quarta-feira, 2 de março de 2022

A Legião Estrangeira Francesa autoriza os legionários afetados pela guerra na Ucrânia a recolherem seus parentes


Por Laurent Lagneau, Zone Militaire Opex360, 2 de março de 2022.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 2 de março de 2022.

De acordo com números publicados em 2018, a Legião Estrangeira tem cerca de 40% de cidadãos da antiga União Soviética em seu efetivo. E, até agora, as tensões entre a Rússia e a Ucrânia não tiveram repercussões nas relações entre os legionários originários destes dois países, que respeitam ao pé da letra o código de honra que aceitaram ao assinar o seu contrato de engajamento. “Cada legionário é seu irmão de armas, qualquer que seja sua nacionalidade, sua raça, sua religião. Você sempre mostra a ele a solidariedade que deve unir os membros duma mesma família”, disse ele.

General Alain Lardet,
Comandante da Legião Estrangeira.

No entanto, logo após a Rússia começar a invadir seu país na semana passada, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky convocou “europeus aguerridos” para virem lutar na Ucrânia. "Se você tem experiência de combate e não quer mais assistir à indecisão de seus líderes políticos, pode vir ao nosso país para defender a Europa", disse.

Além disso, pode-se imaginar o efeito que tal chamada poderia ter produzido entre os legionários de origem ucraniana... E sem dúvida que isso poderia ter gerado alguma tensão com alguns de seus camaradas da Rússia. Daí a mensagem do General Alain Lardet, o "Père Legion" (“Pai da Legião”, ou COMLE para Comandante da Legião Estrangeira).

Inicialmente, o General Lardet lembrou que a Legião Estrangeira não cria apátridas e que "não pede em caso algum negar a pátria, muito menos combatê-la". E que ela “não decide as causas para lutar, por mais belas que sejam” porque sua honra é “servir a missão, que é sagrada”. Ou seja, servir a França.

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“Sua lealdade como legionário é o coração e a força de seu compromisso. É na hora que você decidiu em seu contrato, insuperável”, encadeou o COMLE. "Pode-se pedir muito a um soldado", mas "não se pode pedir-lhe para enganar, desdizer-se, contradizer-se, mentir, negar-se, perjurar-se", continuou.

Após este lembrete, o General Lardet disse que “se amparou” com os “legionários da Ucrânia ou da região afetada por esta guerra” e entendeu sua “tensão interna” porque sua “pátria está sangrando e sofrendo” e que suas “famílias são afetadas”. E aos “poucos, confrontados com a tentação de correr para onde o fogo arde”, disse-lhes que “as guerras só se ganham se cada um cumprir a sua missão onde que que ela esteja”.

“Como Pai da Legião, sei que devo encorajá-los neste caminho de honra. Não se perjure!“, exortou o General Lardet. “Para você e para a Legião, mantenha seu serviço com honra e fidelidade” porque “quem sabe se, amanhã, sua unidade não será engajada. E onde você vai estar? Você então fará falta ao seu binômio, irmão de armas, como qualquer legionário”, insistiu.


No entanto, temos que aceitar a situação... E a Legião Estrangeira pretende apoiar as famílias de seus legionários que podem ser afetados pela guerra em curso.

Além disso, para permitir a segurança dos que fogem das zonas de combate, o General Lardet decidiu autorizar os legionários que assim o desejarem a "ir a certos países que fazem fronteira com a Ucrânia" para "recolhê-los".

“Você deve saber que qualquer legionário preocupado com este conflito pode pedir à Legião Estrangeira que o ajude a receber sua família com urgência, em conformidade com a lei aplicável na França, em particular de acordo com a evolução das diretrizes relativas à consideração de refugiados”, assegurou o COMLE. "A solidariedade 'da Legião', corolário do empenho total do legionário em benefício da nossa pátria, poderá assim, na medida e segundo as suas prioridades, prestar ajuda material ou administrativa", indicou.

Ao mesmo tempo, a Legião Estrangeira criará uma "unidade de escuta" para melhor atender às necessidades de seus legionários envolvidos. "Sejamos unidos e responsáveis", concluiu o General Lardet.


Bibliografia recomendada:

A Legião Estrangeira.
Douglas Boyd.

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