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sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Os voluntários latino-americanos no Exército Francês durante a Primeira Guerra Mundial


Por Michaël Bourlet, Révue Historique des Armées, 2009.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 25 de agosto de 2021.

Extrato da edição 255 "Les étrangers dans l'armée française" (Os estrangeiros no Exército Francês), ano de 2009, pg. 68-78.

“A Trincheira, 11 de fevereiro de 1916. Para quem tem algum matiz de letras, diverte-nos falar dos Trogloditas, embora, para falar a verdade, saibamos pouco sobre os costumes desses ancestrais. Os que não são solteiros não comparam a trincheira a nada: talvez, como são em sua maioria camponeses, lhes pareça um sulco mais profundo, em que Deus sabe qual semeador lança homens em vez de trigo. Somos informados de que há outros homens por perto que estão vestidos de cinza e não de azul. Nós nunca os vemos. As lacunas nos mostram um hectare de grama sem rebanho e uma linha de terra atrás de um arame. O que isso importa para nós? O que nos preocupa é organizar nossa vida."

- José Garcia Calderón, Diaro intimo, 12 de setiembre 1914 - 3 de mayo, 1916.[1]

Essas linhas magníficas são as de um peruano, José Garcia Calderón, apaixonado pela França. Como em 1870, muitos estrangeiros já no território ou outros de toda a Europa e América ingressaram no Exército Francês em 1914. Até o fim da guerra, serão incorporados, com motivações diversas, italianos, russos, gregos, belgas, suíços, espanhóis em grande número, um contingente albanês (Essad Pasha), um batalhão montenegrino, um exército polonês, caçadores tchecoslovacos, uma legião russa, um regimento estrangeiro de marcha no Oriente (composto por voluntários do Império Otomano da Ásia Menor não-muçulmanos), etc.[2]

Entre todos esses estrangeiros, algumas centenas de latino-americanos escolhem a França; é na qualidade de voluntários que lutam e, para alguns, morrem por ela. Por que estão fazendo essa escolha, se a América Latina, desde a Terra do Fogo no sul até o Rio Grande no norte, foi pouco afetada pela Primeira Guerra Mundial? De fato, a distância geográfica, o alinhamento com a diplomacia dos Estados Unidos ou as ameaças de tensões internas entre as comunidades europeias desses países ajudam a explicar a relativa marginalização da América Latina em uma guerra europeia que não ameaça diretamente o subcontinente.[3] Os combates se limitam às batalhas navais de Coronel, ao largo do Chile, em 1º de novembro de 1914 e das Malvinas, ao largo da Argentina, em 8 de dezembro de 1914. Por fim, a participação da América Latina se reduz à intervenção armada do Brasil que resulta em patrulhas navais no Atlântico Sul e no envio de alguns soldados para a Europa.[4]

Tropas francesas sob bombardeio de artilharia em Verdun, 1916.

O objetivo deste artigo é, por um lado, analisar as razões que levaram o voluntário latino-americano a se engajar e, em seguida, definir os diferentes tipos de combatentes e, por outro lado, colocar em perspectiva sua participação nos combates e o eco que se seguirá através do Atlântico e na Europa após a guerra. Os arquivos de carreira de oficiais e os arquivos coletivos do Serviço Histórico de Defesa (Service historique de la DéfenseSHD) no Château de Vincennes representam uma fonte valiosa a esse respeito. Além disso, um corpus composto por 64 nomes de voluntários latino-americanos que morreram pela França pôde ser compilado baseando-se, em particular, no arquivo dos mortos pela França no site Mémoire des hommes.[5] O local de nascimento e o engajamento como voluntário na Legião Estrangeira são os principais critérios que permitiram identificar os voluntários latino-americanos e constituir uma base de dados, que não pretende ser exaustiva. Existem poucos estudos e trabalhos sobre a Primeira Guerra Mundial e a América Latina.[6]

O combatente latino-americano: uma tentativa de definição

Na história da América Latina no século XX, a Primeira Guerra Mundial aparece como um episódio marginal. No entanto, várias centenas de latino-americanos se alistaram e lutaram nos exércitos europeus entre 1914 e 1919. Apenas o caso francês será mantido aqui, porque outros latino-americanos também lutaram nas fileiras dos exércitos alemães, austro-húngaros ou otomanos. O exemplo mais conhecido é o de Rafaël de Nogales Mendez (1879-1936), venezuelano, servindo no Exército Otomano com a patente de coronel (Bey).[7] Esses combatentes deixaram poucos testemunhos, mas algumas memórias foram publicadas e estudadas por historiadores.[8] Como se definem e quais os motivos que os levam a servir às armas da “Grande Nation”?

Multidão lendo os cartazes de mobilização geral em Paris, 2 de agosto de 1914.

Desde a declaração de guerra à França pela Alemanha em 3 de agosto de 1914 até a assinatura do tratado de paz no Palácio de Versalhes em 28 de junho de 1919, quantos exatamente integram o Exército Francês? Sobre este primeiro ponto, é difícil obter uma estimativa muito precisa, pois faltam as fontes. Em 1º de janeiro de 1915, a imprensa estimou oficialmente o número de estrangeiros no Exército Francês em 11.854, incluindo duzentos “norte-americanos e sul-americanos”.[9] Infelizmente, essa estimativa refere-se apenas à última metade de 1914 e provavelmente subestima o número de Voluntários latino-americanos. Assim, 53% dos indivíduos que compõem o corpus de 64 voluntários latino-americanos que morreram pela França se  engajaram naquele ano. A parcela dos engajados voluntários mortos em combate para 15% no ano de 1915 e, em média, para 4,5% ao ano até o final da guerra. Eles seriam 383 servindo na Legião Estrangeira, mas as estatísticas por nacionalidade fornecidas na história do Regimento de Marcha da Legião Estrangeira são insuficientes, uma vez que não incluem os homens engajados no Exército Francês fora da Legião Estrangeira.[10] Historiadores dependem fortemente do relatório sobre as perdas de mortos e feridos de nações beligerantes elaborado pelo deputado do Somme Henri Deslyons de Feuchin (1868-1950) em 1924. Dos 29.935 voluntários estrangeiros alistados no Exército Francês, há 650 latino-americanos, ou pouco mais de 2%.[11] Embora os números difiram de uma fonte para outra, em comparação com os contingentes italiano, russo, belga ou grego compostos por vários milhares de voluntários, os latino-americanos do Exército Francês durante este período estavam em minoria.

Quais nacionalidades estão representadas? Neste segundo ponto, as fontes também são poucas e distantes entre si. O relatório Deslyons de Feuchin menciona oito nacionalidades (argentinos, brasileiros, mexicanos, cubanos, chilenos, antilhanos, peruanos e venezuelanos), enquanto a Legião Estrangeira lista cerca de vinte (argentinos, bolivianos, brasileiros, chilenos, colombianos, costa-riquenhos, cubanos, equatorianos, guatemaltecos, haitianos, jamaicanos, mexicanos, nicaraguenses, panamenhos, paraguaios, peruanos, porto-riquenhos, salvadorenhos, uruguaios e venezuelanos). Além disso, o relatório do deputado francês estima em 67 o número de brasileiros engajados no Exército Francês, enquanto a tabela de estatísticas de nacionalidades da Legião Estrangeira totaliza 81. Na verdade, os voluntários vêm de todos os Estados da América Latina e apenas de Honduras e algumas ilhas nas Antilhas não contam nenhum representante.

Desfile antes da partida de trem dos voluntários belgas, 9 de agosto de 1914.

Os motivos do engajamento são diversos. Por um lado, a França ocupa um lugar privilegiado neste espaço. A independência das colônias espanholas na América Latina foi conquistada sob a influência das ideias francesas oriundas da filosofia do Iluminismo e da Revolução Francesa. No início do século XX, esses países estavam muito imersos na cultura francesa. A França mantém relações culturais estreitas com certos países latino-americanos, enquanto a imigração francesa para a América Central e do Sul cultiva esses laços culturais. Os exemplos são numerosos, mas alguns são particularmente representativos. Assim, em 1870, um círculo francês foi criado na Cidade do México. O agrupamento de universidades e faculdades da França para as relações com a América Latina, criado em 1908, tem como objetivo promover o intercâmbio acadêmico entre a França e a América Latina. No Brasil, organiza cursos, conferências e missões dentro do meio universitário franco-brasileiro.[12] Quanto à permanência na Europa, torna-se “uma espécie de necessidade iniciática para ter acesso a um protagonismo”.[13] Consequentemente, muitas famílias enviam seus filhos para estudar antes da guerra na Europa e particularmente na França. Nascido em Lima, no Peru, em 22 de julho de 1888, José Garcia Calderón pertence a uma família de intelectuais francófilos. Seu pai, Francisco Garcia Calderón Landa (1834-1905), presidente do Peru em 1881, exilado na França, só voltou ao seu país de origem em meados da década de 1880. Seu irmão mais velho, Francisco Garcia Calderón Rey (1883-1953) , filósofo, escritor e diplomata vive na França com sua família desde o início do século XX. Seu irmão mais novo, Ventura Garcia Calderón (1886-1959), nascido em Paris durante o exílio de seu pai, é diplomata, filólogo e escritor. Ele também publica poemas e contos na língua francesa. Quanto a José, primeiro aluno da Escola de Engenharia de Lima, mudou-se para Paris em 1906 e ingressou na Escola Nacional de Belas Artes (seção de arquitetura)[14]. Por fim, iniciativas de divulgação da língua e das ideias francesas nos anos anteriores à Grande Guerra. Também chegam à América do Sul artigos e brochuras da Association des Amitiés françaises, grupo fundado em 1909 em Liège pelo advogado Émile Jennissen (1882-1949), distribuído na Europa, também alcança a América do Sul.[15] Além disso, decorrente das relações estabelecidas pela França com diversos países latino-americanos, a Argentina, nas últimas décadas do século XIX, abre suas fronteiras e decide apelar ao capital e às técnicas europeias, ciente das vantagens da colaboração com a Europa e em particular com a França. De fato, a partir de 1910, a Câmara do Comércio Argentina na França buscou desenvolver as relações comerciais, industriais, científicas e artísticas entre os dois países.

Jovens britânicas oferecendo cigarros a Couraceiros franceses em Paris, 2 de agosto de 1914.

