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terça-feira, 8 de março de 2022

GALERIA: A Brigada Ramcke de Hildesheim à África

Soldado da Brigada Ramcke com o distintivo de escorpião.
Ele tem um bocal de granada no seu fuzil Mauser Kar 98k.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de março de 2022.

A Brigada Fallschirmjäger-Ramcke se alinhou em Hildesheim para um desfile antes de partir para o Norte da África, no verão de 1942. A Brigada Ramcke chegou na África em agosto de 1942 via Atenas e depois Creta, servindo na África Ocidental. Na Wehrmacht, os paraquedistas (fallschirmjäger) pertenciam à força aérea - Luftwaffe.

A Brigada Ramcke havia sido criada pelo a captura de Malta, onde saltaria ao lado da Brigada Folgore italiana. Na África, a brigada serviu principalmente ao lado da 25ª Divisão de Infantaria "Bolonha" até a retirada final de El Alamein em novembro de 1942, quando 600 homens restante roubaram caminhões de um comboio inglês e se retiraram após sofrerem pesadas baixas. A brigada então se engajou na retirada para a Tunísia. Ramcke foi transferido de volta para a Alemanha, onde recebeu as Folhas de Carvalho na Cruz de Cavaleiro, e o comando passou para o Major Hans Kroh.

O que restou da brigada fez parte da capitulação do Grupo de Exércitos da África (Heeresgruppe Afrika / Gruppo d'Armate África) em 13 de maio de 1943.

General Hermann-Bernhard Ramcke.

Formação

Antes mesmo da Operação Mercúrio (Unternehmen Merkur) contra a ilha de Creta em 1941, os preparativos começaram para tomar a ilha de Malta, controlada pelos britânicos, no Mediterrâneo. A ilha atuou como porto de abastecimento e base de operações para a RAF, o que colocava seus aviões a uma distância impressionante do norte da África e da Itália. Inicialmente, os paraquedistas italianos e alemães e a infantaria aerodesembarcada deveriam tomar o aeródromo da ilha antes que uma força de tropas marítimas italianas desembarcasse e protegesse o resto da ilha e subjugasse os defensores. Esta operação foi chamada de Hércules (Unternehmen Herkules).

No entanto, após as altíssimas baixas sofridas pelos Fallschirmjäger durante a Batalha Aeroterrestre de Creta (Luftlandeschlacht um Kreta) e problemas de abastecimento de combustível para a Marinha italiana, o ataque a Malta foi cancelado e várias tropas Fallschirmjäger ficaram disponíveis para outras operações, sendo transferidas para o leste e para a África.

Entra a Brigada Ramcke

No início do verão de 1942, o General Student, comandante das forças Fallschirmjäger da Luftwaffe, foi convidado a formar uma Fallschirm-brigade para ser enviada à África. Ele nomeou Bernhard Herman Ramcke comandante da nova brigada.

Ramcke (então um Oberst) comandou Fallschirmjäger em Creta e assumiu o comando das operações ocidentais quando o comandante do Regimento de Assalto (Sturm-Regiment), Oberst Meindl, foi ferido, caindo com a primeira onda de reforços em 21 de maio. Ele então assumiu o comando do Kampfgruppe de Meindl, supervisionando o rompimento das linhas neo-zelandesas e se unindo às forças alemãs em Gálatas.

Após sua promoção a Generalmajor em agosto de 1941, ele serviu brevemente com os paraquedistas italianos da Folgore em preparação para a Operação Herkules visando invadir Malta, antes desta ser cancelada e ele ser chamado de volta a Berlim.

A nova brigada paraquedista consistia em quatro batalhões retirados de diferentes regimentos Fallschirmjäger, um batalhão de artilharia, uma companhia de comunicações, uma companhia de pioneiros e uma companhia antitanque.

