Forte de Copacabana. |
Por Júlio A. Montes, Small Arms Defense Journal, 26 de maio de 2017.
Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de maio de 2020.
Há uma linhagem militar considerável nesta bela cidade brasileira - invisível para a maioria e, no entanto, claramente presente em todo o lugar. Por exemplo, vôos internacionais pousam no terminal que compartilha espaço com a Base Aérea do Galeão. Qualquer pessoa que escala o Pão de Açúcar na verdade inicia a subida no Forte São João, sede da Escola de Educação Física do Exército Brasileiro. A Fortaleza de São João da Barra do Rio de Janeiro é um forte do século XVI estabelecido por Portugal para proteger a Baía da Guanabara de invasões francesas. Hoje, o movimentado porto comercial é dominado pelas instalações do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). A base data de dezembro de 1763 e foi designada Arsenal Real da Marinha quando a Família Real Portuguesa chegou em 1808. De fato, uma considerável atividade militar ocorre em toda a metrópole. Quem pode esquecer que, antes da Copa do Mundo de 2014, 2.500 soldados, com equipamento de combate completo e apoiados por veículos blindados da Marinha, se moviam rápida e silenciosamente pelas favelas do Rio?
Torre Duque de Caxias, equipada com dois canhões Krupp de 305mm. (J. Montes) |
O Brasil, como os EUA, é uma nação federada, composta por um governo federal, governos estaduais e governos locais. Copacabana é um bairro do Rio, famoso por suas praias, hotéis, restaurantes e biquínis. A propósito, a nudez supõe ser banida nas praias - essa é a razão do design e da popularidade dessas roupas de banho diminutas como forma de burlar a lei. O bairro de Copacabana é um dos muitos que corre ao longo da frente de águas cristalinas: Flamengo, Botafogo, Leme, Arpoador, Ipanema e Leblon.
O Forte de Copacabana
No extremo sul de Copacabana, e basicamente um ponto de separação para o bairro de Ipanema e a uma curta distância da estação de metrô Cantagalo, encontramos o Museu Histórico do Exército de Copacabana. Essa também é uma base militar ativa, mas o público é permitido entrar na fortaleza e descer nos limites do forte, onde permanecem duas torres enormes e formidáveis. O Exército Brasileiro iniciou a construção do forte em 1908 em um promontório de frente para a bela praia e protegendo a entrada do porto do Rio de Janeiro. A construção terminou em 1914. Na margem da fortaleza, existem duas torres blindadas: uma com dois canhões Krupp de 305mm, chamada Duque de Caxias, e a outra, um par de Krupps de 190mm, chamada André Vidal. As torres eram capazes de girar 360 graus e tinham um campo de fogo que se estendia entre 20m e 18.200 metros.
Canhão Vickers Armstrong Mark XIX 152,4mm em Copacabana. (J. Montes) |
O Museu está aberto ao público entre as 10h e as 18h, de terça a domingo, e a entrada em 2015 foi de R$6 por adulto. O público realmente entra em um portão vigiado que leva ao estacionamento da frente do forte. Esta é uma base militar ativa, portanto as instalações de um lado da fortaleza permanecem fechadas ao público. Um portão velho, com um guarda de uniforme vintage colorido, e um guichê de entrada, sinaliza a entrada pública da base antiga; no entanto, antes de chegar lá, existem vários prédios vigiados. O corredor leva a um prédio militar de três andares, onde encontramos várias exposições focadas em diferentes períodos e eventos da história do Exército Brasileiro. Os dois temas principais cobrem o Salão Colônia-Império e o Salão da República. O Salão Colônia-Império, inaugurado em 1996, apresenta a história do Exército Brasileiro relacionada ao período colonial, incluindo a ocupação e expansão brasileira e a gênese da força terrestre nacional além do período imperial, cobrindo a independência e a participação do Exército Brasileiro na Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai). O Salão da República, inaugurado em 1998, apresenta o Exército Brasileiro no regime republicano até 1945; abrange também a Rebelião Armada, a modernização do Exército Brasileiro, a contribuição do Marechal Rondon para o Brasil e a participação da Força Expedicionária Brasileira [na Segunda Guerra Mundial].
