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sexta-feira, 3 de julho de 2020

As grandes ambições da Pequena Esparta: as Forças Armadas Emiráticas atingem a maioridade

Aeronaves pertencentes à força aérea dos Emirados Árabes Unidos.
(PressTV)

Por Christian H. Heller, The Bridge, 17 de setembro de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 3 de julho de 2020.

Os Emirados Árabes Unidos fornecem um estudo de caso do século XXI sobre como desenvolver uma capacidade de defesa nacional. Com uma população de pouco menos de 10 milhões, os Emirados colocam em serviço uma força aérea, marinha e exército compostos por mais de 60.000 membros uniformizados com uma taxa de serviço per capita mais alta do aquela dos Estados Unidos. Seus líderes estudam em academias de prestígio em todo o mundo e consultores estrangeiros fornecem sugestões, aconselhamento e conhecimento técnico. Apelidada de "Pequena Esparta" pelo ex-secretário de Defesa Jim Mattis, sua crescente presença militar no Oriente Médio e na África é o resultado de anos de investimentos dedicados e demonstra ambições que superam a breve história da federação.[1] Os Emirados Árabes Unidos, juntamente com outros estados do Golfo, tais como Qatar e Bahrain, mantiveram laços estreitos com o Reino Unido e a Marinha Real por grande parte dos séculos XIX e XX. As pequenas cidades-estado permaneceram amplamente independentes e confiaram em Londres para resolver disputas internas e externas. As origens as forças armadas dos Emirados datam de apenas 70 anos com o estabelecimento dos Trucial Oman Scouts (Batedores Omanis Truciais) em 1951. Modelado na Legião Árabe da Jordânia, os scouts eram uma organização conjunta entre o Reino Unido e Abu Dhabi e se tornaram a Força de Defesa de Abu Dhabi (Abu Dhabi Defence Forceem 1965.[2] Três anos depois, Londres anunciou sua iminente recolocação de forças militares do Golfo Arábico e, em 1972, sete Xarifes diferentes se tornaram os Emirados Árabes Unidos.[3]

Um sargento do exército britânico instrui soldados dos Trucial Oman Scouts, o exército do deserto dos xarifes de Omã, no uso de modernas armas automáticas leves.
(The British Empire)

As forças modernas dos Emirados foram formadas em maio de 1976. Naquele ano, a constituição dos Emirados Árabes Unidos mudou para conceder ao governo federal o direito singular de criar forças e comprar armas, e as várias milícias individuais dos Xarifes se fundiram para formar uma força armada federal.[4] Apesar das mudanças legais e organizacionais, alguns governantes se orgulhavam de suas forças armadas como símbolos da soberania do estado e viam a federalização como Abu Dhabi flexionando sua força. As forças individuais mantiveram sua autonomia como comandos regionais e a força nacional existia apenas em nome.[5] Duas décadas depois, Dubai dissolveu suas forças armadas e os diferentes comandos regionais se fundiram para formar o Quartel-General em Abu Dhabi. O serviço nacional agora não enfrenta rivais competitivos internos de nenhuma cidade-estado individual, mas alguns xarifes ainda mantêm pequenas unidades para fins individuais.[6]

Um esquadrão de Scouts em Jahili, em 1968. No centro, Tim Courtenay, e o segundo da direita é Abdullah Ali Al Kaabi.
(Imagem cortesia do tenente-coronel Courtenay)

Fundações das Forças Armadas Emiráticas Modernas

Em 1991, Mohammed bin Zayed, dos Emirados Árabes Unidos, iniciou um acúmulo de armas depois que o Iraque invadiu o Kuwait. Nas últimas décadas, os acordos de armas emiráticos com os EUA aumentaram ao lado da influência de Zayed em Washington.[7] Bilhões de dólares em aquisições de Washington incluem caças F-16, helicópteros Apache, equipamentos de radar e sistemas de foguetes móveis.[8] Os gastos totais emiráticos em defesa atingiram 13,9 bilhões de dólares em 2018 e atingirão 16,4 bilhões de dólares em 2019.[9] O gasto total de armas emiráticos ficam atrás apenas da Arábia Saudita no Oriente Médio.[10]

Preocupações regionais compartilhadas, tais como grupos terroristas, Irã e o Estado Islâmico, oferecem amplas oportunidades para os EUA e os Emirados trabalharem juntos. A presença robusta de forças americanas no xarifado - cerca de 5.000 militares americanos e aeronaves avançadas como o F-22 operam nos Emirados Árabes Unidos - reforça o relacionamento.[11] A força aérea emirática tem sido fundamental para apoiar a coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico, onde as sortidas emiráticas ficaram atrás apenas daquelas dos EUA.[12] Essas missões, além de anos de cooperação no Afeganistão, fornecem a base para o que Anthony Zinni, ex-líder do Comando Central dos EUA, chama de "o relacionamento mais forte que os Estados Unidos mantêm no mundo árabe hoje".[13]

Um soldado das Forças Armadas dos Emirados Árabes Unidos (EAU) patrulha uma vila no Afeganistão em 7 de abril de 2011.
(DoD/Wikimedia)

Os Emirados Árabes Unidos estão reforçando sua capacidade industrial e de mão-de-obra doméstica para apoiar essas operações. O mostruário de armas da Exposição de Defesa Internacional de 2019 em Abu Dhabi apresentou veículos blindados e aeronaves de ataque leve construídos no país, bem como o anúncio de compras do governo no valor de US$ 5,4 bilhões.[14] Fundos governamentais de desenvolvimento de defesa, prêmios e investimentos em empresas locais e prêmios por avanços acadêmicos relacionados às forças armadas fazem parte do plano de aumentar a capacidade industrial de defesa.

Os Emirados Árabes Unidos iniciaram o recrutamento universal masculino em 2014 para criar coesão nacional e aumentar a mão-de-obra disponível.[15] Alguns comentaristas argumentam que o recrutamento militar obrigatório é uma ferramenta para construir o nacionalismo e reduzir a influência de grupos islâmicos entre os cidadãos dos emirados do norte, que são mais populosos que Abu Dhabi, mas dependem financeiramente da capital.[16]

Nesse sentido, o recrutamento obrigatório é muito usado como ferramenta de construção da nação e de aumento da mão-de-obra. Essa medida se encaixa nas iniciativas lideradas pelo governo em andamento, enfatizando a unidade nacional.[17] O programa faz sentido para um Estado do Golfo rico em recursos naturais e sem uma grande população na qual as forças armadas podem alocar seus equipamentos mais avançados. Embora a terceirização atraia conselheiros como o ex-chefe das forças especiais da Austrália e um número incerto de soldados e especialistas contratados, o "cidadão-soldado" por excelência é um pré-requisito para a liderança da instituição.[18]

Experiência operacional robusta

As tropas emiráticas foram mobilizadas para apoiar missões lideradas pelos EUA desde a Somália em 1992. As operações emiráticas recentes incluem mais de uma década de apoio à missão da OTAN no Afeganistão, a intervenção de 2011 no Bahrein, ao lado da Arábia Saudita, ataques aéreos e operações de contra-insurgência no norte da África e quatro anos de operações de combate e estabilidade no Iêmen.[19] A força emirática amadureceu no Iêmen, demonstrando avançadas capacidades ofensivas e de guerra especial. Em 2015, os Emirados Árabes Unidos capturaram a cidade portuária de Áden com o apoio de tropas sauditas e egípcias. 1.500 tropas iemenitas treinadas pelos sauditas e pelos Emirados apoiaram o ataque e capturaram aeródromos e bases nas proximidades.[20] No ano seguinte, 12.000 soldados iemenitas treinados e apoiados pelos Emirados forçaram a Al-Qaeda a sair de Mukalla, ao longo da costa sul do Iêmen.[21] Em 2018, os Emirados Árabes Unidos ajudaram a capturar Hodeidah como parte de uma coalizão árabe ao lado das tropas iemenitas por eles treinados na África.[22]

