terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Análise Militar: Os Fuzileiros Navais Russos


Por Igor Pejic e Viktor StoilovSouth Front: Analysis & Intelligence, 7 de dezembro de 2015.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 18 de fevereiro de 2020.

Introdução

A infantaria naval russa ou os fuzileiros navais russos têm uma longa história e tradição em seu currículo. A unidade foi formada pela primeira vez em 1705, durante a Grande Guerra do Norte 1700-1721, quando a necessidade de uma unidade militar capaz de combater armadas quando combates em ilhas e regiões costeiras se tornou crucial. Durante os séculos XVIII e XIX, a infantaria naval teve numerosos envolvimentos em várias missões, algumas delas foram vitórias famosas como a Batalha de Gangut (1714) e a tomada da Fortaleza Izmail (1792) no Danúbio. No entanto, a unidade foi dissolvida repetidamente ao longo dos anos até 1939. No período da Segunda Guerra Mundial, os fuzileiros navais russos foram encarregados de deveres defensivos nas bases da frota e também foram enviados em várias missões anfíbias. Durante a era soviética, a unidade foi desdobrada perto de fortes terrestres e algumas cidades como Moscou, Leningrado, Odessa, Sebastopol, Stalingrado, contribuindo para as defesas das cidades. A infantaria naval realizou quatro operações principais durante a Guerra, duas delas durante a Batalha da Península de Kerch (1941-42), uma durante a Campanha do Cáucaso (1942-44) e outra durante o desembarque em Moonsund (1944)*. Em 1961, a Infantaria Naval foi reformada e tornou-se parte das Forças Navais Soviéticas. Isso incluiu a expansão da unidade, bem como a modernização de seus equipamentos e veículos. No final da Guerra Fria, a unidade tinha 18.000 homens com mais de oitenta navios de desembarque. Desde o final da Guerra Fria, os fuzileiros navais russos realizaram numerosos exercícios com forças militares de outros países, incluindo os fuzileiros navais dos EUA em 1994. A chamada "Cooperação à partir do Mar" foi realizada em Vladivostok com a 3ª Força Expedicionária de Fuzileiros Navais dos EUA, a fim de promover uma maior cooperação entre as forças russas e americanas.

*Nota do Tradutor: Um batalhão de fuzileiros navais russos, com cerca de mil homens, desembarcou na Ilha Shimushu em 18 de agosto de 1945 (três dias depois do anúncio de rendição pelos japoneses) como ponta-de-lança de uma força de 8 mil homens de duas divisões de infantaria do Exército Vermelho, como parte dos desembarques nas Ilhas Curilas. Os soviéticos sofreram pesadas baixas diante de um contra-ataque blindado do 11º Regimento de Carros de Combate japonês do Coronel Sueo Ikeda, munido inicialmente de 30 blindados de vários tipos - pois os soviéticos ainda não haviam desembarcado os canhões anti-carro. 

Os demais 8.500 da 91ª Divisão de Infantaria japonesa, com 77 tanques, se engajou em um combate encarniçado de duas horas contra os 8.821 soviéticos. Um cessar-fogo foi acordado em 20 de agosto e a ilha Shimushu (ou Shumshu) foi entregue aos soviéticos, mas o choque da resistência japonesa convenceu o alto-comando soviético que Moscou não possuía grandes capacidades anfíbias, e isso cancelou os planos de outros desembarques contra o Japão. Essa foi a última batalha da Segunda Guerra Mundial.

Os fuzileiros navais russos participaram ativamente dos conflitos locais da "Guerra Fria"; por exemplo, no Iêmen e Angola.

Fuzileiros navais russos na Chechênia.

No período pós-soviético, os fuzileiros navais russos participaram de duas guerras na Chechênia. As unidades de fuzileiros navais realizaram prodígios de bravura. Mais de 20 fuzileiros navais receberam os títulos de Herói da Federação Russa. Mais de 5.000 foram premiados com medalhas militares. Ao longo da história, a infantaria naval russa mostrou um treinamento de batalha de alta categoria e as melhores qualidades humanas.

Desdobramento na Síria

Fuzileiros da 61ª Brigada de Infantaria Naval na Síria, 2016.

Recentemente, os fuzileiros navais russos foram destacados na Síria como parte da assistência militar russa no combate ao terrorismo. Desde setembro deste ano, poucas centenas de fuzileiros navais estão estacionados no oeste da Síria e na cidade de Slunfeh, no leste de Latakia, com o objetivo principal de proteger a base aérea russa (de Khmeimim)Durante seu curto serviço na Síria, já houve confrontos esporádicos com grupos terroristas em Latakia. Um dos incidentes aconteceu em setembro, quando os combatentes do Estado Islâmico tentaram montar um ataque à base aérea de Latakia, no entanto foram emboscados pelos fuzileiros navais russos, o que resultou em alguns terroristas mortos enquanto os outros recuavam. Há também alguns relatos que sugerem que esta unidade pode estar coordenando ataques a terroristas ao lado do Hezbollah e do Exército Árabe Sírio. O envolvimento dos fuzileiros navais russos no conflito sírio já rendeu dividendos. Após a derrubada do SU-24, esta unidade teve sucesso na missão de busca e salvamento do segundo piloto, enquanto lutava contra os jihadistas na região de fronteira com a Turquia.

