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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

A dependência da Rússia de contratados militares privados soa alarme no mundo todo

Instrutores do Vega treinam combatentes da Liwa al-Quds (Brigada de Jerusalém) na Síria em uma foto postada em janeiro de 2019.
(Oleg Blokhin / VKontakte)

Por Kanat Altynbayev, Central Asian News, 11 de dezembro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 9 de fevereiro de 2021.

A Vega se junta a uma lista crescente de mercenários russos - incluindo o Grupo Wagner - realizando o trabalho sujo do Kremlin em países estrategicamente importantes e oferecendo a Putin uma negação plausível.

ALMATY - As evidências crescentes de que a Rússia está aumentando sua dependência de unidades militares informais para resolver problemas estratégicos em países de interesse geopolítico estão causando preocupação em todo o mundo.

Além do Grupo Wagner - uma companhia militar privada (private military companyPMC) notoriamente envolvida em guerras no leste da Ucrânia, Síria, Líbia, Sudão, Venezuela, Madagascar e mais, e criada por associados próximos do presidente russo Vladimir Putin - a PMC russo-ucraniana Vega está sendo examinada pelo microscópio.

Esses contratados permitem que o regime russo inflija e sofra baixas, sem que nenhum derramamento de sangue apareça nos livros do Kremlin.

Em março de 2019, a Equipe de Inteligência de Conflitos (Conflict Intelligence Team, CIT), um grupo de blogueiros russos independentes que usa fontes abertas para investigar guerras, publicou dados indicando que mercenários do Vega operam na Síria desde 2018 para apoiar o presidente Bashar al-Assad, assim como seus homólogos do Grupo Wagner.

Instrutores do Vega treinam combatentas da Liwa al-Quds (Brigada de Jerusalém) na Síria em uma foto posada em janeiro de 2019.
(Oleg Blokhin / VKontakte)

Apoiando os combatentes da Liwa al-Quds na Síria

No início, o Vega protegeu pessoas físicas, bem como várias empresas, bancos e navios em áreas de alto risco. Mas, nos últimos anos, o Vega expandiu seu trabalho de segurança para incluir o treinamento de milícias em nome da Rússia. O Vega está treinando uma milícia predominantemente palestina conhecida como Liwa al-Quds (Brigada de Jerusalém), a maior unidade de Aleppo que apóia o governo sírio.

Foi o que os investigadores do CIT concluíram após examinarem as fotos tiradas pelo jornalista Oleg Blokhin, que trabalha na Síria para as publicações online pró-Kremlin ANNA News e Russkaya Vesna (Primavera Russa).

As imagens mostram soldados usando brevês dos Vega Strategic Services (Serviços Estratégicos Vega).

Os Vega Strategic Services foi fundada em 2011 na Ucrânia por veteranos das forças especiais russas e ucranianas, descobriram os investigadores. Tornou-se Vegacy Strategic Services em 2012, quando o fundador da empresa, o cidadão ucraniano Anatoly Smolin, mudou sua sede para o Chipre.

Smolin, um veterano da marinha soviética e da KGB e depois das forças do Ministério do Interior ucraniano (MVD), disse à BBC em março de 2019 que se mudou para o Chipre porque a legislação que regia as PMC era favorável. A sede está situada no Chipre, com outros escritórios na Ucrânia, Rússia, Síria, Sri Lanka e Egito.

A Rússia "reforçou significativamente seu apoio à Liwa al-Quds" desde 2019, informou a Deutsche Welle em março de 2019, citando a publicação online libanesa Al-Modon. O grupo palestino ganhou várias centenas de novos membros, incluindo menores, disse o relatório. Relatórios de janeiro de 2019 reconheceram a Rússia como a força por trás do Vega. Smolin participou pessoalmente do treinamento militar dos combatentes da Liwa al-Quds na Síria, de acordo com o CIT - As fotos do treinamento mostram alguém que se parece com ele.

Operando "nas sombras" no Oriente Médio

Observadores na Ásia Central vêem as PMC russas como uma ameaça multifacetada à segurança de seus países. As PMC como o Grupo Wagner realizam missões militares e de inteligência que Moscou não pode executar oficialmente, disse Edil Osmonbetov, de Bishkek, um cientista político e especialista em relações internacionais.

“Estas não são forças armadas regulares que se enquadram no direito internacional; os estados que as coordenam não têm responsabilidade por suas ações”, disse ele.

O Vega é apenas uma das PMC criadas a pedido do Kremlin, disse Dauren Ospanov, um major aposentado do exército cazaque e ex-oficial da guarnição regional de Almaty. Ele nomeou outras PMC - Shchit (Escudo) e Patriot (Patriota) - que não existem oficialmente na Rússia, mas recrutam ativamente jovens para realizar missões perigosas no Oriente Médio.

"Ao contrário do Grupo Wagner, o Vega e outras PMC russas não têm equipamento militar, veículos blindados ou artilharia e não foram vistos em combate", disse Ospanov. "Eles estão nas sombras, lidando com segurança e treinando combatentes, mas isso poderia muito bem ser apenas um escudo para esconder crimes de guerra."

Instrutores do Vega treinam combatentes da Liwa al-Quds (Brigada de Jerusalém) na Síria em uma foto postada em janeiro de 2019.
(Oleg Blokhin / VKontakte)

Recrutando combatentes na Ásia Central

As PMC russas também estão envolvidas em atividades destrutivas, não apenas aquelas tarefas "obscuras", disse Ospanov. Eles contratam jovens de famílias carentes, principalmente os que vivem na Rússia, e oferecem-lhes altos salários para lutar na Síria. "Muitos dos mercenários são mortos, mas ninguém é responsabilizado", disse ele. O recrutamento também está ocorrendo nos países da Ásia Central.

Em agosto, soube-se que o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) abriu processos criminais contra 15 membros do Grupo Wagner, incluindo três quirguizes, que supostamente lutaram no leste da Ucrânia ao lado de separatistas pró-russos.

Dois anos antes, o jornal cazaque Caravan citou o SBU quando informou que bielo-russos, moldavos e cazaques estavam lutando como parte de uma PMC russa na Síria.

As PMC russas estão contratando estrangeiros para que "haja menos reclamações" sobre a Rússia, Andrei Buzarov, um cientista político de Kiev, Ucrânia, disse ao Caravan, sem especificar a origem das reclamações. Os mercenários também concordam em trabalhar para as PMC por razões financeiras, disse ele.

"Máquinas de matar" apoiadas pelo Kremlin

Ospanov está convencido de que o Vega está intimamente ligada ao Kremlin, já que está treinando um grupo apoiado pela Rússia.

“Não há necessidade de alimentar ilusões de que o Vega está ficando fora de combate e cumprindo as regras internacionais sobre as PMC”, disse ele. “Não há dúvida de que, em um momento decisivo, as PMC como o Vega puderiam ser mobilizadas e, de uma forma ou de outra, serem levadas a uma guerra híbrida, executando as missões de combate do Kremlin, como foi o caso da Ucrânia”.

A ameaça da Rússia de desencadear uma guerra híbrida também é relevante para a Ásia Central, particularmente para o Cazaquistão, disse Dosym Satpayev, de Almaty, cientista político e diretor do Grupo de Avaliação de Risco. Os problemas internos estão crescendo no Cazaquistão, que Moscou pode explorar para seus próprios interesses, disse ele.

"O surgimento de uma PMC estrangeira no Cazaquistão representa uma séria ameaça ao nosso país, já que é possível que, se a situação política mudar, ela possa se envolver em sabotagens", disse Satpayev.

As autoridades cazaques, por sua vez, desconfiam da própria ideia das PMC e não permitem que tais entidades operem legalmente no Cazaquistão. Em março de 2018, Dariga Nazarbayeva, senadora na época e filha mais velha do ex-presidente Nursultan Nazarbayev, denunciou a ideia de criar empresas PMC no Cazaquistão.

"Não apoio essa ideia. Isto é literalmente uma máquina de matar privada", disse ela. "Essas organizações não deveriam existir."

Bibliografia recomendada:

Russian Security and Paramilitary Forces since 1991.
Mark Galeotti.

Leitura recomendada:

Os condutores da estratégia russa16 de julho de 2020.


Síria: Os "ISIS Hunters", esses soldados do regime de Damasco treinados pela Rússia8 de setembro de 2020.

Helicóptero Gazelle de mercenários sul-africanos foi abatido em Moçambique26 de abril de 2020.

PERFIL: Akihiko Saito, o samurai contractor, 2 de fevereiro de 2020.


segunda-feira, 27 de julho de 2020

FOTO: Posto defensivo do Grupo Wagner na Síria

"Quem está se mijando, vai morrer".

Posto defensivo no telhado de um prédio na Síria do Grupo Wagner. O mercenário está armado com um fuzil AK-74M com silenciador e um lança-granadas abaixo do cano. No chão há dois lançadores de granada auto-explosiva RPG-26 e uma metralhadora PKP Pecheneg.

Bibliografia recomendada:

Spetsnaz:
Russia's Special Forces.
Mark Galeotti.

Leitura recomendada:


domingo, 26 de abril de 2020

Helicóptero Gazelle de mercenários sul-africanos foi abatido em Moçambique

Helicóptero Gazelle como aquele usado pelos mercenários sul-africanos.

Por Patrick Kenyette, Military Africa, 10 de abril de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 26 de abril de 2020.

Vários relatórios de Moçambique indicam que um dos helicópteros Gazelle dos contratados militares sul-africanos, desdobrados contra jihadistas no norte de Moçambique, foi abatido nesta manhã [10 de abril].

O helicóptero Gazelle foi atacado com tiros de armas portáteis, que aparentemente danificaram a caixa de engrenagens do helicóptero, forçando-o a pousar. A tripulação foi extraída com segurança, no entanto, ainda não há informações sobre o status do helicóptero.

Um artilheiro de porta com um canhão de 20mm.
(Joseph Hanlon)

O helicóptero Gazelle, pertencente aos contratados militares privados sul-africanos, e as aeronaves da Força Aérea de Moçambique, realizaram vários ataques aéreos importantes contra extremistas islâmicos há muito tempo.

Por exemplo, no início deste mês, Joseph Hanlon publicou uma fotografia mostrando um dos helicópteros Gazelle supostamente usados em um ataque. A fotografia mostra um artilheiro de porta operando um canhão de 20mm montado na porta da aeronave.

Mercenários em Moçambique

Como Moçambique está envolvido em uma emergente guerra contra-terrorista, as forças de segurança estatais - as Forças de Defesa e Segurança (FDS) - se mostraram incapazes de lidar com os levemente armados terroristas no norte.

O presidente de Moçambique, Maputo, iniciou uma busca por alternativas militares. Inicialmente, a empresa de segurança privada Lancaster Six Group (L6G) de Erik Prince, sediada em Dubai, estava em concorrência com a companhia militar privada (private military company, PMC) Wagner da Rússia e com a sul-africana de Eeben Barlow, Specialized Tasks, Training, Equipment and Protection International (STTEP), por contratos de segurança em Cabo Delgado, com Prince prometendo eliminar os terroristas em três meses em troca de uma parcela das receitas de petróleo e gás natural.

Embora, de acordo com o Daily Maverick, Wagner havia saído de Moçambique em março após fracassar em sua missão e tenha sido substituído pela companhia de segurança privada da África do Sul Dyck Advisory Group (DAG), com sede na África do Sul e de propriedade do ex-coronel das forças armadas zimbabuanas, Lionel Dyck, que acredita-se estar perto do presidente zimbabuano Emmerson Mnangagwa.

O Dyck Advisory Group (DAG) opera três helicópteros na costa norte de Cabo Delgado - um helicóptero de ataque Gazelle, um Bell UH I "Huey" e um Bell 406 Long Ranger - e um Diamond DA42 de asa fixa. Eles somaram outro Gazelle e a um transportador de pessoal de asa fixa Cessna Caravan, o qual havia chegado a Pemba.

Patrick Kenyette é jornalista e fotógrafo freelancer e colaborador regular do blog African Military.

Leitura recomendada:





domingo, 22 de março de 2020

Dividendos da Diplomacia: Quem realmente controla o Grupo Wagner?


Por Alexander Rabin, National Security Program, 4 de outubro de 2019.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 22 de março de 2020.

Muitos esperavam que a relação diplomática entre a Federação Russa e os Estados Unidos se esvaísse quando forças americanas mataram centenas de russos assaltando um posto avançado americano na Síria no início de 2018. No entanto, o Kremlin se distanciou rapidamente dos corpos russos no distante campo de batalha sírio Esses russos lutaram em nome do presidente sírio Bashar al-Assad, mas não usavam uniformes das forças armadas sírias ou russas. Em vez disso, eles trabalhavam para o oligarca empreendedor Yevgeny Prigozhin e seu Grupo Wagner, uma companhia militar privada (PMC).

Prigozhin é uma figura familiar para os americanos. Dois meses antes de seus mercenários morrerem na Síria, o advogado especial Robert S. Mueller III o acusou de operar a Agência de Pesquisa na Internet, uma fazenda de trolls de desinformação que interferiu nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA. No entanto, os funcionários de Prigozhin incentivam os interesses da Rússia em uma nova era de guerra híbrida por meio de combate direto e manipulação online. Ao perseguir objetivos estratégicos russos sob uma bandeira privada, o Grupo Wagner fornece ao Kremlin um véu de negação plausível, reforçando a flexibilidade diplomática russa e minimizando a contagem oficial de baixas que poderiam condenar o envolvimento russo em conflitos domesticamente impopulares como a Guerra Civil Síria.

Quem é Prigozhin e o que é o Grupo Wagner?

Em uma foto de 2006, o presidente russo Vladimir Putin (à esquerda) recebe o presidente dos EUA George W. Bush em São Petersburgo, Rússia. O segunda à direita, de terno preto, é o empresário russo Yevgeny Prigozhin, conhecido como "chef de Putin".

O talento de Prigozhin para o lucro o levou a um caminho não-convencional para a confiança de Putin. Depois de cumprir nove anos de prisão em 1990, ele abriu barracas de cachorro-quente com seu padrasto. Quando a União Soviética se dobrou e o setor privado da Rússia cresceu, Prigozhin investiu na primeira cadeia de supermercados de São Petersburgo e finalmente abriu o restaurante de luxo New Island, onde serviu pessoalmente Putin. Prigozhin alavancou suas conexões importantes em contratos de restauração e construção de escolas públicas e militares de bilhões de dólares desde meados dos anos 2000, ganhando o apelido de "chef de Putin".

As profundas conexões do Grupo Wagner com os principais líderes políticos da Rússia distinguem a empresa de seus contemporâneos. A aparição dos contratados em pontos críticos geopolíticos ilustra uma estreita coordenação entre as aspirações comerciais de Prigozhin e a busca do interesse nacional pelo Kremlin. Prigozhin lucra prestando serviços nos países onde a Rússia está expandindo seu envolvimento, enquanto o estado mantém uma negação plausível ao utilizar as estruturas privadas de Prigozhin. No processo, Prigozhin acumula prestígio e capital político, abrindo caminho para futuros contratos lucrativos.

Desdobramento do Grupo Wagner, mostrando missões na Ucrânia, Venezuela, República Centro-Africana, Líbia, Síria, Madagascar e Sudão.

O Grupo Wagner ao redor do mundo

Contratados do Grupo Wagner na Ucrânia, 2014.

O Grupo Wagner apareceu pela primeira vez durante a anexação russa da Criméia, auxiliando unidades militares russas não-identificáveis, conhecidas como "homenzinhos verdes", na segurança do território sem derramamento de sangue e no desarmamento das instalações militares ucranianas. Os contratados lutaram ao lado de separatistas pró-russos na região do Donbas, na Ucrânia. O Grupo Wagner se manteve ocupado na autoproclamada República Popular do Donetsk (DPR) e na República Popular de Luhansk (LPR), supostamente abatendo um transporte aéreo militar ucraniano Il-76, assassinando líderes separatistas desonestos e participando da Batalha de Debaltseve (2015).


Logo após o apoio russo a Assad ter aumentado em 2015, as tropas do Grupo Wagner se tornaram um ativo crucial, como na Ucrânia, desempenhando papéis defensivos e ofensivos. Ao proteger as instalações militares e de energia, esses contratados reduziram a escassez de pessoal que impedia a capacidade de Assad de proteger instalações e montar ofensivas simultaneamente para recuperar território. O Grupo Wagner forneceu mão-de-obra ofensiva em batalhas como a Batalha de Palmira (2016), na qual forneceu a força de choque inicial para recuperar a cidade do Estado Islâmico.

No entanto, o caso da Síria difere das operações na Ucrânia por causa do claro incentivo monetário adicional de Prigozhin para o aumento da desdobramento do Grupo Wagner. Sua empresa Evro Polis assinou um contrato com a General Petroleum Corporation, estatal síria, em janeiro de 2018, concedendo à Evro Polis 25% da produção de quaisquer instalações petrolíferas retomadas para Assad. O assalto arriscado do Grupo Wagner ao posto avançado de Deir ez-Zor Conoco ocorreu apenas um mês após o acordo com a Evro Polis, e telefonemas interceptados pela inteligência dos EUA revelam que Prigozhin participou diretamente no planejamento do ataque.

Mercenários do Corpo Eslavônico na Síria, outubro de 2013. O Slavonic Corps Limited foi a primeira PMC "experimental" russa.

No entanto, o grau de comando que o Estado russo exerce sobre o Grupo Wagner na Síria permanece incerto. Enquanto algumas fontes próximas ao Ministério da Defesa afirmam que a ofensiva desastrosa do Grupo Wagner contra o posto avançado de Conoco surpreendeu os militares, outras alegam que o Kremlin provavelmente autorizou o ataque. Ainda assim, outros afirmam que o Grupo Wagner coordena dentro do Ministério da Defesa, mas o faz vagamente, o que poderia explicar o fracasso em garantir a aprovação de uma ofensiva específica.

Da mesma forma, à medida que a Rússia aumenta seu envolvimento na África, as operações do Grupo Wagner se expandem por todo o continente, onde protegem os investimentos de Prigozhin. No final de 2017, vídeos de contratados russos treinando tropas sudanesas circularam no Twitter, enquanto cerca de 300 contratados estavam no país. Na mesma época, a empresa M-Invest, a qual há rumores que Prigozhin possui, garantiu concessões de mineração ao governo sudanês. Os combatentes do Grupo Wagner agora guardam essas minas. Embora a M-Invest seja registrada como uma empresa de extração de recursos, também forneceu ao ex-presidente sudanês Omar al-Bashir, um líder amigo da Rússia que presidiu vários acordos comerciais bilaterais, com um plano para suprimir os protestos de Cartum no início de 2019. A empresa propôs campanhas de difamação e a adaptação como arma das mídias sociais remanescente da Agência de Pesquisa na Internet de Prigozhin.

Grupo Wagner na Síria.

O envolvimento russo na vizinha República Centro-Africana (RCA) também vincula apoio político a ganhos econômicos. A Rússia expulsou a França para obter uma exceção ao embargo de armas sobre a RCA das Nações Unidas em 2018, e os contratados Wagner entraram no país na mesma época, supostamente fornecendo segurança ao presidente Faustin-Archange Touadera. Enquanto a Rússia espera aparecer como uma fonte de estabilidade regional, essa ajuda não é gratuita; a RCA tem reservas abundantes de diamantes, petróleo, ouro e urânio, e o Ministério das Relações Exteriores da Rússia discutiu concessões de mineração com Touadera. Embora a Rússia tenha se encantado com Touadera, também se encontrou com grupos rebeldes da RCA, jogando em campo para obter acesso a território rico em recursos. A Lobaye Invest, uma subsidiária da M-Invest, já iniciou a extração de diamantes, e os contratados Wagner parecem novamente guardar as minas. Os dividendos inerentes ao papel de Prigozhin na geopolítica russa estão valendo a pena, e o Grupo Wagner fornece a força para defendê-los.

Notavelmente, três jornalistas russos que investigavam a presença do Grupo Wagner na RCA foram assassinados no verão de 2018. Os jornalistas mortos estavam rastreando o Grupo Wagner, mas na data de suas mortes, eles pretendiam filmar as minas de ouro de Ndassima, que Prigozhin planejava explorar. Os registros telefônicos mostram que o motorista dos jornalistas freqüentemente entrava em contato com um policial da RCA com laços estreitos com o Grupo Wagner, incluindo telefonemas no dia do assassinato.

Grupo Wagner na Síria.

Como o Grupo Wagner protegeu com sucesso os interesses russos e encheu os cofres de Prigozhin, o Kremlin confiou mais nos contratados. Em 2018, Moscou trabalhou duro para influenciar as eleições em Madagascar - e Prigozhin novamente forneceu os meios. O oligarca enviou consultores políticos, que apoiaram pró-russo Hery Rajaonarimampianina e outros candidatos, mas também desdobrou contratados Wagner para vigiar esses consultores. Prigozhin evidentemente identificou os recursos de Madagascar como outra fonte de lucro pessoal. Sob a presidência de Rajaonarimampianina, a empresa de mineração de cromita estatal de Madagascar, KRAOMA, entrou em uma controversa joint venture* com a Ferrum Mining, uma empresa russa ligada ao império comercial de Prigozhin. Sob um contrato de 2018, Ferrum recebeu fundos da Broker Expert, uma empresa aninhada em um sistema de contratos de empréstimo com juros entre muitas das empresas de Prigozhin, incluindo Concord Management and Consulting, M-Invest, M-Finance e Megaline. O caso de Madagascar apresenta outro vínculo por excelência das ambições russas e da manipulação política de Prigozhin.

*Nota do Tradutor: Uma joint venture é uma entidade comercial criada por duas ou mais partes, geralmente caracterizada por propriedade compartilhada, retornos e riscos compartilhados, e governança compartilhada.


Em novembro de 2018, surgiram evidências da parceria de Prigozhin com o Kremlin em outro local estratégico: a Líbia. Imagens notáveis mostram Prigozhin sentado entre importantes oficiais de defesa russos durante uma reunião com o pessoal do Exército Nacional da Líbia (LNA). Meses depois, materializaram-se relatórios de mercenários Wagner que apoiavam o LNA, cujo líder, marechal de campo Khalifa Haftar, o Kremlin apoiou silenciosamente, mas com firmeza. A Rússia demonstrou interesse nos recursos energéticos da Líbia, incluindo um acordo de venda de petróleo em 2017, e provavelmente buscará mais investimentos à medida que surgirem oportunidades para a resolução de conflitos na Líbia.

Contratados Wagner trabalhando com forças locais na Líbia.

O Kremlin, cada vez mais vendo o Grupo Wagner como um patrimônio diplomático, enviou contratados para a Venezuela no início de 2019. Quando o líder sitiado Nicolás Maduro começou a temer deserções de seu pessoal de segurança, o Grupo Wagner forneceu guardas. Essa medida reflete os investimentos de vários bilhões de dólares da gigante estatal russa Rosneft no petróleo venezuelano, bem como os enormes acordos de exportação de armas da Rússia.

Ligações entre o Grupo Wagner e o Estado russo

A estrutura de comando da Rússia para o Grupo Wagner permanece obscura, mas seu apoio se materializa em três formas: financiamento, equipamento e treinamento.

Prigozhin e o Grupo Wagner mantêm relações complicadas com o estado russo e outros governos. Os nós vermelhos representam empresas vinculadas ao império comercial de Prigozhin, enquanto os nós pretos representam entidades vinculadas aos governos estaduais.

A fonte dos fundos do Grupo Wagner permanece incerta, com apenas evidências anedóticas oferecendo insights. Aparentemente, Prigozhin desviou uma receita significativa de seus contratos de construção e catering* para estabelecer o Grupo Wagner. Os custos anuais da empresa, totalizando até US$ 150 milhões por volta de 2016 somente na Síria, exigem financiamento além da capacidade razoável dos negócios de logística de Prigozhin, mas essas empresas apresentam condutos ideais para canalizar fundos para o Grupo Wagner a partir do estado.

*NT: Catering é o serviço de fornecimento de refeições coletivas em locais remotos como hotéis, hospitais, aviões, navios de cruzeiro, locais de entretenimento, etc.

Enquanto conexões monetárias concretas permanecem ilusórias, Moscou claramente desempenha um papel crucial em armar o Grupo Wagner. O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) afirma que o Grupo Wagner recebe equipamentos como tanques, lançadores de foguetes Grad e veículos blindados sem custo. Imagens de contratados Wagner revelam que eles operam veículos normalmente reservados para as Forças Armadas russas, como o veículo todo-o-terreno da Vystrel. Vários contratados alegam que voaram para a Síria em aviões de transporte militar russo. Essas histórias estão alinhadas às alegações da SBU de que os contratos entre a M-Invest e as unidades de vôo do Ministério da Defesa indicam que Prigozhin aluga aeronaves militares para contratados.

Contratados do Grupo Wagner na região de Starobeshevo, no Donetsk, 2014.

O Estado - particularmente o Diretório Principal do Estado Maior General (GRU) - tem um papel importante no treinamento do Grupo Wagner. Os contratados treinam em um complexo do GRU em Molkino, uma vila no sudoeste da Rússia, e o SBU identificou mais de 25 oficiais russos que instruem os contratados Wagner em habilidades que variam de artilharia a engenharia de combate. O GRU geralmente dirige e apóia o grupo em combate, e as evidências disponíveis indicam uma coordenação estreita na Ucrânia. No LPR, o oficial do GRU Oleg Ivannikov ajudou a comandar o Grupo Wagner; telefonemas interceptados revelam operações coordenadas de Ivannikov com o comandante do Grupo Wagner e o ex-tenente-coronel do GRU Dmitry Utkin durante a Batalha de Debaltseve.

Fundindo buscas geopolíticas e empresas privadas

Por meio do Grupo Wagner, a Rússia oferece apoio militar ou estabilização política em troca de influência política, oportunidades de expansão geoestratégica ou concessões de recursos. O Grupo Wagner pode ser considerada uma empresa militar privada apenas na medida em que alimenta a riqueza de um indivíduo particular, mas a realidade de sua integração nas estruturas de comando russas o torna um animal totalmente diferente. Apesar da natureza ostensivamente privada do Grupo Wagner, Putin agradeceu aos contratados por seus serviços, premiando comandantes de alto escalão com honras militares estaduais de Utkin, construindo estátuas dos contratados Wagner na Síria e Donbas, e posando para fotografias com comandantes. Prigozhin não recebeu prêmios ou monumentos militares brilhantes, mas, ao desdobrar o Grupo Wagner em três continentes, Putin o agradeceu por facilitar a extensão global de seu alcance comercial.

A comunidade internacional deve se familiarizar com o nome de Prigozhin. Enquanto os líderes de países politicamente instáveis concordarem em trabalhar com Putin e oferecer fontes de lucro para Prigozhin, esse modelo de fusão de atividades geopolíticas e empresas privadas permanecerá.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Força de aluguel: do Exército para a Blackwater


Por Eric SOF, Spec Ops Magazine, 22 de janeiro de 2020.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 21 de fevereiro de 2020.

O mundo sombrio dos contratados é exposto por Adam Gonzales. O ex-contratado da Blackwater fala sobre sua vida no Exército e a transição para o emprego de contratado e seu primeiro emprego na companhia então relativamente desconhecida, Blackwater.

Adam Gonzales era um soldado de infantaria do Exército antes de partir para uma posição lucrativa - e perigosa - na Blackwater durante o auge da guerra no Iraque. Seu trabalho era ajudar a manter seguro um homem com uma recompensa de US$ 15 milhões sobre sua cabeça.

Sua jornada o levou do Exército para uma instalação de treinamento da Blackwater, na Carolina do Norte. Lá, o uma vez "grunt" do Exército teve que competir contra membros do Grupo de Desenvolvimento de Guerra Naval Especial, SEALs, Rangers e Fuzileiros Navais da Força de Reconhecimento por uma vaga na Blackwater - e um salário de US$ 15.000 por mês.

Embaixador Paul Bremer.

O trabalho? Proteger o embaixador dos EUA, Paul Bremer, o principal representante dos EUA no Iraque e o homem que decidiu dissolver o exército iraquiano. Tudo começou com um telefonema de um dos gerentes de recrutamento da Blackwater que disse:

"Você está interessado em proteger este embaixador americano? Você vai acabar indo para um treinamento/avaliação de duas semanas das suas habilidades para garantir que você possa atirar, se mover e se comunicar. E você estará ganhando US$ 500 por dia."

US$ 15.000 por mês. Foi fácil tomar uma decisão, segundo Gonzales. Logo ele estava a caminho do local de treinamento da Blackwater em Moyock, Carolina do Norte. No podcast do Stars and Stripes, ele explica o tempo de transição, o treinamento da Blackwater, os procedimentos de segurança e muito mais.

Em uma parte que ele descreveu o primeiro dia de trabalho, ele estava no lado estático da segurança da casa. Sua responsabilidade era a segurança do complexo onde estava instalado o embaixador Paul Bremer, o que não era um lugar muito grande. Mas o palácio era um palácio gigante, então ele controlava todo o acesso dentro e fora do complexo, acesso a veículos e acesso a pedestres. O palácio ainda estava muito aberto a ataques, razão pela qual a parcela mensal era de US$ 15.000. Mais detalhes podem ser encontrados no vídeo postado abaixo.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Os contratados militares privados são mais econômicos do que o pessoal uniformizado?

Contratados militares em treinamento de proteção a VIP.

Por Eric SOF, Spec Ops Magazine, 27 de janeiro de 2017.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 20 de fevereiro de 2020.

De acordo com um artigo mais recente do military.com, os especialistas dizem: “Existem várias funções que os contratados podem executar, geralmente a um custo menor do que o pessoal uniformizado, mas nem todas as tarefas. E acho que... onde erramos é por causa dos níveis de gerenciamento de força ou de outros fatores, procuramos contratados para executarem tarefas inerentemente militares."

Um exemplo são os mantenedores da aviação, especialmente no Exército e na Força Aérea, disse ele. A Força Aérea planeja contratar contratados temporários para compensar sua escassez de 4.000 mantenedores de aviação até pelo menos o ano fiscal de 2020, mesmo quando a força terminará de aumentar sua força de 317.000 para 321.000 soldados.

Os contratados de defesa desempenharam um papel crítico na construção de infra-estrutura, manutenção de aeronaves e prestação de cuidados médicos ou de segurança nas zonas de combate na última década e meia.

Mas alguns membros do Congresso dizem que chegou a hora de devolver esses empregos ao pessoal militar - e alguns generais aposentados concordam.

Os conjuntos de habilidades e o tempo de treinamento dos militares estão diminuindo devido à "abordagem complexa e dispendiosa" de manter contratados em lugares como Iraque e Afeganistão, enquanto os ativos militares são transferidos para outros locais para uma rápida tarefa temporária sem ganho, disse Dubik, que foi o último comandante geral do Comando de Transição Multinacional de Segurança do Iraque em 2008.

Na estimativa de Dubik, são necessários de 400 a 500 funcionários contratados civis para manter "o valor de uma brigada de aeronaves em cerca de US$ 100 milhões por ano".

"Eu certamente não aceitaria esses números como evangelho... mas é uma excelente estimativa, porque isso é para uma capacidade que já existe na força", disse ele.

"Além de pagar o custo de manutenção de um soldado, você está pagando o custo adicional... de enviar alguns desses soldados para outros lugares, então há custos temporários de serviço [e] você está pagando o custo de um desdobramento adicional" como resultado, disse Dubik.

Entre 2002 e 2011, os EUA gastaram US$ 166 bilhões em contratados no Iraque e no Afeganistão, de acordo com Cary Russell, diretora de operações militares e apoio de combatentes do Gabinete de Contabilidade do Governo, que também testemunhou.

Mas Russell argumentou que há ganhos estratégicos a serem obtidos com o uso de alguns contratados. As missões que eles apoiam tornam-se muito mais difíceis de medir "em nível granular", disse ele.

Dubik disse que teve excelentes experiências durante sua carreira com contratados em termos de capacidade de resposta, mas experiências sinistras "em termos de flexibilidade".

A partir de janeiro, o número de contratados que apoiavam operações contra o Estado Islâmico do Iraque e da Síria, ou ISIS, subiu para 2.028, de apenas 250 desde 2014, de acordo com um relatório do Pentágono enviado ao Congresso no início deste ano, conforme relatado pela DefenseOne.

A questão dos contratados é uma “que merece muito estudo… e, na minha opinião, há um papel absolutamente apropriado para contratados em teatros de combate” em vez de uma capacidade uniforme, disse Ham. “Eu não descartaria o papel deles em uma ampla variedade de funções."

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Mercenários dificilmente são máquinas de matar

Robert K. Brown, fundador da revista Soldier of Fortune, na Rodésia.

Por William Boudreau, Soldier of Fortune Magazine, 28 de janeiro de 2018.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 6 de fevereiro de 2020.

Durante meu serviço na África como diplomata de carreira americano, conheci vários mercenários que estavam envolvidos em uma missão ou outra. Nenhum deles se encaixa no estereótipo comum - matadores anti-sociais. Quando se ouve sobre atrocidades em uma ação mercenária, quase sempre são as forças opostas que as cometem. Um excelente exemplo é o Congo, após sua independência em 1960. O caos é a regra desde seu primeiro dia como nação. Moise Tshombe foi astuto o suficiente para reconhecer que precisava de mercenários para garantir a segurança de sua província de Katanga, com suas valiosas minas. Eles enfrentaram todos os que chegavam no país fragmentado, provando serem muito superiores aos esfarrapados exército nacional e grupos rebeldes. Inicialmente, eles estavam protegendo o governo provincial katanguês e depois foram contratados pelo presidente Mobutu para liderar os esforços do exército nacional para repelir os rebeldes, principalmente os Simbas, apoiados por regimes comunistas e radicais. Esses países de esquerda fizeram o possível para minar os mercenários, usando a mídia e os fóruns das Nações Unidas para denunciarem os mercenários como bárbaros. Eles descreviam o assassinato brutal de civis inocentes como atos selvagens dos mercenários estrangeiros, enquanto havia evidências sólidas de que a oposição era a autora. Ao contrário da propaganda da época, os mercenários que eu conhecia valorizavam a vida - deles e de outros. A maioria tinha serviço anterior em suas forças armadas nacionais e foi contratada por suas habilidades, disciplina e capacidade de cumprir a missão.

Major Bob MacKenzie (boina) quando era comandante de uma equipe de reconhecimento na Bósnia.
Foto cedida por Sibyl MacKenzie.

Não havia americanos entre os mercenários que conheci. Eles eram europeus de vários países, sul-africanos e rodesianos. Outro grupo que conheci foram os exilados cubanos contratados pela CIA para diversas tarefas, incluindo pilotar suas aeronaves da Organização Internacional de Manutenção Terrestre Ocidental (WIGMO). A maioria dos mercenários tinha outras ocupações quando não estava em missões; de fato, eles levaram vidas duplas. Entre eles estavam os proprietários de plantações, mecânicos de garagem, importadores/exportadores, trabalhadores da construção civil, agricultores, vendedores de seguros e assim por diante. Eu conheci esses guerreiros tomando cerveja em bares e eventos sociais em Kinshasa e no campo. Viajei para a maior parte do país, para as províncias de Katanga, Orientale, Equateur, Nord Kivu e por todo o Baixo Congo. Eu conheci mercenários em várias situações e nenhum me pareceu irresponsável e insensível. Embora não sejam mais membros de unidades militares padrão, eles se comportavam como soldados. Claro, eles chutavam o balde quando estavam de folga, eles não eram santos, afinal, mas se mantiveram sob controle. Eles me pareciam uma irmandade, cuidando um do outro.

Robert C. MacKenzie (em pé, asas no chapéu) posando com homens das unidades comando da Serra Leoa que ele estava treinando com os guardas de segurança gurca.
Andy Myers é o segundo da esquerda, ajoelhado.

Quando saía para “o mato” (the bush) - qualquer área não-urbana - para cumprir meus deveres de checar cidadãos americanos (a maioria eram missionários), visitei mercenários na área. O bem-estar dos americanos espalhados por todo o país era de minha responsabilidade como funcionário político/consular na embaixada. Eu aproveitei essas oportunidades para me encontrar com os mercenários que estavam na área. Discutimos o progresso deles na derrota dos rebeldes Simba, junto com seus feiticeiros-curandeiros, que estavam tentando estabelecer um regime comunista separado com base na província de Orientale.

Cito um incidente para ilustrar o caráter desses mercenários. Aprendi com meus contatos missionários que alguns estudantes universitários americanos estavam viajando pelo norte do Congo, viajando para o leste. Esses aventureiros estavam alheios ao perigo que havia no caminho deles. Eles pretendiam passar por uma área na província de Orientale com presença Simba conhecida; eles não sabiam que estavam entrando em uma zona de guerra. Eles não sabiam nada dos simbas e sua selvageria, que não poupava vidas. Entrei em contato com mercenários que conheci e expliquei a situação. Eles tomaram medidas imediatas, localizaram os caminhantes, insistiram na necessidade urgente de sair da área e os escoltaram pelo leste do Congo até Ruanda. Eles se preocupavam com vidas inocentes e os trouxeram para a segurança.

Como escrevi em minhas memórias, A Teetering Balance (Um Equilíbrio Instável), descrevendo nossos esforços para combater as tentativas soviéticas de conquistar uma posição na África durante a Guerra Fria, Ernesto "Che" Guevara se envolveu com grupos rebeldes no Congo. “Ansioso por se envolver em atividades revolucionárias mais uma vez, o Congo parecia um terreno fértil.” Com a benção de Fidel Castro, ele entrou no norte da província de Katanga pela Tanzânia, com cubanos negros, em abril de 1965. Seu objetivo era montar um campo de treinamento para "freedom fighters" ("combatentes da liberdade") para operar "não apenas no Congo, mas também em Angola, Moçambique e Rodésia, África do Sul e sudoeste da África.” O Coronel Michael Hoare liderou mercenários no ataque ao grupo de cubanos e simbas de Guevara. Os exilados cubanos da CIA pilotando aviões WIGMO ajudaram a atacar os rebeldes. Guevara fez o possível para inspirar zelo e disciplina entre os simbas, mas ficou frustrado com "o que ele considerava a deficiência de motivação dos rebeldes". Compelido por sucessos mercenários, ele abandonou seus esforços após sete meses para procurar circunstâncias mais promissoras para espalhar seu ardor revolucionário.

A Teetering Balance: An American diplomat's career and family.
William Boudreau.

Coronel Michael Hoare, falecido em 2 de fevereiro de 2020, aos 100 anos.

Minhas observações sobre mercenários não se limitam à operação no Congo. Alguns estavam ajudando movimentos de libertação em Angola, em sua luta pela independência de Portugal. Encontrei-me com outras pessoas nas Comores quando fui designado para Madagascar, com responsabilidade adicional pelas Comores. Ahmed Abdallah fora nomeado presidente das Comores pelo Coronel Bob Denard, que eu conhecera no Congo, e um bando de mercenários. Vários permaneceram nas ilhas e eu os encontraria nas minhas visitas. Sendo as Comores uma república islâmica, nenhuma bebida era permitida no país, exceto em alguns hotéis. Assim, os bebedouros eram limitados e eles criaram um elenco interessante de personagens. Alguns mercenários visitaram um colega diplomata e eu em Washington, DC, depois que eu deixei o Congo. Levei um belga para um jogo de futebol americano universitário e passei a maior parte do jogo explicando seus meandros. Nossos visitantes foram todos treinados para se comportarem bem dentro de casa e sociáveis com os vizinhos.

O belga Jean Schramme e o francês Bob Denard no Congo.
Schramme se mudou para o Brasil, morrendo em Rondonópolis/MT em 1988.

When Olive Leaves Beckon.
William Boudreau.

Escrevi When Olive Leaves Beckon (Quando Olive deixa Beckon) com o objetivo de retratar mercenários sob a luz apropriada. Eu afirmo que, em geral, os mercenários se misturam à sociedade quando não estão em missões. Eles não são máquinas de matar raivosas, como alguns acreditam. Eles voltam para casa e são aceitos pelos vizinhos como membros contribuintes de suas comunidades. Não defenderei um prêmio humanitário para nenhum mercenário que eu tenha conhecido. No entanto, eles abraçam a humanidade. Meu argumento é que eles eram racionais, compassivos, interessantes para conversar e desprovidos de tendências psicóticas.

A perda de meu amigo espanhol, Alfonso, foi uma tragédia pessoal. Eu o conheci no Congo quando ele estava passando de mercenário para trabalhar em importação/exportação. Ele ficou noivo de uma belga e estava ansioso por uma mudança de estilo de vida. Ele visitou nossa casa várias vezes e entreteve nossos dois filhos. Quando fiquei de folga com minha família, convidei-o para ficar em nossa casa enquanto estávamos fora. Ele ficou lá por algumas semanas até o nosso retorno. Logo depois disso, os congoleses, o massacraram, incluindo castração, e seus restos jogados no rio Congo. Dediquei When Olive Leaves Beckon à sua memória.

SOF Mag de novembro de 2013.