Os Emirados Árabes Unidos demonstraram uma forte capacidade de estabelecer parceiros locais e operar por meio de forças substitutas no Iêmen, enquanto aprendiam lições difíceis em operações de estabilidade e contraterrorismo.[23] Seus sucessos operacionais estão longe de serem impecáveis. Autoridades americanas e a Associated Press alegam que as vitórias emiráticas no sul do Iêmen ocorreram devido a suborno e pagamento aos líderes da Al-Qaeda.[24] Grupos de direitos humanos, como a Anistia Internacional, detalharam o uso de prisões secretas dirigidas pelas forças emiráticas e locais para manter a ordem e punir os dissidentes.[25] Ao largo do Iêmen, as forças emiráticas ocuparam a Ilha Socotra no Mar Vermelho, uma localização estratégica no Golfo de Áden.[26] Uma expansão na ilha poderia ter dado a Abu Dhabi controle significativo sobre uma rota marítima fortemente contestada.[27] Em 2018, no entanto, a Arábia Saudita intermediou um acordo para os Emirados Árabes Unidos para remover a maioria de suas forças de combate da ilha, o que parece ter sido honrado.[28]

A milícia do Cinturão de Segurança, apoiada pelos Emirados Árabes Unidos, perto de sua base ao norte de Áden, no Iêmen.
(Ghaith Abdul-Ahad/The Guardian)

Os Emirados Árabes Unidos demonstram uma abordagem multifacetada da política externa na região, combinando pressão militar, financeira e diplomática para obter acesso físico. A Somália, por exemplo, tem sido um campo de batalha entre os emiráticos e seus aliados sauditas contra o Catar e a Turquia como parte da atual crise do Golfo.[29] Catar e Turquia apóiam o governo em Mogadíscio, enquanto os emiráticos apóiam os governos independentes dos estados semi-autônomos. Principalmente, Catar e Turquia tendem a apoiar a Irmandade Muçulmana e os líderes islâmicos, enquanto a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos vêem essas forças como desestabilizadoras e fontes de terrorismo. Na Somalilândia, vista como "uma porta de entrada para as 100 milhões de pessoas de uma das economias de crescimento mais rápido da África, a Etiópia", os Emirados assinaram contratos de arrendamento por 25 anos para bases aéreas e navais.[30] Na Puntlândia, região sul, os Emirados apóiam as Forças Policiais Marítimas e alguns relatórios indicam a presença de uma base militar emirática.[31]

Depois que as relações pioraram entre os Emirados Árabes Unidos e Djibuti em 2015, os líderes do governo assinaram um acordo para usar o porto de Assab da Eritreia para apoiar suas operações no Iêmen.[32] Assab tem sido um local de palco para operações de aviação, patrulha marítima, vigilância e combate.[33] Essa "teia de bases" é uma importante ferramenta de projeção de força em toda a região do Golfo. [34] As forças emiráticas também empregam as bases para treinar tropas africanas ou iemenitas para operações locais e no exterior.

A ação militar emirática não pára na Península Arábica. Os Emirados Árabes Unidos, em conjunto com o Egito, são fortes apoiadores de Khalifa Haftar na Líbia, o líder da oposição que luta contra o governo internacionalmente reconhecido do país.[35] Abu Dhabi anteriormente se ofereceu para fornecer mísseis antiaéreos e artilharia a Haftar.[36] Em julho, mísseis antitanque americanos foram encontrados em um esconderijo na Líbia, mas os Emirados negam que tenham sido a fonte das armas.[37] Além disso, as tropas emiráticas provavelmente estão adquirindo experiência com veículos aéreos não-tripulados armados através do uso de drones fabricados na China.[38] Mais ao norte, no Mediterrâneo, a força aérea emirática realiza exercícios conjuntos com Israel, apesar do não-reconhecimento oficial entre os dois governos.[39]

Eventos atuais

Emirados Árabes Unidos e Sudão realizando exercícios militares conjuntos em 2017.
(Xinhua)

Os Emirados Árabes Unidos tiveram um grande papel na expulsão de Omar al-Bashir do Sudão. Ajudou a estabelecer um governo de transição na pequena nação e treinou 14.000 tropas sudanesas que mais tarde se juntaram à coalizão liderada pela Arábia Saudita no Iêmen.[40] Tanto o Catar quanto os Emirados enviaram bilhões de dólares ao Sudão como ajuda financeira para obter favores do governo. Quando os protestos estavam prestes a derrubar Bashir, Riad e Abu Dhabi ofereceram US$ 3 bilhões ao conselho militar de transição.[41] Parece que, pelo menos por enquanto, a influência dos Emirados Árabes Unidos venceu o páreo com uma necessidade limitada de ação militar.

Anúncios recentes de redesdobramentos em larga escala partindo do Iêmen indicam uma gama de possibilidades em relação à motivação real dos Emirados.[42] Muitos observadores acreditam que as redesdobramentos ajudarão os Emirados a posicionar melhor suas forças no Golfo para combater a agressão do Irã.[43] Se verdadeiro, esse motivo pode indicar uma estratégia coesa entre Riad e Abu Dhabi para equilibrar as atividades entre o Irã e o Iêmen. [44] A decisão de Abu Dhabi também pode indicar uma divisão entre as políticas sauditas e emiráticas, uma exibição impressionante do comedimento emirático, e deixa a Arábia Saudita isolada no Iêmen.[45] Após quatro anos de luta, os líderes militares podem acreditar que seus objetivos estratégicos de segurança portuária e a derrota da Al-Qaeda no Iêmen foram cumpridos. Essa visão de guerra de objetivo limitado se encaixaria confortavelmente na história contemporânea dos Emirados Árabes Unidos de treinar forças locais, atuando por meio de intermediários e controle costeiro de locais selecionados.


Autoridades emiráticas argumentam que treinaram 90.000 soldados locais para apoiar o cessar-fogo apoiado pela ONU conforme se retiram. Alternativamente, a retirada emirática pode ser "um reconhecimento tardio de que uma guerra devastadora que matou milhares de civis e transformou o Iêmen em um desastre humanitário não é mais vencível".[46] A medida também poderia ter o objetivo de reforçar a imagem dos Emirados Árabes Unidos nos EUA e de se distanciar da Arábia Saudita em meio ao crescente escrutínio que os legisladores estão colocando em acordos de armas com Riad.[47] Os números exatos que ficam para trás são desconhecidos, mas os Emirados manterão pelo menos suas instalações em Mukalla para continuar realizando operações de contraterrorismo.[48]

Avaliação futura

A década anterior demonstra a disposição e capacidade dos Emirados Árabes Unidos de usarem a força militar para combater ameaças - reais ou percebidas - longe das costas nacionais. Com parceiros dispostos e forças armadas locais, os Emirados provavelmente vêem suas operações como estabilizadoras para a região do Golfo mais perto de casa e uma demonstração de força nacional no exterior. O governo nacional vê expedições militares e atividades regionais como medidas positivas em casa. O alistamento militar obrigatório e o serviço militar visam construir coesão nacional, enquanto a expansão do porto ao longo do Mar Vermelho e da costa africana pode impulsionar o crescimento militar e econômico, contrariando a construção rival em locais como Duqm.[49]

As ações dos Emirados não são isentas de críticas, e seu envolvimento em guerras como no Iêmen enfrenta as mesmas críticas que a Arábia Saudita e os Estados Unidos.[50] No entanto, os Emirados Árabes Unidos demonstraram adequadamente sua capacidade de usar a diplomacia, ajuda financeira e força militar para promover seus interesses na região. Mais notavelmente, demonstrou essa capacidade como um estado relativamente jovem com uma força armada jovem. Suas capacidades de defesa doméstica mostram promessa de autoconfiança e sustentabilidade. Sua proximidade e disputas com o Irã, juntamente com incidentes marítimos recentes, apenas reforçam a necessidade de forças militares capazes disponíveis e prontas para operarem. O desaparecimento de um navio petroleiro baseado nos Emirados, vários ataques a embarcações perto do Estreito de Ormuz e tensões crescentes com o Irã lembram décadas de disputas territoriais entre o estado e o Irã.[51] O bairro da Pequena Esparta é tão comprimido e tenso quanto aquele da Grécia antiga, e Abu Dhabi está se posicionando para mais conflitos e maiores responsabilidades de segurança.