O Exército Francês está muito presente nesta região do mundo. Enquanto o Exército Chileno é construído com a ajuda dos militares alemães, os franceses colaboram intensamente com o Peru. Uma missão militar francesa foi enviada para lá e vários oficiais franceses ocuparam cargos importantes no Exército Peruano. Os exemplos são muitos, mas os de Stanislas Naulin (1870-1932) e Louis Gustave Salats (1872-1954) testemunham o envolvimento destes soldados. O primeiro, saint-cyrien, capitão de infantaria quando ingressou na missão em dezembro de 1902, serviu como subchefe do Estado-Maior do Exército Peruano até seu retorno à França em 1905. O segundo, tenente politécnico e de artilharia, designado desde 1905, foi primeiro empregado como instrutor de artilharia na Escola Militar do Peru, depois dirigiu os estudos para finalmente comandar a escola ad interim até seu retorno à França em 1908.[16] Em troca, oficiais latino-americanos vêm à França para continuar seu treinamento. É o caso de Estuardo Vallejo. Nascido em Quito (Equador) em 25 de dezembro de 1887, oficial de artilharia do exército equatoriano, destacado para a França por volta de 1910, completou então um primeiro ano de estudos na escola militar de artilharia e engenharia de Versalhes, um segundo na escola de artilharia de Fontainebleau e um terceiro na École supérieure de guerre.[17]

Os voluntários são divididos em dois grupos. O primeiro é formado por cidadãos de origem francesa. Durante a segunda metade do século XIX, muitos Estados latino-americanos encorajaram a imigração europeia. Assim, fortes comunidades francesas, alemãs, britânicas e italianas instalaram-se em vários países da América Central e do Sul[18]. Ernest Tonnelat, ex-aluno da École normale supérieure e associado de alemão, estudou as comunidades alemãs[19] nas quais viveu de 1903 a 1905 antes de se tornar professor no Lycée de Buenos Aires, na Argentina, em 1911[20]. Entre os franceses que ingressaram na América Latina, os “Barcelonnettes” (sic) são os mais conhecidos: nativos de Barcelonnette nos Alpes da Haute-Provence, instalaram-se no México onde fundaram, nomeadamente, o comércio de lingerie e cortinas. Após a derrota francesa em 1871, muitos deles se mudaram para a América Latina. Olivier Compagnon cita o exemplo de três argentinos, Juan, Luis e Francisco Verge, filho de um veterano francês da guerra de 1870-1871, que chegou a Buenos Aires por volta de 1890, chegando à França em 1914[21]. Alguns sobrenomes lembram a França: Fleurdelys, nascido no Chile; Grandjacquot nasceu na Argentina; Juan Mathurin Le Coq nasceu no Uruguai. Outros são franceses, mas não foram contabilizados pela administração militar (estabeleceram-se na América Latina antes dos 18 anos). O terceiro censo nacional argentino estabelece em 20.924 o número de franceses pertencentes às classes 1890-1919. Em 1914, 5.800 pareciam juntar-se à França, onde foram mobilizados durante a guerra[22], durante a qual obtiveram a nacionalidade francesa. Jules Louis Teilhard de Laterisse, nascido em Buenos Aires em 26 de maio de 1887, foi voluntário na Legião Estrangeira em Marselha em 1914 e provavelmente se naturalizou francês durante a guerra[23]. Da mesma forma, os laços familiares ajudaram a levar alguns homens a se alistarem na França. É o caso do aviador peruano Jean Bielovucic (1889-1949), cuja mãe era francesa, e que após ter estudado no colégio Jeanson-de-Sailly e obtido o brevê de piloto nº 87, tornou-se celebridade na França e no Peru, onde realiza os primeiros vôos de um avião[24]. As razões do engajamento de Estuardo Vallejo são ainda mais conhecidas graças ao histórico de sua carreira: oficial do Exército Equatoriano destacado para a École Supérieure de guerre em 1914, pediu em setembro de 1914 para lutar pela França, enquanto o Equador, que declarou sua independência, lhe concede licença durante a guerra. Em seu pedido, ele lembra que tem todos os seus "ideais (sic) e interesses na França", que se casou com uma francesa (em 6 de julho de 1914, Paulette Clementi domiciliada na Avenue de la Bourdonnais em Paris), que deseja tornar-se “posteriormente oficial francês de acordo com as leis” e, finalmente, que deseja, como oficial, à título estrangeiro e honorífico, “combater sob as ordens dos meus valentes professores”[25].

Soldados franceses na Via Sacra de Verdun, 1916.

O segundo grupo inclui cidadãos de origem latino-americana. A maioria vive, estuda ou trabalha na França, outros viajam para se juntar a ela. O venezuelano Sanchez Carrero é tenente-coronel do Exército Venezuelano, no qual trabalha como ajudante-de-campo do General Juan Vicente Gomez, comandante-em-chefe e presidente eleito da República Federal da Venezuela. Já o colombiano Hernan de Bengoechea (1889-1915), nascido em Paris, estudou na França e na Colômbia. Irmão do poeta Alfred de Bengoechea (1877-1954), também se destaca pelos escritos publicados após a guerra[26] e pela colaboração com Pan, Opinion, Mercure de France, La Revista de America, etc.

No entanto, a influência cultural da França nesta região do mundo, a presença de fortes comunidades francesas e os laços (econômicos, militares, políticos) estabelecidos com a América Latina não são suficientes para provocar entusiasmo, já que poucos voluntários latino-americanos permaneceram para lutar nas trincheiras da Frente Ocidental, principalmente na Legião Estrangeira.

A epopéia

Guarda-de-honra do Regimento de Marcha da Legião Estrangeira desfilando em Paris no 14 de julho de 1917, o Dia da Bastilha.
O oficial de uniforme claro é ninguém menos que o Tenente-Coronel Paul Rollet, "O Pai da Legião", e o porta-bandeira à esquerda é o Ajudante-Chefe Max Mader, o praça mais condecorado da Legião.

Quando a guerra é declarada, em Paris e nas províncias, são frequentes as manifestações de apoio de estrangeiros residentes na França. Por iniciativa da Société des Amitiés Françaises, foram constituídos cerca de trinta comissões nacionais, incluindo uma comissão mexicana. Os latino-americanos não parecem lançar um apelo ao engajamento como fazem os gregos, os suíços ou os sírios, mas algumas iniciativas são observadas a partir de 6 de agosto, os portugueses e os brasileiros convidam seus compatriotas a se inscreverem com um certo Sr. Valença domiciliado na Rue de l 'Échiquier em Paris. Em 7 de agosto, os mexicanos podem se alistar com um homem chamado Arturo Sanchez na Rue Violet[27].

No Exército Francês, a Legião Estrangeira pode acolher voluntários estrangeiros por um período de cinco anos. Mas seu alto número durante as primeiras semanas obriga o Ministério da Guerra a criar um dispositivo mais flexível que autoriza engajamentos pela duração da guerra. Embora a Legião Estrangeira receba a maior parte deles, não é, entretanto, a unidade exclusiva de incorporação. Por um lado, para evitar a superlotação dos depósitos, os engajamentos voluntários são recebidos apenas a partir do vigésimo dia da mobilização, com exceção dos homens que exerçam uma profissão técnica utilizável.[28] Jean Bielovucic, que se distinguiu várias vezes durante as reuniões aéreas e que completou a segunda travessia aérea dos Alpes em janeiro de 1913, alistou-se no Exército Francês, que o empregou como piloto a partir de agosto de 1914.

A análise dos centros de recrutamento (locais onde os voluntários foram identificados pela administração militar) aos quais pertencem os voluntários do corpus mostra que os latino-americanos engajaram-se em Paris, mas também nas províncias (Albi, Annecy, Bayonne, Lyon, Macon , Marselha, Montpellier, Nice, Oran, Pau, Sens, Tanger e Tours) e no Norte de África. No entanto, Paris e Bordéus são os principais centros de engajamento com 42% e 18% dos engajados, respectivamente. A dominação parisiense pode ser explicada por um lado porque a comunidade latino-americana é tradicionalmente mais importante em Paris do que nas províncias e, por outro lado, pelo forte entusiasmo que tocou os estrangeiros em Paris em agosto de 1914 e que preocupou também os latino-americanos: dos 24 engajamentos em Paris, 18 ocorreram em 1914. Quanto a Bordeaux, a explicação está no fato de muitos voluntários desembarcarem na cidade de Gironde. A marca registrada desse recrutamento é que não ocorreu exclusivamente em 1914, mas continuou durante toda a guerra.

Recortes de jornais brasileiros.

A incorporação à Legião Estrangeira ocorre em vários depósitos da metrópole, enquanto destacamentos de legionários são transportados do Norte da África para a metrópole, a fim de servir de núcleo para os vários regimentos de marcha da Legião Estrangeira.[29] Estes são muito duramente testados no combates de Artois e Champagne do ano de 1915. Criado em 11 de novembro de 1915, o Regimento de Marcha da Legião Estrangeira permanece a partir de então o único regimento estrangeiro na França. Esta unidade, composta por três batalhões, destacou-se particularmente em Belloy-en-Santerre no Somme em julho de 1916, em Auberive, na Champagne, em abril de 1917 e em Cumières durante as operações para limpar Verdun em agosto de 1917. Durante o ano de 1918, a Legião participa na defesa de Amiens (abril-maio ​​de 1918), luta na frente de Soissons em maio-julho de 1918 e, sobretudo, ilustra-se no planalto de Laffaux em frente à Linha Hindenburg, a qual perfura em 14 de setembro de 1918 .

