"Sua Majestade Rei Abdullah II da Jordânia despacha paraquedistas de um C-130 Hércules durante seu comando das Forças Especiais da Jordânia." (Pintura de Stuart Brown) |
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 3 de janeiro de 2020.
O atual rei Abdullah II entrou na Academia Militar Real de Sandhurst, no Reino Unido, em 1980 e foi comissionado como segundo tenente na primavera de 1981. Ele serviu como Comandante de Esquadrão de Reconhecimento no 13/18 Royal Hussars Regiment do Exército Britânico no Reino Unido e na Alemanha Ocidental.
De 1985 a 1993, serviu principalmente no Corpo Blindado (3ª Divisão) em todas as nomeações de comando no pelotão, companhia e como segundo em comando do batalhão, até finalmente comandar o Segundo Batalhão Blindado, 40ª Brigada Blindada, com o posto de tenente-coronel de janeiro de 1992 a janeiro de 1993. Durante esse período, ele participou de vários cursos militares nos EUA e no Reino Unido, incluindo a Escola de Estado-Maior de Camberley (Staff College Camberley, no Reino Unido em 1990-1991; além de outros cursos civis e militares.
O rei cumprimenta soldados durante uma visita. |
Ele também tem vários vínculos com as Forças Especiais e um ano como instrutor de táticas no Esquadrão Anti-Carro de Helicópteros Cobra do Exército Jordaniano. O início de 1993 o viu como vice-comandante das Forças Especiais da Jordânia até assumir o comando completo em novembro de 1993.
Em 1994, Abdullah assumiu o comando das Forças Especiais da Jordânia e outras unidades de elite como General-de-Brigada. Ele comandou essas forças até outubro de 1996, quando recebeu instruções para reorganizar essa e outras unidades de elite seguindo o Comando de Operações Especiais (Special Operations Command, SOCOM) americano; nascendo assim o Comando Conjunto de Operações Especiais jordaniano.
Princesa Salma bint Abdullah recebendo de seu pai as asas de piloto, janeiro de 2020. Ela é a primeira mulher piloto da Jordânia. |
Ainda em 1996, o General Abdullah participou de um curso de administração de recursos de defesa na Escola Naval de Pós-Graduação (Naval Postgraduate School, NPS) americana e comandou uma caçada das forças especiais de elite na busca de terroristas que haviam matado 8 pessoas em 1998. A operação terminou em sucesso, com seu nome cantado nas ruas de Amã, a capital da Jordânia.
Em 1998, como Comandante dessa força, Abdullah foi promovido ao posto de Major-General e continuou nesse comando até a morte de seu pai, Sua Majestade o Rei Hussein, em fevereiro de 1999.
Demonstração de retomada pelas forças especiais jordanianas, "boinas vermelhas". |
As forças especiais jordanianas, consideradas as melhores no mundo árabe, levam seu nome: Grupo de Operações Especiais Rei Abdullah II.
Em 2018, as forças especiais jordanianas foram reorganizadas pela terceira vez (eram o Grupo de Forças Especiais em 2017-2018).
- Diretório de Forças Especiais e Intervenção Rápida, comando e controle.
- Grupo de Operações Especiais Rei Abdullah II, unidades especiais e contra-terrorismo.
- Brigada de Intervenção Rápida e Alta Prontidão*, unidades de intervenção e aviação.
- Escola de Operações Especiais Príncipe Hashim, coordena o treinamento da força.
Forças Especiais jordanianas. |
*Nota: O seu nome completo é Brigada de Intervenção Rápida e Alta Prontidão Mohammed bin Zayed al-Nahyan.
Devido à sua formação militar, Abdullah acredita em um exército poderoso e seguiu uma política de "qualidade sobre quantidade". Durante o primeiro ano de seu reinado, ele estabeleceu o Departamento de Projeto e Desenvolvimento Rei Abdullah (King Abdullah II Design and Development Bureau, KADDB), cujo objetivo é "fornecer uma capacidade local para o fornecimento de serviços científicos e técnicos às Forças Armadas da Jordânia". A empresa fabrica uma grande variedade de produtos militares, apresentados na Bienal Internacional das Forças de Operações Especiais (Special Operations Forces Exhibition and Conference, SOFEX), sendo o patrocinador da SOFEX. Abdullah modernizou o exército, levando a Jordânia a adquirir armamento avançado e aumentar e aprimorar sua frota de caças F-16.
Ocasionalmente, o rei treina com o exército jordaniano em exercícios militares de munição real:
Fogo e movimento em dupla do Rei Abdullah segundo com seu filho, o príncipe herdeiro Hussein bin Abdullah:
O KASOTC e a Annual Warrior Competition
Outro dos grandes feitos do Rei Abdullah II foi a criação do Centro de Treinamento de Operações Especiais Redi Abdullah II (King Abdullah II Special Operations Training Center, KASOTC), operacional em 19 de maio de 2009.
"Onde o treinamento avançado encontra a tecnologia avançada", lema do KASOTC. |
O KASOTC sedia uma competição internacional anual de forças especiais: a Competição Anual de Guerreiros (Annual Warrior Competition). A Warrior é uma competição anual orientada para o combate, baseada na capacidade física, trabalho em equipe, comunicação e precisão individual. Na sua última edição, em 2019, a Warrior contou com 46 equipes de 26 países, com a vitória da equipe 1 de Brunei, seguida pelos jordanianos, e a equipe 2 de Brunei em terceiro lugar.
Comandos do Rejimen Pasukan Khas de Brunei indicando ao fotógrafo Bob Morrison a sua bandeira, 2018. (Joint Forces.com) |
Operação Mártir Muath
Em abril de 2014, o Estado Islâmico do Iraque e o Levante (EI), um afiliado da Al-Qaeda que surgiu no início de 2014 quando expulsou as forças do governo iraquiano das principais cidades, publicou um vídeo online que ameaçava invadir o reino da Jordânia e matar Abdullah (a quem eles viam como inimigo do Islã). "Eu tenho uma mensagem para o tirano da Jordânia: estamos chegando a você com cintos de morte e explosivos", disse um combatente do EI ao destruir um passaporte jordaniano. Em agosto de 2014, milhares de cristãos iraquianos fugiram do EI e buscaram abrigo em igrejas jordanianas.
O Rei Abdullah II chamou a atenção da mídia ocidental por conta de uma tragédia ocorrida em 2015. No final de dezembro de 2014, um avião de caça F-16 da Jordânia caiu perto de Raqqa, na Síria, durante uma missão. Em troca do piloto, o EI exigiu a libertação de Sajida Al-Rishawi, um homem-bomba cujo cinto não detonou nos atentados de 2005 em Amã, que mataram 60 pessoas e feriram 115 em três hotéis na capital jordaniana.
Um vídeo foi publicado online em 3 de fevereiro de 2015, mostrando o piloto jordaniano Muath Al-Kasasbeh, vestindo um macacão laranja, sendo queimado até a morte em uma jaula.
O assassinato de Al-Kasasbeh provocou indignação no país, enquanto o rei estava ausente em uma visita de estado aos Estados Unidos. Antes de retornar à Jordânia, Abdullah rapidamente ratificou as sentenças de morte proferidas anteriormente a dois jihadistas iraquianos presos, Sajida Al-Rishawi e Ziad Al-Karbouly, que foram executados antes do amanhecer do dia seguinte. Na mesma noite, Abdullah foi recebido em Amã, por multidões o aplaudindo que se alinhavam ao longo da estrada do aeroporto para expressar seu apoio.
Foto divulgada pela Jordânia do Rei Abdullah como mestre-de-salto quando da Operação Mártir Muath, fevereiro de 2015. |
Como comandante-em-chefe, Abdullah lançou a Operação Mártir Muath, uma série de ataques aéreos contra alvos do EI durante a semana seguinte visando esconderijos de armas, campos de treinamento e instalações de extração de petróleo. Participando ativamente das operações, a sua retaliação foi elogiada na Internet, onde ele foi apelidado de "O Rei Guerreiro".
Post-Scriptum: Um amante da ficção científica
Em uma nota mais leve, o Rei Abdullah II é um grande fã da série Jornada nas Estrelas, e pediu a chance de aparecer como um extra em um dos episódios da série Voyager (com uniforme verde e preto). Uma aparição relâmpago, mas que mostra como "é bom ser o rei".