Fuzileiro naval russo em Palmira, 2016.

Infantaria Naval - cerca de 20.000 fuzileiros navais russos estrutura/desdobramento:

Frota do Pacífico QG em Vladvostok
  • 59º Batalhão de Infantaria Naval
  • 84º Batalhão Blindado de Infantaria Naval
  • 263ª Bateria de Artilharia
  • 1484º Batalhão de Comunicações
Frota do Báltico QG em Kaliningrado
  • 299º Centro de Treinamento das Forças Costeiras da Frota do Báltico
  • 336ª Brigada de Infantaria Naval de Guardas Białystok - Białystok
  • 877º Batalhão de Infantaria Naval
  • 879º Batalhão de Assalto Aéreo (Desant)
  • 884º Batalhão de Infantaria Naval
  • 1612º Batalhão de Artilharia Auto-Propulsada
  • 1618º Batalhão de Artilharia e Mísseis Anti-Aéreos
  • 53º Pelotão de Infantaria Naval de Escolta de Carga – Kaliningrado
Fuzileiros da 61ª Brigada de Infantaria com um BDM ucraniano capturado no Donbas, 2015.

Frota do Norte QG em Severomorsk
  • 61ª Brigada de Infantaria Naval Bandeira Vermelha Kirkinesskaya – Sputnik
  • 874º Batalhão de Infantaria Naval
  • 876º Batalhão de Assalto Aéreo (Desant)
  • 886º Batalhão de Reconhecimento
  • 125º Batalhão Blindado
  • 1611º Batalhão de Artilharia Auto-Propulsada
  • 1591º Batalhão de Artilharia Auto-Propulsada
  • 1617º Batalhão de Artilharia e Mísseis Anti-Aéreos
  • 75º Hospital Naval
  • 317º Batalhão de Infantaria Naval
  • 318º Batalhão de Infantaria Naval

Frota do Mar Negro QG na Criméia
  • 810ª Brigada de Infantaria Naval – Kazachye Bukhta, Sebastopol
  • 880º Batalhão de Infantaria Naval
  • 881º Batalhão de Assalto Aéreo
  • 888º Batalhão de Reconhecimento
  • 1613ª Bateria de Artilharia
  • 1619ª Bateria de Defesa de Artilharia Anti-Aéria
  • 382º Batalhão de Infantaria Naval
Flotilha do Mar Cáspio QG em Astracã
  • 414º Batalhão de Infantaria Naval
  • 727º Batalhão de Infantaria Naval
Forças por função:

Manobra:

Mecanizado: 2 brigadas de fuzileiros motorizados; 1 regimento de fuzileiros motorizados; 3 brigadas independentes de infantaria naval; 2 regimentos independentes de infantaria naval.

Apoio ao combate: 1 brigada de artilharia; 3 regimentos de mísseis terra-ar.

Tipo de Equipamento:

- MBT: 200 T-72/T80

- Reconhecimento: 60 BRDM-2 cada um com mísseis 9K11 (AT-3 Sagger).

- Transporte Blindado de Combate de Infantaria: 300 BMP-2.

- Transporte Blindado de Infantaria: 300 MT-LB; 500 BTR-80. Total 800.

- Artilharia: Auto-Propulsada (AP) 263: 113 122mm; 95 2S1; 18 2S19; 50 2S3. Rebocada: 150 152mm: 50 2A36; 50 2A65. Total 365.

- Morteiros: 66. AP 42 120mm: 12 2S23 NONA-SVK; 30 2S9 NONA-S.

- Rebocados: 24 2B16 NONA-K 120mm. Lançadores Múltiplos de Mísseis: 36 BM-21 122mm.

- Anti-Carro: MSL SP 9P149 com 9K114 Shturn (AT-6 Spiral); Mísseis Anti-Carro: 9K11 (AT-3 Sagger); 9K113 (AT-5 Spandrel). Canhões: T-12 100mm.

- AAe: Mísseis Terra-Ar AP 70: 20 9K33 Osa (SA-8 Gecko); 50 Strela-1/Strela-10 (SA-9 Gaskin/SA-13 Gopher). Mísseis Portáteis AAe: 9K32 Strela-2 (SA-7 Grail). Canhões: 60 ZSU-23-4 23mm.

Nenhum comentário:

Postar um comentário