Os voluntários que constituem o corpus são principalmente praças. Com idade média de 25 anos, eles participam de todas as batalhas em que o regimento é engajado. A história do Regimento de Marcha da Legião Estrangeira indica que ali serviram 11 oficiais, 17 suboficiais e 356 cabos e soldados latino-americanos. Entre os cabos e soldados, contam-se poetas, escritores e militares. Um dos descendentes de Cristóvão Colombo, Cristóbal Bernaldo de Quirós, súdito espanhol nascido em Buenos Aires em 27 de dezembro de 1894, serviu no Regimento de Marcha da Legião Estrangeira como soldado de 2ª classe quando foi morto na conquista da aldeia de Belloy-en-Santerre em 5 de julho de 1916. Outros morreram no exterior: assim o legionário de 2ª classe Daniel Antoine Macéo do 1º Regimento de Marcha do 2e Étranger, nascido em Buenos Aires em 20 de maio de 1892, alistou-se como voluntário na Legião Estrangeira em 1913 e foi morto em El Bordj no Marrocos em 23 de janeiro de 1916. Entre os oficiais estão os venezuelanos Camillo Ramirez-Ribas e José Sanchez-Carrero, os brasileiros Luciano Antonio Vital de Mello Vieira e Gustave Gelas, o equatoriano Estuardo Vallejo, os peruanos José Garcia Caldéron e Jean Bielovucic, o argentino Marcos Rodrigue, o mexicano Louis Fernández de Córdova (suboficial), etc. Finalmente, durante a Grande Guerra, dois jovens brasileiros ingressaram na escola militar especial de Saint-Cyr para serem treinados. Os sous-lieutenants Santella Estrella e Ildefonso pertenciam à promoção De Sainte-Odile et de La Fayette (1917-1918)[30].

Lista e designação dos candidatos admitidos como alunos-aspirantes à Escola Militar Especial de Saint-Cyr no final do concurso organizado em 1917 [101ª promoção, chamada “de Saint-Odile e de La Fayette” (1917 ~ 1918)].
L’Ouest-Éclair – éd. de Rennes –, n° 6.463, Terça-feira, 17 de julho de 1917, p. 2, na rubrica "Dans l’Armée ~ Les admissions à Saint-Cyr".

Durante a guerra, alguns voluntários foram destacados da Legião Estrangeira para serem incorporados em unidades que exigiam um alto nível de educação ou habilidades técnicas específicas. Assim, após alistar-se pela duração da guerra em Paris em 9 de setembro de 1914, José Garcia Calderón foi incorporado ao 3º Regimento de Marcha do 1er Étranger. Soldado de 2ª classe, cabo em 11 de dezembro de 1914, ele foi designado para o grupo de balões e empregado na 35ª Companhia de Balonistas de Campanha (35e compagnie d’aérostiers de campagnecomo observador em balão em 26 de janeiro de 1915. Promovido a sargento em 9 de maio, serviu em várias companhias e sua ação lhe rendeu ser citado no Diário Oficial de 23 de dezembro de 1915:

“Sargento Observador da 30ª Companhia de Balonistas. Suboficial de nacionalidade estrangeira, engajado para a duração da guerra. Demonstrou grande coragem e dedicação em assegurar com grande destreza e sangue-frio, durante o período de preparação e durante os ataques de setembro e apesar de um estado atmosférico muitas vezes muito turbulento, a regulagem do fogo de artilharia."

Ajudante em janeiro de 1916, ele foi temporariamente promovido a segundo-tenente de infantaria à título estrangeiro em 20 de março de 1916. Um oficial observador, ele estava em missão na região de Brabant-sur-Meuse em 5 de maio de 1916 quando o cabo do seu balão se rompeu. O vento o carregou em direção às linhas alemãs. Ele consegue jogar fora a sacola com seus papéis e as informações coletadas. Ele é morto após deixar seu balão em um pára-quedas. Já Marcos Rodrigue, nascido em 11 de novembro de 1888 em Tucumán, Argentina, é provavelmente um dos primeiros tanquistas latino-americanos da história. Voluntário em outubro de 1914 em Paris, ele foi incorporado à artilharia metropolitana e serviu em particular na Frente Oriental. Oficial da reserva à título estrangeiro desde 1915, foi designado para a artilharia de assalto em 1917. Em 26 de julho de 1918, enquanto era tenente do 500º Regimento de Artilharia de Assalto, ele foi gravemente ferido e morreu devido aos ferimentos na ambulância 7/5 em Saint-Martin d'Ablois, no Marne, em 4 de agosto de 1918.[31]

Soldados franceses em uma trincheira perto de Kéréves Déré, Gallipoli, 1915.
Eles são equipados com o fuzil Lebel Mle 1886 M93.
(Colorização de Anthony Malesys/
Colorful History)

A partir de janeiro de 1919, os voluntários estrangeiros puderam ser dispensados ​​do serviço e retornarem à vida civil: “Os estrangeiros engajados como voluntários pela duração da guerra e que assim o exigirem estão autorizados a solicitar seu envio imediato às suas casas."[32] Muitos optam por deixar a Legião e o Exército Francês, mas alguns prolongam seu engajamento. Gustave Gelas, voluntário brasileiro em dezembro de 1915 e promovido a oficial à título estrangeiro em julho de 1918, continua servindo na Legião Estrangeira. Transferido para o 3º Regimento Estrangeiro em 1920, serviu na Argélia e no Marrocos, onde morreu no hospital militar Louis de Meknès em 15 de maio de 1922, em conseqüência dos ferimentos recebidos no combate de Bab-Hoceine-Issoual em 14 de abril de 1922.[33] Quais foram as perdas sofridas pelos latino-americanos durante a guerra? O relatório de Deslyons de Feuchin menciona 78 soldados que caíram pela França entre 1914 e 1918 (12% dos soldados da América Central e do Sul), o que representa uma baixa taxa de perdas. Em comparação e de acordo com o mesmo relatório, de 561 americanos engajados como voluntários estrangeiros durante a guerra, 112 morreram pela França, ou seja, quase 20% do efetivo; de 678 tchecoslovacos engajados, 157 foram mortos em combate (23%). Argentinos, brasileiros e mexicanos têm respectivamente 31, 15 e 11 mortos.

A guerra dos latino-americanos do Exército Francês teve certo eco tanto na América Latina quanto na França. Na América Latina durante a guerra, o destino dos voluntários é conhecido e até seguido, como mostra Olivier Compagnon, na imprensa argentina. Assim, a partir do final de 1914, uma coluna do jornal Caras y Caretas foi dedicada aos argentinos na guerra; ela é ilustrada com fotografias de combatentes uniformizados.[34] Gozando de imenso prestígio, apesar dos sacrifícios feitos, o Exército Francês emerge da guerra com uma auréola de vitória. Muitas missões militares francesas foram para a América Latina, sendo a mais conhecida a do General Maurice Gamelin no Brasil em 1919. As relações militares entre a França e alguns países latino-americanos parecem se construir em torno desses homens que vieram defender a “civilização francesa" contra "a barbárie alemã". De fato, o Presidente da Venezuela, Juan Vicente Gómez (1857-1935), informou assim ao Ministro da França em Caracas de sua vontade de publicar um aviso sobre o Capitão Sanchez Carrero, que foi seu ajudante-de-campo antes da guerra. Essa abordagem faz parte do desejo de aproximar os dois países. Embora a França tenha recusado a cooperação militar da Venezuela antes da guerra, o interesse pelo país aumentou, em particular por causa de sua riqueza em petróleo. Ao mesmo tempo, os líderes venezuelanos procuram incutir um sentimento nacional na população e esperam apoiar-se nos militares. Por isso apelam para a França e seu exército. Um posto de adido militar foi criado em 1919, enquanto em novembro de 1920 uma missão de armamentos liderada pelo Coronel Eleazar López Contreras (que governou o país de 1936 a 1941) permaneceu na França. Nesta ocasião, o alto oficial venezuelano não deixa de ir ao engenho de Laffaux para meditar sobre o túmulo de Sanchez Carrero. Os mortos alimentam as rivalidades entre os Estados, especialmente entre a França e a Alemanha. O caso da Venezuela é muito interessante a esse respeito. Assim, em novembro de 1919, o Capitão d'Espinay, adido militar da legação francesa na Venezuela, lembrou, em uma carta ao Ministério da Guerra, que pouco havia sido feito pela França em homenagem ao chef de bataillon Sanchez Carrero (sua morte nunca foi anunciado oficialmente). O adido militar francês também denuncia os "malvados propagandistas alemães na Venezuela que tentam demonstrar a ingratidão da França" por meio dessa história.[35]

Chegada da Missão Militar Francesa para o Exército Brasileiro, 1920.
O General Maurice Gamelin está na extrema esquerda.


Na França, a memória desses soldados voluntários foi preservada após a guerra. Administrativamente, esses soldados engajados pela França se beneficiam das mesmas disposições que as fornecidas para os soldados franceses. Aqueles que foram mortos em combate, morreram em decorrência de seus ferimentos ou morreram em cativeiro têm direito à menção “Mort pour la France" (Morto pela França)[36] e são enterrados em cemitérios militares ao lado de seus camaradas franceses. As condecorações militares francesas, incluindo as mais prestigiosas, são atribuídas aos estrangeiros. Portanto, o Tenente Marcos Rodrigue porta a Croix de Guerre e o título de Chevalier de la Légion d'honneur desde agosto de 1915.[37] O diretório oficial dos membros da Legião de Honra publicado após a guerra lista os nomes dos legionários latino-americanos. Além disso, em julho de 1935, foi criada a Cruz do Combatente Voluntário. É destinado a voluntários que serviram no front de uma unidade de combate durante a Grande Guerra e também é concedido a estrangeiros. Finalmente, como todos os soldados franceses, foram estabelecidos os documentos administrativos que justificam a participação desses homens nos combates da Grande Guerra. Os oficiais possuem histórico de carreira, hoje mantido no Departamento do Exército do SHD. Certificados de óbito ou declarações de óbito foram elaborados para aqueles que morreram.

Obtuário do Tenente Aviador Luciano de Mello Vieira no Livre d'Or de la Faculté droit de Paris, e recorte do jornal IMPARCIAL com telegrama sobre a morte do aviador brasileiro Mello Vieira, edição de 1° de fevereiro de 1918. (Acervo da Biblioteca Nacional)

Opúsculo em homenagem ao tenente aviador brasileiro Luciano de Mello Vieira, morto em combate em Chantilly, 1918.

Monumento de Chantilly, no departamento de Oise, aos mortos nas duas guerras mundiais.

Lápide em homenagem aos aviadores Luciano de Mello e Charles d'Albert de Luynes, este último morto em combate em Chantilly em 28 de janeiro de 1918.

Túmulo do Tenente Aviador Luciano de Mello da Divisão Salmson, morto em 31 de janeiro devido aos ferimentos recebidos no dia 28, em Chantilly. O símbolo acima do epitáfio representa a Croix de Guerre.

