pequeno seletor de tiro destinado ao uso dos instrutores.

Uma característica particularmente incomum era um registro de segurança adicional no lado esquerdo da culatra, destinado a ser usado pelo instrutor: uma das posições travava o mecanismo de disparo após cada tiro, o fuzil disparava novamente somente depois que o instrutor ajustasse a alavanca de acordo, enquanto uma posição alternativa permitia o fogo semi-automático normal. Nenhum modo totalmente automático, presente nos FALs do Exército Brasileiro, estava disponível.

O fuzil de treinamento IMBEL desmontado em primeiro escalão. Observe o ferrolho pequeno e a mola recuperadora para sua operação de recuo por gases, bem como o compartimento do carregador .22LR vindo da culatra.

Alguns protótipos com pequenas variações (formato da alavanca de manejo, segurança aplicada) foram concluídos e avaliados por unidades do Exército para possível adoção, mas o programa não avançou muito. Felizmente, o autor teve a sorte de ter tido chances de disparar o não-oficialmente chamado “Falbina” (uma mistura de FAL e Carabina) na fábrica em 1982 e 1983.

 O carregador de 20 tiros em .22LR sendo inserido no falso carregador de FAL fixo. Um exame mais detalhado da foto mostrará que este exemplo do fuzil de treinamento IMBEL, como aquele da imagem anterior, não está equipado com o retém de segurança do gatilho no estilo Garand, e que a alavanca de manejo no lado esquerdo da culatra (lado direito, no fuzil original) é do tipo dobrável.

Autor se divertindo com um “Falbina” na Fábrica de Itajubá no início dos anos 80.

O kit de conversão de percussão lateral da Brasarms

Componentes do kit (de cima para baixo): cano, esqueleto do conjunto do ferrolho, retém de segurança do gatilho e dois carregadores.

A mesma idéia de usar uma arma calibrada em .22LR, para dar aos recrutas instruções iniciais sobre os procedimentos de manuseio e disparo do FAL, surgiu novamente no Brasil em 1985-86, quando uma empresa do Rio de Janeiro, Brasarms Indústria e Comércio Ltda, criou um kit de conversão inteligente para fazer isso. A engenhoca foi criada por Olympio Vieira de Mello Filho, pai da submetralhadora Uru de 9x19mm (pretendo postar um artigo sobre essa controversa SMG em um futuro próximo). Após sua submissão aos testes oficiais de certificação do Exército Brasileiro no Campo de Provas da Marambaia, que incluiu um bem-sucedido programa de testes de precisão, confiabilidade e resistência de 5.000 cartuchos, eu também pude colocar minhas mãos nela para um teste pessoal avaliação.


A vista superior da estrutura leve do ferrolho mostra o percussor com sua mola, bem como a estrutura de suporte da mola recuperadora/haste guia na retaguarda. O mecanismo de segurança do retém do gatilho foi liberado por um golpe do seccionador (embaixo) preso ao ferrolho enquanto se movia para a frente, liberando o cão para disparar. Imagem inferior: a face do ferrolho.

O kit Brasarms consistia em um cano (540 mm de comprimento, 6 raias, torção de RH), conjunto do ferrolho e dois carregadores. A montagem era notavelmente direta, não demorando a alguém (inclusive eu) muito mais que um minuto, depois de algumas tentativas orientadas. Abra o FAL girando a alavanca de desmonte no sentido anti-horário e girando a coronha para baixo. Remova a tampa da culatra, retirando subsequentemente todo o conjunto do ferrolho e de operação de gás (ferrolho, conjunto do ferrolho, mola recuperadora e sua haste guia). Insira o cano reduzido no fuzil até o final, o qual foi recomendado ter sido levemente lubrificado antes. Conecte o seccionador de segurança à unidade do ferrolho e deslize esse conjunto na caixa da culatra. Coloque a tampa da culatra de volta na arma e feche o fuzil novamente.

Instalação do kit em um FAL de coronha fixa:
(1) cano de .22LR pronto para ser inserido no cano de 7,62x51mm;
(2) insira até o fundo do cano do FAL;
(3) o retém de segurança do gatilho (em cima) está preso ao lado esquerdo do esqueleto do ferrolho;
(4) conjunto do ferrolho com o seccionador no lugar;
(5) conjunto do ferrolho sendo inserido na extremidade traseira da culatra;
(6) conjunto do ferrolho no lugar dentro da culatra;
(7) a tampa da culatra deslizada de volta na arma, a qual pode ser fechada novamente.

Em vez de usar um suplemento para o carregador padrão do FAL, o kit brasileiro foi fornecido com duas unidades modificadas de fábrica. Uma réplica exata do carregador original, a unidade de treinamento também duplicou a capacidade de 20 tiros e foi adequadamente equilibrada para dar o mesmo peso carregada com munição .22LR como se tivesse um número igual de munição 7,62x51mm: 750 gramas. O preenchimento manual dos carregadores monofilares ficou um pouco difícil (pelo menos nos exemplos em mãos) após o 15º cartucho mais ou menos. O ejetor era integral ao carregador.

Essa vista do carregador do kit mostra claramente um pequeno cartucho .22LR no lábio de alimentação. A capacidade de vinte tiros duplicou àquela do original de 7.62x51mm.

Com o kit totalmente instalado, o fuzil obviamente foi operado por recuo de gases. Para compensar as diferentes características balísticas das munições, a alça de mira do FAL deve ser ajustada na faixa de 400 a 600 metros no modelo de deslizamento padrão ou a 250 metros na mira de abertura do Para-FAL, onde a precisão pode ser dominada com um grau de precisão excelente. Usando alvos de escala reduzida bullseye (1/5 ou 1/10) ou alvos táticos, engajamentos de longo alcance podem ser efetivamente simulados a distâncias tão curtas quanto, digamos, 10 ou 20 metros, para que instalações de treinamento em ambiente interno pudessem ser fácil e economicamente configuradas.

Como era de se esperar, um fuzil de 5kg disparando minúsculos cartuchos .22LR permaneceu firme durante todo o tempo. Sem coices no ombro e explosão da boca, você pode se concentrar em... apenas atingir alvos. Nós (eu e meu filho/fotógrafo Alexander) atiramos principalmente nos alvos táticos reduzidos de 1/10, o que correspondeu aproximadamente a disparos contra alvos do tamanho de homens a 100-200 metros. A precisão era excelente e, além de um ou outro voador, os acertos na zona de matança eram a regra para disparos do ombro. Com o fuzil levemente apoiado, nós poderíamos até “brincar de sniper” e começar a acertar “apenas cabeças”. Considerando que as miras de ferro de combate do FAL não são boas para disparos de precisão, os resultados foram mais do que satisfatórios.

Os fuzis convertidos também dispararam muito bem em cadências taxas de tiro automáticas cíclicas na faixa de 700 tiros por minuto. Como a falta de recuo e subida da boca não era representativa da realidade do FAL em 7,62x51mm, a prática do rock and roll não deve ser considerada realmente instrutiva, mas nos divertiu muito!


Alexander Olive disparando um Para-FAL convertido em fogo automático da cintura e (foto inferior) o pai fazendo o mesmo, com a coronha dobrada. O fuzil de grande calibre seria totalmente incontrolável neste caso.

E havia uma diferença de funcionamento específica entre os fuzis originais e os modificados: o ferrolho do .22LR permaneceu fechado após o último cartucho ser disparado, enquanto no FAL de 7,62x51mm há um pino (montado na caixa da culatra à direita do ejetor) para segurar o ferrolho na posição à retaguarda quando o carregador estiver vazio. Duplicar os diferentes componentes do carregador responsáveis por isso mostrou-se desnecessariamente complicado, então a empresa Brasarms abandonou o recurso. Infelizmente, o interesse local e estrangeiro em um FAL convertido em percussão lateral não foi tão grande quanto o esperado. Então...

Bibliografia recomendada:

The FN FAL Battle Rifle,
Bob Cashner.

Leitura recomendada:




T48: O FAL Americano, 3 de julho de 2020.

Um breve comentário sobre o FN FAL, 21 de fevereiro de 2020.

Tiro em Cobertura Rodesiano, 15 de abril de 2020.