Christian Heller é oficial do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos. Oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais com sete anos de liderança na comunidade militar e de inteligência, formado na Academia Naval com honras e na Universidade de Oxford.

Notas:

  1. Bill Law, “The Gulf’s ‘Little Sparta’ has big military ambitions", Middle East Eye, 20 de abril de 2017, acessado em https://www.middleeasteye.net/opinion/gulfs-little-sparta-has-big-military-ambitions.
  2. Trucial Oman Scouts Project”, Centro para Estudos do Golfo, Universidade de Exeter, acessado em https://socialsciences.exeter.ac.uk/iais/research/centres/gulf/research/tos/.
  3. J.E. Peterson e Jill Ann Crystal, "United Arab Emirates", Encyclopaedia Britannica, acessado em https://www.britannica.com/place/United-Arab-Emirates.
  4. Country Profile: United Arab Emirates (UAE), Biblioteca do Congresso - Divisão Federal de Pesquisa, acesso em https://www.marines.mil/Portals/1/Publications/UAE%20Profile.pdf, 24.
  5. Emirati Army”, GlobalSecurity, accessado em https://www.globalsecurity.org/military/world/gulf/uae-army.htm.
  6. Country Profile, 25.
  7. David D. Kirkpatrick, "The Most Powerful Arab Ruler Isn’t M.B.S. It’s M.B.Z.”, The New York Times, 2 de junho de 2019, acessado em https://www.nytimes.com/2019/06/02/world/middleeast/crown-prince-mohammed-bin-zayed.html.
  8. Adam Taylor, "UAE's Military Role in the Region Built with US Weapons", Security Assistance Monitor, 18 de março de 2015, consultado em https://securityassistance.org/blog/uae%E2%80%99s-military-role-region-built-us-weapons.
  9. “UAE raises its defence spending by 41% in 2019 federal budget”, Global Business Outlook, acessado em https://www.globalbusinessoutlook.com/uae-raises-its-defence-spending-by-41-in-2019-federal-budget/.
  10. Anthony Cordesman e Nicholas Harrington, "The Arab Gulf States and Iran: Military Spending, Modernization, and the Shifting Military Balance", Center for Strategic and International Studies, 4, 6, 45, acessado em https://csis-prod.s3.amazonaws.com/s3fs-public/publication/181212_Iran_GCC_Balance.Report.pdf.
  11. The United Arab Emirates (UAE): Issues for U.S. Policy”, Serviço de Pesquisa do Congresso, 3 de maio de 2019, 19, https://fas.org/sgp/crs/mideast/RS21852.pdf.
  12. Rajiv Chandrasekaran, “In the UAE, the United States has a quiet, potent ally nicknamed ‘Little Sparta’", Washington Post, 9 de novembro de 2014, acessado em https://www.washingtonpost.com/world/national-security/in-the-uae-the-united-states-has-a-quiet-potent-ally-nicknamed-little-sparta/2014/11/08/3fc6a50c-643a-11e4-836c-83bc4f26eb67_story.html?noredirect=on&utm_term=.abe21845ff02.
  13. Manuel Langendorf, “What are Arab states doing to counter Islamic State?”, The World Weekly, 12 de fevereiro de 2015, acessado em https://www.theworldweekly.com/reader/view/944/what-are-arab-states-doing-to-counter-islamic-state.
  14. DB Des Roches, “IDEX 2019 Highlights Gulf States’ Move to Develop Domestic Defense Industries,” The Arab Gulf States Institute in Washington, 11 de março de 2019, acessado em https://agsiw.org/idex-2019-highlights-gulf-states-move-to-develop-domestic-defense-industries/.
  15. Jon B. Alterman e Margo Balboni, “Citizens in Training: Conscription and Nation-building in the United Arab Emirates”, Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, 2017, acessado em https://csis-prod.s3.amazonaws.com/s3fs-public/publication/180312_CitizensInTraining_Executive_Summary.pdf?vdDxpslvJnDxL2JfFpTuO_KqadCXcd8O.
  16. Eleonora Ardemagni, “'Martyers’ for a Centralized UAE”, Carnegie Endowment for International Peace, 13 de junho de 2019, acessado em https://carnegieendowment.org/sada/79313.
  17. Eleonora Ardemagni, “Icons of the Nation: The Military Factor in the UAE’s Nation-Building”, Middle East Centre Blog, London School of Economics, 1º de fevereiro de 2019, acessado em https://blogs.lse.ac.uk/mec/2019/02/01/icons-of-the-nation-the-military-factor-in-the-uaes-nation-building/.
  18. Noah Browning e Alexander Cornwell, “UAE extends military reach in Yemen and Somalia”, Reuters, 13 de maio de 2018, acessado em https://www.reuters.com/article/uae-security-yemen-somalia/uae-extends-military-reach-in-yemen-and-somalia-idUSL8N1SI2QI, e Josh Wood, “Outsourcing War: How foreigners and mercenaries power UAE’s military”, Middle East Eye, 10 de julho de 2018, acessado em https://www.middleeasteye.net/news/outsourcing-war-how-foreigners-and-mercenaries-power-uaes-military.
  19. Alex Mello e Michael Knights, “West of Suez for the United Arab Emirates”, War on the Rocks, 2 de setembro de 2016, acessado em https://warontherocks.com/2016/09/west-of-suez-for-the-united-arab-emirates/.
  20. Michael Knights e Alexandre Mellow, “The Saudi-UAE War Effort in Yemen (Part 1): Operation Golden Arrow in Aden”, The Washington Institute, 10 de agosto de 2015, acessado em https://www.washingtoninstitute.org/policy-analysis/view/the-saudi-uae-war-effort-in-yemen-part-1-operation-golden-arrow-in-aden.
  21. Adam Baron, “The Gulf Country That Will Shape the Future of Yemen”, The Atlantic, 22 de setembro de 2018, acessado em https://www.theatlantic.com/international/archive/2018/09/yemen-mukalla-uae-al-qaeda/570943/.
  22. Mohammed Ghobari, “Saudi-led coalition seizes large areas of Yemen’s Hodeidah airport: UAE”, Reuters, 19 de junho de 2018, acessado em https://www.reuters.com/article/us-yemen-security/saudi-led-coalition-captures-large-areas-of-yemens-hodeidah-airport-uae-idUSKBN1JF0FJ, e Peter Salisbury, “The New Front in Yemen: What’s at Stake in Hodeidah”, Foreign Affairs, 27 de junho de 2018, acessado em https://www.foreignaffairs.com/articles/middle-east/2018-06-27/new-front-yemen.
  23. Zachary Laub e Neil Partrick, “How the UAE Wields Power in Yemen”, Council on Foreign Relations, 22 de junho de 2018, acessado em https://www.cfr.org/interview/how-uae-wields-power-yemen.
  24. Maggie Michael, “US official says UAE paid yemen tribes to push al-Qaida out”, Associated Press, 15 de agosto de 2018, acessado em https://www.apnews.com/2c623f4e86894ce991c2996d6043968a.
  25. Timeline: UAE’s role in southern Yemen’s secret prisons”, Anistia Internacional, 12 de julho de 2018, acessado em https://www.amnesty.org/en/latest/news/2018/07/timeline-uaes-role-in-southern-yemens-secret-prisons/.