Hoje, com o desaparecimento dos últimos veteranos e apesar do entusiasmo pela Primeira Guerra Mundial, esses voluntários latino-americanos quase desapareceram da memória coletiva. No entanto, sua história é preservada, de forma muito fragmentada, em bibliotecas e arquivos. Na verdade, os nomes de alguns que morreram em combate aparecem nos livros de ouro elaborados por várias instituições, escolas ou empresas, etc. Assim, o da Faculdade de Direito de Paris contém os nomes dos 455 mortos pela França (professores associados, conferencistas e assistentes, ex-alunos, pessoal administrativo...) e cada uma das curtas biografias é acompanhada por uma fotografia. Neste livro de visitas, estão: o brasileiro Luciano Antonio Vital de Mello Vieira, nascido em Paris em 7 de janeiro de 1892, estudante do 3º ano de Direito na época de seu engajamento como voluntário em 1914, tenente piloto aviador quando foi morto em Chantilly no Oise em 31 de janeiro de 1918, e o cubano Jean Baptiste Dominique Firmin Sanchez Toledo, nascido em Paris em 11 de outubro de 1892, também estudante do 3º ano de Direito antes da guerra: voluntário, cabo aviador, foi morto em 24 de maio de 1917 em Sonchamps.[38] Nos cemitérios militares do norte e do leste da França, sepulturas aqui e ali lembram o sacrifício de algumas dezenas de homens, "mortos pela França", entre os milhões de soldados de todas as nacionalidades que caíram nos campos de batalhas. O viajante que hoje passa por Barcelonnette descobre o quanto a memória dos soldados mexicanos ainda está viva. Assim, na Rua Manuel, uma placa comemorativa leva a seguinte inscrição:

“Aos cidadãos mexicanos que morreram pela França durante a Grande Guerra. Esta placa foi oferecida à cidade de Barcelonnette pela colônia francesa do México para perpetuar a memória dos cidadãos mexicanos engajados sob as dobras da bandeira francesa e caídos na defesa da lei e da liberdade."

Sob esta placa figuram onze nomes, enquanto ao pé do memorial de guerra de Jausiers uma placa também comemora os "heróis mexicanos que morreram pela França".

Os voluntários latino-americanos no exército francês durante a guerra eram poucos em comparação com outros contingentes. No entanto, quem fez a escolha da "civilização" contra a "barbárie" foram jovens, muitas vezes imbuídos da cultura francesa ou ligados à França por motivos familiares. Algumas dezenas foram mortos em combate, principalmente nas fileiras da Legião Estrangeira, mas não exclusivamente. A história desses homens ficou conhecida na América Latina, durante e depois da guerra. A maioria deles voltou para casa após a guerra, e esses voluntários ajudaram a estabelecer laços estreitos entre a França e os países da América Latina.

Notas:
  1. Calderón (José Garcia), Diaro intimo, 12 de setiembre 1914-3 de mayo, 1916, Lima, Universidad nacional mayor de San Marcos, 1969, 135. Reliquias, publicado em Paris em 1917, é um fragmento do Journal intime, citado em Anthologie des écrivains morts à la guerre (1914-1918), tomo 1, Amiens, Bibliothèque du Hérisson, 1924, pg. 708.
  2. Alguns estudos gerais merecem ser mencionados: Allain (Jean-Claude), “Les étrangers dans l’armée française pendant la Première Guerre mondiale”, em Philippe e François Marcot (eds.), Les étrangers dans la Résistance en France, catálogo da exposição, Besançon, Musée de la Résistance et de la Déportation, November 1992, pg.16-28; Comor (André-Paul), "Le volontaire étranger dans l’armée française au cours des deux guerres mondiales" e Becker (Jean-Jacques), "Les volontaires étrangers de l’armée française au début de la guerre de1914", em Hubert Heyriès, Jean-François Muracciole (dir.), Le soldat volontaire en Europe au XXe siècle, de l’engagement politique à l’engagement professionnel, procedimentos do colóquio internacional em Montpellier de 3 a 5 de abril de 2003, Universidade Paul-Valéry-Montpellier III, Montpellier, Presses universitaires de la Méditerranée, 2007, pg.19-37 e pg.87-95; Karamanoukian (General Aram), Les étrangers et le service militaire, Paris, A. Pedone, 1978, 284 páginas. Alguns livros e artigos especializados foram publicados nos últimos anos: Bourlet (Michaël), "Les Slaves du Sud dans l’armée française pendant la Première Guerre mondiale", Revue historique des armées, nº 226, 2002; Delaunay (Jean-Marc), “Tous Catalans. Les volontaires espagnols dans l’armée française pendant la Grande Guerre", Des étoiles et des croix, Miscelânea oferecida a Guy Pédroncini, Paris, 1995, pg. 309-323; Heyriès (Hubert), Les Garibaldiens de 14: splendeurs et misères des Chemises rouges en France de la Grande Guerre à la Seconde Guerre mondiale, Nice, Serre éd., 2005, 672 páginas; Mayer (Myriam), Madera (Condado Emilio), “Espańoles en la Gran Guerre: los voluntarios Cantabros”, Monte Buciero, nº 10, 2004, pg. 171-193; Petit (Pierre), Histoire des Russes incorporés dans les armées françaises pendant la Grande Guerre, Paris, Académie européenne du Livre, 1992, 31 páginas.
  3. Compagnon (Olivier), Enders (Armelle), “L’Amérique Latine et la guerre” em Stéphane Audoin-Rouzeau e Jean-Jacques Becker (eds.), Encyclopédie de la Grande Guerre, 1914-1918, Paris, Bayard, 2004, pg. 889-901.
  4. Os países da América Latina permanecem neutros até que os Estados Unidos entrem na guerra. Em abril de 1917, o Panamá e Cuba também declararam guerra à Alemanha. A esses países se juntou o Brasil em outubro de 1917. Entre abril e julho de 1918, Costa Rica, Guatemala, Haiti, Honduras e Nicarágua entraram no conflito. Bolívia, República Dominicana, Equador, Peru, Uruguai e El Salvador rompem relações diplomáticas com a Alemanha. Por fim, Argentina, Chile, Colômbia, México, Paraguai e Venezuela mantêm sua neutralidade até o fim da guerra.
  5. www.memoiredeshommes.sga.defense.gouv.fr.
  6. Sobre a América Latina e a Primeira Guerra Mundial, consulte a bibliografia de Olivier Compagnon e Armelle Enders, L’Amérique latine et la Première Guerre mondiale, 2002, http://nuevomundo.revues.org; Compagnon (Olivier), Enders (Armelle), "L’Amérique latine et la guerre", Stéphane Audoin-Rouzeau e Jean-Jacques Becker (eds.), Encyclopédie de la Grande Guerre, 1914-1918, Paris, Bayard, 2004, pg.889 -901; Albert (Bill), Henderson (Paul), South America and the First World War: the impact of the war on Brazil, Argentina, Peru and Chile, Cambridge, Cambridge University Press, 1988, 386 páginas; Weinmann (Ricardo), Argentina en la Primera Guerra Mundial: neutralidad, transición polîtica y continuismo económico, Buenos Aires, Fundación Simón Rodríguez, 1994, 168 páginas.
  7. De Nogales Mendez (Rafael), Memorias, Caracas, Biblioteca Ayacucho, 1991, volume 2.
  8. Homet (Juan B.), Diario de un argentino: soldado en la guerra actual, Buenos Aires, M. Schneider, 1918, 72 páginas; De Bengoechea (Hernan), Le sourire d’Île de France suivis des Lettres de guerre (1914-1915), Saint-Raphaël, 1924, 359 páginas; Calderón (José Garcia), Diaro íntimo, 12 de setiembre, 1914-3 de mayo, 1916, Lima, Universitad nacional mayor de San Marcos, 1969, 135 páginas. Compagnon (Olivier), “Du Rio de la Plata aux tranchées de Verdun. Diario de un argentino soldado en la guerra actual”, Memórias das Américas, diários, correspondência, histórias de vida (séculos XVII-XX), conferência internacional, Universidade de Versalhes Saint-Quentin-en-Yvelines, 21-22 de junho de 2007; Lorenz (Frederico Guillermo), “Voluntarios Argentinos en la Gran Guerra”, Todo es Historia, Buenos Aires, nº 373, agosto de 1998, pg.72-91.
  9. Poinsot (Mafféo Charles), Les volontaires étrangers enrôlés au service de la France en 1914-1915, Paris, Berger-Levrault, 1915, 77 páginas.
  10. Historique du régiment de marche de la Légion étrangère, prefácio de René Doumic, Paris, Berger-Levrault, 1926, 167 páginas.
  11. Deslyons de Feuchin (Henri), Relatório elaborado na legislatura anterior em nome da comissão do exército responsável pelo exame da proposta de resolução para divulgar o número de mortos e feridos por nações beligerantes, Paris, impr. da Câmara dos Deputados, 1924, 195 páginas. Este relatório, que buscava estabelecer e tornar conhecido o número de perdas em mortos e feridos durante a guerra, foi feito em nome da Comissão do Exército sobre uma proposta de resolução de Louis Marin. Prost (Antoine), "Compter les vivants et les morts : l’évaluation des pertes françaises de 1914 à 1918", Le Mouvement Social, janeiro-março de 2008, nº 222, pg. 41-60.
  12. Crouzet (François), Rolland (Denis) (ed.), Pour l’histoire du Brésil, Miscelânea oferecida a K. de Queirós Mattoso, Paris, L’Harmattan, 2000, pg. 127.
  13. Lemogodeux (Jean-Marie) (ed.), L’Amérique hispanique au XXe siècle. Identités, cultures et sociétés, Paris, PUF, 1997, pg. 98.
  14. Anthologies des écrivains morts à la guerre (1914-1918), tomo 1, Amiens, Bibliothèque du Hérisson, 1924, pg. 706.
  15. 15  Poinsot (Mafféo Charles), op.cit., pg. 10.
  16. SHD/DAT, 6 Ye 20 049, arquivo de carreira de Louis Gustave Salats, obra de notação (1905-1908) e SHD / DAT, 13 Yd 37, arquivo de carreira de Stanislas Naulin, obra de notação (1902-1905).
  17. SHD/DAT, 5 Ye 110 433, arquivo de carreira de Estuardo Vallejo, estado de serviços.
  18. Sobre a imigração europeia para a América Latina, Gaston Gaillard fornece dados por país anfitrião e por nacionalidade. Gaillard (Gaston), Amérique latine et Europe occidentale. L’Amérique latine et la guerre, Paris, Berger-Levrault, 1918, pg. 244-245.
  19. Tonnelat (Ernest), L’expansion allemande hors d’Europe : États-Unis, Brésil, Chantoung, Afrique du Sud, Paris, A. Colin, 1908, 279 páginas.
  20. SHD/DAT, 5 Ye 162 899, arquivo da carreira de Ernest Tonnelat, obra de notação (1914) e Louis F. Aubert, “Ernest Tonnelat”, obituários do diretório de ex-alunos da École normale supérieure, 1949, pg. 33-35.
  21. Compagnon (Olivier), "Si loin, si proche… La Première Guerre mondiale dans la presse argentine et brésilienne", Jean Lamarre, Magali Deleuze (ed.), L’envers de la médaille. Guerras, testemunhos e representação, procedimentos do colóquio realizado no Royal Military College of Canada em Kingston em março de 2006, Quebec, Presses de l'Université Laval, 2007, pg. 77-91.
  22. Ruffié (Monique), Esteban (Juan Carlos), Galopa (Georges), Carlos Gardel: sua formação francesa, Buenos Aires, Corregidor, 2007, pg. 234-238.
  23. www.memoiredeshommes.sga.defense.gouv.fr, Jules Louis Teilhard de Laterisse.
  24. Ficha biográfica, Museo Aeronáutico del Perú, www.incaland.com.
  25. SHD/DAT, 5 Ye 110 433, arquivo de carreira de Estuardo Vallejo, carta de admissão ao serviço à título estrangeiro e em tempo de guerra (18 de setembro de 1914).
  26. Les crépuscules du matin, Saint-Raphaël, Les Tablettes, 1921, 205 páginas; Le Vol du soir, Saint-Raphaël, Les Tablettes, 1922, 151 páginas; Le sourire d’Île de France suivis des Lettres de guerre (1914-1915), Saint-Raphaël, 1924, 359 páginas.
  27. Poinsot (Mafféo Charles), op.cit., pg. 40 e seguintes.
  28. Ibidem, pg. 25.
  29. Historique du régiment de marche de la Légion étrangère, Paris, Berger-Levrault, 1926, pg. 41; Guyot (Philippe), "La Légion étrangère sur le théâtre français", 14-18, a revista da Grande Guerra, nº 5 e 6, pg. 32-38 e pg. 26-36.
  30. Vernet (Jacques), Gourmen (Pierre), Boÿ (Jean), Jacob (Pierre), Gourmen (Yves), Saint-Cyr, Especial Escola Militar, Panazol, Lavauzelle, 2002, pg. 422.
  31. SHD/DAT, 5 Ye 152 301, arquivo de carreira de Marcos Rodrigue, estado dos serviços.
  32. SHD/DAT, 7 N 144, folheto informativo relativo ao retorno imediato às suas casas de voluntários estrangeiros durante a guerra, EMA, 25 de janeiro de 1919.
  33. SHD/DAT, 5 Ye 142 647, arquivo de carreira Gustave Gelas, estado dos serviços, pontuação de trabalho e certidões de óbito.
  34. Compagnon (Olivier), "Si loin, si proche…, la Première Guerre mondiale dans la presse argentine et brésilienne", ibidem, pg. 82.
  35. SHD/DAT, 5 Ye 156 781, arquivo de carreira do capitão Sanchez Carrero, carta do adido militar francês em Caracas (novembro de 1920) e outros documentos.
  36. A atribuição da menção “Morte pela França” é uma operação do estado civil que é objeto dos artigos L 488 e L 492bis do código de pensões militares por invalidez e vítimas de guerra (www.defense.gouv.fr/sga).
  37. SHD/DAT, 5 Ye 152 301, arquivo de carreira de Marcos Rodrigue, livro oficial.
  38. Le livre d’or de la Faculté de Droit de Paris, Guerre 1914-1918, Paris, 1925, pg. 149 et 190.
Sobre o autor:

Michaël Bourlet é professor de história militar nas Escolas de Saint-Cyr Coëtquidan (Academia Militar de Saint-Cyr), autor de uma tese de história contemporânea intitulada Prosopographie des officiers français des 2e et 5e bureaux de l’EMA de 1914 à 1919 (Prosopografia de oficiais franceses dos 2º e 5º escritórios da EMA de 1914 a 1919) na Universidade de Paris-Sorbonne sob a direção de Jacques Frémeaux. Autor de vários artigos sobre o assunto em várias revistas científicas, publicou em 2006 a obra intitulada: L’état-major de l’armée de Terre, boulevard Saint-Germain (O estado-maior do exército), Boulevard Saint-Germain (Paris, Ministère de la Défense/EMAT, 191 páginas).

Bibliografia recomendada:

French Foreign Legion 1914-45.
Martin Windrow e Mike Chappell.

Leitura recomendada:






FOTO: Os Terríveis Turcos!, 1º de maio de 2021.

FOTO: Legionários na Síria, 30 de outubro de 2020.

FOTO: Soldado russo da Wehrmacht, 31 de outubro de 2020.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

GALERIA: A Legião Oriental no Chipre

Em Monarga, exercício de ordem cerrada para os legionários da Legião Oriental, julho de 1918.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 26 de agosto de 2021.

A Legião Oriental em Nicósio, no Chipre, em julho de 1918. Matéria da SCA-ECPAD durante a Primeira Guerra Mundial, fotografias de Winckelsen Charles. Esta legião é composta por voluntários armênios e sírios que foram empregados contra os turcos otomanos. Inicialmente formada por 6 batalhões de 800 homens cada, a Legião Oriental era comandada pelo Major Louis Romieu; sendo armada, equipada e treinada pelos franceses. O efetivo da Legião Oriental era de 4.124 homens, e logo passou a ser conhecida como Legião Armênia.

A contingente armênio era comandado por oficiais franceses e armênios, e continha muitos dos armênios sobreviventes de Musa Dagh, onde os armênios resistiram aos massacres turcos durante o genocídio armênio por 40 dias até serem resgatados pela Marinha Francesa em 12 de setembro de 1915.

Após o treinamento no Chipre, a unidade foi incorporada ao Destacamento Francês da Palestina e da Síria (Détachement Français de Palestine et de Syrie) como um regimento de marcha - ou seja, formação temporária - com dois batalhões armênios para lutar contra os turcos otomanos e seus aliados alemães no Levante. O Régiment de Marche de la Légion d'Orient foi reforçado por uma companhia síria, um esquadrão de Spahis norte-africanos desmontados e um pelotão de metralhadoras.

No acampamento em Monarga, um batalhão da Legião Oriental desfila ao som da música.

A companhia síria da Légion d'Orient chegou a Port Said em 6 de fevereiro de 1918. O primeiro e o segundo batalhões chegaram no mesmo porto no final de abril e 15 de julho de 1918, respectivamente. Todos os três foram enviados do Chipre em 1918. O esquadrão de Spahis do Capitão Kerversau embarcou a bordo do Hyperia em Bizerta, na Tunísia, em 22 de julho de 1918, para trânsito para Alexandria, junto com um pelotão de metralhadoras transportado por mulas comandadas pelo Tenente Delahaye. A Legião então desembarcaria em Jaffa na metade de setembro.

A Legião Oriental se distinguiu na Batalha de Arara (19 de setembro de 1918) em Wadi Ara, perto de Nablus, onde teve papel decisivo. Essa batalha fez parte da Batalha de Megiddo, junto com a Batalha de Nablus, e que destruiu um corpo de exército otomano e abriu caminho para Alepo - que foi capturada em 26 de outubro.

"Os franceses lutaram bem e tiveram cerca de 150 mortos e feridos - armênios e tirailleurs algériens."

- Carta do General Allenby à sua esposa Adelaide Chapman em 24 de setembro de 1918.

Um monumento às tropas armênias mortas durante a batalha foi movido de seu local original no campo de batalha de Arara para o Monte Sião em outubro de 1925.

O General Edmund Allenby elogiou as forças armênias em seu despacho oficial ao Alto Comando Aliado: "No flanco direito, nas colinas costeiras, as unidades da Legion d'Orient armênia lutaram com grande bravura. Apesar da dificuldade do terreno e da força das linhas defensivas inimigas, bem cedo, eles tomaram a colina de Dir el Kassis." Allenby observou:" Estou orgulhoso de ter um contingente armênio sob meu comando. Eles lutaram de forma muito brilhante e tiveram um grande papel na vitória."

A Legião Armênia permaneceu em combate contra os turcos após o armistício até 1920. 

Temas principais da matéria:
  • Vida diária local;
  • Aspectos da cidade de Nicósia;
  • A vida cotidiana da Legião Oriental em Nouarga (ou Monarga: o livro de legendas original usa ambos os escritos):
  • Passagem em revista de um batalhão e desfile de tropas;
  • Vista geral do acampamento;
  • A cozinha e o "refeitório" da legião.

No acampamento em Monarga, os legionários são fotografados em frente à cozinha.

Mulheres cipriotas em Nicósia.

O pátio de uma casa cipriota.

Bibliografia recomendada:

Motivação para o Combate.
Anthony Kellett.
Leitura recomendada:



O Chauchat na Iugoslávia, 26 de outubro de 2020.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

GALERIA: O Corpo Expedicionário Russo na França

Monumento do Corpo Expedicionário Russo, inaugurado em 21 de junho de 2011 por François Fillon e Vladimir Putin, na esquina da Place du Canada e Cours la Reine em Paris, ao longo do rio Sena.

Por Filipe do A. Monteiro, Warfare Blog, 4 de agosto de 2021.

Descrita como um "reservatório inesgotável de homens" por Paul Doumer, a Rússia teve que enfrentar a demanda dos governos francês e britânico de enviar tropas para a Frente Ocidental em agosto de 1914. Obtendo do czar a promessa da constituição de uma força expedicionária russa em solo francês, os governos aliados forneceram ao exército do czar equipamento militar. Assim começa a história da Primeira Brigada Russa do General Nikolai Aleksandrovich Lokhvitsky, que, composta por oito mil homens, embarcou na Manchúria para o porto de Marselha em abril de 1916.

