quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Esse fuzil militar dos anos 70 realmente veio com um abridor de garrafas embutido (sério!)


Por Jon Guttman, Military Times, 15 de fevereiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 20 de fevereiro de 2020.

Enfrentando ameaças de todos os lados, o Estado de Israel teve que se defender desde o início e teve que estabelecer sua própria indústria de armas para compensar as incertezas de depender de fornecedores estrangeiros.

Foi nessas circunstâncias hostis que as Indústrias Militares de Israel (IMI), mais tarde renomeadas Indústrias de Armas de Israel, produziram duas armas de fogo icônicas, a submetralhadora Uzi e a família de fuzis Galil. Enquanto a Uzi é conhecida pela compacidade de seu poder de fogo, o Galil é amplamente considerado a arma longa mais confiável do mundo, construída para um exército que não pode arcar com falhas em campanha.

Um soldado israelense pendura seu fuzil de assalto Galil na porta traseira de uma peça de artilharia auto-propulsada de 155mm, enquanto uma bateria de obuseiros pesados de Israel é desdobrada em 11 de agosto de 2003 nos campos do Kibutz Yiftah na fronteira entre Israel e Líbano.

A despeito de seus impressionantes sucessos táticos na Guerra dos Seis Dias de junho de 1967, as Forças de Defesa de Israel encontraram espaço para melhorias, começando com seu esteio de infantaria, o Fabrique Nationale Fusil Automatique Léger, a arma longa produzida pela Bélgica da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Embora o FN FAL fosse bom, era necessário cuidado para evitar obstruções devido à areia e poeira endêmicas em todo o Oriente Médio.

IMI Romat, o FAL israelense.

A IMI começou a trabalhar em um projeto local com a ajuda de Yisrael Balashnikov (sem relação com Mikhail Kalashnikov) e Yaacov Lior. De fato, os engenheiros da IMI ficaram impressionados com a confiabilidade do fuzil AK-47 de Kalashnikov, do qual os israelenses haviam capturado grandes números durante a breve guerra, mas, no coração de seu novo projeto, eles se voltaram para a caixa da culatra melhorada que os finlandeses incorporaram em sua cópia melhorada do AK-47, o Valmet Rk 62 (na verdade, o primeiro lote de produção de fuzis IMI usava caixas da culatra de fuzis RK 62 importados antes de obter o item produzido em casa).

Valmet Rk 62.

Embora tenha sido projetado para funcionar de maneira semelhante ao AK-47 com um sistema de pistão acionado a gás e um ferrolho com dois terminais de trancamento, o projeto israelense diferia mais fundamentalmente em sua construção. Embora o protótipo tenha uma caixa da culatra de chapa de aço estampado e rebitada, os engenheiros a abandonaram em favor do forjamento fresado pesado para essa e para a maioria dos outros componentes, com a maioria das superfícies metálicas externas fosfatadas para resistirem à corrosão e com um revestimento de esmalte preto.

Desmontagem em primeiro escalão do Galil AR.

As exceções incluíam a empunhadura de plástico de alto impacto e a proteção do guarda-mão, enquanto o alumínio era usado para a coronha esquelética tubular, com base naquelas do FN FAL, que se dobravam ordenadamente no lado direito da caixa da culatra.

Testada contra uma variedade de projetos estrangeiros em 1972, a arma da IMI se mostrou superior em praticamente todos os aspectos e ainda é considerada o fuzil mais confiável do tipo. Naquele momento, Balashnikov havia mudado seu sobrenome para algo menos russo e mais hebraico, Yisrael Galili, e, consequentemente, sua ideia foi batizada de fuzil Galil.

Um fuzileiro naval americano testa um fuzil israelense Galil ARM durante um tiro de familiarização com armas estrangeiras. (Foto do USMC)

Em 1973, Galili recebeu o Prêmio de Defesa de Israel por sua criação.

A produção começou com três versões: o padrão fuzil-metralhador (automatic rifle machine gunARM), um fuzil automático (automatic rifleAR) para tropas de apoio e polícia militar, e um fuzil automático curto (short automatic rifleSAR) para tripulações de veículos, estado-maior e tropas especializadas. O ARM foi distinguido por sua alça de transporte e um bipé que poderia ser girado contra uma extensão adjacente para servir como cortador de arame. Em resposta à tendência do pessoal da IDF de abrir garrafas no lábio frontal dos carregadores de munição, eventualmente dobrando-os, o Galil também incorporou uma extensão sob a proteção frontal que servia como abridor de garrafas.

Galil ARM.

Outro toque previdente foi a alavanca de manejo, projetando-se verticalmente da área superior da caixa da culatra, de modo a ser acessível a ambos atiradores destros ou canhotos.

A massa de mira em forma de L do Galil poderia ser invertida aplicando-se tanto para o combate corpo-a-corpo quanto de 0 a 300 metros ou em um cenário de longo alcance de 300 a 500 metros. O poste frontal estava coberto e podia ser ajustado para vento e elevação zero. Nas batalhas noturnas, a alça de mira e a massa de mira tinham cápsulas de trítio calibradas para 100 metros.

Galil AR.

Originalmente construído para usar a munição da OTAN de 5,56x45mm, o Galil também foi construído para balas de 7,62x51mm, as quais foram alojadas em carregadores arredondados e curvos de 35 ou 50 tiros. Além dos ARMs e SARs de 7,62mm, o Galil desenvolveu um fuzil sniper de 7,62mm especializado, estritamente semi-automático, com mira telescópica e um carregador de 25 tiros. Embora mais pesados que muitos contemporâneos - de 8,7 libras para o SAR de 5,56mm a 14 libras para o fuzil sniper de 7,62mm - os soldados israelenses aceitaram esse fardo por sua sólida estabilidade, excelente precisão e confiabilidade em todos os tipos de ambientes problemáticos.

Mas as armas perfeitas não saem baratas nem rapidamente da linha de montagem, e isso provou ser o calcanhar de Aquiles que impediu o Galil de se tornar o esteio do exército para o qual foi concebido.

A produção havia acabado de começar quando a Guerra do Yom Kippur (Dia do Perdão) de 1973 ocorreu, interrompendo a expedição de Galils. O ARM foi declarado o fuzil de serviço padrão das IDF depois, mas em 1975 o Programa de Ajuda Militar dos Estados Unidos começou a exportar o primeiro lote dos 60.000 fuzis de assalto M16A1 para os israelenses - gratuitamente.

Kaibiles guatemaltecos com o Galil AR.

Com os piores defeitos originais do M16 da Guerra do Vietnã corrigidos, o M16A1 ofereceu uma arma eficaz e mais leve, cujos números e disponibilidade condenaram o Galil ARM à marginalidade até 2000, quando o desenvolvimento do fuzil de assalto IWI Tavor 5.56x45mm se tornou o fuzil padrão das IDF.

Em retrospecto, pode-se considerar a carreira truncada do Galil a consequência de começar sendo muito bom para o seu próprio bem. Em uma nota mais irônica, no entanto, embora nunca tenha alcançado seu objetivo original como arma longa principal das IDF, o Galil e as muitas variantes derivadas dele chegaram a 25 outros exércitos e numerosas forças policiais em todo o mundo. Muitos ainda estão em uso e ainda são populares entre seus usuários.

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