  26. Aziz El Yaakoubi, “Yemen government accuses UAE of landing separatists on remote island”, Reuters, 9 de maio de 2019, acessado em https://www.reuters.com/article/us-yemen-security/yemen-government-accuses-uae-of-landing-separatists-on-remote-island-idUSKCN1SF0EM.
  27. Arrival of UAE-backed forces stokes tensions on Yemen’s Socotra", Middle East Eye, 4 de julho de 2019, acessado em https://www.middleeasteye.net/news/arrival-uae-backed-forces-stokes-tensions-yemens-socotra.
  28. UAE military withdraws from Yemen’s Socotra under Saudi deal”, Middle East Eye, 18 May 2018, acessado em https://www.middleeasteye.net/news/uae-military-withdraws-yemens-socotra-under-saudi-deal.
  29. Alexander Cornwell, “UAE ends programme to train Somalia’s military”, Reuters, 15 de abril de 2018, acessado em https://www.reuters.com/article/us-emirates-somalia-military/uae-ends-programme-to-train-somalias-military-idUSKBN1HM0Y5.
  30. The ambitious United Arab Emirates”, The Economist, 6 de abril 2018, acessado em https://www.economist.com/middle-east-and-africa/2017/04/06/the-ambitious-united-arab-emirates.
  31. Somalia: UAE confirms to continue supporting Puntland troops”, Garowe Online, 14 de abril de 2018, acessado em https://www.garoweonline.com/en/news/puntland/somalia-uae-confirms-to-continue-supporting-puntland-troops, e “Puntland – Security”, GlobalSecurity, https://www.globalsecurity.org/military/world/war/puntland-security.htm.
  32. Martin Plaut, “The United Arab Emirates in the Horn of Africa”, Eritrea Hub, 7 de novembro de 2018, acessado em https://eritreahub.org/the-united-arab-emirates-in-the-horn-of-africa.
  33. Neil Melvin, “The Foreign Military Presence in the Horn of Africa Region”, SIPRI, abril de 2019, acessado em https://sipri.org/sites/default/files/2019-04/sipribp1904.pdf.
  34. Yemen: The UAE Trades Its Involvement in the Yemen Conflict for a Stronger Regional Posture”, Stratfor, 3 de julho de 2019, acessado em https://worldview.stratfor.com/article/yemen-united-arab-emirates-uae-trades-involvement-yemen-conflict-stronger-regional-role.
  35. Aziz El Yaakoubi, “Haftar’s ally UAE says ‘extremist militias’ control Libyan capital”, Reuters, 2 de maio de 2019, acessado em https://www.reuters.com/article/us-libya-security-emirates/haftars-ally-uae-says-extremist-militias-control-libyan-capital-idUSKCN1S80AO.
  36. Egypt, UAE send military support to Libya’s Haftar”, Middle East Monitor, 22 de junho de 2019, acessado em https://www.middleeastmonitor.com/20190622-egypt-uae-send-military-support-to-libyas-haftar/.
  37. Declan Walsh, “United Arab Emirates Denies Sending American Missiles to Libya”, The New York Times, 2 de julho de 2019, acessado em https://www.nytimes.com/2019/07/02/world/united-arab-emirates-denies-sending-american-missiles-to-libya.html.
  38. Tom Kington, “UAE allegedly using Chinese drones for deadly airstrikes in Libya”, DefenseNews, 2 de maio de 2019, https://www.defensenews.com/unmanned/2019/05/02/uae-allegedly-using-chinese-drones-for-deadly-airstrikes-in-libya/.
  39. Gili Cohen, “Israeli Air Force Holds Joint Exercise With United Arab Emirates, U.S. and Italy”, Haaretz, 29 de março de 2017, acessado em https://www.haaretz.com/israel-news/israeli-air-force-holds-joint-exercise-with-united-arab-emirates-1.5454004, e Anna Ahronheim, “Israel Air Force in Greece as Part of Iniohos 2019”, Jerusalem Post, 8 de abril de 2019, acessado em https://www.jpost.com/Israel-News/Israel-Air-Force-in-Greece-as-part-of-Iniohos-2019-585993.
  40. Michael Georgy, Maha El Dahan, e Khalid Abdelaziz, “Special Report: Abandoned by the UAE, Sudan’s Bashir was destined to fall”, Reuters, 3 de julho de 2019, acessado em https://www.reuters.com/article/us-sudan-bashir-fall-specialreport/special-report-abandoned-by-the-uae-sudans-bashir-was-destined-to-fall-idUSKCN1TY0MV.
  41. Elizabeth Dickinson, “Exporting the Gulf Crisis”, War on the Rocks, 28 de maio de 2019, acessado em https://warontherocks.com/2019/05/exporting-the-gulf-crisis/.
  42. Aziz El Yaakoubi e Lisa Barrington, “Exclusive: UAE scales down military presence in Yemen as Gulf tensions flare”, Reuters, 28 de junho de 2019, acessado em https://www.reuters.com/article/us-yemen-security-exclusive/exclusive-uae-scales-down-military-presence-in-yemen-as-gulf-tensions-flare-idUSKCN1TT14B.
  43. The UAE begins pulling out of Yemen”, The Economist, 4 de julho de 2019, acessado em https://www.economist.com/middle-east-and-africa/2019/07/04/the-uae-begins-pulling-out-of-yemen.
  44. Aziz El Yaakoubi e Mohamed Ghobari, “Saudi Arabia moves to secure Yemen Red Sea ports after UAE drawdown”, Reuters, 11 de julho de 2019, acessado em https://www.reuters.com/article/us-yemen-security/saudi-arabia-moves-to-secure-yemen-red-sea-ports-after-uae-drawdown-idUSKCN1U61YJ.
  45. Elana DeLozier, “UAE Drawdown May Isolate Saudi Arabia in Yemen”, The Washington Institute, 2 de julho de 2019, acessado em https://www.washingtoninstitute.org/policy-analysis/view/uae-drawdown-in-yemen-may-isolate-saudi-arabia.
  46. Declan Walsh e David D. Kirkpatrick, “U.A.E. Pulls Most Forces From Yemen in Blow to Saudi War Effort”, The New York Times, 11 de julho de 2019, acessado em https://www.nytimes.com/2019/07/11/world/middleeast/yemen-emirates-saudi-war.html.
  47. Ali Hussein Bakeer e Giorgio Cafiero, “The UAE’s Yemen withdrawal leaves Saudi Arabia exposed”, Middle East Eye, 22 de julho de 2019, acessado em https://www.middleeasteye.net/opinion/how-will-riyadh-cope-uaes-yemen-withdrawal.
  48. James Dorsey, “UAE Withdraws From Yemen”, Lobe Log, 6 de julho de 2019, acessado em https://lobelog.com/uae-withdraws-from-yemen/.
  49. Christian Heller, “U.S. Secures Access to Oman’s Crowded Ports”, The Arab Gulf States Institute in Washington, 6 de maio de 2019, acessado em https://agsiw.org/u-s-secures-access-to-omans-crowded-ports/.
  50. Khalil al-Anani, “The UAE’s empire of sand”, Middle East Eye, 18 de junho de 2019, acessado em https://www.middleeasteye.net/opinion/little-sparta-uaes-empire-sand.
  51. Noura S Al-Mazrouei, “Disputed Islands between UAE and Iran”, ETHzurich Center for Security Studies, outubro de 2015, acessado em https://css.ethz.ch/en/services/digital-library/publications/publication.html/194095.

