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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Análise Militar: Os Fuzileiros Navais Russos


Por Igor Pejic e Viktor StoilovSouth Front: Analysis & Intelligence, 7 de dezembro de 2015.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 18 de fevereiro de 2020.

Introdução

A infantaria naval russa ou os fuzileiros navais russos têm uma longa história e tradição em seu currículo. A unidade foi formada pela primeira vez em 1705, durante a Grande Guerra do Norte 1700-1721, quando a necessidade de uma unidade militar capaz de combater armadas quando combates em ilhas e regiões costeiras se tornou crucial. Durante os séculos XVIII e XIX, a infantaria naval teve numerosos envolvimentos em várias missões, algumas delas foram vitórias famosas como a Batalha de Gangut (1714) e a tomada da Fortaleza Izmail (1792) no Danúbio. No entanto, a unidade foi dissolvida repetidamente ao longo dos anos até 1939. No período da Segunda Guerra Mundial, os fuzileiros navais russos foram encarregados de deveres defensivos nas bases da frota e também foram enviados em várias missões anfíbias. Durante a era soviética, a unidade foi desdobrada perto de fortes terrestres e algumas cidades como Moscou, Leningrado, Odessa, Sebastopol, Stalingrado, contribuindo para as defesas das cidades. A infantaria naval realizou quatro operações principais durante a Guerra, duas delas durante a Batalha da Península de Kerch (1941-42), uma durante a Campanha do Cáucaso (1942-44) e outra durante o desembarque em Moonsund (1944)*. Em 1961, a Infantaria Naval foi reformada e tornou-se parte das Forças Navais Soviéticas. Isso incluiu a expansão da unidade, bem como a modernização de seus equipamentos e veículos. No final da Guerra Fria, a unidade tinha 18.000 homens com mais de oitenta navios de desembarque. Desde o final da Guerra Fria, os fuzileiros navais russos realizaram numerosos exercícios com forças militares de outros países, incluindo os fuzileiros navais dos EUA em 1994. A chamada "Cooperação à partir do Mar" foi realizada em Vladivostok com a 3ª Força Expedicionária de Fuzileiros Navais dos EUA, a fim de promover uma maior cooperação entre as forças russas e americanas.

*Nota do Tradutor: Um batalhão de fuzileiros navais russos, com cerca de mil homens, desembarcou na Ilha Shimushu em 18 de agosto de 1945 (três dias depois do anúncio de rendição pelos japoneses) como ponta-de-lança de uma força de 8 mil homens de duas divisões de infantaria do Exército Vermelho, como parte dos desembarques nas Ilhas Curilas. Os soviéticos sofreram pesadas baixas diante de um contra-ataque blindado do 11º Regimento de Carros de Combate japonês do Coronel Sueo Ikeda, munido inicialmente de 30 blindados de vários tipos - pois os soviéticos ainda não haviam desembarcado os canhões anti-carro. 

Os demais 8.500 da 91ª Divisão de Infantaria japonesa, com 77 tanques, se engajou em um combate encarniçado de duas horas contra os 8.821 soviéticos. Um cessar-fogo foi acordado em 20 de agosto e a ilha Shimushu (ou Shumshu) foi entregue aos soviéticos, mas o choque da resistência japonesa convenceu o alto-comando soviético que Moscou não possuía grandes capacidades anfíbias, e isso cancelou os planos de outros desembarques contra o Japão. Essa foi a última batalha da Segunda Guerra Mundial.

Os fuzileiros navais russos participaram ativamente dos conflitos locais da "Guerra Fria"; por exemplo, no Iêmen e Angola.

Fuzileiros navais russos na Chechênia.

No período pós-soviético, os fuzileiros navais russos participaram de duas guerras na Chechênia. As unidades de fuzileiros navais realizaram prodígios de bravura. Mais de 20 fuzileiros navais receberam os títulos de Herói da Federação Russa. Mais de 5.000 foram premiados com medalhas militares. Ao longo da história, a infantaria naval russa mostrou um treinamento de batalha de alta categoria e as melhores qualidades humanas.