Inicialmente, os Aliados pediram 300.000 homens, um número absurdamente alto, baseado em suposições sobre as reservas "ilimitadas" da Rússia. O General Mikhail Alekseev, o Chefe do Estado-Maior Imperial, se opôs ao envio de quaisquer tropas russas, embora Nicolau II finalmente tenha concordado em enviar uma unidade de valor brigada. A Primeira Brigada Especial Russa finalmente desembarcou em Marselha em abril de 1916. Uma Segunda Brigada Especial também foi enviada para servir ao lado de outras formações Aliadas na Frente de Salônica, no norte da Grécia, sob o comando do General Mikhail Dieterichs; com a terceira brigada comandada pelo General Vladimir Marouchevski servindo na França e a quarta brigada do General Maxime Leontiev servindo em Salônica.

No Campo de Mirabeau, perto de Marselha, os homens do 1º regimento da Primeira Brigada Russa posam ao lado de sua bandeira, decorada com o rosto de Cristo, abril de 1916.

No Campo de Mirabeau, o estandarte do primeiro regimento da Primeira Brigada Russa, branco com borda e motivos vermelhos, traz o monograma do czar Nicolau II, abril de 1916

A Primeira Brigada não consistia em regimentos já existentes, mas era composta principalmente de recrutados de várias unidades de reserva incorporadas aos recém-formados primeiro e segundo regimentos, de Moscou e Samara, respectivamente. As tropas do 1º Regimento eram principalmente operários recrutados, enquanto as do 2º eram geralmente retiradas das áreas rurais. A 1ª Brigada Especial totalizou 8.942 homens. Saiu de Moscou em 3 de fevereiro de 1916 e chegou a Marselha em 16 de abril do mesmo ano.

Os regimentos foram divididos em três batalhões de quatro companhias cada. Cada regimento também tinha uma ligação e uma seção de serviço. O batalhão de reserva tinha seis companhias. A Primeira Brigada era composta por 180 oficiais e 8.762 praças. Cada brigada tinha um estoque duplo de roupas e uma cozinha sobre rodas; as duas brigadas contavam 20 mil homens. A Marinha e o Exército franceses se comprometeram a fornecer transporte, suprimentos e equipamento.

As baixas das duas brigadas totalizaram 4.542 homens mortos, feridos ou desaparecidos em combate.

O pintor russo Alexandre Zinoview (1889-1977) foi voluntário no 2e regimento de infantaria da  Legião Estrangeira no início da guerra e foi destacado como intérprete na 1ª Brigada Especial Russa. Outro veterano ilustre do Corpo Expedicionário Russo foi o futuro Marechal da União Soviético Rodion Malinovsky (1898-1967), veterano de Stalingrado e Budapeste.

Depois de receber seus fuzis, os soldados da Primeira Brigada Russa partiram para Marselha para participar de um desfile em abril de 1916.

A chegada em Marselha

Marchando na Place de la République em Marselha, as tropas russas da Primeira Brigada recebem uma recepção calorosa dos marselheses, abril de 1916.

Em 21 de abril de 1916, o “Latouche-Treville”, nau capitânia o corpo Expedicionário Russo, ancorou no porto de Marselha após uma jornada de quarenta e cinco dias. Desembarcando à frente de suas tropas, o General Lokhvitsky recebe honras militares das autoridades civis e militares de Marselha, que vieram dar as boas-vindas ao chefe da Primeira Brigada Russa. Torcendo pelas tropas russas, a população de Marselha assiste ao desfile desta nas avenidas da cidade foceana. Levados ao Campo de Mirabeau, onde assistiram à sua primeira Páscoa russa em território francês, os homens da Primeira Brigada Russa descansaram alguns dias antes de entrarem no front.

As tropas russas da primeira brigada desfilaram na Place de la République em Marselha, onde uma grande multidão veio saudar esses soldados, em abril de 1916.

No Campo de Mirabeau, perto de Marselha, as tropas russas participam de sua primeira Páscoa ortodoxa. Os cinegrafistas da SCA (Section Cinématographique de l'Armée / Seção Cinematográfica do Exército) estão presentes para assistir à missa, abril de 1916.

Reunidos na praça d'armas do Campo de Mirabeau, perto de Marselha, os homens da Primeira Brigada Russa recebem a bênção do capelão ortodoxo antes de partirem para o front, em abril de 1916.

Reunidas na praça d'armas do Campo de Mirabeau, perto de Marselha, as tropas do 2º regimento da Primeira Brigada Russa celebram a Páscoa sob a bênção do Padre Okouneff, capelão do regimento, em abril de 1916.

No Campo de Mirabeau, perto de Marselha, os homens do 1º regimento da Primeira Brigada Russa posam ao lado do General Lokhvitsky, comandante da brigada, abril de 1916.

O General Lokhvitsky, comandante da Primeira Brigada Russa, desembarca do "Latouche-Tréville". Recebido pelas autoridades militares de Marselha, o general cumprimenta os oficiais sob o olhar de seus homens que ainda estão no convés do navio, abril de 1916.

O General Lokhvitsky é saudado em seu desembarque do "Latouche-Treville" pelo governador militar da praça de Marselha, General Ménissier, e pelo coronel russo Ignatieff, adido militar na França, em abril de 1916.

O "Latouche-Tréville", nau capitânia do Corpo Expedicionária Russo, atraca no cais do porto de Marselha. Após uma viagem de quarenta e cinco dias, os homens da Primeira Brigada Russa contemplam o cais onde vêm as autoridades civis e militares da cidade para recebê-los, abril de 1916.

O Campo de Mailly

Soldados do Corpo Expedicionário Russo carregam rações de pão para a refeição diária em Mailly-le-Camp, no Marne, abril-maio de 1916.

A Frente da Champanha no final de abril no início de maio de 1916 e a presença de tropas russas no Campo de Mailly ao amanhecer. Aproveitando a calma que impera no setor nesta época, o General Gouraud, comandando o 4º Exército, mandou equipar as linhas visando a melhoria das fortificações de campanha.

As tropas russas desfilam diante do General Henri Gouraud e do General Nikolai Lokhvitsky no Campo de Mailly em outubro de 1916.

Os principais temas do relatório feitos durante a seção de fotos são:
  • limpeza duma metralhadora Saint-Étienne modelo 1907;
  • várias vistas de fortificações rurais: arame farpado, abrigos, trincheiras, intestinos na fazenda Navarin, em Aubérive, panoramas das primeiras linhas ao norte de Souain, no Main de Massiges (ravina de Abeilles) e perto de Vienne-la-Ville;
  • suprimentos de comida na linha de frente e atrás da frente: garrafas na entrada de um abrigo, carregamento de carne em ônibus no pátio de gado do 11º Corpo francês.
  • a vida diária das tropas russas no acampamento Mailly, retrato do General Lohvistsky;
  • um posto de primeiros socorros, ambulância cirúrgica, instalado na cota 180 entre Massiges e a fazenda Beauséjour.

Fila da bóia, abril-maio de 1916.

O General Lohvisky, comandante da Primeira Brigada do Corpo Expedicionário Russo, prepara-se para cavalgar em sua montaria para um desfile no campo de manobras do Campo de Mailly, abril-maio de 1916.

Dança tradicional russa com acordeão (sanfona), abril-maio de 1916.

Barbeiro do campo aparando os bigodes de um companheiro, abril-maio de 1916.

Um suboficial francês, responsável por supervisionar o treinamento militar da Primeira Brigada Russa, se dirige aos soldados acantonados em seus alojamentos, abril-maio de 1916.

Confinados aos seus aquartelamentos, soldados russos aguardam a hora das refeições. Para matar o tempo, um soldado toca acordeão, enquanto um de seus camaradas inspeciona seu fuzil Berthier modelo 07/15 de ferrolho fornecido pelo Exército Francês, abril-maio de 1916.

Refeição no alojamento, abril-maio de 1916.

Soldados russos posam em frente ao quartel com o mascote de 15 anos que os acompanha, abril-maio de 1916.

O Campo de Mourmelon

Soldados russos, pertencentes à 1ª Brigada Russa do General Lokhvitsky, cavam trincheiras de apoio nas proximidades do Campo de Mourmelon-le-Grand, julho de 1916.

Inicialmente estacionada no Campo de Mailly, onde receberam instrução militar francesa, as duas brigadas russas se juntaram ao Campo de Mourmelon, no Marne. Desde então, as tropas russas serão encarregadas de defender o setor de Auberive, perto de Reims, juntando-se à frente da Champanha. Durante o verão de 1916, essa brigada russa se destacou em face dos inúmeros ataques realizados pela 242ª Divisão de Infantaria alemã. Substituída em 15 de outubro de 1916 no setor de Auberive, a brigada russa enfrentou outros combates ferozes.

Esses homens, que desembarcaram na França em abril de 1916, descobriram os preceitos da guerra de posição durante o treinamento, julho de 1916

Um grupo de médicos russos posa acompanhado de seus instrutores franceses. Chegados ao Campo de Mourmelon em meados de junho de 1916, os soldados da força expedicionária russa receberam instrução militar francesa. Este treinamento permite, portanto, familiarizá-los com a tática militar francesa.

Um grupo de soldados russos calçou as botas de cano longo depois de limpá-las, julho de 1916. Equipados com capacetes franceses Adrian, esses soldados vestem a jaqueta regulamentar russa, mais comumente conhecida como "Gymnastiorka". Visível também as dragonas largas características do exército russo.

Provação do capacete de aço M15 Adrian.

Ambulâncias e provação das máscaras de gás.

Soldados do Corpo Expedicionário Russo voltam do campo de treinamento onde acabaram de cavar trincheiras de apoio. Chegados em junho de 1916, os soldados da 1ª Brigada Russa foram treinados no Campo de Mourmelon-le-Grand antes de partir para o setor de Aubérive-sur-Suippe, ao norte de Reims.

Na Frente da Champanha

Na região de Aubérive-sur-Suippe, o general russo Lokhvitsky, comandante da 1ª Brigada Russa, inspeciona suas tropas que ocupam as trincheiras na região do Forte de la Pompelle, ao norte de Reims, julho de 1916.

Após a preparação nos campos de Mailly e Mourmelon, a brigada foi colocada entre Suippes e Aubérive, na Frente Ocidental. As unidades russas mantiveram a frente da Champanha enquanto as unidades francesas lutavam em Verdun. Os russos ocuparam o Fort de la Pompelle perto de Reims.

Após pesadas perdas durante a ofensiva de abril de 1917, a Batalha do Chemin des Dames, para a tomada de Courcy e do Forte de Brimot, a 1ª e a 3ª Brigadas Russas que haviam sido colocadas sob o 7º Corpo de Exército francês do General de Bazelaire, foram ambos citados na ordem das forças armadas e fizeram uma pausa no acampamento de La Courtine. Consequentemente, ambas as brigadas de infantaria especial russas tornaram-se a Divisão Especial Russa comandada por Lokhvitski.

"Russos nas trincheiras".

Inspeção do General Lokhivtsky nas trincheiras do 2º regimento russo estacionado no setor "Centre Chartois-Ouest", na região de Aubérive-sur-Suippes, perto de Reims, julho de 1916.

Região de Aubérive-sur-Suippes, setor do "Bois Carré", julho de 1916.
Localizados na linha de frente, esses soldados russos observam a trincheira oposta. Em primeiro plano, um suboficial carregando um mapa se vira para seus homens.

Em 11 de março de 1917, a 1ª Brigada Russa substituiu a 152ª Brigada francesa no setor de Courcy, logo ao norte de Reims. A brigada fazia parte do Quinto Exército de Mazel e tomou seu lugar na linha de frente, onde sofreram baixas na corrida até a Ofensiva Nivelle.

Região de Aubérive-sur-Suippe, setor do "Bois Carré", julho de 1916.
Tirada na linha de frente, esta fotografia mostra a estreiteza das trincheiras. Abrigados atrás de sacos de areia, soldados russos vigiam a linha de frente alemã. Equipados com capacetes Adrian, os soldados da força expedicionária russa estão equipados com armamentos franceses, a fim de facilitar o fornecimento de munições pela administração francesa.

Em 15 de abril de 1917, na véspera da Segunda Batalha do Aisne, os soldados russos receberam a notícia da Revolução de Fevereiro na Rússia. Eles formaram um soviete e debateram se participariam da batalha no dia seguinte, concordando em fazê-lo por uma pequena maioria. Assim, no dia seguinte, 16 de abril de 1917, a 1ª Brigada participou da batalha e tomou La Courcy, logo ao norte de Rheims.

Esta seria a última batalha do Corpo Expedicionário. Os distúrbios da Revolução Russa resultaram no motim da 1ª Brigada no Campo de La Courtine.

O General N. Lokhvitsky inspeciona posições do Corpo Expedicionário com oficiais russos e franceses na Champanha em 1916.

A Revolução Russa

Vladimir Lênin na Praça Vermelha, 1917.

As notícias da Revolução de Fevereiro começaram a chegar aos soldados russos na França em abril de 1917. No início, esses relatos foram mantidos em segredo por seus oficiais, mas em 12 de abril a notícia tornou-se oficial. Quatro dias depois, a 2ª Brigada perdeu mais de 4.000 mortos e feridos. Seguindo o exemplo de seus companheiros em casa, soldados da força expedicionária com base no Campo de La Courtine rejeitaram seus oficiais e elegeram comitês de soldados. Em uma reunião, os representantes do comitê fizeram um apelo aos seus colegas soldados para que se recusassem aos exercícios, uma vez que não continuariam lutando.

As unidades rebeldes, consideradas uma influência revolucionária perigosa, foram enviadas para Salônica. Eles se recusaram, exigindo serem mandados de volta para a Rússia. Com isso, os representantes militares do Governo Provisório em 25 de agosto de 1917 ordenaram que as tropas leais abandonassem o Campo de La Courtine, deixando apenas os soldados que disseram que se submeteriam "condicionalmente" ao Governo Provisório, se fossem autorizados a retornar à Rússia.

Soldados russos com máscaras de gás na Champanha.

Em 14 de setembro de 1917, os comandantes franceses e russos isolaram o acampamento rebelde, colocando os ocupantes em meias-rações e alinhando as estradas circundantes com uma mistura de tropas francesas e russas confiáveis, além de canhões de artilharia (9 companhias de infantaria, 4 seções de metralhadoras, 3 seções de artilharia de 75mm e 3 pelotões de cavalaria franceses, mais 2 mil russos da 3ª Brigada). Em 15 de setembro de 1917, os soldados revolucionários restantes, cerca de 2.000, receberam ordem de depor as armas por volta das 10:00 de 16 de setembro de 1917 ou serem destruídos. Os rebeldes recusaram e às 10:00 de 16 de setembro de 1917, a força de cerco disparou contra o acampamento com uma peça de artilharia francesa. Depois que o fogo leve reduziu seu número, a maioria dos soldados russos se rendeu e foi presa. Pouco depois, no mesmo dia, o campo foi completamente ocupado pelas forças francesas e os amotinados foram desarmados. As baixas foram infligidas exclusivamente entre os amotinados russos, incluindo 9 mortos e 49 feridos.

Os amotinados foram inicialmente enviados para campos de prisioneiros no Norte da África e na França. Depois de alguns meses, muitos foram enviados de volta à Rússia, enquanto outros foram integrados à sociedade francesa.

Dissolvido o Corpo Expedicionário pela Revolução de Outubro de 1917 e a assinatura pela Rússia do tratado de paz de Brest-Litovsk em março de 1918, elementos das brigadas russas foram anexados à 1ª Divisão Marroquina, formando a Legião de Honra Russa (Légion d'Honneur Russe) a partir de 27 de dezembro de 1917 e que foi  enviada para a frente em março de 1918; mantendo assim a presença russa na Frente Ocidental até o Armistício de 11 de novembro de 1918. Lutando ao lado dos Aliados até a vitória, todos os russos foram repatriados para Odessa em julho de 1919.

A Legião de Honra Russa:

O corpo expedicionário sofreu a decomposição do exército como todo o Exército Imperial russo após as revoluções de 1917. 11.000 soldados russos foram chamados para trabalhar na França como madeireiros, cortadores de estradas, mineiros, trabalhadores agrícolas, operários de fábrica, sob o controle das autoridades francesas; outros 4.800 foram deportados para a Argélia francesa. Finalmente, quase 2.000 concordam em se juntar ao Exército Francês. Eles foram integrados na Legião Estrangeira Francesa, ou na Legião Polonesa que luta no front francês, ou reunidos em uma legião russa de voluntários, também chamada de Legião de Honra Russa (Légion d'Honneur Russe), que não era considerada uma unidade regular pelo Império Alemão e pelos soviéticos (não gozando da proteção da Convenção de Genebra).

Essa legião é comandada pelo Coronel Gothoua.

Um total de quatro batalhões é formado:
  • 1º batalhão: criado em dezembro de 1917 com entre 600 e 650 homens. Comandado pelo Coronel Gothoua, depois pelo Capitão Loupanoff, foi designado para o 8º Regimento Zuavo da 1ª Divisão Marroquina do General Daugan, que continuou a luta especialmente durante a Segunda Batalha do Marne. O batalhão foi dissolvido em 1919.
  • 2º batalhão: criado em janeiro de 1918 com entre 500 e 550 homens. Colocado à disposição sucessiva de várias unidades, foi pouco engajado na frente.
  • 3º batalhão: formado em Salônica, numerando entre 650 e 700 homens. Chegando à França em março de 1918, seus homens rapidamente causaram problemas ao saber que a Rússia estava se retirando da guerra. Dissolvido no final de junho, cem voluntários ingressaram no primeiro batalhão.
  • 4º batalhão: constituído no final de abril de 1918 com um estado-maior de 250 homens comandados pelo capitão Kovaleff, depois pelo tenente Batoueff. Ele foi enviado no final de maio para reforçar o primeiro batalhão.
O 1º batalhão foi comandado pelo Major de Tramuset de 11 de agosto de 1918 a 3 de setembro de 1918 (morto em combate), e depois pelo Major Durand de 4 de setembro de 1918 a 25 de dezembro de 1918.

Pages de la gloire de la Division Marocaine 1914-1918.
(Gallica/Bibliothèque Nationale de France)

O batalhão recebeu a fourragère com as cores da fita da Croix de Guerre 1914-1918 em 19 de dezembro de 1918. O batalhão também recebeu 2 citações na ordem do exército.

“Em 26 de abril de 1918, executou o ataque com ardor impetuoso e desdém soberbo pela morte. Manteve-se nas posições conquistadas apesar dos contra-ataques e bombardeios contínuos, causando a admiração de todos. Teve um papel não menos brilhante nas operações diante de Soissons, nos dias 29 e 30 de maio de 1918, onde demonstrou as mesmas qualidades de impulso, sacrifício, energia e persistência."
- Ordem Geral Nº I2.236/D de 10 de dezembro de 1918, do Marechal da França, Comandante-em-Chefe, Ferdinand Foch.

“Um batalhão de elite cujo ódio implacável ao inimigo anima todas as ações, juntando a um total desprezo pela morte o mais belo entusiasmo por uma causa sagrada. Em 2 de setembro de 1918 mostrou as melhores qualidades de manobra, um notável espírito de sacrifício, um vigor e tenacidade acima de todos os elogios. Sendo um batalhão de segunda linha, passou espontaneamente à frente da primeira linha, cujo progresso foi interrompido por violenta artilharia e fogo de metralhadora. Por uma manobra hábil, a aldeia de Terny-Sorny transbordou e desviou para o leste, agarrou-se e manteve-se lá após uma luta muito dura, indo até o corpo-a-corpo e durante toda a noite. Resistiu a contra-ataques furiosos no dia seguinte e no outro dia. Em 14 de setembro, contribuiu para a redução de um ninho de metralhadoras poderosamente organizado e ferozmente defendido. Então, continuando seu progresso com energia incansável e um espírito de sacrifício dos mais elevados, contribuiu para à tomada do planalto a leste de Allemant, do qual o inimigo havia feito uma posição formidável.”
- Ordem Geral Nº 344 de 12 de outubro de 1918, do 10º Exército (Xe Armée).

Veterano ilustre: o futuro Marechal da União Soviética Rodion Malinovsky


Rodion Malinovsky nasceu em Odessa, na Ucrânia, então parte do Império Russo, em 23 de novembro de 1898 (11 de novembro no calendário russo ortodoxo). Após a morte de seu pai - católico de ascendência polonesa - a mãe de Malinovsky trocou a cidade pelas áreas rurais do sul da Rússia e se casou novamente. Seu marido, um camponês miserável, recusou-se a adotar Rodion como seu filho e expulsou-o de casa quando ele tinha apenas 13 anos. O menino sem-teto sobreviveu trabalhando como lavrador e acabou recebendo abrigo da família de sua tia em Odessa, onde trabalhava como ajudante de recados em um armazém; época em que Rodion começou a aprender francês por conta própria.

Informações dignas de nota sobre a sua infância e a adolescência estão contidas na obra literária autobiográfica de R. Ya. Malinovsky "Soldados da Rússia" (Солдаты России), onde ele narra em nome da protagonista Vanya Grinko (no entanto, todos os nomes e quase todos os sobrenomes dos outros personagens são genuínos).

Após o início da Primeira Guerra Mundial em julho de 1914, Rodion Malinovsky, que tinha apenas 15 anos na época (muito jovem para o serviço militar), se escondeu no trem militar que seguia para o front alemão, mas foi descoberto. Mesmo assim, convenceu os oficiais comandantes a alistarem-no como voluntário e serviu como municiador em um destacamento de metralhadoras do 256º Regimento de Infantaria Elisavetgrad da 64ª Divisão de Infantaria nas trincheiras da linha de frente. A divisão travou a primeira batalha em 14 de setembro nas margens do rio Neman.

Em julho de 1915, como recompensa por repelir um ataque alemão, recebeu sua primeira condecoração militar, a Cruz de São Jorge de 4ª classe, e foi promovido ao posto de cabo. Logo depois, em outubro, ele foi gravemente ferido em Smorgon (dois fragmentos atingiram as costas e um a perna) e passou vários meses no hospital Ermakovsky em Moscou, então em Kazan, saindo apenas em fevereiro de 1916.

Após sua recuperação, ele foi destacado para Oranienbaum, onde um regimento sobressalente de metralhadoras estava sendo formado. Desde 1916, como parte da 1ª brigada do corpo expedicionário do exército russo na França, ele lutou na Frente Ocidental. Em 16 de abril de 1917, logo no primeiro dia da ofensiva das unidades russas na área de Fort Brimont, ele foi gravemente ferido no braço. Ele acabou em um hospital militar em Reims, onde mal conseguiu persuadir o cirurgião a não amputar sua mão. O médico então o mandou para um hospital inglês em Epernay, onde um cirurgião inglês fez uma operação (complicada naquela época) que permitiu que Rodion salvasse sua mão. Após a mal-sucedida ofensiva francesa apelidada de "Massacre de Nivelle" em homenagem ao seu comandante, o descontentamento e os sentimentos revolucionários começaram a crescer nas unidades russas e francesas sob a influência de notícias vindas da Rússia.

Nessa ofensiva, as unidades russas obtiveram sucesso em batalhas ferozes pelo Fort Brimont e pela vila de Kursi, "ganhando a glória e o respeito" dos franceses. O comando francês, devido às pesadas perdas e à disseminação de ideias revolucionárias, decidiu retirar as brigadas russas da frente. No verão de 1917, parte dos soldados russos da 1ª e 3ª brigadas estacionados no campo militar de La Courtine se amotinaram exigindo que fossem enviados à Rússia. O levante foi reprimido em setembro de 1917 por uma parte leal do corpo expedicionário russo que não se juntou ao motim e por tropas francesas. Rodion Malinovsky não participou desses eventos, pois devido ao sangramento de um ferimento em seu braço que se abriu pouco antes do levante, ele se encontrava em um hospital em Saint-Servan.

Rodion sentado, usando capacete, com os companheiros em uma trincheira na Champanha.

Após a supressão do levante, as unidades russas foram dissolvidas e, após tratamento no hospital, Rodion se alistou na Legião de Honra Russa (descrita como "lendária"); servindo até agosto de 1919 como um posto inferior e então promovido a cabo e posteriormente a sargento. Por heroísmo durante o avanço contra a linha de defesa alemã, a Linha Hindenburg, em setembro de 1918, os franceses condecoraram o Sargento Malinovsky com a Croix Militaire (Cruz Militar) com uma estrela de prata, e o General Dmitry Shcherbachev, desejando encorajar os combatentes russos, concedeu-lhe o 3º grau da Cruz de São Jorge. Assim, ele foi premiado com duas cruzes de São Jorge, mas Rodion não sabia sobre o segundo prêmio na época.

Na Guerra Civil, Rodion foi alistado no Exército Vermelho na luta contra os brancos. Galgando postos de oficial no Exército Vermelho dos Operários e Camponeses (RKKA), Rodion completou o curso de estado-maior na Academia Militar de Frunze. Em 1936, ele foi mandado para a Espanha na função de oficial de estado-maior para auxiliar os republicanos na guerra civil contra Franco sob o codinome "Coronel Malino". Retornando à União Soviética, Rodion foi promovido a general de brigada (Comandante de Brigada, kombrig).

Na Segunda Guerra Mundial, o General Rodion Malinovsky serviu inicialmente na Região Militar de Odessa e destacou-se nas batalhas de Stalingrado, Kharkov e Budapeste. Durante a Segunda Ofensiva Jassy-Kishinev no final de agosto e início de setembro de 1944, os generais Rodion Malinovsky e Fyodor Tolbukhin destruíram e capturaram cerca de 215.000 alemães e 200.000 romenos, forçando a Romênia a derrubar o pró-alemão Conducător Ion Antonescu e mudar de lado. Um Stalin triunfante chamou Malinovsky de volta a Moscou e, em 10 de setembro de 1944, fez dele Marechal da União Soviética; Malinovsky também foi chefe nominal da Comissão Aliada na Romênia (representada por Vladislav Petrovich Vinogradov); terminando a guerra em Brno, na atual República Tcheca, onde suas forças fizeram junção com os americanos.

Marechal da União Soviética Rodion Yakovlevich Malinovsky com Raisa Yakovlevna Galperina, sua futura esposa, em Viena, na Áustria, em 9 de maio de 1945.

Após a rendição alemã em maio de 1945, Malinovsky foi transferido para o Extremo Oriente russo, onde foi colocado no comando da Frente Transbaikal. Em agosto de 1945, liderou suas forças durante a última ofensiva soviética da guerra sob o comando geral do General Aleksandr Vasilevsky. As forças de Vasilevsky invadiram a Manchúria, que estava sob ocupação do forte exército japonês Kwantung de 700.000 homens (veja sobre a invasão soviética da Manchúria aqui) e esmagaram os japoneses em dez dias. Malinovsky recebeu a maior homenagem da União Soviética, a ordem de Herói da União Soviética.

Durante a década seguinte, Malinovsky esteve envolvido em decisões importantes envolvendo os interesses estratégicos soviéticos na região do Extremo Oriente. Inicialmente comandante do Distrito Militar Transbaikal-Amur (1945–1947), com o início da Guerra Fria foi nomeado Comandante Supremo das Forças do Extremo Oriente, encarregado de três distritos militares (1947–1953). Ele treinou e supriu o Exército Popular da Coréia do Norte e o Exército de Libertação do Povo Chinês antes e durante a Guerra da Coréia (1950–1953).

Malinovsky liderando um contingente da 2ª Frente Ucraniana no Desfile da Vitória em Moscou de 1945.

Como expressão do pertencimento de Malinovsky à elite estatal do Partido Soviético, Stalin fez dele um membro do Soviete Supremo da União Soviética (1946) e um candidato (sem direito a voto) membro do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (1952). Após o fim da Guerra da Coréia, Moscou dispersou o Comando Supremo do Extremo Oriente. Malinovsky continuou a controlar a principal força soviética na região como comandante do Distrito Militar do Extremo Oriente.

Rodion ainda se envolveria na Crise dos Mísseis em Cuba em 1962 e na derrubada de Kruschev em 1964, morrendo em 31 de março de 1967. Ele foi homenageado com um funeral de estado e cremado. Sua urna foi colocada na Necrópole da Parede do Kremlin. O governo deu seu nome à principal Academia Militar Soviética de Tropas de Tanques em Moscou e à 10ª Divisão de Tanques de Guardas Uralsko-Lvovskaya. Malinovsky continuou a ser considerado um dos líderes militares mais importantes da história da Rússia, mesmo após a dissolução da União Soviética.

Memória dos combatentes:

Monumento em Courcy inaugurado pelo Ministro da Cultura da Rússia, Vladimir Medinsky, e o escultor.

Em 21 de abril de 2011, um Monumento da Força Expedicionária Russa (entre a ponte Alexandre-III e o Grand Palais) foi inaugurado em Paris, Place du Canada no 8º arrondissement, na presença do Primeiro Ministro francês François Fillon e do Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin.

No Marne outros monumentos foram construídos, um no Fort de la Pompelle em 4 de setembro de 2010, no cemitério russo de Saint-Hilaire-le-Grand, um complexo memorial composto por uma capela, uma coluna e outra em 12 de junho de 2011; um monumento em Courcy que comemora todo o sacrifício das brigadas russas na frente ocidental.

Memorial das 1ª e 3ª Brigadas Especiais russas em Fort de la Pompelle, na França.

Uma estela foi inaugurada em 2012 no cemitério de La Courtine. Lembra a memória dos amotinados do verão de 1917 e proclama - em russo - "abaixo a guerra" (долой войну!). Uma associação chamada Lacourtine 1917 (site de internet) perpetua essa memória. Em janeiro de 2014, foi criada a Association pour la mémoire de la mutinerie des soldats russes à La Courtine en 1917 (Associação para a memória do motim dos soldados russos em La Courtine 1917).

Em 15 de julho de 2016, um Monumento da Força Expedicionária Russa foi inaugurado em Brest, França, na Place du Général de Gaulle. Em 12 de maio de 2016, em Marselha, o consulado da Federação Russa na França inaugurou uma placa comemorativa do 100º aniversário da chegada a Marselha da 1ª Brigada Especial do Corpo Expedicionário Russo formado em Moscou e Samara.

Parque Memorial Aliado de Zeitenlik em Salônica, na Grécia.

Bibliografia recomendada:

With snow on their boots:
The tragic odyssey of the Russian Expeditionary Force in France during World War I.
Jamie H. Cockfield.

Leitura recomendada: