segunda-feira, 27 de abril de 2020

Sobre os méritos do M4 e EF88 (e mais) | PARTE 2


Por Solomon Birch, The Cove, 13 de julho de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 27 de abril de 2020.

Artigo 2 | A História do Meio: O M4A1 e o F88SA1/2

A partir de 1990, a Colt projetou uma versão mais curta do M16, chamada M4. Em 1993, as forças armadas americanas adotaram o M4 como uma arma de defesa pessoal para pessoas como tripulantes de blindados e operadores logísticos e um fuzil modular de cano curto para as Forças Especiais (o M4A1, que veio com um kit de acessórios generoso e muito moderno com mira, silenciadores, empunhaduras e assim por diante chamado kit SOPMOD [i]). O M4 tinha 29,5-33 polegadas (75-84cm) de comprimento, um cano de 14,5 polegadas (37cm) e pesava cerca de 2,9kg. É notável por introduzir o primeiro sistema de montagem modular e universal para acessórios (incluindo miras ópticas), chamado sistema de trilhos MIL-STD 1913 “Picatinny” [ii], por ser muito leve e incluir um material ajustável que permite usuários de diferentes tamanhos modificarem seu comprimento de tração para obter empunhadura e visada ótimas com e sem armadura corporal. Antes da introdução do MIL-STD 1913, uma variedade de sistemas de montagem fora do padrão, incluindo fita adesiva, era usada para acessórios [iii]. Em 1998, 1 Sqn SASR foi exposto ao SOPMOD M4A1 no desdobramento no Kuwait. Eles nunca foram fãs do F88 devido a problemas que o fuzil inicialmente teve com controle de qualidade e operações anfíbias e agora tinham um sistema que foi (pelo menos no papel) construído para ser um fuzil modular de forças especiais [iv]. O SASR adotou o M4A1-AUS em 1999.

O kit Special Operations Peculiar Modification (SOPMOD, Modificação Peculiar às Operações Especiais) foi muito generoso, com cada operador suprido de várias miras ópticas, vários dispositivos de iluminação e uma variedade de outros acessórios caros.

Quando usado pela primeira vez em combates sérios desde 2001 na Guerra Global ao Terror (Global War on TerrorGWOT), o M4A1 (que na verdade era originalmente uma carabina de defesa pessoal criada para fins específicos; para ser carregado sempre e disparado às vezes [v]) foi empurrado além dos seus limites de projeto e teve problemas substanciais. Nos tiroteios as caixas da culatra rachavam, os canos explodiam, os ferrolhos se rompiam, os combatentes inimigos exigiam vários tiros para que fossem incapacitados, e a arma sofria de taxas de incidentes de tiro muito altas [vi]. A partir de 2002, ocorreram melhorias no projeto do M4A1 que melhoraram quase todos esses problemas. Em 2011, 63 melhorias foram feitas com um programa de melhorias que continua após essa data [vii]. Apesar da popularidade com muitos fuzileiros navais, o USMC nunca aceitaria institucionalmente o M4 como um fuzil de serviço, adotando-o oficialmente brevemente a partir de 2015 [xii], antes de substituí-lo pelo M27 em 2018 [xiii].

De cima para baixo, M16A1, M16A2, M4, M16A4. Não mostrado, o M16A3 que é externamente idêntico ao M16A4, mas com um grupo de controle de fogo interno diferente que permite fogo totalmente automático ao invés do fogo em rajada. A maioria dos trilhos de montagem possui coberturas de trilho.

Os problemas de letalidade eram mais difíceis de resolver. A munição mais pesada perfurante M855 [xiv] que os EUA adotaram com o M16A2 pode exibir características de ferimentos ruins a distâncias razoavelmente próximas quando disparadas do cano curto de um M4. Esses problemas também foram enfrentados pelas Forças Especiais Australianas, por exemplo, um major do SASR comentou em um relatório de pós-operação de 2009 que "eu não deveria ter que acertar um cara cinco vezes antes que ele pare" [xv]. As Forças Especiais dos EUA começaram a usar munições de ponta aberta muito mais pesadas, originalmente destinadas a atiradores designados (o MK262), que coincidentemente possuem balística terminal desejável [xvi]. No entanto, essa munição não tem capacidade de penetrar em armaduras corporais e, portanto, é inadequada para uso em guerras convencionais contra combatentes inimigos que quase certamente usarão coletes e capacetes [xvii].

O Exército dos EUA finalmente adotou uma munição perfurante com velocidade muito alta, mesmo a partir de canos curtos (o M855A1) [xviii], mas a pressão muito alta da câmara necessária para obter a velocidade do cano necessária tende a destruir os fuzis dos quais é disparado [xix]. Havia especulações substanciais neste período de que os EUA teriam que adotar uma munição maior para resolver o problema (o 6,8x43mm SPC foi amplamente divulgado na Internet como provável sucessor), mas isso ainda não ocorreu e não está claro se jamais ocorrerá (embora o projeto de Armas do Grupo de Combate de Próxima Geração do Exército dos EUA [US Army Next Generation Squad Weapons] continue operando com o objetivo de fornecer armas individuais em 6,8mm em 2021 [xx]).

A munição 5,56mm é amplamente considerada como oferecendo apenas letalidade marginalmente aceitável em muitas condições. Muitos cartuchos semelhantes, porém maiores e mais pesados, foram considerados para corrigir esse problema, substituindo [o cartucho atual].

O sistema de trilho no M4 era um conceito líder mundial, tornando-se rapidamente o padrão do setor, e a Força de Defesa Australiana atualizou o F88 para incluir esses trilhos com o F88SA1 em 1999 [xxi]. Infelizmente, a maneira como isso foi alcançado aumentou muito o peso do fuzil, para 4,3kg descarregado sem outras alterações substanciais no projeto geral da arma. Quando o fuzil foi atualizado para o F88SA2 em 2009, o peso aumentou novamente para 4,4kg descarregado e além das opções de montagem ligeiramente aprimoradas (um trilho superior estendido para melhorar a visada usando os ACOGs Trijicon e melhores opções para a montagem de dispositivos de iluminação), havia apenas pequenas alterações no projeto. O autor não conseguiu encontrar evidências de que esses ganhos de peso foram considerados um problema pelo gerente de capacidade (Exército) e são entendidos como sendo compensações aceitáveis pelas melhores opções de montagem dos dois fuzis [xxii]. Este é o período em que muitos soldados australianos começaram a reclamar do F88 e argumentar que ele deveria ser substituído por um fuzil baseado no M4.

A adoção de trilhos padronizados permitiu o uso de miras ópticas diferentes daquelas para as quais o fuzil foi originalmente projetado. Mostrado aqui um Guarda de Defesa de Aeródromo da RAAF (Royal Australian Air Force, Real Força Aérea Australiana) com um F88SA1C encurtado e uma mira telescópica comercial de alta potência.

Notas finais:

[i] NSWC Crane, “SOPMOD Program Overview”, datado de 15 de maio de 2003 (NÃO-CLASSIFICADO). Visão Geral do Programa SOPMOD.

[ii] Ibid.

[iii] Ibid.

[iv] Soldier Systems – An Industry Daily, “SASR WO Criticizes the AUSTEYR F88” datado em 22 de julho de 2011.

[v] Chris R Bartocci, “The Black Rifle II: The M16 into the 21st Century” Collector Grade Publications 2004.

[vi] Ibid.

[vii] US Army, “Project Manager Soldier Weapons Briefing, M4 Carbine Improvements” datado em maio de 2011 (NÃO-CLASSIFICADO).

[viii] NSWC Crane, “SOPMOD Program Overview” datado em 15 de maio de 2003 (NÃO-CLASSIFICADO).

[ix] Nota: De acordo com o The Black Rifle II e outras fontes contemporâneas, grande parte do motivo pelo qual o programa SCAR foi tão agressivamente perseguido no período foi a desconexão entre o emprego do Exército dos EUA (arma de defesa pessoal) e o das Forças Especiais dos EUA (fuzil de combate primário) do M4 combinado com a propriedade do Pacote de Dados Técnicos (Technical Data Package) pelo Exército dos EUA. O Exército dos EUA não sofreu as mesmas falhas catastróficas do M4 que as Forças Especiais dos EUA devido ao seu emprego diferente e não autorizou melhorias de produto no TDP que resolveriam os problemas. Segundo informações, o programa SCAR foi enfraquecido depois de selecionar o FN SCAR porque, em 2006, o Exército dos EUA criou um TDP do M4 "Variante Forças Especiais" que dava ao USSOCOM um pouco mais de controle sobre o TDP do que antes e porque um grande número de melhorias de confiabilidade e durabilidade haviam sido realizadas. É difícil verificar esses relatórios independentemente, mas parece plausível.

[x] Observe na referência XIV que o tempo médio entre falhas para o M4 havia sido substancialmente melhorado em 2006, desde sua linha de base de 1993, para 6076, de 3800, mas ainda era muito aquém da MRBF (Mean Rounds [Fired] Before Failure, Média de Tiros Disparados Antes da Falha) do Steyr em 1985 na referência IV de 10234.

[xi]CNA, “Soldier Perspectives on Small Arms in Combat” datado em dezembro de 2006 (NÃO-CLASSIFICADO). Relatório de Saída de Armas Portáteis da CNA (Iraque).

[xii] Military Times, “Commandant approved M4 as standard weapon for Marine infantry” datado em 26 de outubro de 2015.

[xiii] Military.com, “M27s and “Head-to-Toe” Gear Overhaul on the Way for Marine Grunts” datada em 05 de janeiro de 2018 recuperado em 06 de maio de 2019.

[xiv] Todas as referências ao M855 e M855A1 como "perfurante" são feitas com a intenção de usar linguagem simples e acessível sobre os protestos do Diretor do ATO do Exército. Minhas desculpas a ele. Apresentação do Gerente de Produto do M855A1.

[xv] Army Observation OBS000010084 datada em 13 de agosto de 2009 desclassificada em 09 de maio de 2019 por SO1 Lessons, Army Knowledge Group (RESTRITO).

[xvi] J Guthrie, “Reviewing Black Hills’ MK262 Mod 1 Ammo” Shooting Times datada em 21 de março de 2012.

[xvii] Guns of the Special Forces 2001 – 2015, pp 94 – 95 – L Neville, Pen and Sword Military 2015.

[xviii] US Army Product Manager for Manoeuvre Ammunition Systems “M855A1 Enhanced Performance Round (EPR) Presentation” sem data (NÃO-CLASSIFICADO).

[xix] Chris Bartocci, “The M855A1 A Great Round “If” We Had a Rifle Designed to Shoot It!” Small Arms Solutions, datada em 11 de dezembro de 2017.

[xx] Todd South, [US] Army Times “Army wants its Next Generation rifle ASAP, but it still has to buy a bunch of M4s to keep soldiers shooting” datada em 11 de março de 2019.

[xxi] Nota: Eu intencionalmente excluo o F88S, cujo projeto foi especificado em 1991 após o desenvolvimento desde 1988, porque a inclusão do mesmo complica enormemente a explicação do MIL-STD 1913 e gera "e ses" sem resposta. O F88S estava à frente de seu tempo e, de certa forma, seus trilhos AIMS poderiam ter sido uma melhor implementação do conceito de padronização Weaver do que o MIL-STD 1913, o M4 ou o F88SA1. Sua influência no padrão posterior de 1913, se existiu, não é registrada pela história. Melhorias no Projeto Thales F88SA2.

[xxii] Entrevista com o Engenheiro-Chefe de Armas Portáteis (Chief Engineer Small Arms, CASG) e Capitão Birch em 06 de março de 2019.

Solomon Birch é um oficial do RACT (Royal Australian Corps of Transport, Real Corpo de Transporte Australiano) atualmente postado na Ala de Transporte Rodoviário da Escola de Transporte do Exército (Road Transport Wing, Army School of Transport). As postagens anteriores incluem o 1 Sig Regt, 1 CSSB e 1 CER.

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