Desdobramento na Síria

Fuzileiros da 61ª Brigada de Infantaria Naval na Síria, 2016.

Recentemente, os fuzileiros navais russos foram destacados na Síria como parte da assistência militar russa no combate ao terrorismo. Desde setembro deste ano, poucas centenas de fuzileiros navais estão estacionados no oeste da Síria e na cidade de Slunfeh, no leste de Latakia, com o objetivo principal de proteger a base aérea russa (de Khmeimim)Durante seu curto serviço na Síria, já houve confrontos esporádicos com grupos terroristas em Latakia. Um dos incidentes aconteceu em setembro, quando os combatentes do Estado Islâmico tentaram montar um ataque à base aérea de Latakia, no entanto foram emboscados pelos fuzileiros navais russos, o que resultou em alguns terroristas mortos enquanto os outros recuavam. Há também alguns relatos que sugerem que esta unidade pode estar coordenando ataques a terroristas ao lado do Hezbollah e do Exército Árabe Sírio. O envolvimento dos fuzileiros navais russos no conflito sírio já rendeu dividendos. Após a derrubada do SU-24, esta unidade teve sucesso na missão de busca e salvamento do segundo piloto, enquanto lutava contra os jihadistas na região de fronteira com a Turquia.

Fuzileiro naval russo em Palmira, 2016.

Infantaria Naval - cerca de 20.000 fuzileiros navais russos estrutura/desdobramento:

Frota do Pacífico QG em Vladvostok
  • 59º Batalhão de Infantaria Naval
  • 84º Batalhão Blindado de Infantaria Naval
  • 263ª Bateria de Artilharia
  • 1484º Batalhão de Comunicações
Frota do Báltico QG em Kaliningrado
  • 299º Centro de Treinamento das Forças Costeiras da Frota do Báltico
  • 336ª Brigada de Infantaria Naval de Guardas Białystok - Białystok
  • 877º Batalhão de Infantaria Naval
  • 879º Batalhão de Assalto Aéreo (Desant)
  • 884º Batalhão de Infantaria Naval
  • 1612º Batalhão de Artilharia Auto-Propulsada
  • 1618º Batalhão de Artilharia e Mísseis Anti-Aéreos
  • 53º Pelotão de Infantaria Naval de Escolta de Carga – Kaliningrado
Fuzileiros da 61ª Brigada de Infantaria com um BDM ucraniano capturado no Donbas, 2015.

Frota do Norte QG em Severomorsk
  • 61ª Brigada de Infantaria Naval Bandeira Vermelha Kirkinesskaya – Sputnik
  • 874º Batalhão de Infantaria Naval
  • 876º Batalhão de Assalto Aéreo (Desant)
  • 886º Batalhão de Reconhecimento
  • 125º Batalhão Blindado
  • 1611º Batalhão de Artilharia Auto-Propulsada
  • 1591º Batalhão de Artilharia Auto-Propulsada
  • 1617º Batalhão de Artilharia e Mísseis Anti-Aéreos
  • 75º Hospital Naval
  • 317º Batalhão de Infantaria Naval
  • 318º Batalhão de Infantaria Naval

Frota do Mar Negro QG na Criméia
  • 810ª Brigada de Infantaria Naval – Kazachye Bukhta, Sebastopol
  • 880º Batalhão de Infantaria Naval
  • 881º Batalhão de Assalto Aéreo
  • 888º Batalhão de Reconhecimento
  • 1613ª Bateria de Artilharia
  • 1619ª Bateria de Defesa de Artilharia Anti-Aéria
  • 382º Batalhão de Infantaria Naval
Flotilha do Mar Cáspio QG em Astracã
  • 414º Batalhão de Infantaria Naval
  • 727º Batalhão de Infantaria Naval
Forças por função:

Manobra:

Mecanizado: 2 brigadas de fuzileiros motorizados; 1 regimento de fuzileiros motorizados; 3 brigadas independentes de infantaria naval; 2 regimentos independentes de infantaria naval.

