Soldado da Brigada Ramcke com o distintivo de escorpião. Ele tem um bocal de granada no seu fuzil Mauser Kar 98k. |
Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 8 de março de 2022.
A Brigada Fallschirmjäger-Ramcke se alinhou em Hildesheim para um desfile antes de partir para o Norte da África, no verão de 1942. A Brigada Ramcke chegou na África em agosto de 1942 via Atenas e depois Creta, servindo na África Ocidental. Na Wehrmacht, os paraquedistas (fallschirmjäger) pertenciam à força aérea - Luftwaffe.
A Brigada Ramcke havia sido criada pelo a captura de Malta, onde saltaria ao lado da Brigada Folgore italiana. Na África, a brigada serviu principalmente ao lado da 25ª Divisão de Infantaria "Bolonha" até a retirada final de El Alamein em novembro de 1942, quando 600 homens restante roubaram caminhões de um comboio inglês e se retiraram após sofrerem pesadas baixas. A brigada então se engajou na retirada para a Tunísia. Ramcke foi transferido de volta para a Alemanha, onde recebeu as Folhas de Carvalho na Cruz de Cavaleiro, e o comando passou para o Major Hans Kroh.
O que restou da brigada fez parte da capitulação do Grupo de Exércitos da África (Heeresgruppe Afrika / Gruppo d'Armate África) em 13 de maio de 1943.
Formação
Antes mesmo da Operação Mercúrio (Unternehmen Merkur) contra a ilha de Creta em 1941, os preparativos começaram para tomar a ilha de Malta, controlada pelos britânicos, no Mediterrâneo. A ilha atuou como porto de abastecimento e base de operações para a RAF, o que colocava seus aviões a uma distância impressionante do norte da África e da Itália. Inicialmente, os paraquedistas italianos e alemães e a infantaria aerodesembarcada deveriam tomar o aeródromo da ilha antes que uma força de tropas marítimas italianas desembarcasse e protegesse o resto da ilha e subjugasse os defensores. Esta operação foi chamada de Hércules (Unternehmen Herkules).
No entanto, após as altíssimas baixas sofridas pelos Fallschirmjäger durante a Batalha Aeroterrestre de Creta (Luftlandeschlacht um Kreta) e problemas de abastecimento de combustível para a Marinha italiana, o ataque a Malta foi cancelado e várias tropas Fallschirmjäger ficaram disponíveis para outras operações, sendo transferidas para o leste e para a África.
Entra a Brigada Ramcke
No início do verão de 1942, o General Student, comandante das forças Fallschirmjäger da Luftwaffe, foi convidado a formar uma Fallschirm-brigade para ser enviada à África. Ele nomeou Bernhard Herman Ramcke comandante da nova brigada.
Ramcke (então um Oberst) comandou Fallschirmjäger em Creta e assumiu o comando das operações ocidentais quando o comandante do Regimento de Assalto (Sturm-Regiment), Oberst Meindl, foi ferido, caindo com a primeira onda de reforços em 21 de maio. Ele então assumiu o comando do Kampfgruppe de Meindl, supervisionando o rompimento das linhas neo-zelandesas e se unindo às forças alemãs em Gálatas.
Após sua promoção a Generalmajor em agosto de 1941, ele serviu brevemente com os paraquedistas italianos da Folgore em preparação para a Operação Herkules visando invadir Malta, antes desta ser cancelada e ele ser chamado de volta a Berlim.
A nova brigada paraquedista consistia em quatro batalhões retirados de diferentes regimentos Fallschirmjäger, um batalhão de artilharia, uma companhia de comunicações, uma companhia de pioneiros e uma companhia antitanque.
Ordem de batalha da Fallschirm-brigade Ramcke
- Comandante: General der Fallschirmtruppen Bernhard Hermann Ramcke
- Brigadestab (Estado-Maior)
- I./ Regiment Fallschirmjäger 2 (Batalhão Kroh)
- I./ Regiment Fallschirmjäger 3 (Batalhão von der Heydte)
- II./ Regiment Fallschirmjäger 5 (Batalhão Hübner)
- Fallschirmjäger-Lehr Battalion/XI. Flieger-Korps (Batalhão Burkhardt)
- II./Fallschirm-Artillerie Regiment (Fenski)
- Tietjen Pionier Kompanie (Hauptmann Cord Tietjen)
- Panzerjäger Kompanie (Hasender, com doze canhões PaK36 de 3,7cm)
- Companhia de Comunicações
Desfile em Hildesheim
A cerimônia final antes da partida dos Fallschirmjäger de trem. |
A ordem das tropas despachadas para a África foi a seguinte:
- Primeira onda: Kampfgruppe Kroh com o comando antecessor da Brigada.
- Segunda onda: Kampfgruppe von der Heydte com pelotão de comunicações.
- Terceira onda: Kampfgruppe Hübner.
- Quarta onda: Estado-Maior da Brigada e unidades de bateria de artilharia e companhia anti-carro.
- Quinta onda: Kampfgruppe Burkhardt.
Viagem de trem para a Grécia
Na Wehrmacht, o Hauptfeldwebel não era um posto, mas um título de posição, atribuição ou nomeação, equivalente ao sargento-mor da Commonwealth (company sergeant major) ou primeiro sargento de nível de companhia dos EUA (todos sem equivalência no Brasil). Havia um tal graduado (Oberfeldwebel ou Feldwebel) em cada companhia de infantaria, bateria de artilharia, esquadrão de cavalaria, etc. Ele era o sargento sênior de sua subunidade, mas suas funções eram em grande parte administrativas e não se esperava que acompanhasse sua unidade em um assalto ou tiroteio. O seu equivalente nas Waffen-SS era o SS-Stabsscharführer.
O Hauptfeldwebel tinha muitos apelidos, incluindo Spieß/Spiess ("Lança") e Mutter der Kompanie ("mãe da companhia"). Ele usava dois anéis de 10mm de largura de trança de graduados ao redor do punho de suas mangas (apelidados de "anéis de pistão") e carregava uma Meldetasche (pasta de relatórios) enfiada na frente da túnica, na qual carregava formulários de relatório em branco, listas e outros papéis relacionados a seus deveres. O sistema alemão não tinha nenhum equivalente ao sargento-mor regimental da Commonwealth.
A nomeação poderia ser ocupada por um oficial não-comissionado sênior (Unteroffizier mit Portepee), normalmente um Oberfeldwebel ou Feldwebel. Se o posto fosse preenchido por necessidade por um Unteroffizier ohne Portepee (oficial não-comissionado sem cordão/dragona), ele era denominado Hauptfeldwebeldiensttuer, ou "aquele que serve como Hauptfeldwebel".
Major Friedrich von der Heydte no trem que o levará à Grécia. Ele tem no peito a Deutsches Kreuz de ouro (DKiG) que ganhou em 9 de março de 1942. |
Além da DKiG, outras medalhas e prêmios ganhos por von der Heydte foram:
- Treuedienstabzeichen (Distintivo de Fidelidade, janeiro de 1938);
- Eisernes Kreuzes (Cruz de Ferro) II klasse (27 de setembro de 1939) e I klasse (26 de setembro de 1940);
- Ritterkreuz (Cruz de Cavaleiro, 9 de julho de 1941);
- Eichenlaub # 617 (Folhas de Carvalho, 18 de outubro de 1944);
- Fallschirmschützenabzeichen (Brevê paraquedista, janeiro de 1940);
- Braçadeiras KRETA (janeiro de 1941) e AFRIKA (janeiro de 1943);
- Infanterie-Sturmabzeichen (Distintivo de Assalto de Infantaria);
- Ostmedaille (Medalha Oriental/Carne Congelada);
- Ordem Militar de Sabóia (italiana, janeiro de 1942),
- Wehrmacht-Dienstauszeichnung 4 klasse (Prêmio de serviço da Wehrmacht 4ª classe).
Von der Heydte também foi citado no despacho de 11 de junho de 1944 da Wehrmacht. Ele também recebeu medalhas do pós-guerra, como a Bayerischer Verdienstorden (Ordem do Mérito da Baviera, 21 de maio de 1974), a Grã-cruz da Ordem dos Cavaleiros do Santo Sepulcro em Jerusalém (1958), e a Grande Cruz do Mérito da Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha (17 de março de 1987). O Coronel von der Heydte liderou o último salto alemão na guerra, Operação Stösser, um salto noturno desastroso na Batalha do Bulge, onde o próprio von der Heydte foi um dos muitos paraquedistas feitos prisioneiros pelos americanos. Sobre suas experiências na guerra, ele escreveu suas memórias no livro Dédalo Retornado.
Ele tornou-se general na Bundeswehr após a guerra. Como oficial da Alemanha Ocidental na Guerra Fria, ele teve de combater o terrorismo vermelho das facções comunistas alemãs, escrevendo o livro A Guerra Irregular Moderna, que menciona o terrorista brasileiro Carlos Marighella nada menos do que 67 vezes.
Von der Heydta escreveria "A Guerra Irregular Moderna", sobre terrorismo na Guerra Fria. Este livro cita o terrorista brasileiro Marighella várias vezes. |
Distribuição de "tropenhelms" (capacetes tropicais) para os membros da Fallschirmjäger-Brigade Ramcke que irão de serviço para o norte da África. |
Militares da 1ª Companhia aguardando no trem a viagem para a Grécia. Um deles lê um jornal. |
Almoço em parada temporária a caminho da Grécia. Esses soldados comem rações de marmitas de "Eiserne Portion" (rações de aço) que eram equipamentos padrão para um soldado alemão. |
Paraquedistas da Brigada Ramcke observando o cenário Mediterrâneo ao viajaram de trem para a Grécia. A parte traseira do vagão é preenchida com equipamentos de transporte e equipamentos da unidade. |
Homens da 2.Kompanie / Fallschirmjäger-Regiment 3 em Eleusis, na Grécia. Ajoelhado à direita está o Stabsarzt (oficial médico) Dr. Johannes Hass. |
Paraquedistas da 4.Kompanie, Lehr-Bataillon (Burkhardt) na Grécia. Todos menos um estão usando o "feldmütze". |
Enfim na África
Membros da Fallschirmjäger-Brigade Ramcke posam para uma foto de grupo na África em seus sidecars. Vários soldados foram vistos usando capacetes. |
A brigada chegou à África em julho de 1942 e participou do avanço de Rommel em direção ao Canal de Suez, linha de abastecimento vital dos Aliados, ligando a Grã-Bretanha seu império colonial (como a Índia) e permitindo o contato com a URSS. A defesa do 8º Exército Britânico finalmente se solidificou em El Alamein e a ofensiva do Eixo parou. A Brigada Ramcke tornou-se então parte da linha defensiva ítalo-alemã.
A brigada foi espalhada entre o X e o XX Corpos italianos, com os batalhões Hübner e Burkhardt com a Divisão Brescia italiana e o restante da brigada mais ao norte com a Divisão Bolonha. À direita do batalhão Hübner estavam os colegas paraquedistas da Divisão Folgore italiana.
Os britânicos abriram a Operação Lightfoot em 23 de outubro de 1942. Os britânicos planejavam enviar seu principal avanço pelos setores defensivos no sul, mas um importante avanço de diversão era atacar no norte. O plano do XIII Corpo Britânico era romper a principal linha defensiva no norte e forçar o comprometimento das reservas do Eixo (a Divisão Ariete e a 21ª Divisão Panzer, ambas blindadas), impedindo-os de se envolverem nos combates no norte.
Embora em menor número que o ataque britânico, as tropas italianas e alemãs impediram o avanço, embora a ameaça dos britânicos tenha impedido que as divisões blindadas fossem enviadas para o norte. Enquanto isso, os britânicos romperam o setor o norte e as tropas ao sul estavam sob ameaça de serem cercadas, a Brigada Ramcke entre elas, e a ordem foi dada para recuar.
Infelizmente, como muitos de seus camaradas italianos, os Fallschirmjäger não tinham transporte motorizado próprio e foram forçados a recuar a pé, sob o risco de serem abandonados no deserto enquanto as divisões do Afrikakorps corriam para longe. Sua marcha começou em 3 de novembro, o Batalhão Burkhardt foi capturado perto de Fuka tentando chegar à estrada a oeste, embora o resto da brigada tenha escapado continuando a oeste pelo deserto.
Militar com o distintivo de escorpião já na África. |
Alguns dias depois, em 5/6 de novembro, durante uma marcha noturna, a brigada encontrou uma coluna de suprimentos britânica de caminhões estacionados e conseguiu tomar a coluna sem disparar um tiro. Eles então continuaram sua jornada para o oeste com suprimentos, combustível e transporte suficientes para completá-la.
600 Fallschirmjager da Brigada Ramcke retornaram às linhas do Eixo em 6 de novembro, após uma viagem de 321km pelo deserto. Eles foram enviados mais ao norte para a Tunísia para se recuperarem de sua jornada épica.
Ramcke e Oberstleutnant Hans Kroh organizaram os remanescentes da Brigada Ramcke em dois batalhões incompletos.
Ramcke retornou à Alemanha e em 13 de novembro tornou-se o 145º recipiente das Folhas de Carvalho da Cruz de Cavaleiro (que ele havia recebido depois de Creta) e foi promovido a Generalleutnant. Kroh então assumiu o comando do restante da Brigada, que foi redesignada Luftwaffenjäger Brigade 1.
Ordem de batalha da Luftwaffenjäger Brigade 1
- Comandante: Tenente-Coronel Hans Kroh
- Batalhão Schwaiger (Companhias 1-3)
- Batalhão von der Heydte (Companhias 4-6)
A Brigada continuou a lutar no sul e no centro da Tunísia contra os veteranos do 8º Exército até que as forças do Eixo se rendessem em maio. Alguns Fallschirmjäger conseguiram escapar para a Europa, sendo incorporados em outras unidades da Luftwaffe.
Ramcke, agora no comando da 2ª Divisão Fallschirmjäger (2. Fallschirmjäger-Division), mudou-se com sua unidade da França para a Itália quando os Aliados invadiram a Sicília, onde a divisão esperava pronta. Quando o governo italiano se rendeu aos Aliados em setembro de 1943, a 2. Fallschirmjager foi encarregada de assumir o controle e restaurar a ordem em Roma. A divisão foi então enviada para a Rússia em novembro de 1943. Eles lutaram na Rússia até maio de 1944, as baixas foram altas, mas seria a última vez que o 2. Fallschirmjager lutaria na Rússia.
Ramcke e sua divisão então moveram-se para Colônia, na Alemanha, e de lá foram mandados para a Bretanha em 13 de junho, no norte da França, para defender a península. Ramcke e sua divisão lutariam na Bretanha e, finalmente, pela fortaleza de Brest, contra tropas americanas e da resistência francesa até serem finalmente forçadas a se render em 19 de setembro. Ramcke foi feito prisioneiro e enviado para um campo de prisioneiros de guerra nos Estados Unidos. Por sua defesa desafiadora final de Brest, ele foi premiado com Espada e Diamantes para sua Cruz de Cavaleiro.
Ramcke morreu na Alemanha em 1968.
Capacetes e uniformes da Brigada Ramcke mostrando a águia da Luftwaffe e a braçadeira. |
Bibliografia recomendada:
L'Odyssee de la Brigade Ramcke a El Alamein: Fallschirmjäger en Égypte, de Bab el Katara à Mersa El Brega. Hans Rechenberg. |
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