Ordem de batalha da Fallschirm-brigade Ramcke
  • Comandante: General der Fallschirmtruppen Bernhard Hermann Ramcke
  • Brigadestab (Estado-Maior)
  • I./ Regiment Fallschirmjäger 2 (Batalhão Kroh)
  • I./ Regiment Fallschirmjäger 3 (Batalhão von der Heydte)
  • II./ Regiment Fallschirmjäger 5 (Batalhão Hübner)
  • Fallschirmjäger-Lehr Battalion/XI. Flieger-Korps (Batalhão Burkhardt)
  • II./Fallschirm-Artillerie Regiment (Fenski)
  • Tietjen Pionier Kompanie (Hauptmann Cord Tietjen)
  • Panzerjäger Kompanie (Hasender, com doze canhões PaK36 de 3,7cm)
  • Companhia de Comunicações

Desfile em Hildesheim

Na primeira fila à esquerda está o Major Friedrich von der Heydte, enquanto à sua direita está o Stabsoffizier Oberleutnant Rolf Mager.
No meio atrás da linha está o Oberleutnant Horst Trebes. Mais tarde, Mager ganhou a Ritterkreuz (Cruz de Cavaleiro) em 31 de outubro de 1944 como Hauptmann e comandante do II. Bataillon / Fallschirmjäger-Regiment 6 na Normandia.

Liderando a 1.Kompanie, Lehr Battalion - Ramcke Brigade, o Hauptmann Horst Trebes; Ritterkreuzträger (Portador da Cruz de Cavaleiro), e responsável pelo Massacre de Kondomari em Creta.
Atrás, à esquerda, está Oberleutnant Joachim Grothe. Trebes nasceu em 22 de outubro de 1916 e foi morto em combate em 29 de julho de 1944 perto de St. Denys-le-Gast, França. Ele recebeu o Ritterkreuz em 9 de julho de 1941 como Oberleutnant e comandante do III.Bataillon, Fallschirmjäger-Sturm-Regiment.

À frente está o Oberleutnant Adolf Peiser, comandante da 4.Kompanie, Lehr-Bataillon, Fallschirmjäger-Regiment 3.
Ele seria condecorado com a Deutsches Kreuz (Cruz Alemã) em ouro em 16 de agosto de 1943.
À sua direita está o Oberjäger Georg Isenberg, enquanto à sua esquerda está o Feldwebel Conny Wagner. À extrema esquerda está o Feldwebel Klaus Ackermann.

À esquerda o Leutnant Werner Wiefelspütz ao lado do Oberjäger Müller (olhando para a câmera).
O Leutnant Werner Wiefelspütz (nascido em 20 de abril de 1921) mais tarde seria morto no campo de batalha africano em 20 de outubro de 1942 e seus restos mortais foram enterrados no Kriegsgräberstätte (cemitério de guerra) de El-Alamein.

O Major Friedrich von der Heydte está sentado no carro lateral de uma motocicleta BMW R75, enquanto à esquerda está um carro Mittlere Einheits-PKW Horch 901 (Kfz.15). O motorista de aparência tensa carrega um Kartentasche (pasta de mapas) no cinto.
O número da placa WL 57399 refere-se ao Luftgau Kommando VI Münster. O símbolo no side-car é símbolo tático do Lehr-Bataillon (batalhão-escola).

Fallschirmjäger na estação de trem antes da partida para o Norte da África, verão de 1942.
O Tornister é coberto por um "zeltbahn" que pode ser usado como capa de chuva e também como tenda, enquanto um capacete é pendurado nas costas. O soldado mais à esquerda ao fundo tem uma cartucheira pendurada no ombro.

A cerimônia final antes da partida dos Fallschirmjäger de trem.

A ordem das tropas despachadas para a África foi a seguinte:
  • Primeira onda: Kampfgruppe Kroh com o comando antecessor da Brigada.
  • Segunda onda: Kampfgruppe von der Heydte com pelotão de comunicações.
  • Terceira onda: Kampfgruppe Hübner.
  • Quarta onda: Estado-Maior da Brigada e unidades de bateria de artilharia e companhia anti-carro.
  • Quinta onda: Kampfgruppe Burkhardt.

Viagem de trem para a Grécia

Spiess da 1.Kompanie, o Hauptfeldwebel Clemens Heynk (à esquerda).
O "Spiess" ("lança"), também chamado de "a mãe da companhia", costumava ser um graduado antigo com funções administrativas e de gerenciamento de pessoal da companhia.

Na Wehrmacht, o Hauptfeldwebel não era um posto, mas um título de posição, atribuição ou nomeação, equivalente ao sargento-mor da Commonwealth (company sergeant major) ou primeiro sargento de nível de companhia dos EUA (todos sem equivalência no Brasil). Havia um tal graduado (Oberfeldwebel ou Feldwebel) em cada companhia de infantaria, bateria de artilharia, esquadrão de cavalaria, etc. Ele era o sargento sênior de sua subunidade, mas suas funções eram em grande parte administrativas e não se esperava que acompanhasse sua unidade em um assalto ou tiroteio. O seu equivalente nas Waffen-SS era o SS-Stabsscharführer.

O Hauptfeldwebel tinha muitos apelidos, incluindo Spieß/Spiess ("Lança") e Mutter der Kompanie ("mãe da companhia"). Ele usava dois anéis de 10mm de largura de trança de graduados ao redor do punho de suas mangas (apelidados de "anéis de pistão") e carregava uma Meldetasche (pasta de relatórios) enfiada na frente da túnica, na qual carregava formulários de relatório em branco, listas e outros papéis relacionados a seus deveres. O sistema alemão não tinha nenhum equivalente ao sargento-mor regimental da Commonwealth.

A nomeação poderia ser ocupada por um oficial não-comissionado sênior (Unteroffizier mit Portepee), normalmente um Oberfeldwebel ou Feldwebel. Se o posto fosse preenchido por necessidade por um Unteroffizier ohne Portepee (oficial não-comissionado sem cordão/dragona), ele era denominado Hauptfeldwebeldiensttuer, ou "aquele que serve como Hauptfeldwebel".

Oficiais da Fallschirmjäger-Brigade Ramcke a caminho da Grécia antes de serem despachados de navio para o Norte da África, no verão de 1942.
A maioria deles viajou da Alemanha para a Grécia de trem. De lá, eles voaram para Tobruk via Creta em grupos (companhias ou batalhões) do final de julho a meados de agosto de 1942.

Major Friedrich von der Heydte no trem que o levará à Grécia.
Ele tem no peito a Deutsches Kreuz de ouro 
(DKiG) que ganhou em 9 de março de 1942.

Além da DKiG, outras medalhas e prêmios ganhos por von der Heydte foram:
  • Treuedienstabzeichen (Distintivo de Fidelidade, janeiro de 1938);
  • Eisernes Kreuzes (Cruz de Ferro) II klasse (27 de setembro de 1939) e I klasse (26 de setembro de 1940);
  • Ritterkreuz (Cruz de Cavaleiro, 9 de julho de 1941);
  • Eichenlaub # 617 (Folhas de Carvalho, 18 de outubro de 1944);
  • Fallschirmschützenabzeichen (Brevê paraquedista, janeiro de 1940);
  • Braçadeiras KRETA (janeiro de 1941) e AFRIKA (janeiro de 1943);
  • Infanterie-Sturmabzeichen (Distintivo de Assalto de Infantaria);
  • Ostmedaille (Medalha Oriental/Carne Congelada);
  • Ordem Militar de Sabóia (italiana, janeiro de 1942),
  • Wehrmacht-Dienstauszeichnung 4 klasse (Prêmio de serviço da Wehrmacht 4ª classe).
Von der Heydte também foi citado no  despacho de 11 de junho de 1944 da Wehrmacht. Ele também recebeu medalhas do pós-guerra, como a Bayerischer Verdienstorden (Ordem do Mérito da Baviera, 21 de maio de 1974), a Grã-cruz da Ordem dos Cavaleiros do Santo Sepulcro em Jerusalém (1958), e a Grande Cruz do Mérito da Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha (17 de março de 1987). O Coronel von der Heydte liderou o último salto alemão na guerra, Operação Stösser, um salto noturno desastroso na Batalha do Bulge, onde o próprio von der Heydte foi um dos muitos paraquedistas feitos prisioneiros pelos americanos. Sobre suas experiências na guerra, ele escreveu suas memórias no livro Dédalo Retornado.

Ele tornou-se general na Bundeswehr após a guerra. Como oficial da Alemanha Ocidental na Guerra Fria, ele teve de combater o terrorismo vermelho das facções comunistas alemãs, escrevendo o livro A Guerra Irregular Moderna, que menciona o terrorista brasileiro Carlos Marighella nada menos do que 67 vezes.

Von der Heydta escreveria "A Guerra Irregular Moderna", sobre terrorismo na Guerra Fria.
Este livro cita o terrorista brasileiro Marighella várias vezes.

Oberleutnant Horst Trebes (à esquerda) inspecionando o kit recém-recebido dos seus homens; 1.Kompanie, I.Bataillon, Fallschirmjäger-Regiment 3 ao deixar a Alemanha para o norte da África, verão de 1942.

Distribuição de "tropenhelms" (capacetes tropicais) para os membros da Fallschirmjäger-Brigade Ramcke que irão de serviço para o norte da África.

Fallschirmjäger da 2.Kompanie, Fallschirmjäger-Regiment 3 se ocupa pintando seus equipamentos em cores tropicais.
Observe a flâmula com o escudo tático do Lehr-Bataillon acompanhado do número "2" (2ª Companhia).

Militares da 1.Kompanie/I.Bataillon/Fallschirmjäger-Regiment 3 se preparam para a inspeção antes de serem enviados de navio para o norte da África.
O coldre de pistola P08 e o "kartentasche" (bolsa de mapas) mostrados em primeiro plano são feitos de couro cru.

Militares da 1ª Companhia aguardando no trem a viagem para a Grécia.
Um deles lê um jornal.

Almoço em parada temporária a caminho da Grécia.
Esses soldados comem rações de marmitas de "Eiserne Portion" (rações de aço) que eram equipamentos padrão para um soldado alemão.

Oficiais da Fallschirmjäger-Brigade Ramcke lavam as mãos durante uma parada temporária a caminho da Grécia.
Da esquerda para a direita: Soldado não identificado, Major Friedrich August Freiherr von der Heydte, Oberleutnant Rolf Mager e Oberleutnant Horst Trebes.

Paraquedistas da Brigada Ramcke observando o cenário Mediterrâneo ao viajaram de trem para a Grécia.
A parte traseira do vagão é preenchida com equipamentos de transporte e equipamentos da unidade.

Militares da 4. Kompanie/Fallschirmjäger-Regiment 3 posam para uma foto de grupo em frente ao templo do Partenon na colina da Acrópole, na Grécia, verão de 1942.
O próprio Partenoné um templo construído para a deusa Atena, a padroeira de Atenas no século 5 aC. O Partenon é considerado um símbolo da Grécia Antiga e da democracia ateniense, e é um dos maiores monumentos culturais do mundo.

Homens da 2.Kompanie / Fallschirmjäger-Regiment 3 em Eleusis, na Grécia. Ajoelhado à direita está o Stabsarzt (oficial médico) Dr. Johannes Hass.

Construindo uma tenda em Eleusis, Grécia.
Eles usaram o capacete tropical durante a viagem e, tão logo chegaram na África, aprenderam que ali era considerado "antiquado", com o pessoal do Afrikakorps preferindo usar o "feldmütze" (gorro de campanha) por ser mais prático.

Paraquedistas da 4.Kompanie, Lehr-Bataillon (Burkhardt) na Grécia.
Todos menos um estão usando o "feldmütze".

Uma foto rara mostrando o símbolo tático do Kampfgruppe Hübner na frente direita do caminhão Opel Blitz.
O Fallschirmjäger-Regiment Hübner ou Kampfgruppe Hübner foi realmente formado em agosto de 1944 sob a liderança do Oberstleutnant Friedrich Hübner, que era o comandante do 2.Fallschirmjäger-Bataillon, Fallschirmjäger-Regiment 5, Fallschirmjäger-Brigade Ramcke.

Uma linha de caminhões Opel Blitz pertencentes à brigada em algum lugar da Grécia.
Observe o símbolo tático Hübner no para-lama esquerdo do caminhão e o trilho leve montado no caminhão central. Acredita-se que esta ferradura, para algumas pessoas, seja um símbolo de boa sorte.

"Pi 8" na frente dos caminhões Matford V8-F917 da Fallschirmjäger-Brigade Ramcke (dois à esquerda) e Opel Blitz (à direita). É raro ver um membro do Fallschirmjäger com um bigode como o guarda usando o capacete FJ acima.

Preparando o equipamento e as armas a serem trazidas antes de voar para a África usando o avião de transporte Junkers Ju 52 "Tante Ju".
Esta foto parece ter sido tirada de manhã, como pode ser visto nos casacos quentes usados ​​pelos membros da Fallschirmjäger-Brigade Ramcke. O pequeno espaço acima do avião é para o metralhador.

Inspeção final da Fallschirmjäger-Brigade Ramcke antes de partir para a África, verão de 1942.
Os oficiais, suboficiais e soldados usam uniformes e capacetes tropicais, e alguns dos soldados que marchavam eram veteranos, como visto nas medalhas "Eisernes Kreuzes" (Cruz de Ferro) que usavam.

Enfim na África

Membros da Fallschirmjäger-Brigade Ramcke posam para uma foto de grupo na África em seus sidecars. Vários soldados foram vistos usando capacetes.

A brigada chegou à África em julho de 1942 e participou do avanço de Rommel em direção ao Canal de Suez, linha de abastecimento vital dos Aliados, ligando a Grã-Bretanha seu império colonial (como a Índia) e permitindo o contato com a URSS. A defesa do 8º Exército Britânico finalmente se solidificou em El Alamein e a ofensiva do Eixo parou. A Brigada Ramcke tornou-se então parte da linha defensiva ítalo-alemã.

A brigada foi espalhada entre o X e o XX Corpos italianos, com os batalhões Hübner e Burkhardt com a Divisão Brescia italiana e o restante da brigada mais ao norte com a Divisão Bolonha. À direita do batalhão Hübner estavam os colegas paraquedistas da Divisão Folgore italiana.

Os britânicos abriram a Operação Lightfoot em 23 de outubro de 1942. Os britânicos planejavam enviar seu principal avanço pelos setores defensivos no sul, mas um importante avanço de diversão era atacar no norte. O plano do XIII Corpo Britânico era romper a principal linha defensiva no norte e forçar o comprometimento das reservas do Eixo (a Divisão Ariete e a 21ª Divisão Panzer, ambas blindadas), impedindo-os de se envolverem nos combates no norte.

Embora em menor número que o ataque britânico, as tropas italianas e alemãs impediram o avanço, embora a ameaça dos britânicos tenha impedido que as divisões blindadas fossem enviadas para o norte. Enquanto isso, os britânicos romperam o setor o norte e as tropas ao sul estavam sob ameaça de serem cercadas, a Brigada Ramcke entre elas, e a ordem foi dada para recuar.

Infelizmente, como muitos de seus camaradas italianos, os Fallschirmjäger não tinham transporte motorizado próprio e foram forçados a recuar a pé, sob o risco de serem abandonados no deserto enquanto as divisões do Afrikakorps corriam para longe. Sua marcha começou em 3 de novembro, o Batalhão Burkhardt foi capturado perto de Fuka tentando chegar à estrada a oeste, embora o resto da brigada tenha escapado continuando a oeste pelo deserto.

Militar com o distintivo de escorpião já na África.

Alguns dias depois, em 5/6 de novembro, durante uma marcha noturna, a brigada encontrou uma coluna de suprimentos britânica de caminhões estacionados e conseguiu tomar a coluna sem disparar um tiro. Eles então continuaram sua jornada para o oeste com suprimentos, combustível e transporte suficientes para completá-la.

600 Fallschirmjager da Brigada Ramcke retornaram às linhas do Eixo em 6 de novembro, após uma viagem de 321km pelo deserto. Eles foram enviados mais ao norte para a Tunísia para se recuperarem de sua jornada épica.

Ramcke e Oberstleutnant Hans Kroh organizaram os remanescentes da Brigada Ramcke em dois batalhões incompletos.

Soldado em uma aldeia africana sentado em uma máquina de costura Pfaff, 21 de março ​​de 1941.

Ramcke retornou à Alemanha e em 13 de novembro tornou-se o 145º recipiente das Folhas de Carvalho da Cruz de Cavaleiro (que ele havia recebido depois de Creta) e foi promovido a Generalleutnant. Kroh então assumiu o comando do restante da Brigada, que foi redesignada Luftwaffenjäger Brigade 1.

Ordem de batalha da Luftwaffenjäger Brigade 1
  • Comandante: Tenente-Coronel Hans Kroh
  • Batalhão Schwaiger (Companhias 1-3)
  • Batalhão von der Heydte (Companhias 4-6)

A Brigada continuou a lutar no sul e no centro da Tunísia contra os veteranos do 8º Exército até que as forças do Eixo se rendessem em maio. Alguns Fallschirmjäger conseguiram escapar para a Europa, sendo incorporados em outras unidades da Luftwaffe.

Ramcke, agora no comando da 2ª Divisão Fallschirmjäger (2. Fallschirmjäger-Division), mudou-se com sua unidade da França para a Itália quando os Aliados invadiram a Sicília, onde a divisão esperava pronta. Quando o governo italiano se rendeu aos Aliados em setembro de 1943, a 2. Fallschirmjager foi encarregada de assumir o controle e restaurar a ordem em Roma. A divisão foi então enviada para a Rússia em novembro de 1943. Eles lutaram na Rússia até maio de 1944, as baixas foram altas, mas seria a última vez que o 2. Fallschirmjager lutaria na Rússia.

Ramcke e sua divisão então moveram-se para Colônia, na Alemanha, e de lá foram mandados para a Bretanha em 13 de junho, no norte da França, para defender a península. Ramcke e sua divisão lutariam na Bretanha e, finalmente, pela fortaleza de Brest, contra tropas americanas e da resistência francesa até serem finalmente forçadas a se render em 19 de setembro. Ramcke foi feito prisioneiro e enviado para um campo de prisioneiros de guerra nos Estados Unidos. Por sua defesa desafiadora final de Brest, ele foi premiado com Espada e Diamantes para sua Cruz de Cavaleiro.

Ramcke morreu na Alemanha em 1968.

Capacetes e uniformes da Brigada Ramcke mostrando a águia da Luftwaffe e a braçadeira.

Bibliografia recomendada:

L'Odyssee de la Brigade Ramcke a El Alamein:
Fallschirmjäger en Égypte, de Bab el Katara à Mersa El Brega.

Hans Rechenberg.

Fallschirmjäger Brigade Ramcke in North Africa, 1942-1943.
Edgar Alcidi.

quarta-feira, 2 de março de 2022

A Marinha de Hitler: A Kriegsmarine na Segunda Guerra Mundial

O cruzador de batalha Scharnhorst.

Por Jerry Lenaburg, New York Journal of Books, 5 de fevereiro de 2022.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 2 de março de 2022.

Continuando sua série sobre as principais marinhas da Segunda Guerra Mundial, o novo volume da Osprey Publishing fornece uma referência abrangente para a Kriegsmarine alemã - as principais operações, ordem de batalha, especificações de navios de guerra e submarinos e outros detalhes sobre as forças navais do Terceiro Reich.

A Marinha Alemã começou a guerra lamentavelmente despreparada e com pouca força para enfrentar as principais forças marítimas da Inglaterra e da França. Embora a Marinha fosse altamente profissional com oficiais e marinheiros bem treinados, a desejada construção naval do alto comando da Marinha, particularmente a construção de U-boats que se tornaria o principal ramo de combate, estava longe de ser concluída em setembro de 1939.

Como observa o autor, a Marinha alemã desempenhou pouco papel nos planos de guerra de Hitler e quase não teve impacto em nenhuma das grandes campanhas do teatro europeu, exceto a invasão norueguesa em abril de 1940. Embora a Marinha tenha desempenhado um papel fundamental no transporte das tropas que capturariam a maioria dos principais portos e aeródromos da Noruega, pegando a Marinha Real estrategicamente desprevenida e permitindo reforços significativos por via aérea, as pesadas perdas impostas pelos defensores noruegueses e as batalhas com a Marinha Real dizimaram a frota de superfície alemã e garantiram que nunca tentaria uma grande operação de frota pelo restante da guerra.


Embora os alemães tenham lutado várias ações navais de superfície notáveis, incluindo as missões do encouraçado Bismarck e do cruzador de batalha Scharnhorst para realizar ataques comerciais, o poder esmagador da Marinha Real, posteriormente complementado pela Marinha dos EUA, acabou devastando até mesmo o poderoso ramo U-boat para dar aos Aliados o domínio indiscutível do Oceano Atlântico e do Mar Mediterrâneo. Enquanto os U-boats infligiram pesadas perdas aos navios mercantes aliados, a capacidade industrial dos estaleiros americanos, combinada com novas táticas e armas, garantiu que a linha vital entre o Novo e o Velho Mundos permanecesse aberta para a guerra.

O autor fornece uma quantidade incrível de detalhes sobre toda a ordem de batalha da Marinha Alemã, desde os famosos navios de guerra e cruzadores de batalha até as inúmeras classes de submarinos que introduziram tecnologias avançadas que seriam testadas e incorporadas em muitas marinhas aliadas após a guerra. As ações de embarcações costeiras alemãs, como torpedeiros, canhoneiras e caça-minas, também são abordadas, proporcionando ao estudante de história naval uma visão muito ampla dos navios e armas usadas pela Kriegsmarine. As ilustrações e três representações de vista das várias classes de navios e submarinos são muito bem feitas, e as especificações detalhadas para cada classe de embarcação definitivamente farão desta a referência padrão para a ordem de batalha da Kriegsmarine.


Autor:
Gordon Williamson
Data de lançamento:
1º de fevereiro de 2022
Editora:
Osprey Publishing
Páginas:
256

Sobre o autor:

Jerry D. Lenaburg é Gerente de Projetos e Analista Militar com 30 anos de experiência no governo e na indústria. Formado em 1987 pela Academia Naval dos EUA, serviu como Oficial de Voo Naval de 1987 a 1998 e publicou no Journal of Military History.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Torre de Renault R 35 como Tobruk na Muralha do Atlântico


Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 25 de fevereiro de 2022.

Uma torre de carro de combate leve Renault R 35 transformada em bunker "Tobruk" no norte da França, como reforço da Muralha do Atlântico, fotografada por Christian Jardin.

Essas torres Tobruk foram um aprendizado da guerra no deserto norte-africano, por isso o nome. Essas guarnições de concrete, pequenas e circulares, foram equipadas com torres de Renault R 35 e do mais antigo Renault FT-17

Exemplar de um Tobruk mais bem conservado protegendo a entrada do bunker que agora abriga o Museu Militar das Ilhas do Canal. Esta torre foi originalmente montada em um Tobruk no Forte de Saint Aubin, Jersey.

O Renault R 35 foi um tanque de infantaria francês de dois homens usado na Campanha da França em 1940, e mais de 800 foram capturados pelos alemães. Alguns foram usados na sua função original, usando a designação Panzerkampfwagen 35R 731(f). Esses beutepanzers R 35 foram usados principalmente em funções de treinamento ou policiamento. Eles também foram usados nos treinamentos anfíbios para a Operação Leão-Marinho (Operation Seelöwe), a planejada invasão anfíbia da Inglaterra. Em ação, esses carros leves foram usados nos combates no Círculo Polar Ártico contra os soviéticos e em operações anti-partisan ao redor da Europa. Os alemães também transferiram carros Renault R 35 para seus aliados, com os italianos executando uma carga contra a cabeça-de-praia dos Rangers americanos durante a invasão da Sicília.

A Romênia comprara um número de tanques Renault R 35 quando era aliada da França. Esses veículos acabaram participando da invasão da União Soviética pelo Eixo em 1941. O Blog tratou desse assunto aqui.

Renault R 3 desembarcando de uma balsa na costa francesa durante treinamentos alemães, 1940.

A torre está bem danificada, com um rombo na lateral, além de vários buracos causados por calibres pesados. A torre também perdeu o canhão Puteaux SA 18 de 37mm.



Entrada protegida da guarnição.

A escritora especializada em blindados  Camille Harlé Vargas publicou as imagens no Twitter dizendo "Torre de R35 reutilizado para as fortificações alemãs do Atlântico, aqui próximo ao porto de Merrien no Finistère", com a posição da torre no Google Maps.

Na sequência da postagem, o leitor com o apelido Dr Agos (History Geek) postou um extrato bibliográfico e comentou: "Os regimentos canadenses tiveram muitos problemas com esse tipo de torre na Itália - a famosa linha de fortificações 'Hitler'. Não era nada óbvio." O canhão nessa vinheta é um 75mm, muito mais pesado e poderoso que o pequeno 37mm do R 35, mas demonstra a eficiência dessas fortificações Tobruk.

O extrato lê:

"No flanco esquerdo da brigada, os Seaforths haviam entrado no emaranhado de posições de metralhadoras interligadas. Quando os tanques britânicos Churchill do Regimento de Cavalaria da Irlanda do Norte entraram em seu setor, pelo menos cinco dessas bestas de 40 toneladas foram perfurados por um único canhão de torre de 75 mm montada. Os Highlanders serpentearam por seus camaradas britânicos, estremecendo com as piras funerárias em chamas, e após a batalha os canadenses pediram ao [regimento] Iron Horse que carregasse uma pequena folha de bordo em seus tanques restantes como um sinal de gratidão dos canadenses."

A folha de bordo é um símbolo do Canadá desde o início do século XVIII; ela é representada em bandeiras atuais e anteriores do Canadá, na moeda de um centavo, e no Brasão de Armas. Ela também é uma visão comum em adornos pessoais.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Crise na Ucrânia: Bem-vindo à guerra de paz de Beaufre

Tropas alemãs no Castelo de Praga, 15 de março de 1939.

Por Michael Shurkin, Shurbros Global Strategies LLC, 21 de dezembro de 2021.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 14 de fevereiro de 2022.

Como a crise na Ucrânia nos obriga a tatear por quadros estratégicos para entender o que está acontecendo e, esperançosamente, identificar caminhos para algo que se assemelhe à vitória do Ocidente, faríamos bem em buscar os escritos do gênio estratégico francês de meados do século, General André Beaufre. Beaufre serviu no estado-maior da França enquanto o mundo caminhava para o desastre em 1938-1940, e depois se debatia com o modo como o advento das armas nucleares afetou tudo o que ele havia aprendido sobre estratégia militar até aquele momento.

No centro de seu pensamento estava sua afirmação de que as armas nucleares significavam o fim dos confrontos diretos entre as potências mundiais, mas que isso não significava o fim do confronto. Pelo contrário, assim como a guerra direta era coisa do passado, a paz completa também era. “A grande guerra e a verdadeira paz terão morrido juntas”, dando lugar a um estado permanente que ele descreveu como “guerra de paz”. Às vezes haveria guerra, mas a guerra teria que ser indireta porque a liberdade de ação de alguém era muito limitada pelo risco de escalada ou pela própria fraqueza material relativa de alguém para tentar uma estratégia mais direta. Na Ucrânia de hoje, por exemplo, as potências ocidentais não podem contemplar seriamente um ataque direto à Rússia em qualquer lugar fora do teatro de guerra imediato. Ninguém está prestes a abrir uma segunda frente no Ártico ou em Vladivostok. Nem é provável que os Estados Unidos transfiram divisões blindadas inteiras para a Ucrânia. Em vez disso, é preciso buscar uma “estratégia indireta”, que equivale à “arte de explorar de maneira otimizada a estreita margem de liberdade de ação” que ainda existe para alcançar o sucesso decisivo, apesar dos “limites às vezes extremos dos meios militares que podem ser empregados."

Adolf Hitler no Castelo de Praga, 15 de março de 1939.

Beaufre concentrou-se em maneiras pelas quais a força militar poderia ser usada para apoiar uma estratégia indireta. Uma foi o que ele chamou de “manobra da alcachofra” ou grignotage (mordiscos), que foi o que ele viu Hitler fazer no final da década de 1930, quando remilitarizou a Renânia e anexou a Áustria e a Tchecoslováquia (ou, mais recentemente, o que a Rússia fez na Crimeia e Ucrânia em 2014). A ideia básica é realizar atos de agressão calculados “abaixo do limiar”, preferencialmente em uma região ou contra um interesse que não seja vital para o adversário. É preciso agir rápido para apresentar à comunidade internacional um fato consumado antes que ela tenha tempo de reagir. Também é preciso agir contra interesses relativamente periféricos. A Grã-Bretanha e a França em 1936-39, incapazes de responder rapidamente, em qualquer caso, não viam a Áustria, a Tchecoslováquia ou a Renânia como vitais para seus interesses, de modo que os movimentos de Hitler ali não justificavam uma mobilização nacional em grande escala.

A guerra de paz, segundo Beaufre, requer dominar o que hoje chamamos de “guerra híbrida”, que ele descreveu como uma “estratégia total” que envolve o uso coordenado de todos os meios à disposição para obter vantagem sobre os inimigos. Também significa ser capaz de ter capacidades militares convencionais que são 1) rápidas o suficiente para responder a golpes rápidos, 2) escaláveis – porque uma capacidade militar de tudo ou nada encorajou os países que buscavam não escalar para a guerra total a não fazerem nada (como a Grã-Bretanha e a França fizeram em 1938), e 3) grave o suficiente para deixar claro que o agressor tem que ser muito sério e disposto a arriscar uma escalada. Ambos os lados, é claro, devem agir com muito cuidado, pois o que nenhum deles quer é não ter escolha a não ser escalar. Isso equivale a uma perda da liberdade de ação, que para Beaufre equivale à derrota e possivelmente, na era nuclear, leva ao desastre planetário.

As potências ocidentais precisam de tudo o que lhes dê alternativas à capitulação, por um lado, e ao Armagedom nuclear, por outro. As potências europeias, acima de tudo, precisam pensar se têm o que é preciso para combater as ações de Putin se os Estados Unidos, que têm as forças necessárias, optarem por ficar de fora da crise.

Bibliografia recomendada:

Introdução à Estratégia.
André Beaufre.

Leitura recomendada:

COMENTÁRIO: Por que ler Beaufre hoje?, 12 de fevereiro de 2021.