Apoio ao combate: 1 brigada de artilharia; 3 regimentos de mísseis terra-ar.

Tipo de Equipamento:

- MBT: 200 T-72/T80

- Reconhecimento: 60 BRDM-2 cada um com mísseis 9K11 (AT-3 Sagger).

- Transporte Blindado de Combate de Infantaria: 300 BMP-2.

- Transporte Blindado de Infantaria: 300 MT-LB; 500 BTR-80. Total 800.

- Artilharia: Auto-Propulsada (AP) 263: 113 122mm; 95 2S1; 18 2S19; 50 2S3. Rebocada: 150 152mm: 50 2A36; 50 2A65. Total 365.

- Morteiros: 66. AP 42 120mm: 12 2S23 NONA-SVK; 30 2S9 NONA-S.

- Rebocados: 24 2B16 NONA-K 120mm. Lançadores Múltiplos de Mísseis: 36 BM-21 122mm.

- Anti-Carro: MSL SP 9P149 com 9K114 Shturn (AT-6 Spiral); Mísseis Anti-Carro: 9K11 (AT-3 Sagger); 9K113 (AT-5 Spandrel). Canhões: T-12 100mm.

- AAe: Mísseis Terra-Ar AP 70: 20 9K33 Osa (SA-8 Gecko); 50 Strela-1/Strela-10 (SA-9 Gaskin/SA-13 Gopher). Mísseis Portáteis AAe: 9K32 Strela-2 (SA-7 Grail). Canhões: 60 ZSU-23-4 23mm.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

GALERIA: Fuzileiros navais russos emboscados na Chechênia

Fuzileiros navais russos da 810ª Brigada de Infantaria Naval emboscado próximo à vila de Tsentaroy, na Chechênia, em dezembro de 1999.






Bibliografia recomendada:

Fangs of the Lone Wolf:
Chechen tactics in the Russian-Chechen Wars 1994-2009.
Dodge Billigsley.

One Soldier's War in Chechnya.
Arkady Babchenko.

Russia's Wars in Chechnya 1994-2009.
Mark Galeotti.

Leitura recomendada:

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Os Fuzileiros Navais na Revolução de 1924

Manobra do Batalhão Naval, 1928.

Pelo Tenente FN Artilheiro (AT) Manoel Caetano da Silva, 1961.

Transcrição Filipe do A. Monteiro, 14 de outubro de 2015.

A linguagem da época foi mantida.

A revolução de 1924 no Estado de São Paulo, foi um acontecimento de muita gravidade, que preocupou sèriamente a Nação, e levou o Brasil a temer pela sorte do grande Estado. O que mais depôs contra os paulistas naquela eventualidade, e que contribuiu para que a revolução fôsse debelada mais depressa, foi a notícia que se espalhou por todo o País, que, o que eles queriam, era separarem-se do Brasil.

São Paulo, que todos dizem e reconhecem ser uma nação, pela pujança do seu progresso admirável e pelo idealismo e valor dos seus filhos, desejaria ser, realmente, independente? Não cremos que fôsse êsse o pensamento que norteava as idéias do seu povo, e que levava-o à luta. Os paulistas não eram ingênuos, sabiam da impossibilidade de realizarem tão incomum quão impatriótico propósito, e mesmo que alimentassem essa aspiração para a sua terra, o Brasil não permitiria que a levassem a efeito.

Artilharia do Batalhão Naval durante manobras na então longínqua Barra da Tijuca, 1928.

Artilharia do Batalhão Naval durante manobras na então longínqua Barra da Tijuca, 1928.

Artilharia do Batalhão Naval durante manobras na então longínqua Barra da Tijuca, 1928.

A Fôrça Pública de São Paulo, numerosa, bem treinada e bem armada, que Ruy Barbosa dissera, ao vê-la em manobras, ser um exército, encarnava a esperança de vitória daquele povo que recorria às armas não por suas ambições de grandeza, mas buscava nas trincheiras soluções para problemas de ordem social, econômico e político, que, conforme admitiam os seus líderes, o govêrno da República descurava ou não tinha pressa em resolvê-los.

Foi uma luta fratricida que durou poucos dias. A Fôrça Pública, coadjuvada por fracos elementos militares, bateu-se valentemente com fôrças regulares que tinham a apoiá-las o resto da Nação.

A derrota chegou depressa e era inevitável, porque São Paulo não lutava por nenhum ideal conspícuo que merecesse a ajuda dos seus irmãos. A Fôrça Pública batia-se por uma causa que significava agredir o Brasil e não defender São Paulo que não estava sendo acometido por nenhum inimigo.

Um contingente de fuzileiros navais, pequeno mas capaz, seguiu para São Paulo a fim de ajudar as fôrças legalistas na sua ação contra os revoltosos em armas. Era uma fôrça mista, que compreendia as armas de artilharia e infantaria, e não ultrapassava uma companhia.

O Encouraçado Minas Gerais transportou os fuzileiros até o pôrto de Santos onde desembarcaram incorporados a grande número de marinheiros do navio. Era Comandante da Fôrça da Marinha o Capitão-de-Fragata Anatoqles, Imediato do Minas Gerais.

Os fuzileiros seguiram de trem para o teatro da luta onde iriam demonstrar as superiores qualidades militares que foram apanágios dos seus antepassados, e fariam dêles os modernos representantes de uma estirpe de bravos que se confirmaria e haveria de multiplicar-se através dos tempos.

Renault FT-17 e tanquistas da Companhia de Carros de Assalto do Exército Brasileiro em uma avenida paulista durante os combates, 1924.

- (Não poderemos narrar convenientemente o que foi aquela epopéia porque não dispomos de elementos suficientes. Alguns fuzileiros dos que tomaram parte na mesma, junto aos quais buscamos informes, pouco nos adiantaram. Alegaram êles que já haviam se esquecido de quase tudo. Não tiveram a preocupação de tomar notas porque jamais pensariam que os seus apontamentos poderiam ser publicados).

Os Oficiais da Armada que auxiliaram o Comandante Anatoqles na direção da Fôrça da Marinha, são hoje, todos, altos dignatários da Armada. Foram êles: (salvo êrro ou omissão) Capitão-Tenente Nelson Noronha de Carvalho, Comandante da artilharia dos fuzileiros, e Sub-Chefe Tenente Suzano. Já no fim da campanha o Capitão Noronha foi substituído pelo Capitão-Tenente Helvécio Coelho Rodrigues. Porta-Bandeira da Fôrça da Marinha, Tenente Paraguaçu. Comandante do contingente de marinheiros, Tenente Lauro de Araújo.

Rebelde paulista com fuzil-metralhador Madsen no bairro do Cambuci, 1924.

Partindo de Santos, o comboio chegou a São Bernardo à noite, onde fez uma pequena parada. Desta estação continuou viagem para o Ipiranga alcançando esta cidade pela madrugada. Os fuzileiros desembarcaram a sua artilharia. Patrulhas avançadas de reconhecimento constituídas de marinheiros entraram em ação, e tomaram contato com o inimigo. Seguiu-se um tiroteio terrível no qual diversos marinheiros foram feridos. Depois dêste choque inicial, encetou a Fôrça da Marinha uma marcha penosa em demanda do centro da capital paulista. Os canhões dos fuzileiros dificultavam a marcha, porque rodavam em terreno desconhecido, à noite, e eram importunados pelos revoltosos. Ao ralar do dia, haviam atingido um ponto perto dos Campos Elíseos; dirigiram-se para lá e ocuparam um prédio próximo ao palácio do govêrno. No referido prédio estabeleceram o Q.G. da Fôrça da Marinha. O Capitão Nascimento dispôs a artilharia ao sopé de um morro que havia nas proximidades e abriu fogo contra objetivos considerados importantes, como entroncamentos e estações ferroviárias, quartéis e pontos de concentração de revoltosos. Um pouco distante do local onde estava colocada a artilharia dos fuzileiros, havia um quartel que parecia abandonado; dêste quartel abriram fogo com metralhadoras pesadas contra os fuzileiros; êles viraram as bôcas dos seus canhões para lá, e em poucos minutos silenciaram as metralhadoras e arrasaram o quartel. Alguns fuzileiros saíram feridos da refrega.

Os canhões de campanha dos fuzileiros, os formidáveis 75 m/m Armstrong, em 1924 eram dos melhores que existiam. Os shrapnell, granadas que usavam carregadas com balins, eram próprias para serem atiradas contra pessoal, e o efeito era devastador.

General Isidoro Dias Lopes,
comandante dos rebelados, 1924.

Depois da luta que se travou nas proximidades do palácio do govêrno, o Capitão Noronha foi substituído no comando da artilharia dos fuzileiros pelo Capitão Helvécio Coelho.

Os canhões dos fuzileiros atiraram muito, atiraram talvez demais, tanto que alguns deles dêles ficaram pràticamente imprestáveis.

Durante todo o desenrolar das operações militares, os fuzileiros ao lado dos marinheiros demonstraram espírito de luta, coragem e desprendimento. Morreram marinheiros e fuzileiros.

Os Oficiais da Armada, que comandaram a Fôrça da Marinha o fizeram com precisão admirável e acêrto absoluto.

Nos combates que travaram com os revolucionários, foram feridos gravemente os soldados José Benício Alves, Heliodoro José dos Santos e José Bezerra Sobrinho, que obtiveram promoção a Cabo. O primeiro é hoje Vice-Almirante (CFN) da R. Rm., o segundo morreu como 1º Tenente da R. Rm. e o terceiro deu baixa. Todos pertenciam à Sexta Companhia, de Artilharia.

Dois soldados morreram; dois outros desapareceram sem que jamais se soubesse que fim tiveram e um dêstes era corneteiro, tinha o apelido de "Porão".

- Tenente Fuzileiro Naval AT Manoel Caetano da SilvaHistórias de Fuzileiros Navais Brasileiros, 1961, pg. 87-89.

Histórias de Fuzileiros Navais Brasileiros.
Ten (FN) AT Manoel Caetano da Silva, 1961.

Imagem do antigo CR na contra-capa do livro.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

O Urutu no CFN


Em 1973, continuando no objetivo de obtenção de material anfíbio, o CFN adquiriu cinco viaturas de transporte de tropa, blindadas, sobre rodas Urutu, que foram recebidas em cerimônia realizada no CIAdestCFN, presidida pelo Ministro da Marinha, com a presença do comandante-geral do CFN e o presidente da empresa montadora. Esses veículos possuíam capacidade anfíbia limitada a águas tranqüilas pois, com o mar de popa, inclinavam-se para vante imergindo mais do que o desejável e com banda para boreste. Impulsionados por hélice, quando na água desenvolviam baixa velocidade, não possuíam sistema de governo adequado, não enfrentavam ondas e não podiam ser lançados e recolhidos através da rampa dos NDCC, por serem sobre rodas e com espaçamento entre eixos muito grande, não tendo sido aprovados no teste realizado na Operação Dragão XI, em 1975. Agravava ainda mais a situação esses Urutus constituírem os primeiros fabricados pela indústria nacional, sendo diferentes entre si e diferentes dos produzidos em série para o Exército Brasileiro e para exportação, acarretando dificuldade para sua manutenção.

Foram utilizados como transporte terrestre, na Companhia de Viaturas Anfíbias do Batalhão de Transporte, porém não permaneceram muito tempo em serviço, acabando seus dias como monumento na entrada de OM da FFE, como símbolo da primeira tentativa de obtenção de uma viatura blindada para assalto anfíbio e, porque não dizer, de incentivo à indústria nacional.

Foi ainda dentro desse cenário favorável que a administração naval, no início de 1974, destinou uma verba no exterior para aquisição dos carros de lagarta anfíbios. Colocada a encomenda, a empresa FMC montadora desses veículos informou que a linha de produção estava fechada e que seria reaberta somente em um prazo de dez anos aproximadamente. Entretanto, a firma ofereceu a preços inferiores a viatura sobre lagarta M-113, que possuía a limitada capacidade para travessia de curso de água.

Embora reconhecendo não ser o M-113 uma viatura anfíbia, o CFN decidiu pela sua compra, com o intuito de introduzir a lagarta no seu inventário e permitir ao nosso pessoal a obtenção de conhecimento sobre as suas operações e manutenção. Esses carros demonstraram a sua utilidade e, decorridos quase 30 anos de sua aquisição, continuam hoje a prestar serviço à FFE. Na sua chegada ao Brasil eles foram incorporados ao Batalhão de Transporte Motorizado.

- Fuzileiros Navais: Das praias de Caiena às ruas do Haiti, 2005, pg. 40-41.

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Post Scriptum: Comentários sobre o mesmo texto em um grupo de fuzileiros navais em 2014

FN1: Camarada Filipe, mesmo eu tendo servido sempre na Infantaria, eu não me lembro de ter feito nenhuma manobra com o Urutu. Todos os blindados do CFN eram lotados no antigo Batalhão de Viaturas Anfíbias da Tropa de Reforço que era situada em Niterói, e ficava bem distante de onde eu servia, que era na Divanf, na Ilha do Governador... E agora eu tô pensando que esse Urutu aí da foto, talvez seja o mesmo Urutu que eu e o outro campanha da escola lixamos, por causa do comentário feito pelo nosso campanha Agilson, que identificou a trave do gol no fundo da foto lá do Batalhão de Comando da Divanf e pela localização do carro na fotografia, bem próximo ao campo de futebol, e que agora estou me lembrando ser no mesmo local onde na época lixamos o carro ... **...

Eu fiz algumas manobras de Apoio Mútuo Carro Infantaria com os blindados M113, que até hoje estão em pleno uso no CFN, e foi também na minha época de SD, que o CFN adquiriu os primeiros Clanfs... Fizemos uma manobra na ilha da Marambaia em 1987 com os Calnfs dos Marines, mas havia lá também apenas um carro Urutu, zero Km da empresa bélica ENGESA, sendo testado pelo CFN, mas esse carro de combate afundou ao descer a rampa do NDCC no mar da Marambaia! Sorte a nossa que só havia apenas o motorista à bordo do carro, mas ele foi muito safo, estava com colete salva-vidas e abandonou rapidamente o Urutu onceiro! **... (Filipe Amaral, essa história do Urutu que afundou na Marambaia, não é Guerra!) e o carro foi reprovado no teste! **... Se tiver algum naval aqui da página, que estava nessa manobra, talvez ainda consiga se lembrar desse cenário com o Urutu que afundou... **...

FN2: Pois é camarada Agilson, mas o Urutu foi resgatado no mesmo dia pelos mergulhadores de combate marujos que vieram do Rio de helicóptero especialmente para mergulhar e amarrar os cabos de aço no Urutu, e depois o guindaste do NDCC içou o urutu até a rampa do NDCC, e os marujos MR usando um equipamento com sistema de tração do próprio NDCC, se encarregaram de puxar o Urutu para dentro do deque do navio... E isso não é guerra não campa! Quem estava nessa manobra deve se lembrar desse cenário... kkk

FN1: Então amigo, o CFN aprovou os carros lagarta anfíbios, e meses depois, a Marinha adquiriu seus primeiros 12 Clanfs... O Clanf 01, era somente para transportar as autoridades do Estado Maior do CFN envolvidas nas manobras anfíbias, o Clanf 02, era o carro guincho de socorro, reboque e reparo rápido, e dentro dele era repleto de peças de reposição para os outros Clanfs, para serem usadas caso algum Clanf daqueles se quebrasse em alguma manobra... Já os outros 10 Clanfs eram para o desembarque anfíbio e transporte somente para os pelotões de fuzileiros dos batalhões de infantaria, por que quem não era dos pelotões de infantaria, não desembarcava pelos Clanfs, mas, tinha que descer pela rede de transbordo para desembarcar na praia pelas EDCG... Pelo menos naquela época inicial em que o CFN havia adquirido os seus primeiros 12 Clanfs, as manobras anfíbias eram feitas assim.

FN2: O mais hilário nesse cenário aí do Urutu, campa Agilson, é que estavam todos os navais dos pelotões de infantaria armados e equipados, reunidos no deque do NDCC Duque de Caxias aguardando a vez para embarcar nos Clanfs, e o Urutu 0 km da ENGESA todo pintado na cor preta, desceu primeiro a rampa do navio só com o seu motorista, e assim que ele bateu nágua, afundou imediatamente, mas nós que estávamos olhando o desembarque, pensávamos que ele iria emergir, porque até os Clanfs quando descem a rampa do navio, sempre dão uma pequena afundada mas logo emergem á tona, mas nesse caso aí, só quem emergiu do mar, foi o piloto do Urutu, e todos ficamos espantados com aquele cenário triste, e o cara subiu rapidamente à rampa, aí ele disse, afundou, não pegou sustentação! kkkk

PERFIL: Tenente PMERJ Ronald Cadar, 2011


No dia 29 de novembro [de 2011], o segundo-tenente Ronald Cadar Martins de Oliveira, lotado no Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro e integrante da operação que culminou com a prisão do traficante Antônio Bomfim Lopes, o “Nem” da Rocinha, visitou o Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, Almirante de Esquadra (FN) Marco Antonio Corrêa Guimarães.

O Tenente Cadar, que serviu ao Corpo de Fuzileiros Navais no período entre 2005 e 2008, deu um exemplo marcante de profissionalismo, durante a citada operação, ao recusar proposta de suborno no valor de um milhão de reais, oferecida pelos comparsas do traficante Nem.

Durante a visita, o Tenente Cadar explicou que sua conduta é decorrente de sua formação familiar e da formação que recebeu no Corpo de Fuzileiros Navais e na Polícia Militar do Rio de Janeiro. Segundo ele, “a formação familiar determina o que você é, mas essas instituições potencializam o que você tem de bom e diminuem o que você possa ter de ruim”.

Cadar recordou das amizades forjadas nas Unidades em que serviu, e dos marcantes momentos nelas vividos. Disse ele: “a Marinha teve uma grande importância em minha vida e é uma grande oportunidade para quem quer ser militar. É um verdadeiro diferencial na vida de um homem”. Logo após, agradeceu aos colegas da turma de soldados Fuzileiros Navais I-2005 e aos militares que com ele serviram no Grupamento de Fuzileiros Navais do Rio de Janeiro pelo incentivo e apoio de sempre.

Ao final, se despediu com o inesquecível e vibrante lema dos Fuzileiros Navais: ADSUMUS!

Para o CFN, a retidão de caráter demonstrada por um dos seus integrantes é motivo de grande orgulho e satisfação. Parabéns Tenente Cadar! Pela Honra, Competência e Determinação.

Fonte: Comando Geral do Corpo de Fuzileiros Navais.

FOTO: Engenharia brasileira em Angola

Uma Equipe de Desminagem do Pelotão de Engenharia dos Fuzileiros Navais em Angola, década de 90.