Uma das exposições dedicadas à Força Expedicionária Brasileira no Forte de Copacabana. (J. Montes) |
Atrás do edifício fica a entrada da fortaleza original, e os corredores levam ao quartel e às áreas de munição. As exposições imitam a vida dentro da fortaleza, com manequins encontrados na enfermaria, nos beliches e em outras áreas internas. O corredor leva a um mecanismo maciço e sistema de disparo usado pelas torres e pelos canhões. Siga as indicações para o telhado da fortaleza, onde a bela baía é claramente visível, e as torres blindadas contendo as enormes peças de artilharia dão uma sensação surreal. Além disso, no horizonte, há um número de navios cargueiros entrando nesta cidade costeira.
O forte funcionava como defesa costeira, então seus corredores são completados com várias exposições e peças de artilharia. Há canhões Hotchkiss de 5 canos e outras armas incomuns à vista. Um deles é o obus britânico Vickers Armstrong de 152,4mm. Os modelos exibidos aqui são do tipo XIX 1914/1917, adquiridos pelo Exército Brasileiro em 1940 dos EUA. Existem duas casamatas onde se diz que armas de 75mm já foram instaladas, e também há um pequeno restaurante com vista para a baía, onde uma boa xícara de café ou várias caipirinhas podem complementar a vista. A propósito, caipirinha é um coquetel nacional feito com cachaça, misturado com açúcar e limão.
Os 18 do Forte: Tenentes Eduardo Gomes, Siqueira Campos e Nílton Prado, civil Otávio Correia e soldados desconhecidos. |
A guarnição liderou uma revolta em 1922. Na época, a cidade do Rio de Janeiro era a capital do Brasil, e o governo estava nas mãos de um governo central dominado pela classe oligarca dos cafeicultores e as forças armadas. O poder executivo foi desafiado por uma coalizão de comerciantes, banqueiros, trabalhadores de colarinho branco, industriais e outros grupos civis, além de oficiais militares subalternos, a maioria treinados na Europa*, e constituindo o que era conhecido como Tenentismo. Esta explodiu em 5 de julho de 1922, quando tenentes desencadearam um ataque à partir do forte contra o governo. O movimento deveria incluir várias outras instalações militares, mas, no final, apenas o Forte Copacabana, alguns elementos da Vila Militar, o Forte Vigia, a Escola Militar do Realengo, o 1º Batalhão de Engenharia, elementos da Marinha e do Exército realmente se revoltaram. As baterias do forte dispararam contra vários prédios importantes do governo, abrindo os ataques contra a República Velha. O governo respondeu despachando a 1ª Divisão do Exército, dois navios de guerra e um destróier para bombardear a base, com as posições rebeldes recebendo contra-fogo do dreadnaught Minas Geraes, e duas aeronaves da Marinha. A base finalmente se rendeu, com a resistência final feita na praia por 18 oficiais, liderados por Antonio Sequeira Campos e Eduardo Gomes. A artilharia de defesa costeira foi dissolvida em 1987 e a fortaleza foi desativada, assim como um posto de artilharia costeira. Em seguida, transformou-se no atual Museu do Exército Brasileiro e permanece hoje como um dos muitos pontos militares históricos da região. Em comparação com outras instalações, o museu é pequeno. Dada a sua localização e beleza, o Forte foi programado para sediar a maratona de natação e triatlo para os Jogos Olímpicos de Verão de 2016.
*Nota do Tradutor: Treinados por instrutores europeus (franceses) no Brasil.
Bibliografia recomendada:
Soldados da Pátria: História do Exército Brasileiro 1889-1937. Frank McCann, 2007. |
Soldados Salvadores. Henry Hunt Keith, 1967. |
A Evolução Militar do Brasil. J. B. Magalhães, 1957. |
Missão Militar Francesa de Instrução junto ao Exército Brasileiro. General Souto Malan. |
Leitura recomendada:
Os Processos Políticos nos Partidos Militares do Brasil, 21 de janeiro de 2020.
Os Fuzileiros Navais na Revolução de 1924, 31 de janeiro de 2020.
O jovem Góes Monteiro em Catanduvas, 31 de janeiro de 2020.
Eleições Não Importam, Instituições Sim, 8 de janeiro de 2020.
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