Bibliografia recomendada:




Leitura recomendada:

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Leclerc operacional com mais blindagem no Exército dos Emirados Árabes Unidos

Leclerc com o kit AZUR operado pelas forças armadas dos Emirados Árabes Unidos.

Do blog Below de Turret, 16 de dezembro de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 11 de junho de 2020.

Os Emirados Árabes Unidos estão operando uma variante do tanque de batalha principal (main battle tankMBT) Leclerc equipado com blindagem de apliques. Essa blindagem é entendida como uma blindagem reativa explosiva (explosive reactive armorERA) fabricada pela Dynamit Nobel Defense (DND) da Alemanha. Em 2016, a empresa foi contratada pelas forças armadas dos Emirados Árabes Unidos (EAU) para fornecer kits de blindagem reativa para mais de 200 MBT Leclerc. Segundo o relatório oficial sobre a exportação de armas da Alemanha, o contrato tem um valor total de 125,84 milhões de euros, sugerindo que cada kit ERA custa cerca de 500.000 euros.

Extrato do relatório de exportação de armas.

As imagens mostrando um MBT Leclerc com mais blindagem foram divulgadas pela Agência de Notícias emirática em 9 de dezembro de 2017. De acordo com a notícia correspondente, o vídeo mostra forças dos Emirados Árabes Unidos juntamente com aliados que avançam na costa oeste do Iêmen, onde veículos são usados para combater rebeldes houthis.

A Dynamit Nobel Defense costumava comercializar sua blindagem reativa explosiva sob o acrônimo CLARA, que significa "blindagem reativa leve e adaptável composta" (composite lightweight adaptable reactive armour, CLARA), mas nos últimos anos o nome HL-Schutz Rad/Kette ("proteção contra carga oca para veículos de sobre rodas e lagartas" abreviado em alemão) foi utilizado pelo menos no mercado interno. A principal diferença entre outras soluções ERA e a CLARA/HL-Schutz Rad/Kette da DND está na construção. Enquanto a blindagem reativa convencional utiliza metal (geralmente aço) para as chapas, que é bastante pesada e põe em perigo a infantaria próxima, a blindagem da DND não tem metais. Testes mostraram que fragmentos das placas do ERA podem atingir vários metros de distância do ponto de impacto, formando projéteis perigosos para soldados e civis desembarcados nas proximidades do veículo.


Para lidar com esse problema, a solução ERA da DND é totalmente livre de metal (exceto os parafusos para segurar os ladrilhos). De acordo com as descrições das patentes, a armadura pode fazer uso de fibras de vidro, fibra de carbono, fibra de aramida, fibra de cerâmica e/ou fibra de PBO (fenileno-benzobisoxazol). As fibras também podem ser combinadas entre si ou com partículas feitas dos materiais mencionados anteriormente. Uma placa secundária feita de um tecido balístico (tal como o kevlar) também pode ser incorporada à blindagem. Foi sugerido envolver os explosivos em papel alumínio para facilitar o manuseio.

Para um desempenho ideal, o ERA pode consistir em várias placas espaçadas; o espaço vazio pode ser preenchido com borracha, cerâmica ou plástico para maximizar a proteção.

Leclerc equipado com ERA da Dynamit Nobel Defense.

Alega-se que CLARA/HL-Schutz Rad/Kette fornece mais de dez vezes mais proteção do que a "blindagem convencional" contra ogivas de carga oca, como as encontradas em granadas de propulsão a foguete (rocket-propelled grenades, RPGs) e mísseis guiados anti-tanque (anti-tank guided missilesATGMs). Não é mencionado se isso significa uma blindagem simples de aço ou algum tipo de blindagem composta passiva. Ao incluir uma placa anti-KE, o ERA da DND também pode fornecer proteção suficiente contra penetradores de energia cinética (kinetic energy penetratorsKEPs) para interromper a munição de médio calibre e penetradores formados explosivamente (explosively formed penetratorsEFPs).

A CLARA foi testada no veículo de combate de infantaria (infantry fighting vehicle, IFV) Marder e no veículo blindado de transporte de pessoal (armored personnel carrierAPC) Boxer, enquanto foi proposta como atualização de blindagem para o carro de reconhecimento Fennek. O HL-Schutz Rad/Kette foi adotado no IFV Puma, onde é usado para proteger a seção superior dos flancos do chassis; as seções inferiores são equipadas com módulos de blindagem composta.


No caso do Leclerc Tropicalisé dos Emirados Árabes Unidos, o kit de blindagem utiliza módulos ERA muito grandes. No lado direito do veículo há 17 módulos que cobrem o lado do chassis e o lado da torre, mas deixando o compartimento do motor exposto. Presumivelmente, a mesma quantidade de módulos de blindagem é usada para proteger o lado esquerdo do tanque. A parte traseira da torre é protegida por seis ladrilhos menores.

O tamanho grande dos módulos ERA sugere que, dentro de cada módulo, várias placas ERA menores estejam localizadas; caso contrário, seria um projeto bastante ruim, uma vez que o ERA tem uma capacidade baixa de vários acertos e, portanto, um único acerto deixaria uma lacuna desnecessariamente grande na matriz de blindagem. No momento, não se sabe se o ERA também cobre a frente do Leclerc.


O Leclerc Tropicalisé básico operado pelo Exército dos Emirados Árabes Unidos já possui proteção aprimorada da blindagem sobre o modelo francês, pelo menos em termos de blindagem lateral: enquanto os MBT franceses têm apenas três elementos pesados de saia balística feitos de blindagem composta em cada lado do chassis, a variante tropicalizada do tanque apresenta um total de oito esquetes de blindagem compostos por lado - uma configuração também oferecida à Grécia no início dos anos 2000. Os EAU também compraram o pacote de combate urbano AZUR (Action en Zone Urbaine, Ação em Zona Urbana), que é comparável ao kit americano TUSK (Tank Urban Survival Kit, Kit de Sobrevivência Urbana de Tanques) para o M1 Abrams e o pacote PSO (Peace Support Operation, Operação de Apoio à Paz) para o Leopard 2. A atualização do AZUR foi encomendada pelos EAU para 15 MBT em 2011. Uma versão do kit AZUR faz parte do Leclerc Rénové atualizado como parte do programa SCORPION francês.

Em alguns dos tanques equipados com AZUR operados pelos Emirados Árabes Unidos, uma seção adicional de blindagem foi adicionada para proteger o chassis frontal inferior. Supostamente, o desempenho de combate do Leclerc (e do Exército dos EAU em geral) tem sido bastante bom, mas há alguns meses foi relatado que um único tanque foi penetrado por um RPG-29 na placa frontal inferior.

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domingo, 24 de maio de 2020

O Estado Palestino rejeita ajuda dos Emirados Árabes Unidos entregue no primeiro vôo direto para Israel

Avião da Emirates no aeroporto, 5 de janeiro de 2018.
(Ali Atmaca/Agência Anadolu)

Do site Middle East Monitor (MEMO), 21 de maio de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 24 de maio de 2020.

O governo palestino recusou ajuda médica transportada por via aérea através de Israel pelos Emirados Árabes Unidos.

O vôo facilitado pela ONU que transportava suprimentos contra o coronavírus foi entregue por um avião da Etihad Airways que vôou dos Emirados Árabes Unidos para Tel Aviv, uma ação controversa. Os Emirados Árabes Unidos não têm relações diplomáticas com Israel, no entanto, preocupações comuns sobre a influência do Irã na região levaram a um degelo discreto nos laços entre Israel e o Golfo Árabe nos últimos anos.

"As autoridades dos Emirados Árabes Unidos não se coordenaram com o Estado da Palestina antes de enviar a ajuda", disseram fontes do governo, acrescentando que "os palestinos se recusam a ser uma ponte [para os países árabes] que procuram ter laços normalizados com Israel".

Eles afirmaram que qualquer assistência a ser enviada ao povo palestino deve ser coordenada com a Autoridade Palestina primeiro.

"Enviá-los diretamente para Israel constitui uma cobertura para a normalização", acrescentaram.

Em um tweet ontem, o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, condenou o primeiro vôo comercial entre os dois países como uma forma de "perfídia" e uma "traição" à causa palestina, acusando-os de normalizarem as relações com Israel.

Ele escreveu: “Hoje, alguns estados do Golfo Pérsico cometeram a maior perfídia contra sua própria história e a história do mundo árabe. Eles traíram a #Palestina apoiando Israel.”
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FOTO: Riders of Doom12 de março de 2020.

terça-feira, 19 de maio de 2020

À Oeste de Suez para os Emirados Árabes Unidos


Por Alex Mello e Michael Knights, War on the Rocks, 2 de setembro de 2016.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 14 de maio de 2020.

A Grã-Bretanha retirou-se militarmente das áreas "à leste de Suez" em 1971, levando os Estados Truciais a formar os Emirados Árabes Unidos hoje. Agora, 45 anos depois, este país árabe está cada vez mais focado em projetar poder militar "à oeste de Suez". Eventos como a Primavera Árabe em 2011, a crescente confiança e a fuga das sanções nucleares do Irã, além da ascensão do Estado Islâmico convenceram os líderes dos Emirados a se tornarem mais ativistas no gerenciamento dos riscos enfrentados por sua federação. Mais recentemente, isso resultou nessa pequena nação do Golfo estabelecendo sua primeira base de projeção de poder fora da Península Arábica, no porto eritreu de Assab. No último ano, esse porto foi construído de um deserto vazio para uma moderna base aérea, porto de águas profundas e instalação de treinamento militar.

Militares americanos e emirates no exercício Iron Union 5, nos Emirados Árabes Unidos, em 25 de setembro de 2017.

A progressão das operações expedicionárias dos Emirados é fascinante. Nas décadas de 1980 e 1990, os Emirados enviaram forças de desminagem ao Líbano, soldados da paz na Somália e helicópteros de ataque Apache à intervenção da OTAN no Kosovo. Nos anos 2000, os Emirados Árabes Unidos forneceram helicópteros de ataque totalmente armados ao Líbano e equiparam as forças do governo iemenita com veículos blindados e armas para combater as rebeliões houthis no norte daquele país. Uma força especial dos Emirados e uma força de estabilização passaram 12 anos no Afeganistão como parte da Força Internacional de Assistência à Segurança da OTAN (International Security Assistance ForceISAF).

Após a Primavera Árabe de 2011, os Emirados Árabes Unidos enviaram suas tropas ao lado das forças armadas sauditas para estabilizar a capital do Bahrein, Manama. Paralelamente a uma repressão doméstica aos elementos da Irmandade Muçulmana nos Emirados, suas forças armadas intervieram na Líbia para apoiar milícias nacionalistas e tribais contra o regime de Muammar Qadhafi, militantes salafistas e, mais recentemente, a coalizão islâmica Aurora da Líbia (Lybia Dawn), de Trípoli. Os Emirados Árabes Unidos saudaram o golpe militar de 2013 que despejou o governo da Irmandade Muçulmana no Egito e, desde então, tem trabalhado para estreitar as relações militares com o Cairo, incluindo ataques aéreos conjuntos na Líbia partindo de bases aéreas egípcias, exercícios navais e o fornecimento da aeronave IOMAX AT-802U de contra-insurgência, de propriedade dos Emirados Árabes Unidos, à campanha do Egito contra o Estado Islâmico no Sinai.

No Mar Vermelho: perda do Djibuti, ganho da Eritréia

Em seguida, os Emirados se voltaram para o Chifre da África e o Oceano Índico. Esse processo foi impulsionado pela estridente intervenção no Iêmen, que começou quando o presidente do Iêmen, Abdu Rabu Mansour Hadi, foi expulso de Áden pelos rebeldes houthis e, posteriormente, solicitou intervenção militar citando o artigo 51 (legítima defesa) da Carta das Nações Unidas e também o Carta da Liga Árabe. Em 26 de março, a Arábia Saudita anunciou o início da Operação Tempestade Decisiva, a operação militar pan-árabe para interromper o avanço da milícia houthi no Iêmen.

Soldado emirático guardando um avião dos EAU no Djibouti, 2015.

A Arábia Saudita e os Emirados tentaram inicialmente usar o Djibuti, do outro lado do Golfo de Áden, para apoiar a libertação de Áden, mas uma reviravolta do destino interveio. No final de abril de 2015, uma briga entre o chefe da Força Aérea de Djibuti e diplomatas dos Emirados atrapalhou as relações entre os dois países. Na verdade, houve brigas depois que uma aeronave dos Emirados que participava das operações da Coalizão do Golfo sobre o Iêmen pousou sem autorização no Aeroporto Internacional Djibouti-Ambouli. O vice-cônsul dos Emirados Ali al-Shihi chegou a levar um soco, provocando uma briga diplomática. A disputa aumentou rapidamente devido a tensões pré-existentes relacionadas a uma disputa legal de longa data sobre o contrato do Terminal de Contêineres de Doraleh, o maior porto de contêineres da África, operado pela Dubai Ports World, a operadora portuária dos Emirados com sede em Dubai e um dos maiores ativos de poder brando dos Emirados Árabes Unidos. Em 4 de maio de 2015, Emirados Árabes Unidos e Djibuti romperam formalmente as relações diplomáticas. O Djibuti expulsou as tropas sauditas e emiráticos de uma instalação em Haramous, ao lado de Camp Lemonnier. Este antigo posto avançado da Legião Estrangeira Francesa (usado pelo Comando Africano dos EUA e pela Força-Tarefa Conjunta-Chifre da África) também foi alugado à coalizão do Golfo no início de abril para apoiar suas operações no Iêmen.

Mas a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos tiveram um substituto disponível: a vizinha Eritréia, rival regional do Djibuti, que possui portos rudimentares no Mar Vermelho, a apenas 150 quilômetros ao norte. Em 29 de abril, no mesmo dia em que o Djibuti despejou tropas do Golfo, o presidente da Eritréia, Isaias Afewerki, se encontrou com o rei Salman bin Abdel Aziz da Arábia Saudita e concluiu um acordo de segurança e parceria militar com os estados do Golfo oferecendo direitos básicos na Eritréia. Delegações de alto nível do Conselho de Cooperação do Golfo já haviam se reunido com autoridades da Eritréia naquele ano para discutir o uso da Eritréia como base potencial para operações. Essa apólice de seguro pagou dividendos: o risco estratégico potencialmente prejudicial na campanha anti-houthi - a perda do Djibuti - foi superado com facilidade e em poucos dias.

Organização em Assab

Presidente Isaias Afwerki com o rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, 29 de abril de 2015.

Como parte do acordo de parceria, os Emirados Árabes Unidos concluíram um contrato de arrendamento de 30 anos para uso militar do porto de águas profundas novo em folha em Assab e do aeródromo de superfície dura nas proximidades, com uma pista de 3.500 metros capaz de desembarcar grandes aeronaves de transporte, incluindo os enormes transportes C-17 Globemaster pilotados pela força aérea emiráticos. Os estados do Golfo concordaram em fornecer um pacote de ajuda financeira e comprometeram-se a modernizar o Aeroporto Internacional de Asmara, construir nova infra-estrutura e aumentar o fornecimento de combustível à Eritreia.

As primeiras operações em Assab foram precipitadas, mas eficazes. Em 13 de abril, um CH-47 Chinook transportou uma equipe de oito homens de operadores especiais da Guarda Presidencial dos Emirados e Controladores de Ataques de Terminal Conjunto (JTACs) para a península de Little Aden, o local da refinaria de Áden e dos tanques de armazenamento de petróleo. Essas forças convocaram ataques aéreos e missões de fogo navais, permitindo que forças leais ao presidente Abdu Rabu Mansour Hadi e aos comitês populares locais de resistência de Áden se pendurassem em dois bolsões defensivos, de costas para o mar. Os navios de desembarque dos Emirados derrubaram as forças de segurança sauditas e dos Emirados e as milícias locais treinadas pelos EAU montadas nos bolsões defensivos em maio.

Asas paraquedistas emiráticas.

A linha de vida naval sustentada pelo porto e base aérea da Assab permitiu que as forças pró-Hadi retomassem Áden na Operação Flecha Dourada de agosto de 2015. Navios de desembarque emiráticos e navios comerciais fretados fizeram repetidas viagens entre a nova base naval emirática em Fujairah, no Golfo de Omã, e no porto esquelético de Assab. Os C-17 e C-130 da Força Aérea dos EAU também foram vistos no Aeroporto Internacional de Asmara, na capital eritréia.

No final de julho de 2015, a organização no aeródromo de Assab estava completa, com a base servindo como área de apoio logístico e centro de operações para o grupo de batalha blindado emirático do tamanho de uma brigada que lideraria o rompimento do cerco de Áden. Este era composto por dois esquadrões dos tanques principais de batalha Leclerc, um batalhão de veículos de combate de infantaria BMP-3 e duas baterias de obuses G6. Os Emirados também enviaram uma força de ataque de 1.500 homens das tropas iemenitas treinadas pelos EAU e embarcadas em veículos blindados fornecidos pelos EAU depois que eles foram treinados e equipados em Assab.

A milícia do Cinturão de Segurança, apoiada pelos Emirados Árabes Unidos, perto de sua base ao norte de Áden, no Iêmen.

Em meados de julho de 2015, o grupo de batalha emirático começou a desembarcar no terminal de petróleo de Little Aden. Os navios de desembarque da classe Al-Futaisi emiráticos e outras embarcações de desembarque, incluindo o Swift, um antigo navio da Marinha dos EUA, fizeram repetidas viagens entre o porto de Assab e Áden. Em outubro e novembro de 2015, Assab serviu como centro de logística para o desdobramento de três batalhões mecanizados sudaneses de 450 homens em Áden. Os dois batalhões sudaneses realizaram um longo percurso de rota de Kassala, na fronteira entre o Sudão e a Eritréia, até o porto de Assab e foram transportados para Áden por embarcações dos EAU. O porto de Assab também serviu de base para o bloqueio naval do Golfo nos portos do Mar Vermelho de Mokha e Hodeida, com vários navios da marinha emirática, incluindo novas corvetas da classe Baynunah e embarcações de logística da classe Rmah atracando no porto até o final de 2015 e 2016. Desde a ofensiva contra a Al-Qaeda na Península Arábica (Al-Qaeda in the Arabian PeninsulaAQAP) em Hadhramout em abril de 2016, Assab também serviu como um centro de transbordo para navios emiráticos que entregam ajuda humanitária e materiais de reconstrução, incluindo geradores e combustível para Mukalla.

Um importante centro aéreo e base de treinamento

A expansão significativa do aeródromo de Assab transformou o local de um local operacional avançado austero para uma poderosa base expedicionária, o primeiro local de projeção de poder emirática fora da terra natal da federação. As forças emiráticas dobraram o espaço disponível no asfalto do aeroporto e construíram uma torre de controle de tráfego aéreo e novos hangares.

Tropas emiráticas.

No início de 2016, o aeródromo estava hospedando vários helicópteros de ataque Apache do Comando de Aviação Conjunta Emirático, bem como helicópteros Chinook, Black Hawk e Bell 407MRH do Comando da Guarda Presidencial realizando operações no sudoeste do Iêmen. Em novembro de 2015, os turboélices AT-802 de ataque ao solo do Grupo de Aviação 18 do Comando de Operações Especiais dos EAU também começaram a realizar ataques aéreos pelo Assab, através do Estreito de Bab al-Mandeb. Novos pilotos do corpo aéreo iemenita, treinados em aeronaves doadas pelos EAU em Assab, antes de serem transferidas para a Base Aérea de Al-Anad, ao norte de Áden, em outubro de 2015.

Também foram construídas uma enorme cidade de contêineres e barracas, à medida que a base foi desenvolvida para que as forças contra-terroristas do Iêmen fossem treinadas e equipadas pelos Emirados Árabes Unidos para libertar cidades do sul do Iêmen, como Mukalla, detida pela AQAP. Unidades da força contra-terrorista de Áden e da infantaria móvel da Confederação Tribal Hadhramout foram transportadas para Assab para serem treinadas e equipadas pelos Emirados Árabes Unidos. A escala e a velocidade do esforço de treinamento são impressionantes: novas unidades treinadas usando veículos táticos fornecidos pelos EAU, antes de serem transportadas de volta a Áden para a ofensiva anti-AQAP que começou em maio. Um grupo de batalha misto emirático do tamanho de um batalhão permaneceu em Assab durante a primavera e o verão de 2016, permitindo que as tropas emiráticas do grupo de batalha de tamanho semelhante, engajados em operações contra a AQAP no Iêmen, rotacionassem para um local próximo de descanso e recuperação.


No final de 2015, os Emirados Árabes Unidos também começaram a construir novas instalações portuárias em águas profundas na costa diretamente adjacente ao aeródromo de Assab, eliminando a necessidade de comboios militares emiráticos transitarem pela cidade de Assab enquanto viajavam da base aérea para o porto, dez quilômetros ao sul. As embarcações de dragagem da Companhia Nacional de Dragagem Marítima Emirática começaram a trabalhar no final de 2015. Em maio de 2016, um litoral de 60.000 metros quadrados havia sido escavado e dragado, e um píer de 700 metros havia sido construído. As forças emiráticas também estenderam um perímetro de segurança em torno do aeroporto e das instalações portuárias e redirecionaram a rodovia costeira P-6 entre Assab e Massawa em torno do perímetro externo da base.

A crescente pegada dos Emirados Árabes Unidos no Chifre da África

Soldados saudita e emirático no Iêmen.

Embora a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos tenham cooperado em grandes empreendimentos de segurança, como a intervenção de Manama em 2011 e a guerra do Iêmen desde 2015, as duas principais forças militares do Conselho de Cooperação do Golfo também são concorrentes. Em termos de população, produção de petróleo e gastos com defesa, a Arábia Saudita é, em uma margem considerável, o maior dos dois, mas os Emirados estão determinados a competir bem acima do seu peso. No Iêmen, os objetivos dos dois Estados do Golfo estão divergindo lentamente, com os sauditas apoiando milícias islâmicas contra os houthis no norte, enquanto os Emirados Árabes Unidos estão focados em combater a AQAP no sul do país.

Na região do Chifre da África também há sinais de competição. A Arábia Saudita consertou as coisas com o Djibuti até outubro de 2015, com o acesso saudita restaurado no aeroporto de Camp Lemonier e com o Djibuti recebendo barcos-patrulha, helicópteros, armas e ambulâncias doados pela Arábia Saudita. Em março de 2016, estavam em andamento discussões entre Riad e Djibuti para a assinatura de um amplo acordo bilateral de segurança, incluindo o retorno de uma base militar saudita de longo prazo ao Djibuti.

Os Emirados parecem estar adotando uma abordagem mais ampla para as regiões do Chifre da África, da África Oriental e do Oceano Índico. Abu Dhabi tem sido um benfeitor e investidor generoso nos Estados insulares do Oceano Índico, como Seychelles, Maldivas, Maurício, Madagascar e Comores. Nessas áreas, os grandes bancos e fundações de investimento emiráticos apoiaram projetos de turismo, portos e humanitários. Os Emirados Árabes Unidos também estão interessados na África Oriental, com gás natural, portos e segurança alimentar em mente. Para apoiar o desenvolvimento de uma política mais ampla do Oceano Índico e da África Oriental, os Emirados Árabes Unidos estão se envolvendo em relações de cooperação de segurança com vários estados do Chifre da África, com o objetivo de reduzir a instabilidade e o crescimento das milícias islâmicas na região.

A Somália é um exemplo disso. No início de maio de 2015, os Emirados Árabes Unidos expandiram sua parceria de longa duração de treinamento e equipagem com a unidade de contraterrorismo da Somália e a Agência Nacional de Inteligência e Segurança (NISA), abrindo um novo centro de treinamento financiado pelos Emirados Árabes Unidos em Mogadíscio, onde operadores das forças especiais emiráticas treinaram vários unidades de comandos somalianas. No final de maio de 2015, os Emirados forneceram à Administração Interina Jubba em Kismayo um lote de MRAPs RG-31 Mk. V e Land Cruisers Toyota. Estes foram seguidos em junho por uma remessa de veículos blindados de transporte de pessoal Reva Mk. III, caminhões-tanque e motocicletas da polícia para o Ministério de Segurança Interna e Polícia do governo federal somaliano. Em outubro de 2015, os Emirados Árabes Unidos se comprometeram a pagar os salários das forças de segurança do governo federal somaliano por um período de quatro anos.


Os Emirados Árabes Unidos também conquistaram o rival regional da Somália, a região autônoma da Somalilândia. Em maio de 2016, a Dubai Ports World ganhou um contrato de 30 anos para gerenciar o porto de Berbera e expandi-lo para um centro de logística regional, quebrando o monopólio virtual do Djibuti sobre frete etíope através do Terminal de Contêineres de Doraleh através do desenvolvimento conjunto do Corredor de Berbera da Somalilândia e Etiópia como rota logística alternativa. Também é dito que os Emirados Árabes Unidos estão buscando acesso ao porto e à pista de pouso de Berbera para apoiar suas operações no Iêmen e podem fornecer à Somalilândia um pacote de ajuda financeira e um centro de treinamento militar construído pelos Emirados.

Em Puntlândia, uma região autônoma do nordeste da Somália, os Emirados Árabes Unidos também pagaram a criação da Força Policial Marítima de Puntlândia em 2010, com treinamento antipirataria fornecido por uma sucessão de empresas de segurança privadas, motivo de controvérsia. A PMPF opera bases em Bosaso, o principal porto de Puntlândia, na costa do Golfo de Áden, e Eyl, na costa do Oceano Índico. A ala aérea da PMPF opera três aeronaves Ayers S2R Thrush doadas pelos Emirados Árabes Unidos e um helicóptero Alouette III. Os Emirados Árabes Unidos também financiam e treinam a Agência de Inteligência de Puntlândia. Quando o bloqueio naval da Coalizão do Golfo tentou interditar o contrabando de armas iranianas para os houthis, o investimento dos emirático na Puntlândia e Somalilândia parece ter valido a pena, interrompendo pontos de transbordo iranianos tais como Bosaso e Berbera.

A oportunidade "à oeste de Suez" dos Emirados Árabes Unidos?

Em combinação com o desenvolvimento de uma relação militar mais estreita com o Egito e o Sudão, a construção de décadas de uma importante base de projeção de poder Eritréia, dará aos Emirados Árabes Unidos um papel de liderança na proteção nas rotas marítimas de Suez e Bab el-Mandab. Os Emirados Árabes Unidos podem começar a emergir como um ator poderoso no Chifre da África, na África Oriental e no oeste do Oceano Índico. Assim como impérios comerciais anteriores, dos portugueses aos omanitas, os Emirados Árabes Unidos pretendem se tornar um importante ator na costa leste da África, misturando forte poder militar com abordagens de poder brando.

O desenvolvimento de forças iemenitas grandes e bem armadas na base de Assab também aponta para uma segunda maneira pela qual os Emirados Árabes Unidos podem se tornar uma grande influência no equilíbrio de poder local. Em apenas alguns meses, os Emirados Árabes Unidos treinaram e equiparam alguns milhares de soldados de infantaria móvel embarcados em MRAPs e armados com armas antitanques avançadas. Em muitos conflitos regionais, as batalhas são vencidas regularmente por tais forças compactas e coesas, apoiadas pelo poder aéreo externo e forças especiais. Isso pode ter implicações para a luta contra grupos extremistas locais como o Al-Shabab, que os Emirados Árabes Unidos poderão visar no futuro. Outros conflitos regionais e guerras civis podem ser influenciados pela cooperação de segurança emirática, particularmente a capacidade dos Emirados de oferecer um número significativo de veículos e armas modernos a forças substitutas. Os Emirados Árabes Unidos podem começar a desempenhar um papel de eminência parda em toda a região.

Formatura emirática no Iêmen.

Uma implicação final poderia ser o fortalecimento da postura de dissuasão emirática contra o Irã. A intervenção do Iêmen foi indiretamente direcionada ao Irã, um esforço dos Estados do Golfo para impedir que o que eles consideram um movimento houthi apoiado pelo Irã assuma o controle do Iêmen. A base naval e aérea emirática em Assab foi fundamental para bloquear os portos mantidos pelos houthis no Mar Vermelho e impedir o Irã de reabastecer os rebeldes. Nos últimos dois anos, houve um crescente clamor em relação ao potencial do Irã desenvolver capacidades navais de “águas azuis” que podem permitir que Teerã projete poder militar no oeste do Oceano Índico e no Mar Vermelho. De fato, foram os EAU que conseguiram isso primeiro, criando a infraestrutura básica para sustentar as operações de musculosas plataformas de combate de superfície, como as corvetas da classe Baynunah.

Além de contestar a expansão naval iraniana, bases como Assab poderiam contribuir para a profundidade estratégica dos Emirados Árabes Unidos em um eventual confronto com o Irã, ameaçado ou real. Enquanto todo o litoral da pátria emirática está dentro do alcance de mísseis iranianos, Assab fornece profundidade que pode permitir que uma força de reserva de combatentes de superfície, aeronaves e até submarinos emiráticos permaneça ativa e capaz de interditar a costa e o transporte do Irã durante uma guerra prolongada.

O histórico de envolvimento dos Emirados em operações expedicionárias tem sido bastante amorfo no passado, apontando para o desejo da federação de simplesmente "se envolver" em diferentes tipos de operações em muitas partes do mundo islâmico, sem necessariamente servir a qualquer roteiro estratégico mais amplo. Embora tenha evoluído da necessidade militar de apoiar a guerra do Iêmen, o desenvolvimento de Assab pode marcar o início de uma fase mais propositada e considerada da expansão militar emirática.

Alex Mello é analista de segurança líder do Horizon Client Access, um serviço de consultoria que trabalha com as principais empresas de energia do mundo.

Michael Knights é membro da Lafer no Instituto de Washington para a Política do Oriente Próximo. Ele trabalhou nos Estados do Golfo e no Iêmen como consultor das forças de segurança locais e como analista de conflitos regionais, incluindo as guerras do Iêmen contra os houthis, os secessionistas do sul e a AQAP.

Bibliografia recomendada:

Arabs at War:
Military Effectiveness, 1948-1991.
Kenneth M. Pollack.

Leitura recomendada: